Descobrir

Árvores Monumentais

Figueira dos Amores, uma exótica gigante na Quinta das Lágrimas

Eleita Árvore Portuguesa do Ano 2025, a Figueira dos Amores é uma das exóticas gigantes que se ergue no Jardim da Quinta das Lágrimas, em Coimbra. A sua história terá começado em meados do século XIX, a partir de uma semente vinda da Austrália, um dos países de onde a espécie Ficus macrophylla é nativa.

A história da Quinta das Lágrimas começa muito antes da Figueira dos Amores ter sido plantada. Remonta ao século XIV e o documento mais antigo que se conhece sobre ela data de 1326.

Foi nesse ano que a Rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis, mandou criar um canal para encaminhar a água de duas nascentes para o Convento de Santa Clara. Ao local de onde água brotava deste canal, chamaram depois “Fonte dos Amores”. Conta-se que este nome lhe foi dado por ser junto a esta fonte que o infante D. Pedro e Inês de Castro (aia da mulher do infante, D. Constança) se encontravam secretamente, consolidando um amor proibido que levou, mais tarde, ao assassinato de Inês.

Ao longo dos séculos, os jardins da Quinta das Lágrimas foram-se ampliando e acolhendo novas espécies. Por exemplo, em 1813, o Duque de Wellington, que ajudara Portugal a travar o avanço das tropas de Napoleão, visitou a quinta e, para assinalar o momento, foram plantadas duas sequoias.

Em meados do mesmo século, o filho do dono da Quinta, Miguel Osório Cabral de Castro, mandou construir um “jardim romântico”, com lagos e árvores exóticas e raras, que o microclima húmido desta zona fez prosperar. Mais tarde, o sobrinho D. Duarte de Alarcão Velasquez Sarmento Osório, mandou construir junto à saída de água mandada fazer pela Rainha Santa Isabel uma porta em arco e uma janela neogóticas.

Terá sido por meados do século XIX, numa troca de sementes com o Jardim Botânico de Sidney, na Austrália, que a Figueira dos Amores teve a sua origem, crescendo próxima da Fonte dos Amores e não longe da porta e janela neogóticas.

Muitas outras espécies vindas das mais variadas partes do mundo fazem-lhe companhia no Jardim da Quinta das Lágrimas.

Algumas gigantes ultrapassam-na em altura, como acontece com várias espécies de Araucaria, incluindo uma também australiana – a Araucaria bidwillii, e uma Sequoia sempervirens. Outras, embora menos imponentes em dimensão, impressionam pela beleza da sua floração e pelas nuances de cor que as suas folhas imprimem à paisagem nas diferentes estações do ano. É o caso da Árvore-de-Júpiter (Lagerstroemia indica), do Ginkgo biloba, da magnólia-japonesa (Magnolia x soulangiana) ou do tulipeiro-da-Virgínia (Liriodendron tulipifera).

Figueira dos Amores eleita Árvore do Ano 2025

A Figueira dos Amores foi eleita como Árvore do Ano 2025, no Concurso realizado em Portugal, com 2713 votos. A candidatura foi feita pela Fundação Inês de Castro.

A Figueira_dos_Amores pode ser vista na Quinta das Lágrimas
Figueira dos Amores, junto à Fonte dos Amores, na Quinta das Lágrimas

Vale a pena visitar a Quinta das Lágrimas para conhecer os seus jardins e a Figueira dos Amores. Como é um espaço privado onde funciona um hotel, o acesso é pago e as visitas podem realizar-se de terça-feira a domingo, das 10 às 17 horas de 16 outubro a 15 março, e das 10 às 19 horas entre 16 de março e 15 de outubro.

Figueira-estranguladora impressiona pelas suas raízes tentaculares

Século e meio depois de nascer, a Figueira dos Amores – assim batizada como símbolo do amor que os jardins encerram – impressiona pelo seu aspeto e dimensão.

