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Espécies Florestais

As espécies de tília que acolhemos em Portugal

As tílias são árvores exóticas que se tornaram frequentes em Portugal, principalmente nas cidades. Apesar de serem mais conhecidas pela infusão feita com as suas flores secas, são principalmente plantadas pelo valor ornamental. Conheças as espécies que acolhemos no nosso país, neste artigo em colaboração com Cristina Martinho.

Conhecida principalmente pelos efeitos benéficos das infusões que acalmam o stress e as constipações, a tília pertence a um género botânico que agrupa cerca de 30 espécies de árvores e arbustos, na sua maioria nativos das zonas temperadas do hemisfério norte.

De nome científico Tilia, estas árvores estavam antes classificadas na família Tiliaceae, mas pertencem agora à subfamília Tilioideae – família Malvaceae, que abrange arbustos e trepadeiras, como as malvas e os hibiscos.

Em Portugal, não existem tílias nativas e as espécies exóticas que por cá têm sido plantadas são mais relevantes na arborização urbana – em ruas, parques e jardins – do que em zonas florestais. Por exemplo, na “Cidade Invicta”, temos a Avenida das Tílias, localizada no Parque do Palácio de Cristal, e na “Cidade dos Estudantes”, a Alameda das Tílias, que fica no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.

Ainda assim, globalmente as tílias têm sido plantadas em zonas rurais, principalmente pelas suas flores, que são muito apreciadas para infusões, e também pela madeira, que tem várias utilizações e é valorizada, por exemplo, na criação de instrumentos musicais.

As tílias são usadas como ornamentais, em avenidas e alamedas

A identificação e diferenciação entre espécies pode ser complexa, revela a obra “Dendrologia Florestal” (de 2023), até porque a facilidade com que se cruzam entre si (hibridizam), dando origem a árvores com mistura de características, dificulta a sua classificação científica (a sua taxonomia). Ainda assim, reconhece-se a existência de quatro espécies e um híbrido em Portugal:

  • As espécies são a tília-prateada (Tilia tomentosa), tília-de-folhas-pequenas (Tilia cordata), tília-de-folhas-grandes (Tilia platyphyllos) e tília-americana (Tilia americana);
  • O híbrido é a tília-comum ou tília-europeia (Tilia x vulgaris ou Tilia x europaea), que resulta do cruzamento natural entre a tília-de-folhas-pequenas e a tília-de-folhas-grandes.

De notar que a lista das Espécies arbóreas florestais exóticas utilizáveis em Portugal continental, do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas não inclui a tília-americana.

Tílias

Tília: características das espécies em Portugal

Embora as diferentes espécies tenham características específicas, as suas semelhanças são numerosas:

– São tipicamente árvores com uma vida longa (talvez por isso associadas à longevidade), que podem chegar aos 25-30 metros de altura e apresentam copas largas e frondosas, que oferecem amplas sombras, muito apetecíveis no verão.

– As suas folhas são caducas têm um pecíolo fino e são alternas (a folha seguinte está um pouco acima da anterior ao longo do ramo), pontiagudas e dentadas, ligeiramente assimétricas na base.

– Todas as espécies são monoicas, ou seja, têm órgãos reprodutores masculinos e femininos, com flores hermafroditas (bissexuadas), de fragrância intensa, que atraem polinizadores. Como florescem tarde, já durante o verão, tornam-se um paraíso para as abelhas, que produzem um mel de tom amarelo-alaranjado – resultado da junção do néctar floral e da melada produzida pelos minúsculos insetos (afídios) que se alimentam da sua seiva.

– As suas flores, de pequena dimensão e cinco pétalas, têm uma cor entre o branco e o amarelo. Encontram-se unidas em grupos pendentes (inflorescências pêndulas) ligadas a uma bráctea longa (um género de folha que as protege), em forma de lingueta e de tom esverdeado claro, mais suave do que o verde das folhas.

– O fruto é seco, lenhoso, tem uma forma arredondada a oval e está coberto por penugem. No interior, encontram-se duas a três sementes. O fruto começa por ser verde, tornando-se depois acastanhado e mais duro. A bráctea funciona como uma asa, ajudando a dispersar as sementes.

