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Indicadores Económicos

Emprego florestal: mais de 100 mil empregos com origem na floresta

O tecido empresarial ligado à floresta é um indicador da importância económica deste ecossistema. Em paralelo, o emprego florestal cria valor essencial para contrariar o despovoamento das áreas rurais.

Desde os trabalhos de exploração florestal no terreno ao comércio de materiais florestais, passando pelas indústrias que transformam a matéria-prima em produtos indispensáveis ao dia a dia, a floresta portuguesa é uma fonte de riqueza transversal aos sectores primário, secundário e terciário. O seu valor abrangente reflete-se também na dimensão do emprego florestal e das empresas em atividade: em 2021, havia mais de 100 mil pessoas ao serviço e mais de 19,5 mil empresas.

Vejam-se as estatísticas oficiais. Em 2021, o sector florestal representou 2,31% do emprego nacional e empregava 100086 pessoas diretamente na silvicultura, nas indústrias de base florestal, em parte do comércio grossita de materiais da floresta e na atividade dos sapadores florestais. Nesse ano – o último sobre o qual existe, à data, informação oficial – só a silvicultura e a indústria florestal somam mais de 92,75 mil pessoas empregadas, mais 7044 do que acontecia seis anos antes (2016).

Contudo, os valores divulgados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística (para número de empresas e pessoal ao serviço) e pelo Pordata para os indicadores relacionados com a floresta apresentam apenas parte da realidade deste sector. Não incluem os dados das pessoas ao serviço das empresas de comércio grossista e retalhista de papel, cartão ou mobiliário, nem a informação relativa a outras atividades, como a apanha e venda de produtos florestais não lenhosos (ervas aromáticas ou cogumelos) ou as culturas de frutos de casca rija, por exemplo. Estes dados encontram-se dispersos em estatísticas de outras áreas e estão muitas vezes inacessíveis para consulta.

Por exemplo, no comércio de produtos florestais, os últimos valores consolidados são relativos a 2016 e apontavam para 25580 empregos, segundo a síntese económica disponibilizada pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. De acordo com este documento, havia quase 8,5 mil empregos no retalho de mobiliário, perto de 4,9 mil no comércio por grosso de madeira em bruto e produtos derivados, cerca de 6 mil empregos no comércio por grosso de cortiça e outros produtos não lenhosos e outros 6 mil no comércio por grosso de papel, cartão e seus artigos.

Acresce que, num sector em que o perfil de trabalho, em especial o trabalho rural, é frequentemente sazonal e informal, muito do emprego florestal permanece como atividade ocasional, de apoio ao rendimento familiar, complementar a outras ocupações e, muitas vezes, sem registo. O conjunto de dados disponibilizados nas estatísticas oficiais é, por isso, apenas uma parte da real empregabilidade florestal.

Quanto à representatividade das empresas do sector, verifica-se situação similar, com várias áreas de atividade a ficarem de fora das estatísticas florestais.

As indústrias de base florestal totalizavam, em 2021, 9809 empresas (0,72% de todas as empresas portuguesas), cerca de meia centena mais face ao ano anterior. Seguia-se a silvicultura e exploração florestal, responsável por 8023 empresas em 2021 (0,59% do total), uma centena mais do que no ano anterior. O comércio fecha este ‘triângulo da floresta’, com os dados disponíveis sobre a atividade grossista de madeira e de cortiça em bruto a totalizar 1684 empresas em 2021.

No total e considerando os dados disponíveis, a economia da floresta estava assente, em 2021, em 19516 empresas, ou seja, cerca de 1,44% do tecido empresarial nacional.

Evolução do pessoal ao serviço das empresas no sector florestal, 2016-2021

Fontes: INE, Sistema de Contas Integradas das Empresas – Pessoal ao serviço (N.º) das empresas por localização geográfica (NUTS – 2013) e atividade económica (Anual) – incluindo Silvicultura e exploração florestal; Indústrias da madeira e da cortiça e suas obras, exceto mobiliário (CAE 16); Fabricação de pasta, de papel, de cartão e seus artigos (CAE 17); Fabricação de mobiliário para escritório e comércio, cozinha e outros fins (CAE 3010, 3102 e 3109); Comércio por grosso de cortiça em bruto; Agentes de comércio por grosso de madeira e materiais de construção. INE – Pessoal ao serviço (N.º) como sapadores florestais por Localização geográfica (NUTS – 2013); Anual. Pordata – Pessoal ao serviço nas empresas em Portugal (total).

Nota: Dados de pessoas ao serviço das empresas de comércio por grosso de cortiça em bruto não disponíveis desde 2019

Evolução do número de empresas no sector florestal, 2016-2021

Fontes: INE, Sistema de Contas Integradas das Empresas – Empresas (N.º) por Localização geográfica (NUTS – 2013) e Atividade económica (Subclasse – CAE Rev. 3); Anual – incluindo Silvicultura e exploração florestal; Indústrias da madeira e da cortiça e suas obras, exceto mobiliário; Fabricação de pasta, de papel de cartão e seus artigos; Fabricação de mobiliário para escritório e comércio, cozinha e outros fins; Comércio por grosso de cortiça em bruto; Comércio por grosso de madeira em bruto. Pordata – Empresas em Portugal (total).

Indústria: menos empresas, mais emprego florestal

É nas indústrias de base florestal que se concentra a maioria do emprego florestal e das empresas do sector. Em 2021, estas indústrias eram constituídas por perto de 10 mil empresas que tinham ao serviço 76 mil pessoas. Em proporção, empregavam 76% das pessoas ao serviço no setor florestal e representavam metade das empresas.

