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Novas técnicas de resinagem: mais qualidade e produtividade

Novas técnicas de resinagem estão a ser desenvolvidas e testadas por investigadores e exploradores de resina portugueses, que procuram obter resina natural de melhor qualidade e aumentar a sua produtividade e valor, reduzindo o esforço e o risco para quem se dedica à resinagem.

Obter uma resina mais pura e livre de impurezas, que possa ser valorizada em todo o seu potencial, é um dos objetivos das novas técnicas de resinagem que estão a ser desenvolvidas e testadas no âmbito de um projeto nacional que junta várias instituições de pesquisa, organizações de produtores, prestadores de serviços florestais e inúmeras empresas – incluindo a totalidade das nove indústrias transformadoras de resina em Portugal.

Trata-se do projeto integrado “Resina Natural 21 – RN21 Inovação na Fileira da Resina Natural para Reforço da Bioeconomia Nacional”, desenvolvido por um consórcio que decorre sob a égide do laboratório colaborativo ForestWISE e cujos trabalhos (iniciados em 2022) se prolongam até final de 2025.

A abordagem de investigação e inovação cobre toda a cadeia de valor da resina natural (incluindo o desenvolvimento de novas aplicações da resina), mas começa na floresta, com o desenvolvimento e teste de novas técnicas de resinagem que tornem as atividades envolvidas na extração e entrega em fábrica mais expeditas, contribuindo para a maior produtividade da resinagem, e a obtenção de resina de melhor qualidade.

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Novas técnicas de resinagem vão do descarrasque ao recipiente de recolha

Várias das atividades envolvidas na extração de resina são pouco produtivas – manuais, demoradas e exigentes fisicamente – a começar pelo chamado desencarrasque (ou descarrasque), a primeira operação em campo, que consiste em raspar a camada superficial da casca do pinheiro (a carrasca) para a alisar, preparando o tronco para ser resinado.

Um resineiro dedica em média um mês e meio ao desencarrasque e esta atividade é feita com uma ferramenta manual, explica Marco Ribeiro, engenheiro florestal e Presidente da Resipinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina.

Mecanizar a operação é uma forma de agilizar este procedimento e está em curso o desenvolvimento de um protótipo – uma cabeça de alisamento ligada a uma máquina – para reduzir o tempo despendido neste trabalho, aumentando a rentabilidade para o resineiro e diminuindo o esforço físico exigido, que é um elemento crítico para a captação de novos profissionais para este sector, onde se regista falta de mão-de-obra.

Outra das novas técnicas de resinagem em estudo centra-se na recolha de resina em recipiente fechado, o que poderá melhorar substancialmente a qualidade deste produto natural e reduzir perdas que podem ser consideráveis.

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Descarrasque tradicional, feito manualmente. © Resipinus

“A resinagem em Portugal faz-se com a utilização de um recipiente aberto, seja ele um saco de plástico, usado mais no Norte, ou um púcaro de barro ou plástico, usado mais no Centro.” Nestes recipientes caem impurezas várias, desde insetos, a cascas e agulhas de pinheiros que contaminam a resina em bruto, explicou, à revista técnica Resinae, Maria Emília Silva, professora na UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e investigadora do CITAB – Centro de Investigação e Tenologias Agroambientais e Biológicas, entidade que também integra o projeto.

Em paralelo, a água da chuva cai nestes recipientes abertos e, em anos mais chuvosos, faz transbordar a resina, causando perdas significativas aos resineiros.

Tão ou mais relevante é o facto de os compostos voláteis presentes na resina se irem perdendo em contacto com o ar. Evaporam e dissipam-se na atmosfera ao longo do tempo de exposição, pelo que vão desaparecendo da resina, “tornando-a num produto menos rico do que quando sai da árvore”, refere a investigadora. Por isso, procuram-se soluções para garantir que a resina chega à indústria mais limpa e com maior teor de compostos voláteis, o que se traduz em maior valor comercial

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Em recipientes abertos a resina fica com impurezas

Seja em saco ou pucaro, a resina tem sido recolhida em recipientes abertos, o que permite a entrada de várias impurezas e leva à perda de importantes compostos que se volatilizam em contacto com o ar.

