Floresta Portuguesa
Espécie e cultivar são termos usados em botânica para descrever duas categorias de plantas que se diferenciam principalmente pela sua origem e forma de propagação. No primeiro caso, temos plantas de origem silvestre, que se propagam naturalmente nos ecossistemas (embora também possam ser plantadas ou semeadas). No segundo caso, temos plantas originadas por intervenção humana, cuja propagação foi alvo de seleção artificial ou melhoramento genético, para obter determinadas características desejadas e consideradas vantajosas.
Vejamos com mais detalhe as diferenças entre espécie e cultivar:
– Espécie
As espécies ocorrem naturalmente nos ecossistemas e, embora também possam ser semeadas ou plantadas, não dependem de intervenção humana para se propagar, uma vez que se reproduzem espontaneamente. Isto porque cada espécie integra um conjunto de organismos que partilha características e que consegue reproduzir-se entre si, gerando descendentes férteis.
Para determinar a que espécie pertence determinada planta é necessário classificá-la de acordo com um vasto conjunto de características: morfológicas (como o tamanho, cor e forma ou anatomia interna), biológicas (capacidade de se reproduzirem entre si), fisiológicas (relacionadas com processos de fotossíntese, respiração, transpiração, entre outros), genéticas (determinadas pelos genes ou ADN), paleontológicas (combinação de características morfológicas e tempo geológico), evolutivas (paleoespécies que antecedem espécies atuais) e até comportamentais.
A designação da espécie constitui, assim, o nível base da classificação biológica dos seres vivos, que são habitualmente identificados por um nome comum e um nome científico. Os nomes comuns podem variar em função da região, mas os nomes científicos (designação em latim) obedecem a um sistema de nomenclatura que identifica de forma universal e precisa cada uma das espécies.
– Cultivar
O nome cultivar é uma abreviatura de “cultivated variety” e, de acordo com o Código Internacional de Nomenclatura para Plantas Cultivadas (ICNCP) designa as plantas cultivadas que se distinguem por características morfológicas, fisiológicas, citológicas, químicas ou outras e que transmitem essas características à sua descendência. Isto significa que as cultivares são variedades de uma espécie silvestre que foram plantadas e moldadas pelos seres humanos – selecionadas e melhoradas – para manterem determinadas características específicas que são desejadas e consideradas como benéficas para quem as semeia ou planta.
As cultivares podem ser desenvolvidas com diferentes objetivos: aumentar a produtividade ou acelerar o crescimento, obter maior resistência a pragas e doenças ou maior resiliência a condições ambientais adversas, reforçar características estéticas que as valorizam como plantas ornamentais, conseguir frutos maiores ou mais doces nos casos das árvores fruteiras, entre muitos outros exemplos.
As cultivares são normalmente resultantes de melhoramento genético, através de seleção artificial, por exemplo, pela seleção de plantas ou árvores com as características desejadas, para que se cruzem seletivamente ao longo do tempo, dando origem a descendentes com características semelhantes e gerando sementes que permitem perpetuar estas características nas gerações seguintes.
As cultivares também são designadas por uma nomenclatura específica. Cada cultivar recebe o nome científico universal da respetiva espécie silvestre, seguido da abreviatura cv. identificando que se trata de uma cultivar e de um nome que a distingue. Quando não for usado o cv., o nome da cultivar deve ser colocado entre plicas simples.
Por exemplo, a faia (espécie Fagus sylvatica) tem diferentes cultivares, desenvolvidas pelo seu valor ornamental:
– Uma de folhas vermelho-escuras, que tem como nome Fagus sylvatica cv. Atropurpurea ou Fagus sylvatica ‘Atropurpurea’;
– Outra de folhas recortadas, identificada como Fagus sylvatica cv. Asplenifolia ou Fagus sylvatica ‘Asplenifolia’;
– E outra de ramos pendentes, a Fagus sylvatica cv. Pendula ou Fagus sylvatica ‘Pendula’.
Nas árvores de fruto, é habitual haver várias cultivares. Em espécies como a amendoeira, a aveleira, a nogueira, o castanheiro ou o sabugueiro, foram-se plantando e selecionando cultivares com mais frutos, frutos mais doces, floração mais precoce ou mais tardia, de acordo com as características desejadas.
Os três cultivares de faia: folhas vermelhas, folhas recortadas e ramos pendentes
Outra diferença entre espécie e cultivar está relacionada com a diversidade genética, que é tendencialmente superior nas espécies do que nas cultivares, uma vez que a manutenção das características desejadas ao longo de gerações tende a reduzir esta diversidade.
Conheça a importância da diversidade genética e os desafios que se lhe colocam.
Importa referir que cultivar e variedade são conceitos diferentes em termos botânicos.
Embora em Português (e noutros idiomas, como o Espanhol, Francês ou Italiano, entre outros) o termo cultivar pareça equivalente a variedade, em termos botânicos, variedade (do latim varietas) é um nível taxonómico abaixo da espécie.
Assim, uma espécie pode ter diferentes variedades, sendo cada uma definida pelo nome da espécie, seguido de var. e do nome específico em latim. E quer as espécies quer as variedades podem ter cultivares.
Por exemplo, no nosso país considera-se a existência de duas variedades da espécie oliveira:
– uma silvestre, designada por zambujeiro ou oliveira-brava (Olea europaea var. sylvestris),
– uma que foi domesticada a partir da anterior (Olea europaea var. europaea).
E esta variedade domesticada tem várias cultivares moldadas para a produção de azeite ou de azeitona de mesa, adaptadas a diferentes zonas e condições de cultivo, como por exemplo a Olea europaea var. europaea ‘Galega Vulgar’ ou a Olea europaea var. europaea cv. Cobrançosa.
Há outros exemplos de uma espécie que têm variedades, como ilustram o cipreste e a criptoméria:
– O cipreste-comum ou cipreste-dos-cemitérios que tem uma variedade de copa fusiforme – fina, alta e com as extremidades mais estreitas do que o centro – a Cupressus sempervirens var. sempervirens, e outra variedade de copa mais larga e cónica, a Cupressus sempervirens var. horizontalis.
– A criptoméria (Cryptomeria japonica), tem uma variedade muito popular como ornamental, a Cryptomeria japonica var. elegans, de menor porte, com ramos pendentes e folhas de cor acinzentada, que no Outono e Inverno se tornam avermelhadas na extremidade.
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