Tal como ela, as árvores da espécie Ficus macrophylla têm habitualmente médio a grande porte e, nas zonas nativas, podem elevar-se aos 50 a 60 metros. A sua ampla copa pode chegar aos 35 metros de altura e extensão. Embora possa nascer através de sementes depositadas no solo, na natureza a semente desta figueira germina normalmente nos ramos de outras árvores. Embora não retire nutrientes às suas hospedeiras, esta figueira acaba por vezes por matá-las ao envolvê-las na sua apertada rede de raízes aéreas, que limitam o transporte de água e nutrientes aos troncos das hospedeiras e lhes bloqueiam a luz.

Este comportamento estará na origem de um dos nomes comuns pelos quais esta espécie é conhecida: figueira-estranguladora. Também denominada de figueira-da-Austrália, esta árvore é especialmente impressionante pela dimensão e forma tentacular das suas raízes. Como referido, as raízes são aéreas – desenvolvem-se em torno das hospedeiras -, mas à medida que crescem, lançam-se ao solo e é sobre ele que se alongam, serpenteantes, podendo ocupar vários metros em torno do tronco.

Raízes e folhas da figueira-estranguladora (espécie Ficus macrophylla)

O nome específico com que a ciência identifica esta figueira revela também a dimensão das suas folhas: macrophylla vem do grego ‘macros’ – grande ou longo, e ‘phyllon’– folhas, referindo-se ao tamanho das folhas destas árvores adultas, que podem alcançar os 25 centímetros de comprimento e cerca de metade em largura. As folhas lembram as da árvore-da-borracha e, apesar dessa ser outra espécie de Ficus – a Ficus elastica, há quem designe a figueira-estranguladora como árvore-da-borracha-australiana.

Grandes exemplares em Portugal, além da Figueira dos Amores

Embora esta espécie seja nativa de florestas subtropicais e tropicais, a figueira-estranguladora adapta-se bem ao clima mediterrânico e é possível admirar exemplares colossais e centenários noutros jardins portugueses, a maioria no centro e sul do país, e também no arquipélago dos Açores. Várias destas árvores estão classificadas pelo seu “Interesse Público”.

Bem perto da Quinta das Lágrimas, no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, pode apreciar-se uma delas. Terá sido plantada pelo jardineiro Francisco Cabral, em 1877, e eleva-se a cerca de 20 metros de altura.

Figueira-estranguladora (Ficus macrophylla) no Príncipe Real, Lisboa

Uma das três figueiras-estranguladoras do Príncipe Real, em Lisboa, todas com mais de 150 anos.

Figueira-estranguladora (Ficus macrophylla), Jardim António Borges, Açores

A figueira-estranguladora do Jardim António Borges, em Ponta Delgada, Açores, com cerca de 160 anos.

Em Lisboa, haverá umas duas dezenas destas figueiras, várias das quais classificadas: uma das mais imponentes está no Jardim Botânico Tropical, em Belém, mas há outras no Jardim Botânico da Ajuda e no Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Bem perto, há mais três no Jardim do Príncipe Real, outra no Jardim da Estrela e outra ainda no Largo Hintze Ribeiro. No jardim Constantino, em Arroios, também há uma, e na Estrada de Marvila outra, ambas integradas em roteiros de árvores classificadas. Parque Botânico Monteiro Mor e Tapada da Ajuda são outros dos locais onde podem ser vistas.

A figueira-estranguladora é também um ex-libris em vários jardins açorianos, como por exemplo o Jardim Botânico José do Canto e o Jardim António Borges, ambos em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. No Jardim António Borges, por exemplo, está um exemplar com 160 anos, classificado desde 1970 pelo seu “Interesse Municipal”. Em maio de 2024, um dos seus ramos de grandes dimensões colapsou sem razão aparente e, apesar das feridas deixadas no tronco estarem a regenerar naturalmente, a árvore está a ser analisada em termos fitossanitários e de risco.