As folhas de tília lembram um coração
As flores da tília
Os frutos da tília

Pensa-se que o nome Tilia possa derivar do grego “ptilon” – asa, remetendo para a bráctea que acompanha as flores e que facilita o transporte dos frutos e à dispersão das sementes. Outra hipótese é que possa derivar do grego “tilos” – que significa linha ou fibra vegetal, aludindo às fibras retiradas do floema (tecido vascular que conduz as substâncias orgânicas pelo interior da planta), que foram usadas tradicionalmente para fazer cordas, tapetes e redes.

As cinco tílias em Portugal: de onde vêm e como reconhecê-las

Das espécies presentes no nosso país, três são europeias (Tilia cordata, Tilia platyphyllos e Tilia tomentosa), uma é um híbrido entre espécies europeias e a outra é americana. Conheça algumas características destas cinco tílias.

1. Tília-prateada (Tilia tomentosa)

Também conhecida como tília-branca-europeia, é natural do Sudoeste da Europa e sudoeste da Ásia. Na Europa, cresce especialmente nos Balcãs e Hungria e os bosques de montanha são o seu habitat natural.

No nosso país, a espécie foi introduzida como ornamental, pelo que é relativamente fácil encontrá-la em parques, jardins e arruamentos. Por exemplo, em Lisboa, podem ser encontradas na Praça da Alegria, no Jardim do Príncipe Real, no Jardim da Estrela, no Jardim das Amoreiras e na Avenida Infante Santo.

Há também várias tílias-prateadas classificadas como Arvoredo de Interesse Público: um conjunto que forma uma Alameda no Jardim Dr. Matos Cordeiro, em Alijó, Vila Real (KNJ3/010); vários exemplares isolados no Largo de Santa Maria de Guimarães, na Guarda (KNJ1/439); no cemitério de Almeirim, em Santarém (AIP14030154I); no Adro da Igreja Matriz de Oliveira do Hospital, em Coimbra (KJN1/196); e junto a uma estrada em Santa Maria da Feira, Aveiro (AIP0193593I). Todas elas têm mais de 100 anos, o que é comum, pois esta é uma espécie com bastante longevidade, havendo exemplares centenários um pouco por toda a Europa.

Com uma copa ligeiramente piramidal, estas árvores crescem normalmente até aos 20 a 30 metros.  As folhas, verde-escuras na página superior, têm um tom branco-prateado na página inferior, devido à densa cobertura por minúsculos pelos estrelados. É esta a razão de lhe chamarem prateada. As flores aparecem na primavera, em agrupamentos de até 10 flores brancas a amarelo suave, muito aromáticas. Os frutos são drupas pequenas, de forma ovoide.

Tília-prateada (Tilia tomentosa)

No seu nome científico, o epiteto específico “tomentosa” vem do latim “tomentosus” – com pequenos pelos, referindo-se à cobertura densa na parte inferior das folhas, que lhes dá o tom prateado.

É uma espécie algo exigente em termos de solo e clima: precisa de água, não tolera temperaturas muito altas no verão nem frios intensos; prefere solos férteis, podendo crescer em solos onde predomina calcário ou sílica. Contudo, tolera poluição, compactação do solo, alguma secura e calor, o que lhe permite arborizar áreas urbanas.

Além de ser apreciada pelo seu valor ornamental, as suas flores (e, algumas vezes, folhas e casca) são utilizadas para fazer infusões, sendo ricas em compostos fenólicos, como os flavonoides (que atuam como antioxidantes) e sendo eficazes a reduzir a ansiedade e aliviar o stress.

2. Tília-de-folhas-pequenas (Tilia cordata)

Esta é a tília mais comum na Europa e a que tem maior área distribuição natural: dos Pirenéus e Norte de Espanha até ao Oeste da Ásia. Foi escolhida como árvore nacional da República Checa, título oficializado em 1848, e é considerada uma árvore nacional também na Eslováquia e Eslovénia. É uma espécie de crescimento lento e grande longevidade, havendo exemplares registados com mais de 500 anos em vários países europeus. No Reino Unido é uma espécie indicadora de formações florestais antigas.

