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Folhas de todas as formas: descubra as diferenças e as espécies

Se olhar com atenção para uma floresta, bosque ou jardim e observar de perto os seus detalhes vai descobrir folhas dos mais diversos formatos. Conheça as principais diferenças, saiba o que as caracteriza e as espécies onde as pode encontrar.

Umas solitárias no extremo dos ramos, outras agrupadas ou em fila. Umas finas e pontiagudas, outras arredondadas e outras ainda que lembram corações. Há também as de margens lisas e as que parecem ter sido recortadas. São inúmeros os detalhes que fazem das folhas de diferentes espécies pequenas obras de arte da natureza.

Dentro desta variedade, há algumas folhas que se reconhecem facilmente, como as folhas de louro (Laurus nobilis) que usamos como tempero, as do carvalho-negral (Quercus pyrenaica), com as suas margens recortadas por fendas bem visíveis, ou ainda as folhas do azevinho (Ilex aquifolium), com o seu recorte ondulado, mas há muitas mais para descobrir.

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Loureiro

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Carvalho-negral

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Azevinho

Ao observar as folhas, os botânicos encontraram formas de as distinguir e classificar, com atenção a detalhes morfológicos (da sua forma) que ajudam a identificar cada tipo de folha, contribuindo para reunir descritores de cada espécie. Para compreender este trabalho de “detetive”, importa saber quais são as várias partes que compõem a estrutura da folha, onde se localizam e quais são as mais importantes para as identificar.

Uma folha completa é composta por três partes: o limbo, que é a folha propriamente dia; o pecíolo, que liga o limbo ao caule; e a bainha, a parte inferior da folha que envolve parcialmente o caule. No pecíolo ou na base da folha podem existir apêndices semelhantes a folhas, as estípulas – estruturas protetoras das células que dão origem às folhas (meristemas).

Limbo – Também conhecido como lâmina, corresponde à superfície aplanada da folha. A sua divisão, forma e as nervuras que a percorrem podem ter variações entre espécies e são elementos distintivos usada para caracterizar as folhas e as espécie

Pecíolo – Pequeno “pé” que liga o limbo ao caule da planta. Pode ser mais curto ou mais longo e, em alguns casos pode não existir (no caso das espécies com folhas sésseis, em que a base da folha se insere diretamente no caule). O pecíolo é normalmente cilíndrico e flexível, o que permite afastar o limbo do caule, ajudando a folha a mobilizar-se e posicionar-se para maximizar a sua exposição à luz solar, evitar potenciais danos, arrefecer ou ajudar a chuva a deslizar ao longo da folha sem se acumular.

Bainha – É a parte da folha mais próxima do caule, mais alargada e que o envolve parcialmente. Tem como função proteger o meristema axilar e aumentar a resistência da folha ao vento.

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Estípula – Apêndice foliar localizado na base do pecíolo, cuja forma e dimensão pode variar, sendo quase impercetível em algumas plantas e bastante evidente e grande noutras.

No limbo encontram-se nervuras foliares, conjuntos de tecidos condutores e de estabilização mecânica da folha:

Nervura principal – É a “veia” principal que percorre o limbo. Fornece-lhe estrutura e é o canal principal de condução da água, nutrientes e produtos da fotossíntese entre a folha e as outras estruturas da planta.

Nervuras secundárias – São as ramificações da nervura principal, formando uma rede dentro do limbo, que apoia a sua estrutura e facilita o transporte da água, nutrientes e produtos da fotossíntese. O padrão de disposição destas nervuras – em forma de pena (peninérvea), em forma de palma de uma mão (palmada) ou paralelas – é outra das características importantes na identificação das espécies vegetais.

Outras partes das folhas podem também ajudar na identificação:

Ápice – Extremidade superior do limbo ou ponta da folha. Pode variar de forma em diferentes espécies – pontiagudo, arredondando, etc. – e é uma característica importante na sua identificação.

Margem – Contorno do limbo ou orla da folha. As margens têm também grandes variações entre espécies – lisas ou inteiras, serrilhadas, dentadas, onduladas, etc. – e são igualmente importantes características distintivas.

Base – É a região inferior do limbo, oposta ao ápice, onde a folha se liga ao pecíolo (ou ao caule no caso das folhas sésseis, como por exemplo as do carvalho-vermelho-americano).

Axila – Ponto de ligação entre a parte superior de um ramo ou caule e o pecíolo onde a folha se desenvolve. É nesta estrutura axilar que costumam desenvolver-se os pequenos botões ou gemas que dão origem a novos ramos ou flores.

Esta é a estrutura base da grande maioria das folhas e vários destes elementos contribuem para distinguir as espécies. Há um mundo de detalhes a descobrir!

