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Conservação

Como se calcula a idade das árvores?

As árvores podem viver centenas ou até milhares de anos, dependendo da espécie. Por exemplo, uma das maiores árvores do mundo – uma sequoia conhecida como General Sherman, nos EUA – terá cerca de 2100 anos de vida. Mas como se calcula a idade das árvores?

Um dos métodos mais fiáveis para calcular a idade das árvores é a contagem dos anéis de crescimento que ficam registados no interior dos troncos. A cada ano que passa, uma nova camada engrossa o tronco das árvores e cada camada corresponde a um anel.

Assim, no centro do tronco, um pequeno círculo indica a camada mais antiga, formada no primeiro ano de vida da árvore, enquanto na parte exterior do tronco (mais próxima da casca) está a camada mais recente. Contando desde o meio do tronco até ao seu limite, sabemos quantos são os anéis que nos indicam a idade da árvore.

A parte mais clara de cada anel forma-se durante a época de maior crescimento das árvores, que acontece na primavera e início do verão, enquanto as circunferências mais escuras indicam a madeira que se formou no período do ano em que o crescimento começa a reduzir-se, ou seja, no final do verão e outono. (No inverno, o crescimento cessa ou reduz-se significativamente, pois com frio e poucas horas de luz, as árvores entram num estado de dormência, chamado período vegetativo). Juntas, a parte mais clara e a mais escura equivalem a um ano de vida da árvore.

A disciplina que se dedica a estes estudos, chamada dendrocronologia, é bastante precisa a calcular a idade das árvores através da contagem dos seus anéis e permite até obter outras informações importantes sobre as suas condições de vida. Indica-nos por exemplo, que os anéis mais finos se formaram em anos mais secos, em que a árvore viveu com escassez de água, e vice-versa.

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Estimar a idade das árvores através da contagem dos anéis é mais fácil nas regiões de clima temperado do que nas restantes regiões do mundo. Porquê? Porque nas regiões temperadas existem estações bem definidas, que propiciam ritmos de formação da madeira diferentes ao longo do ano. São essas variações de ritmos que ficam registadas nos anéis. Esta cadência de crescimento da madeira (e a respetiva formação dos anéis) não se regista de forma tão evidente, por exemplo, nas zonas tropicais húmidas. Aqui, como a temperatura e as chuvas se mantêm elevadas e sem grandes variações durante todo o ano, os anéis são pouco diferenciados.

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Outras marcas nos anéis e interior do tronco podem ainda indicar que a árvore passou por um incêndio ou que sofreu o ataque de um organismo nocivo (uma praga), entre outros dados relevantes para desvendar o seu passado. Nas árvores mais velhas pode, por exemplo, ajudar a perceber quais foram as condições climáticas em anos muito distantes, antes de haver registos sistemáticos de temperatura ou da quantidade de chuva, por exemplo.

Este método de datação é uma excelente opção para estudar a vida e idade das árvores que morreram de velhas ou que foram derrubadas por uma tempestade, mas a sua utilidade tem uma grande limitação: só se aplica a árvores que já não estão vivas, pois só conseguimos contar os anéis do tronco se ele tiver sido cortado.

Uma alternativa para obter este conhecimento em árvores vivas passa pela utilização de um instrumento – uma verruma ou trado –, que permite extrair uma amostra transversal do tronco sem ter de cortar a árvore, mas este método continua a ser invasivo, pois implica fazer um furo até ao centro do tronco e remover de uma fina amostra do seu interior. Em árvores protegidas, antigas, ou que estejam mais vulneráveis não é aconselhado.

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Contagem dos verticilos revela idade das espécies coníferas

Apesar de não ser tão preciso como a contagem dos anéis, existe outro método para estimar a idade das árvores de espécies coníferas: a contagem dos verticilos, ou seja, a quantidade de “andares” criada por cada grupo de ramos que cresce, à mesma altura, em torno do tronco principal.

Este método só é adequado às espécies “sempre verdes”, de folhas que lembram agulhas e cujos frutos são pinhas (cones) de onde caem as sementes, como os pinheiros (Pinus spp.) ou os ciprestes (Cupressus spp.), por exemplo. Isto porque as espécies coníferas produzem novos “andares” ramificados em intervalos regulares, ao contrário das espécies folhosas (as de folha larga e frutos que escondem a semente no seu interior), em que não existe uma cadência.

Cada verticilo equivale a um ano de idade e é preciso juntar à contagem mais dois a quatro anos, que correspondem ao tempo médio de crescimento da jovem árvore até que surjam os primeiros verticilos.

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Um ou dois ramos solitários que brotam a diferentes alturas do tronco não constituem um verticilo e não devem ser contados. O que conta como um verticilo (e como um ano) são as várias ramificações (três ou mais) que brotam do mesmo ponto ou nó ao redor do tronco. Neste sentido, os nós que já perderam as ramagens também devem ser considerados.

O método é simples e fácil de aplicar em árvores coníferas relativamente jovens (mais baixas), mas pode ser difícil distinguir os verticilos em árvores mais velhas, quer porque é complicado observá-los em copas muito altas e densas, quer porque alguns podem ter desaparecido das secções mais baixas (ramos que se partiram ou foram cortados, deixando apenas os nós). Adicionalmente, as árvores mais velhas podem ter mais irregularidades que dificultam a contagem. Assim, contar os andares das coníferas pode ter várias limitações e é eficaz apenas até aos cerca de 15 anos de idade das árvores.

Estimar a idade das árvores através de medições e modelos preditivos

Face às limitações das abordagens anteriores, têm sido desenvolvidos alguns métodos baseados em medições diretas das árvores e na conjugação destas medidas com modelos de crescimento das espécies. Há métodos simples e outros mais complexos e robustos, que cruzam disciplinas como a matemática, a estatística e a informática com a botânica, climatologia e dendrologia.