Foi introduzida em Portugal como ornamental e este é o seu uso no nosso país, apesar de ser a espécie mais tradicional para o “chá de tília”.

De copa alta e irregularmente arredondada, pode crescer até aos 40 metros de altura e os troncos das árvores adultas podem estar livres de ramos até cerca dos 10 a 15 metros. Os seus ramos começam por ser ascendentes, ficando arqueados à medida que as árvores envelhecem.

As suas folhas pouco rugosas, cuja base lembra os recortes arredondados de um coração, têm entre três e nove centímetros (menores do que na tília-prateada) e são um verde mais claro. As suas margens são dentado-serradas e, nas axilas das nervuras na página inferior, são cobertas por tufos castanho-avermelhados.

As flores amarelas-translúcidas aparecem entre junho e julho, agrupadas em conjuntos (de até 15) e são protegidas por uma bráctea longa. Os frutos globosos surgem no outono ou já no inverno. Começam por ser verdes e cobertos de pelos (pubescentes), ficando depois castanhos e sem pelos (glabros).

A tília-de-folhas pequenas tolera bem alguma secura no verão e solos calcários, embora se dê melhor em solos fundos e férteis, de textura ligeira a mediana. Também é tolerante à sombra e ocorre, por vezes, em bosques ribeirinhos no norte da península, podendo ser encontrada em Espanha em altitudes até aos 1600 metros.

Tília-de-folhas-pequenas (Tilia cordata)

O epíteto específico “cordata” vem do latim “cordatus” – em forma de coração, numa alusão à forma das folhas.

Além das suas flores, muito apreciadas para as infusões, as folhas podem ser usadas na alimentação do gado e a sua madeira é considerada a melhor de entre as tílias, podendo ser usada para produzir pasta celulósica. Resistente ao fendilhamento e suave o suficiente para ser trabalhada, esta madeira de cor clara foi tradicionalmente usada para criar arcos e escudos, e depois para produzir outras peças, desde instrumentos musicais a colmeias e relógios de cuco. A casca interior também se aproveitou para cordame e vestuário e o seu carvão dá boa pólvora negra.

3. Tília-de-folhas-grandes (Tilia platyphyllos)

Esta espécie também foi introduzida como ornamental e no nosso país é esta essencialmente a sua aplicação, embora as flores possam usar-se para infusões.

Natural do Centro e Sul da Europa, pode ser encontrada desde o Norte da Península Ibérica (um pouco mais a sul do que a tília-de-folhas-pequenas) até à Grã-Bretanha e a sua presença estende-se até ao oeste da Ucrânia, estando a sua distribuição a norte limitada pelas temperaturas mais frias, já que esta espécie prefere mais calor.

Sendo também uma espécie de clima temperado, como as anteriores, precisa de alguma precipitação estival, embora tolere alguma secura no Verão. Prefere solos fundos e férteis, preferencialmente de textura ligeira a mediana e pode ser encontrada em zonas altas, até os 1700 metros, assim como em margens de cursos de água. Aparece normalmente isolada ou em pequenos núcleos.

Tal como a tília-de-folhas-pequenas, é uma espécie longeva, havendo registo de árvores centenárias e até milenares. Ambas fazem parte das áreas florestais europeias há cerca de seis séculos.

Esta é uma árvore de copa densa e arredondada, que pode crescer até aos 30 a 40 metros. As suas folhas, arredondadas a ovadas, têm a base em forma de coração. Maiores do que as das espécies anteriores, as folhas têm entre 12 e 15 centímetros. Na página inferior, têm nervuras muito marcadas, com tufos esbranquiçados nas axilas e um verde mais claro do que na página superior, de cor verde-brilhante. A floração branco-amarelada aparece em junho, em conjuntos de duas a cinco flores (raramente sete), com uma longa bráctea verde-clara. Os frutos, de forma ovoide, chegam entre o verão e o outono.

A madeira é leve e macia, fácil de trabalhar e produz lenha e carvão de média qualidade, que foi utilizado para o fabrico de pólvora negra.