As folhas, as suas características e como classificá-las

Há muitas características que ajudam na classificação das folhas. Embora haja outros elementos que podem ser analisados (consistência e cor, por exemplo), vamos considerar cinco tipos de características que podem ser aplicadas ao maior grupo de plantas do nosso planeta – o das angiospérmicas: a divisão do limbo, a sua forma, o recorte da margem, a disposição da folha no caule ou ramo e a distribuição das nervuras.

1. Divisão do limbo

Distingue folhas simples e folhas compostas. As folhas simples são aquelas que têm um limbo único, ou seja, são folhas inteiras, mesmo que se sejam muito recortas. As folhas compostas têm múltiplos limbos, totalmente separados, conhecidos como folíolos, dispostos sobre um mesmo eixo (aos não especialistas parecem conjuntos ou sequências de folhas).

Folha simples

A olaia (Cercis siliquastrum) – na foto – é um exemplo de folha simples, mas há muitas outras árvores e arbustos com limbo único, como a faia-europeia (Fagus sylvatica), o amieiro (Alnus glutinosa), o choupo (Populus nigra), o medronheiro (Arbutus unedo), ou os já referidos loureiro e carvalho-negral.

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Folha composta

O freixo-comum (Fraxinus angustifolia) – na foto – é um exemplo de uma espécie de folha composta – as suas folhas são compostas por 3 a 13 folíolos. Outros exemplos são a nogueira (Juglans regia), que tem folhas com 5 a 9 folíolos, e a aroeira (Pistacia lentiscus), com até 12 folíolos.

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Nas folhas compostas, os folíolos podem organizar-se sob diversos arranjos. Entre os mais comuns temos:

– Apenas dois ou três folíolos (três, como no trevo), sendo denominadas como folha bifoliada e trifoliolada, respetivamente.

– Cinco folíolos organizados em leque, lembrando os dedos de uma mão. Por esta razão deram-lhe o nome de digitada.

– Vários pares de folíolos, sendo neste caso uma folha paripinulada, ou uma sequência ímpar de folíolos, chamada de imparipinulada.

Vejamos alguns exemplos:

Digitada

Podemos encontrar folhas que lembram os dedos de uma mão, por exemplo, no castanheiro-da-Índia. (Aesculus hippocastanum).

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Paripinulada

São as folhas compostas por um número par de folíolos, como as da aroeira (Pistacia lentiscus), que tem um eixo alado de até 12 folíolos.

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Imparipinulada

Compostas por um número ímpar de folíolos, em que existe um sozinho no extremo da folha, como na nogueira (Juglans regia).

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2. Forma das folhas e folíolos

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Ao olhar para a natureza é fácil distinguir folhas “de todas” as formas e foi isso que fizeram os estudiosos – identificaram mais de duas dezenas de formas nas folhas e folíolos. Eis alguns exemplos das designações que as diferenciam, mas há muitos mais:

1) acicular, em forma de agulha, como nos pinheiros; 2) cordiforme, em forma de coração; 3) elíptica, que corresponde à forma mais “comum”; 4) ensiforme, alongada como uma espada; 5) espatulada, ou seja, semelhante a uma espátula; 6) falciforme, em forma de foice; 7) hastada ou alabardina, dois nomes para as folhas com a forma de um ferro de alabarda, terminando em ponta e com duas projeções laterais na base; 8) lanceolada, que lembra uma lança; 9) linear, ou seja, estreita e longa; 10) obcordiforme, como se fosse uma cordiforme invertida; 11) oblanceolada, com a mesma forma da lanceolada, mas invertida; 12) oblonga, mais longa do que larga; 13) obovada, com o ápice mais largo o que a base; 14) orbicular, arredondada e que lembra o contorno de um círculo; 15) ovada, como se desenhasse o contorno de um ovo em que o ápice é mais estreito do que a base; 16) oval, que lembra um ovo, com a base e o ápice de forma semelhante.

Vejamos três exemplos em espécies que temos nas nossas florestas e jardins:

Cordiforme

É uma folha que lembra um coração, como a da amoreira-preta (Morus nigra). Por vezes, quando o ápice é mais arredondado, é descrita como ovada.

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Lanceolada

É uma forma que lembra uma lança, com um limbo fino e longo que termina numa ponta bicuda. É este o caso da folha do eucalipto (Eucalyptus globulus).

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Palmatilobada

É uma folha recortada em lóbulos bem pronunciados, mas que não chegam a metade do limbo. É o caso da icónica folha do plátano (Platanus x hispanica).

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3. Recorte da margem das folhas

Ao observar a margem das folhas, as diferenças são também evidentes: há umas totalmente lisas, outras com saliências suaves e outras ainda com reentrâncias muito pronunciadas.