Refira-se que os voláteis da resina contêm compostos bioativos e aromáticos de reconhecido valor ecológico e económico. Esta fração volátil é separada da resina por destilação. Corresponde à essência de terebentina ou aguarrás, que além de aplicações diretas, é usada depois de uma segunda transformação em inúmeras indústrias e produtos: farmacêutica, perfumaria e ambientadores, produtos de limpeza, desinfetantes, inseticidas, tintas e vernizes. O outro derivado da resina natural resulta da parte não volátil – a colofónia ou pez louro – também aplicada em tintas, adesivos, borrachas sintéticas (pneus por exemplo), cosmética, pastilhas elásticas, entre outros produtos.

Resinagem em bolsa fechada

“O que estamos a desenvolver é o que chamamos de bolsa fechada” identifica Marco Ribeiro, explicando que o sistema utiliza uma espécie de broca circular com cerca de seis a sete centímetros de diâmetro, que faz a furação da casca, onde depois se coloca o tubo que encaminha a resina para uma bolsa fechada. A ideia é que “a bolsa permita a receção de resina durante três a quatro semanas”.

O princípio da bolsa fechada é semelhante à técnica de micro resinagem, que se implementa para perceber se as árvores são boas ou más produtoras de resina, embora na micro resinagem a broca tenha apenas um a dois centímetros de diâmetro e o recipiente fechado tenha uma capacidade muito limitada, de 30 a 40 mililitros. É uma solução que permite analisar de forma expedita o fluxo e quantidade de resina num período curto, de um a dois dias, explica Marco Ribeiro ao Florestas.pt.

Existe ainda um outro sistema que usa um recipiente fechado – borehole –, mas implica a perfuração profunda da árvore, em 15, 20, 25 centímetros, ou por vezes mais em função do diâmetro do tronco.

Os materiais a usar nesta bolsa fechada ainda estão a ser testados e o projeto pretende implementar também um processo mais simples de retirar a bolsa da árvore para a levar à fábrica. Está ainda a testar outra inovação para a fase seguinte: um processo de limpeza mecanizada do recipiente à entrada de fábrica.

O sistema tradicional de resinagem, que se encontra legislado em Portugal, permite uma incisão de 12 centímetros na horizontal, sem ferir a madeira – retirando apenas o câmbio. No sistema e bolsa fechada que se está a desenvolver a incisão tem uma forma circular (e não horizontal, como refere a lei), com um perímetro de cerca de 12 centímetros.

Por próxima que seja dos requisitos vigentes, a inovação em curso ou quaisquer outras novas técnicas de resinagem que venham a ser desenvolvidas terão de ser enquadradas pela legislação portuguesa antes de poderem modernizar a exploração de resina no terreno.

Bolsa fechada reduz perdas e evita impurezas
nova_tecnica_resinagem em bolsa fechada

© Resipinus

Estimulantes biológicos também em teste

Tanto no sistema tradicional, como em novas técnicas de resinagem, é utilizada uma pasta estimulante, que se aplica na ferida, para promover o fluxo da resina e retardar a cristalização. Este estimulante contém ácido sulfúrico na sua composição, pelo que a sua substituição por ácidos biológicos é outro dos temas em investigação no projeto Resina Natural 21.

Exposta ao ar, a resina cristaliza
Exposta ao ar a resina fica cristalizada

© Resipinus

“O que tem sido estudado é a utilização de ácidos biológicos que tenham um efeito análogo no comportamento e no efeito estimulante que o sulfúrico apresenta e que garantam em simultâneo um menor risco para a atividade resineira e uma maior qualidade da resina”, explica Marco Ribeiro.

“Procuramos desenvolver uma alternativa de origem natural que seja eficiente, ou seja, capaz de induzir a produção de resina com rendimentos superiores às soluções utilizadas atualmente, e que além disso seja barata, fácil de aplicar e segura”, referiu, à revista Resinae, Armando Silvestre, professor da Universidade de Aveiro e investigador principal do CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro, que também integra o RN21.

O mesmo responsável lembra que o ácido sulfúrico acarreta risco para quem o manipula e “é uma substância química que suscita elevada preocupação ao abrigo do REACH”, o regulamento europeu que avalia e autoriza (ou proíbe) a utilização de substâncias químicas em função do seu risco para a saúde humana e para o ambiente.

Para além deste risco, outro estudo português avaliou se o ácido sulfúrico poderia alterar a composição de pinhões recolhidos em pinheiros-mansos resinados (por comparação com pinhões de árvores não resinadas). Não foram encontrados vestígios de ácido sulfúrico nos pinhões de árvores resinadas com este método.