Tília-de-folhas-grandes (Tilia platyphyllos)

No nome específico “platyphyllos” vem do grego “playts” – grande e “phyllon” – folhas, remetendo para a dimensão das folhas.

Distribuição natural das três tílias europeias

Tília-prateada

Distribuição natural da Tília-prateada

Tília-de-folhas-pequenas

Distribuição natural da tília-de-folhas-pequenas

Tília-de-folhas-grandes

Distribuição natural da tília-de-folhas-grandes

4. Tília-comum (Tilia x vulgaris)

Também conhecida como tília-europeia, é um híbrido natural que resulta do cruzamento entre a Tilia cordata e Tilia platyphyllos, espécies que hibridizam frequentemente quando se encontram próximas. As plantas usadas para cultivo tiveram provavelmente origem em híbridos selvagens.

É cultivada como ornamental e pela sua abundante sombra, podendo ser encontrada em grande parte Europa, de Espanha à Ucrânia. Nalgumas regiões tornou-se mais abundante do que as espécies que lhe deram origem.

É uma árvore de grande porte, que pode crescer até aos 50 metros de altura, com uma copa irregularmente arredondada. Os ramos são ascendentes, ficando arqueados em árvores velhas. As folhas, com seis a dez centímetros, são ovadas. A sua cor é verde-escura e baça na página superior e mais clara na página inferior, onde existem tufos de pelos esbranquiçados (nas axilas das nervuras).

As flores branco-amareladas aparecem na primavera, em grupos de cinco a dez flores com brácteas verde-amareladas. As flores são usadas na medicina tradicional por serem ricas em flavonóides, saponinas e taninos, entre outras substâncias bioativas. Os frutos têm cerca de oito milímetros, uma forma arredondada (entre o globo e o ovo) e são frequentemente estéreis, havendo pouca reprodução por semente.

A maior parte das suas características são intermédias entre as dos progenitores. A longevidade é um exemplo, podendo ser encontrados híbridos com várias centenas de anos na Europa.

Tília-comum ou tília-europeia (Tilia x vulgaris)

As tílias-comuns são árvores de grande porte e longevidade. Em algumas regiões tornaram-se mais comuns dos que as espécies que lhe deram origem.

5. Tília-americana (Tilia americana)

Natural do Este da América do Norte (Nordeste dos EUA e Sudeste do Canadá), foi introduzida em Portugal como ornamental, mas é menos frequente do que as anteriores.

É uma árvore de porte intermédio, podendo crescer dos 20 aos 40 metros de altura. A copa é arredondada e os ramos são ligeiramente pendentes.

As folhas são grandes – até 25 centímetros de comprimento -, alternas, de forma mais alongada do que as espécies anteriores. A cor na página inferior é verde-clara e as axilas das nervuras principais estão cobertas por tufos de pelos acastanhados. As flores amarelas aparecem em junho-julho, em conjuntos de seis a vinte, e o fruto arredondado mede entre oito e 20 milímetros de diâmetro.

Esta é uma espécie que pode ter um crescimento rápido quando as condições lhe são favoráveis, nomeadamente em zonas de solos fundos, frescos e férteis, mas é mais suscetível a pragas (causadas por insetos) do que as tílias europeias.

Tília-americana (Tilia americana)

Plantada como ornamental, a tília-americana é a menos comum em Portugal. Além do uso ornamental, a sua madeira tem aproveitamento comercial, incluindo para mobiliário.

Sabia que a tília…

– Inspirou o sobrenome do naturalista e taxonomista botânico, Lineu?

O sueco Carl Lineu (1707–1778) é um dos botânicos mais conhecidos da história, por a ser a ele que devemos o sistema binomial (nome do género, seguido do adjetivo que qualifica a espécie) de identificação e nomenclatura científica de cada uma das espécies (taxonomia). O que muitos não sabem é que o seu apelido se deve a uma tília. O seu pai, Nils Ingemarsson, oriundo de uma família pobre, não tinha um apelido de família. Quando entrou na universidade, lembrou-se da tília que crescia perto da sua casa de família e adotou o nome Linnaeus, a versão latina de tília – lind em sueco. O seu filho, Carl Nilsson Linnaeus, escolheu o nome Carl von Linné quando recebeu um título de nobreza em 1762.