Quando o limbo tem a sua margem lisa e sem recortes, diz-se que a folha é inteira.

Quando a margem do limbo tem recortes suaves, podem identificar-se, por exemplo, margens serradas (semelhantes a uma faca de serrilha), crenadas (suavemente dentadas) ou lobadas (onduladas).

Já nos casos em que os recortes da margem são profundos, podemos ter folhas fendidas, partidas ou sectas.

Inteiras

A oliveira (Olea europaea) é um exemplo de uma espécie cujas folhas têm a margem lisa. Diz-se então que as suas folhas são inteiras.

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Serradas

No medronheiro (Arbutus unedo), as folhas são suavemente serradas, sendo também descritas como serradas a subinteiras.

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Fendidas

Já o pilriteiro, também conhecido como espinheiro-alvar (Crataegus monogyna) é um arbusto de folhas fendidas.

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4. Disposição da folha ao longo do caule

A forma como as folhas se dispõem ao longo do caule também não é a mesma em todas as espécies. As duas formas mais fáceis de encontrar e identificar são as folhas opostas e alternas, embora existam outras, como as verticiladas, em que as folhas se organizam num eixo a toda a volta do caule, e as opostas-cruzadas ou decussadas.

Folhas opostas

As folhas opostas estão localizadas uma em frente à outra à mesma altura do caule ou eixo, saindo do mesmo nó. Essencialmente, crescem em pares, uma em frente à outra, ao longo do caule. Freixo-comum – na foto, plátano bastardo e oliveira são alguns exemplos.

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Folhas alternas

As folhas alternas não se situam diretamente uma em frente à outra no caule, mas sim num padrão alternado: a seguinte um pouco acima da anterior. Assim, em cada nó só se insere uma folha. Plátano, carvalho-negral – na foto -, alfarrobeira e amoreira são exemplos.

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5. Distribuição das nervuras

A forma como as nervuras se distribuem no limbo da folha também ajuda a identificar as espécies. Podemos distinguir três tipos básicos de distribuição das nervuras: nervação peninérvea, paralelinérvea e palminérvea.

Peninérvea

As nervuras lembram uma pena, com as nervuras secundárias a saírem desde a nervura central até à margem, mais ou menos à mesma distância.

É a forma mais comum de nervuras nas folhas das árvores e encontramo-la em inúmeras espécies: por exemplo no limbo dos castanheiros (Castanea sativa) – na foto, dos sobreiros (Quercus suber) e alfarrobeiras (Ceratonia siliqua).

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Serradas

As folhas têm várias nervuras paralelas que se distribuem longitudinalmente ao longo do limbo. Podem observar-se em folhas longas, como as de várias palmeiras.

Uma planta que tem as nervuras paralelas é a tábua-rasa (Typha latifolia). É comum vê-la nas margens de lagoas e riachos ou semimergulhada em cursos de água. As suas folhas são estreitas e longas e as nervuras acompanham-nas.

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Fendidas

Cada folha tem várias nervuras que partem de um mesmo ponto, divergindo depois para diferentes zonas do limbo.

Há várias espécies de Acer com este tipo de nervuras nas suas folhas, como o Acer rubrum, a que chamamos bordo vermelho na foto, ou o plátano-bastardo (Acer pseudoplatanus), que podemos encontrar em Portugal, especialmente na região Norte.

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Juntar as características das folhas para classificar as espécies

Conjugando várias observações, como se fossem peças de um puzzle, conseguimos distinguir as folhas das diferentes espécies. Assim, podemos dizer, por exemplo, que:

– A alfarrobeira tem folhas alternas, compostas por 2 a 5 pares de folíolos (sendo geralmente em número par, ou seja, paripinuladas) de forma elíptica ou obovada, de margem inteira e é peninérvea quanto às suas nervuras.

– O amieiro tem folhas simples, alternas, obovadas a suborbiculares e de margem dentada, com nervuras peninérveas.

– O freixo-comum tem folhas opostas, compostas, formadas por 3 a 13 folíolos, sendo, por isso, uma espécie de folha imparipinulada. Os folíolos são estreitos, de forma oblonga a lanceolada e têm margem serrada. Quanto às nervuras, a folha é peninérvea.

– O loureiro tem folhas simples, alternas, peninérveas, de forma lanceolada e margem ondulada.

– O medronheiro tem folhas simples, alternas, lanceoladas, de margem serrada e nervuras peninérveas.

– O plátano é uma espécie de folhas simples, opostas, de forma palmatilobada, margens fendidas e nervuras palminérveas.

Agora que sabe mais sobre as folhas, observe-as e desfrute destas verdadeiras obras de arte tão diversas que a natureza nos oferece!