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Ecossistema

Floresta tropical é a mais extensa e diversa do mundo

Alta, densa e exuberante, a floresta tropical é a maior floresta do mundo e uma das mais afetadas pela desflorestação. Dela dependem muitos serviços essenciais à vida e ao equilíbrio dos ecossistemas em todo o planeta.

A floresta tropical localiza-se numa faixa central do globo em torno do Equador, onde as temperaturas e a humidade se mantêm elevadas e a chuva cai com intensidade ao longo de praticamente todo o ano. As temperaturas raramente descem abaixo dos 20 graus Celsius e podem cair anualmente até 10 mil milímetros de chuva (para se ter uma ideia comparativa, em Portugal, a precipitação média anual é de mil milímetros, podendo ultrapassar os 3 mil milímetros nas montanhas do Norte do país).

Esta faixa equatorial equivale sensivelmente à área entre as linhas imaginárias dos trópicos de Caranguejo e Capricórnio (23º acima e abaixo do Equador). No entanto, os limites ecológicos da floresta tropical não são determinados pela latitude, mas pelas condições climáticas: termina nos locais onde as estações do ano passam a apresentar mudanças claras, com temperaturas baixas e carência de chuva.

A maior área de ecossistemas de floresta tropical do mundo localiza-se na bacia amazónica e é partilhada por países como o Brasil (que detém a maior área de florestal tropical, cerca de 5 de um total de 6,7 milhões de quilómetros quadrados), a Bolívia, o Perú, a Colômbia, a Venezuela, o Suriname, a Guiana e a Guiana Francesa.

A segunda maior área de floresta tropical, com pouco mais de 2 milhões de quilómetros quadrados, encontra-se na bacia do Congo (África Central), abrangendo também vários países, como a República Democrática do Congo, a República do Congo, a República Centro Africana, Camarões, Guiné Equatorial e Gabão. A terceira zona de floresta tropical mais extensa fica nas grandes ilhas tropicais do Extremo Oriente – de Sumatra e Bornéu à Nova Guiné.

Muitas outras áreas menores – mas no seu conjunto representativas – encontram-se por exemplo nas Caraíbas, África Oriental e Madagáscar, no Sul e Sudeste Asiático, no sul da China, nas Filipinas, em muitas pequenas ilhas tropicais do Pacífico e parte da Austrália (Oceânia).

No total, cerca de 85 territórios repartem a floresta tropical, que ocupa uma área estimada de 18 milhões de quilómetros quadrados, segundo a “Encyclopedia of Biodiversity” (2013) ou 18,3 milhões de quilómetros quadrados, de acordo com o “Global Forest Resources Assessment 2020” (FRA 2020). Este último relatório refere ainda que, dos 4,06 mil milhões de hectares (40,6 milhões de km2) de floresta global, 45% são florestas tropicais, seguindo-se as florestas boreais, as temperadas e as subtropicais.

Distribuição global das florestas, por domínio climático, milhões de km2

Floresta tropical18,3
Boreal11,1
Temperado6,6
Subtropical4,4

O relatório “The State of the World’s Forests 2020” (SOFO 2020) indica que estas são as florestas mais intactas e menos fragmentadas do mundo, uma realidade partilhada com as florestas boreais, dado que ambas têm grandes extensões em zonas de difícil acesso e com baixa densidade populacional. “As florestas das bacias do Amazonas e do Congo são as menos fragmentadas e mais contínuas”, refere, sublinhando, no entanto, que a conversão de grandes áreas está a causar transformações e perdas muito significativas (em especial, devido ao corte para a criação de áreas agrícolas, que é reconhecido como a fonte principal de desflorestação).

Redução da floresta tropical tem consequências globais

As florestas primárias da região tropical têm sido as mais afetadas pela desflorestação: em 2022, perderam mais de 41 mil quilómetros quadrados, principalmente na América Latina e Caraíbas.

Estas perdas acarretam consequências, críticas para as populações locais – que dependem da floresta para a sua subsistência – e também para o equilíbrio global da vida no planeta, salientando-se, para além da conversão de dióxido de carbono em oxigénio, efeitos que englobam:

  • Mudanças no clima, pela alteração dos fluxos de humidade e padrões hidrológicos (relacionados com os chamados rios voadores), com impactes na regulação da pluviosidade e arrefecimento do ar e na aridez do território a nível intercontinental e mesmo global;
  • Diminuição do carbono retido pelas árvores e pelo solo, assim como do ritmo de remoção de dióxido de carbono da atmosfera;
  • Aumento da exposição do solo à erosão e da propensão para aluimentos e derrocadas face à perda de sustentação proporcionada pelas raízes;
  • Redução da infiltração e da filtração da água, com impacte na disponibilidade de água potável;
  • Fragmentação e perda de habitats, pondo em risco a vida milhares de espécies.

As florestas tropicais ocupam cerca de 7% da área terrestre do nosso planeta, mas armazenam entre 25% e 40% do carbono global do solo (embora esta capacidade esteja a ser afetada pelas alterações globais). Ao extrair dióxido de carbono da atmosfera e armazenar carbono, desempenham um papel crucial no arrefecimento da superfície terrestre, mas os mecanismos biofísicos que desencadeiam são ainda mais relevantes para o arrefecimento da Terra, pela sua capacidade para “criar” nuvens, humidificar o ar e libertar compostos refrescantes.