– É usada para tratar constipações e acalmar o stress?

As flores têm sido usadas para fazer infusões desde tempos remotos. Tradicionalmente, as flores secas ou a sua infusão, a que muitos chamam chá, foi indicada para tratar constipações comuns, febres, tosses, catarros, stress, hipertensão, dor de cabeça, indigestão, diarreia, doenças de pele e outras.

Quanto mais tarde forem colhidas as flores, mais suscetíveis são de conter alguma propriedade narcótica, e um estudo recente aponta para que o extrato da flor de tília tenha efeito de relaxamento na contratilidade do intestino delgado, tendo como justificação farmacológica os efeitos do óxido nítrico.

Vista como um relaxante antiespasmódico e um calmante retemperador, que apazigua irritabilidade e a tensão, a tília é autorizada pela Agência Europeia do Medicamento em produtos medicinais tradicionais à base de plantas utilizados no alívio dos sintomas das constipações comuns e dos sintomas ligeiros de stress mental.

– É uma árvore com lugar especial em antigas culturas germânica e eslavas?

Na Alemanha e em zonas de cultura eslava da Europa Central, como nas regiões da Morávia e Boémia, (hoje República Checa) e na Eslovénia e Croácia, a tília é uma árvore sagrada. Muitas típicas vilas alemãs têm uma destas árvores na sua zona central, assinalando um lugar de encontro e o coração simbólico da sociedade. Era neste centro, sob a árvore que os julgamentos medievais se realizavam, sub tilia, para assegurar a verdade.

É uma árvore de grande simbolismo e representatividade para estes países, estando associada à ideia de paz e justiça nos antigos povos germânicos. Na Alemanha, mais de mil localidades têm um nome derivado de tília – linde –, como Lindau, Lindeck ou Leipzig, derivado do lugar sagrado do Lipzk – lugar junto às tílias – onde os colonos eslavos se reuniam há mais de 10 séculos.

Têm sido também árvores ornamentais escolhidas para os arruamentos de muitas cidades em grande parte da Europa, ao ponto de uma das mais importantes avenidas de Berlim se chamar “Avenida por baixo das tílias” (Prachtstraße Unter den Linden) – na foto.

Avenida sob as tílias, em Berlim

– É referida num dos grandes épicos da literatura medieval germânica?

A tília integra o épico medieval germânico “Canção dos Nibelungos”, que reúne um conjunto de poemas e lendas populares da época, contando a história de amor e vingança de Siegfried e Cremilde. Conta esta Canção que Siegfried se tornara invulnerável após ser banhado em sangue de dragão, mas acabou por sucumbir a um ferimento entre as omoplatas, no exato ponto onde uma folha de tília se colara ao seu corpo no momento do banho. A árvore “desempenha o mesmo papel nefasto da mãe de Aquiles” ao agarrar com a sua mão o calcanhar do filho.

– Inspirou o poema “A voz da Tília”, da portuguesa Florbela Espanca:

Diz-me a tília a cantar: “Eu sou sincera,

Eu sou isto que vês: o sonho, a graça,

Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,

Este ar escultural de bayadera…

 

E de manhã o sol é uma cratera,

Uma serpente de oiro que me enlaça…

Trago nas mãos as mãos da Primavera…

E é para mim que em noites de desgraça

 

Toca o vento Mozart, triste e solene,

E à minha alma vibrante, posta a nu,

Diz a chuva sonetos de Verlaine…”

 

E, ao ver-me triste, a tília murmurou:

“Já fui um dia poeta como tu…

Ainda hás de ser tília como eu sou…”

A tília é uma árvore de copa grande

* Artigo em colaboração com Cristina Martinho

Cristina Martinho é, em 2024, finalista de Arquitetura Paisagista, no ISA – Instituto Superior de Agronomia, e esta é a sua segunda licenciatura, uma vez que já tinha concluído o curso de Tecnologias da Saúde e iniciado a sua experiência profissional. A sua colaboração com o Florestas.pt realizou-se no âmbito dos estágios de verão alumnISA.