Um método simples baseia-se na medição do Diâmetro do tronco à Altura do Peito, conhecido pela sigla DAP (na Europa e maior parte dos países a 1,3 metros de altura, embora noutros varie entre 1,2 e 1,4 metros do solo). A idade das árvores encontra-se pela relação entre esta medida e a taxa de crescimento média da espécie em causa.

Esta abordagem não é invasiva, nem requer equipamentos sofisticados, mas implica saber previamente qual é a taxa de crescimento da espécie na região onde se pretende conhecer a idade das árvores, pois esta taxa varia entre espécies e em função das condições ambientais (clima, tipo de solo, entre outras), podendo variar também constante as práticas de gestão florestal.

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Um método mais completo, também baseado em medições e apoiado pela matemática, foi desenvolvido em Portugal para estimar especificamente a idade das oliveiras (Olea europaea), nomeadamente de exemplares antigos desta espécie. Isto porque o tronco das oliveiras tende a ficar oco, com partes retorcidas e concavidades à medida que elas envelhecem, o que inviabiliza a contagem dos anéis.

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Assim, em resposta ao desafio lançado pela empresa Oliveiras Milenares, especializada na propagação e recuperação de velhas oliveiras, uma equipa da UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro desenvolveu um novo método baseado em quatro medidas do tronco: três a diferentes níveis do perímetro e uma da altura.

Após reunir informação sobre o modo como a espécie vai evoluindo em dimensão ao longo de tempo e em dada região, a equipa criou uma base dados e automatizou os cálculos, para que, ao inserem as medidas de uma nova oliveira, a estimativa da sua idade fosse feita automaticamente. O método não danifica as árvores e as contas são relativamente simples. Contudo, este método também requer informação prévia sobre o crescimento da espécie na região em análise.

Foi com base neste sistema desenvolvido pela UTAD que se identificaram inúmeras oliveiras com milhares de anos em Portugal – como bem ilustra a Oliveira do Mouchão, que terá mais de 3 mil.

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Equipas de investigadores em todo o mundo têm desenvolvido dezenas de modelos preditivos baseados em diferentes medições do tronco ou na contagem de anéis em árvores mortas e que combinam estes dados diretos com taxas e padrões de crescimento, considerando a influência de fatores biológicos e ambientais.

O método que rejuvenesceu a idade estimada da maior sequoia do mundo, conhecida como General Sherman, cruza medidas e modelos preditivos baseados em dados anteriormente recolhidos. Foi assim que, em 2020, Nathan L. Stephenson, um dos cientistas que se tem dedicado a estudar as velhas sequoias da Califórnia, concluiu que muitas destas árvores eram mais jovens do que se pensava. Por exemplo, a General Sherman terá 2100 a 2200 anos (e não mais de 3 mil como antes se dizia).

Datação por carbono identifica amostras com milhares de anos

A longevidade da madeira pode ainda ser conhecida através da datação por carbono, um método complexo e delicado, usado geralmente para estimar a idade de árvores com milhares de anos em troncos ou partes deles, muitas vezes já fossilizados.

Mas como é feita esta datação por carbono? Durante a sua vida, as árvores absorvem carbono da atmosfera, sendo uma ínfima parte carbono-14 (ou radiocarbono), uma pequena parte carbono-13 e a maioria carbono-12. Quando a árvore morre e deixa de absorver carbono atmosférico, o carbono-14 presente começa a decair a um ritmo que é conhecido pela ciência. A datação por carbono mede a proporção de carbono-14 remanescente na madeira (em relação ao carbono-12 e 13, que permanecem inalterados), para revelar quanto tempo se passou desde que a árvore morreu.

Assim, quando os cientistas procedem à datação por carbono, a informação que obtêm é o tempo decorrido desde que a árvore deixou de interagir com o ambiente (com a atmosfera). O radiocarbono acaba por desaparecer totalmente, pelo que a datação só consegue recuar até cerca de 60 mil anos.

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A datação por carbono é precisa, mas vale a pena ter em consideração que ao datar um tronco, o que está a ser avaliado é uma amostra de determinada parte da madeira, correspondente a um dos seus anéis de crescimento. Como os troncos das árvores crescem pela adição de anéis, a madeira do interior do tronco (do cerne) será mais antiga do que a das camadas exteriores, mais próximas da casca (borne). Uma amostra da medula, camada central do tronco, composta pelo tecido vascular inicial da planta, será ainda mais antiga.

Conhecer o passado para desvendar idade das árvores à escala geológica

A estimativa da idade de árvores antigas pode ser feita com a ajuda de outras disciplinas cujo objetivo é desvendar o passado: estudos arqueológicos, geológicos e paleontológicos, por exemplo. Estes dados fornecem uma perspetiva contextual das condições climáticas e ecológicas em que viveram os organismos em estudo e apoiam, assim, uma análise temporal fundamentada.

Um exemplo interessante é o de um estudo de finais de 2024 sobre a idade dos álamos (Populus tremuloides) que constituem o chamado Pando, no Utah, EUA. Esta é a maior colónia de choupos ou alamos-tremedores já identificada: estende-se por cerca de 43 hectares e é composta por mais de 40 mil árvores, geneticamente semelhantes e provenientes de um único sistema de raízes.

Este estudo junta dados da genética (análise de ADN dos alámos), com pistas vindas da climatologia e da paleobotânica para estimar que o Pando, a que muitos chamam a maior árvore do mundo, pode ser também um dos organismos vivos mais velhos do planeta. Descubra mais sobre o Pando, que terá pelo menos 16 mil anos.

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