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Biodiversidade

Quais são as principais categorias taxonómicas para classificar as plantas?

As principais categorias taxonómicas habitualmente identificadas são Espécie, Género, Família, Ordem, Classe, Divisão (Divisão aplica-se às plantas e Filo aos animais) e Reino. Uma Espécie pertence a um Género (que pode conter uma ou mais espécies), o qual, por sua vez, está incluído numa Família (que, de igual forma, pode ter um ou mais géneros) e assim sucessivamente até chegarmos à categoria taxonómica mais elevada, o Reino.

Pode ainda designar-se uma categoria mais geral, o Domínio – um Super-reino que engloba os diferentes Reinos que compõem a vida na Terra, sendo a mais inclusiva das divisões taxonómicas. Acima deste, existe o Superdomínio Biota (Vida), que inclui todos os seres vivos.

Além das categorias taxonómicas principais, consideram-se outras intermédias acima (super) e abaixo (infra e sub), como a Superclasse (aplicável à fauna, como é o caso da superclasse Pisces, dos peixes), a Infraordem (como a infraordem Rosanae, dentro da ordem Rosales, que inclui plantas como as roseiras e as figueiras) ou a Subespécie.

Estas categorias taxonómicas são essencialmente um modelo de organização que nos ajuda a compreender a vida e as relações entre os diferentes seres vivos: estão organizadas numa hierarquia, do geral para o particular.

A mais geral e abrangente engloba toda a vida na Terra, dividindo-se depois em grupos ou categorias cada vez menores, permitindo dispor e classificar os organismos de forma sistemática e também ter uma ideia das relações evolutivas entre eles.

A mais específica ou particular é a Espécie. As espécies são as unidades básicas da sistemática e da evolução. Consistem em sistemas de populações que se assemelham entre si nas suas características morfológicas, ecológicas e genéticas.

Existem várias definições e conceitos de espécies. De acordo com a definição de Ernst Mayr, “espécies são grupos de populações naturais com indivíduos interférteis, que se cruzam entre si ou são suscetíveis de o fazer, reprodutivamente isolados de outras espécies”. Este conceito biológico é a base da biologia e é muito aplicado em vários ramos.

Contudo, esta definição não reúne consenso entre botânicos. Uma das razões prende-se com o facto de alguns híbridos de plantas produzirem descendentes férteis, o que invalida o conceito de isolamento sexual entre espécies. Outra das razões desta falta de consenso deve-se a algumas plantas conseguirem reproduzir-se assexuadamente – a planta original (planta mãe) consegue originar descendentes geneticamente semelhantes a partir, por exemplo, de caules e folhas dos quais brotam novos indivíduos, pelo que a ideia de ser necessário um cruzamento acaba por não ser adequada.

Assim, os taxonomistas adotaram o chamado conceito morfológico de espécie, baseado nas características morfométricas, ou seja, nas características físicas que podem ser medidas, como a altura ou a dimensão das folhas, por exemplo. Quantos mais caracteres morfométricos forem usados na classificação, mais robustas serão as conclusões e a delimitação de uma determinada categoria taxonómica. Mais recentemente, as análises de ADN tornaram mais precisa esta delimitação.

O Género é a unidade taxonómica seguinte e engloba espécies que partilham características morfológicas, genéticas e até funcionais. Os géneros próximos encontram-se agrupados na mesma família e assim sucessivamente ao longo das restantes divisões: Ordem, Classe, Divisão (ou Filo), Reino e Domínio.

 

As categorias taxonómicas aplicadas a dois exemplos de plantas

 

É mais fácil compreender o que são e como se classificam as plantas nas diferentes categorias taxonómicas a partir dos exemplos de duas espécies:

 

o zimbro-comum ou zimbro-anão

 

Espécie: Juniperus communis – o zimbro-comum, que pode ser encontrado um pouco por todo o hemisfério norte e as suas subespécies, incluindo as subarbustivas que ocorrem nas zonas montanhosas de Portugal continental: Juniperus communis subsp. alpina e Juniperus comunis subsp. hemisphaerica;