De 2016 a 2019, a evolução do número de empresas das indústrias de base florestal manteve-se relativamente constante – entre as 9900 e as 10 mil – com o máximo alcançado antes da pandemia de Covid-19, a que se seguiu uma quebra em 2020 e uma recuperação ligeira em 2021.

Mais positivo foi o incremento nos números do emprego florestal industrial: excetuando uma contração em 2020, o número de pessoas ao serviço destas indústrias aumentou todos os anos e, em 2021, subiu acima do que havia sido registado antes da pandemia (de acordo com os dados do Sistema de Contas Integradas das Empresas do INE para dados de empresas e pessoal ao serviço das empresas no sector em Portugal).

Em termos geográficos, a região Norte e a região Centro contam com, respetivamente, 5639 e 2207 empresas industriais. Juntas, estas duas regiões representam 80% das indústrias de base florestal.

Sabe-se, no entanto, que estas indústrias – que englobam pasta e papel, cortiça, madeira e mobiliário (excluindo o fabrico de colchões) – agregam subsectores com realidades bastante diferentes. Uma análise mais detalhada a cada um destes subsectores dá conta de que, em 2021, a maioria dos empregos e empresas residia nas indústrias ligadas ao mobiliário, com 33077 empregos em 4348 empresas. Seguia-se a indústria da madeira, com21310 empregos em 4077 empresa).

De destacar o subsector da Pasta e Papel que, com 569 empresas, empregava mais de 13 mil pessoas (de acordo com os dados do pessoal ao serviço, do INE), uma relação que traduz a maior dimensão das empresas nesta atividade. Também as empresas da área da cortiça apresentam um elevado número de pessoas ao serviço (8555) em comparação com o número de empresas deste subsector (815).

Distribuição geográfica das empresas industriais de base florestal, 2021

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Evolução do pessoal ao serviço e empresas industriais de base florestal, por subsector, 2012-2021

Fontes: INE, Sistema de Contas Integradas das Empresas – Pessoal ao serviço (N.º) das empresas por localização geográfica (NUTS – 2013) e atividade económica (Anual). Empresas – Empresas (N.º) por Localização geográfica (NUTS – 2013) e Atividade económica (Subclasse – CAE Rev. 3); Anual.

Silvicultura: mais emprego, maior proteção da floresta 

A criação de valor nas florestas – com a consequente criação de empregos – é essencial para a proteção do território. O despovoamento das áreas rurais e o progressivo abandono da floresta originaram extensas áreas que carecem de gestão e apresentam elevado risco de propagação de incêndio.

Aumentar a rentabilidade da floresta e o valor das atividades florestais permite contrariar a tendência de abandono rural e trazer novas oportunidades de desenvolvimento a estas regiões.

Apesar de, entre 2004 e 2021, cerca de 17 mil postos de trabalho se terem perdido nas atividades primárias e transformadoras do sector florestal, certos subsectores têm conseguido inverter a tendência e dar mostras de dinamismo no emprego criado. É o caso da silvicultura, que quase duplicou o número de empregos: passou de 9,1 mil para 16,7 mil.

Evolução histórica do número de pessoas empregadas no sector florestal, por subsectores, 2004 – 2021

Neste mesmo período, o emprego manteve-se relativamente estável no subsetor da pasta e papel (13,2 mil para 13 mil), mas nas restantes indústrias registaram quebras representativas: menos 10,7 mil pessoas ao serviço na indústria da madeira (31,8 mil para 21,1 mil), menos 8,8 mil na do mobiliário (41,8 mil para 33 mil) e menos 4,7 mil na da cortiça (de 13,3 mil para 8,6 mil).

Embora os dois anos de pandemia tenham afetado os números da silvicultura e exploração florestal, eles mantêm em 2021 um contributo valioso para o tecido empresarial e emprego ligado à floresta, com mais de 8 mil empresas e de 16,7 mil postos de trabalho.

De frisar, no entanto, que o trabalho de silvicultura (assim como o trabalho agrícola) é muitas vezes sazonal e informal, pelo que estas estatísticas podem estar aquém da realidade no terreno.

Evolução do pessoal ao serviço e empresas na silvicultura, por atividade económica, 2012-2021

Os empregos direta e indiretamente derivados da floresta não se esgotam na indústria, silvicultura, sapadores florestais e comércio. Atividades como a caça, a pesca, as culturas agroflorestais ou os serviços ambientais estão ligadas, em grande parte, aos ecossistemas florestais, demonstrando que o impacte e valor da floresta vai além do que tem sido formalmente indexado ao sector. Por exemplo, em 2021, estavam contabilizadas 321 pessoas ao serviço da caça, repovoamento cinegético e atividades dos serviços relacionados, a aquicultura em água doce tinha 61 pessoas dedicadas e as culturas de frutos de casca rija davam emprego a quase 7 mil. Adicionalmente, o emprego em atividades de gestão e proteção do ambiente nas empresas das indústrias da madeira, cortiça e da pasta e papel representavam mais de 220 postos de trabalho.

Exemplos do emprego noutras atividades relacionadas com a floresta, 2016 – 2021

Notas: *ETC correspondente aos empregos que existiriam se todos os empregados trabalhassem a tempo completo. Os dados de 2019 em diante para o indicador “Pesa em Águas interiores e apanha de produtos” não se encontram disponíveis

Fontes: INE – Pessoal ao serviço (Nº) das Empresas na Caça e Pesca. Estatísticas do Ambiente.