A ararinha-azul brasileira (Cyanopsitta spixii), considerada extinta na natureza e alvo de reintrodução, o orangotango-do-Bornéu (Pongo pygmaeus) avaliado como criticamente em risco, e o também em risco crítico de extinção elefante-da-floresta africana (Loxodonta cyclotis) são algumas espécies emblemáticas em causa, mas muitas outras estão a extinguir-se, algumas antes de serem identificadas pela ciência (estima-se, por exemplo, que 77% das espécies de plantas ainda não descritas cientificamente no mundo estejam nesta situação).

Perto de dois terços das espécies conhecidas vivem na floresta tropical húmida

Apesar destas perdas, as florestas tropicais abrigam uma grande variedade de espécies, estimando-se que sejam habitat para 62% dos vertebrados terrestres (mais de 21 mil espécies): 63% dos mamíferos, 72% das aves, 76% dos anfíbios e 42% dos répteis conhecidos.

No que concerne a espécies de árvores tropicais, as estimativas apontam para cerca de 37,9 mil já identificadas (e muitas outras, da ordem dos milhares, por identificar), com substancial variação intercontinental na composição das espécies e na estrutura destas florestas tropicais, consoante a sua antiguidade, evolução histórica e região do globo.

A maioria destas espécies são desconhecidas dos portugueses, como é o caso da Tristaniopsis merguensis, uma árvore nativa de diversos territórios do Sudeste Asiático que se eleva até aos 30 metros de altura, ou da Gilbertiodendron dewevrei, uma árvore sempre verde que pode crescer até aos 45 metros e é comum da floresta tropical africana. Menos desconhecidas são algumas espécies da bacia amazónica, a exemplo da Euterpe oleracea, conhecida como palmito ou palmeira-açaí.

A vida em camadas, do céu ao solo

Uma das características distintivas da floresta tropical húmida é a sua estrutura vertical composta por estratos sequenciais com diferentes características e espécies, relacionadas especialmente com as diferenças no acesso à luz solar, à quantidade de água e à circulação do ar. São habitualmente identificadas quatro camadas principais nestas florestas:

1 – Estrato do dossel (Dossel superior): A camada superior que emerge na floresta tropical é formada pelas copas das árvores mais altas, que podem elevar-se bem acima dos 50 metros. Nesta camada existe total exposição às variações climáticas: luz solar intensa, ventos fortes e chuva direta. Os animais que se encontram neste habitat – ou o visitam – têm de resistir a estas condições. São principalmente espécies que voam, planam ou conseguem trepar com grande agilidade, nomeadamente aves, insetos e poucos mamíferos (alguns primatas).

2- Estrato intermédio (Subdossel): É a faixa onde se concentra a maioria das copas das árvores de médio porte, entre os 30 e os 50 metros, e também a maioria das espécies animais, incluindo aves, mamíferos, répteis e insetos. É aqui que se produzem a maioria dos frutos com semente que servem de alimento a muitos destes animais, os quais, por sua vez, contribuem para dispersar as sementes por vastas áreas. Sendo densa, esta camada retém grande parte da luz solar que lhe chega, impedindo-a de chegar aos estratos inferiores.

3 – Estrato do sub-bosque (Estrato inferior): Esta é uma zona mais quente, húmida e escura – onde só chega uma ínfima parte de luz – e menos arejada, onde se encontram árvores de pequeno porte e jovens árvores, arbustos, fetos arbóreos e plantas mais pequenas resistentes à sombra. Algumas espécies são epífitas, isto é, vivem na superfície das outras árvores, sem as parasitarem e sem nunca chegaram a tocar o solo. Cobras, felinos (jaguares, por exemplo), rãs de árvores e pequenos pássaros estão entre a fauna deste estrato.

4 – Estrato do solo (Chão da floresta): Compreende as plantas que crescem no chão da floresta até cerca de três metros de altura. Nesta camada, a mais escura, encontramos organismos decompositores como fungos, bactérias e insetos, que desempenham um papel crucial na reciclagem de nutrientes a partir da matéria orgânica em decomposição. Raízes subterrâneas e tubérculos alimentam outros animais, como por exemplo javalis ou antas. Mamíferos de diferentes portes, que variam muito entre regiões – desde elefantes a leopardos, passando por vários primatas – cruzam igualmente este estrato.

Apesar desta exuberância de flora típica da floresta tropical húmida, o seu solo é geralmente ácido e pobre em nutrientes – pouco fértil por natureza. Isto acontece porque os nutrientes são decompostos rapidamente pelo calor e humidade e  depois arrastados pelas chuvas que caem diariamente.

A capacidade de crescimento das plantas está essencialmente restrita aos recursos existentes à superfície do solo: na biomassa viva e morta que se acumula ao longo dos diferentes estratos da floresta e na espessa camada superficial de plantas e animais em rápida de decomposição (biomassa morta) que, antes de ser lixiviada pelas águas, conta com a ajuda de outras formas de vida – fungos, por exemplo – para nutrir continuamente as espécies vegetais.