Género: Juniperus  – Inclui outras espécies que têm uma frutificação semelhante a uma baga (uma gálbula arredondada ou ovalada), com um invólucro carnudo como a sabina-da-praia, o cedro-da-Madeira ou o cedro-das-ilhas;

Família: Cupressaceae – Inclui os géneros dos ciprestes, Chamaecyparis, tuias e árvores similares, todos eles com folhas em forma de escama e uma gálbula lenhosa como fruto;

Ordem: Pinales – Anteriormente conhecida por Coniferales, integra as famílias de arbustos e árvores coníferas, ou seja, que produzem cones ou pinhas para se reproduzirem, como pinheiros (Pinus spp.), cedros (Cedrus spp.), abetos (Abies spp.), ciprestes (Cupressus spp.) e araucárias (Araucaria spp.);

Classe: Pinopsida – É a única classe da divisão das coníferas;

Divisão: Pinophyta – É a divisão que engloba as plantas também conhecidas por gimnospérmicas, que são as plantas lenhosas perenes com sementes nuas (sementes que não estão no interior dos frutos);

Reino: Plantae – Inclui todas as plantas.

 

o eucalipto

 

Espécie: Eucalyptus globulus – Considera-se que a espécie de eucalipto mais plantado em Portugal se  encontra dividida em quatro subespécies: Eucalyptus globulus subsp. globulus, a mais conhecida e plantada, que se distingue por ter botões florais de grande dimensão e solitários; E. globulus subsp. bicostata, que ocorre em zonas mais elevadas e apresenta botões florais sem pedicelo (sem haste a sustentá-los) em grupos de três; E. globulus subsp. pseudoglobulus, também com botões florais em grupos de três, mas com pedicelo muito curto e o E. globulus subsp. maidenii, que tem os botões em grupos de sete;

Género: Eucalyptus – Inclui quase 800 espécies de eucaliptos que se caracterizam por terem um opérculo que cobre os órgãos reprodutores das flores, que vai depois cair e expor os exuberantes estames;

Família: Myrtaceae – Inclui cerca de 132 géneros de plantas arbustivas ou arbóreas, de flores aromáticas e muitas delas ricas em óleos essenciais como a murta, o cravinho ou a goiaba;

Ordem: Myrtales – Integra várias famílias de ervas, arbustos e árvores que vão desde o eucalipto à salgueirinha (Lythrum salicaria), romãzeira (Punica granatum) e brinco-de-princesa (Fuchsia spp.);

Classe: Magnoliopsida – É a classe das plantas dicotiledóneas, ou seja, plantas cujo embrião tem duas ou mais folhas (chamadas cotilédones) que irrompem durante a germinação das sementes;

Divisão: Magnoliophyta – É a divisão das plantas angiospérmicas, ou seja, das plantas com flor, cujas sementes se encontram inclusas e protegidas dentro dos frutos;

Reino: Plantae – Inclui todas as plantas.

 

Coleções botânicas são importantes para conhecer e classificar

 

As coleções botânicas — como herbários, jardins botânicos e bancos de sementes — são uma importante ferramenta para o trabalho de identificação das plantas e a sua categorização na taxonomia. Além de preservarem espécimes, permitem identificar e comparar as características morfológicas das espécies (folhas, flores ou frutos que podem ser analisados e medidos), apoiar a descrição de novas espécies ou também servir de base para estudos genéticos, pois as sementes, propágulos e outro material vegetal são reservas de material biológico que podem ser analisadas com metodologias moleculares avançadas.

O avanço da genética, principalmente através da análise do ADN, veio trazer uma nova objetividade à taxonomia e à “arrumação” dos seres vivos em categorias taxonómicas mais robustas.

Através da comparação de sequências genéticas conseguem distinguir-se espécies semelhantes em termos morfológicos, rever classificações antigas, descrever novas espécies e géneros e reorganizar a estrutura taxonómica, além podermos desvendar um pouco mais sobre a história evolutiva.

A conjugação de várias áreas do saber permite clarificar incertezas taxonómicas, como aconteceu com a distinção do amieiro-ibérico como espécie – uma espécie diferente do amieiro-comum existente na Europa – ou com a identificação de que termos em Portugal mais espécies de carvalhos do que se pensava até 2023.

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