Valor da Floresta
Na composição da madeira existem vários elementos e compostos que lhe conferem propriedades únicas, como a resistência, densidade ou durabilidade, e que são responsáveis por características específicas como a sua cor, odor e resistência a fungos. O isolamento destes diferentes compostos e elementos permite inúmeras aplicações, algumas das quais em indústrias inovadoras e de elevado valor acrescentado.
Os principais elementos presentes são o carbono (C), que representa cerca de metade da composição da madeira em relação ao seu peso seco (49% a 50%); o hidrogénio (H) 6%; o oxigénio (O), entre 44 e 45%; e, em pequena proporção, de até 1%, o azoto (N). Adicionalmente, existem ínfimas quantidades de Cálcio (Ca), Potássio (K) e Magnésio (Mg) – que compõem os chamados extrativos.
Já os principais compostos são a celulose, a hemicelulose e a lenhina. É da ligação entre eles que se estruturam todas as madeiras.
A celulose é o componente principal da madeira e a sua presença não tem grande variação entre espécies. O teor dos restantes constituintes – hemicelulose, lenhina e extrativos – varia de acordo com a espécie e o grupo taxonómico, como por exemplo entre as resinosas e folhosas.
As diferenças nas percentagens de hemicelulose e lenhina dão origem a madeiras com diferentes densidades: macias no caso das espécies resinosas como o cedro e pinho e duras nas espécies folhosas como os carvalhos e as nogueiras. A maior presença de extrativos nas resinosas faz com que a sua madeira tenha mais odor e com que seja possível fazer a resinagem nalgumas espécies.
Celulose | ||
Hemicelulose | ||
Lenhina | ||
Extrativos |
Vejamos resumidamente estes três principais compostos da madeira, assim como alguns exemplos das suas aplicações:
– Celulose
A celulose é o composto mais abundante na composição da madeira. É um polímero de glicose (açúcar) que forma longas cadeias, proporcionando à madeira resistência à tração, ou seja, a capacidade de suportar pesos consideráveis (tensões) antes de partir.
Graças à sua capacidade para formar fibras fortes e flexíveis, a celulose é a principal matéria-prima do papel e cartão, sendo também utilizada na produção de fibras têxteis, como a viscose, o modal ou o lyocell por exemplo, e de bioplásticos alternativos aos plásticos convencionais.
A celulose (e os seus vários derivados) está na base de grande parte das inovações que incorporam polímeros naturais e renováveis para substituir polímeros baseados em combustíveis fósseis. Diferentes tipos de celulose são aplicados em biomateriais com utilizações que vão da eletrónica à biomedicina.
– Hemicelulose
A hemicelulose é também um polímero composto por monossacarídeos ou açúcares (entre os quais xilose, manose e galactose), que se enlaça às fibras de celulose da madeira e dos tecidos vegetais em geral. Uma das suas funções principais é conferir rigidez e resistência às células vegetais, contribuindo para a estabilidade dimensional da madeira, que ajuda a manter a sua forma e volume.
Entre outras aplicações, a hemicelulose pode ser transformada (por hidrólise) para produzir açúcares fermentáveis, que são utilizados na produção de biocombustíveis (como o etanol, por exemplo). Vários derivados da hemicelulose são também utilizados noutras indústrias, como a alimentar – na produção de espessantes e estabilizantes.
– Lenhina
A lenhina é uma substância complexa, também representativa na composição da madeira. Atua como uma “cola” natural que dá consistência à união das fibras de celulose e hemicelulose, conferindo-lhes rigidez e resistência. A estrutura molecular da lenhina contém inúmeros anéis de carbono, componente fundamental para a rigidez e a capacidade da madeira para suportar cargas.
A lenhina e os seus derivados têm aplicações crescentes, sendo utilizados, por exemplo, como plastificantes do betão ou na produção de adesivos e resinas.
Uma pequena percentagem da composição madeira (até cerca de 5% a 6% da sua massa) inclui inúmeras substâncias que têm influência na vida das árvores e em várias propriedades das suas madeiras:
– Extrativos (material orgânico)
Compostos químicos, que podem incluir resinas, ceras, óleos e compostos fenólicos (aromáticos). Representam aproximadamente entre 2% a 5% da madeira, sendo responsáveis por características específicas, como a cor, cheiro, durabilidade natural e resistência a insetos e fungos.
Nestes materiais orgânicos podem incluir-se os taninos, os flavonoides, os terpenos e outras substâncias com atividade biológica, que são valorizados pelas suas propriedades antioxidantes ou anti-inflamatórias por exemplo, e ácidos gordos saturados e insaturados, principalmente encontrados sob a forma de esteres com glicerol (gordura e óleo) ou esteres com álcoois (ceras).
Pela sua atividade biológica e propriedades funcionais, alguns destes extrativos são aplicados na própria indústria da madeira, por exemplo para a proteger de insetos ou fungos, aumentando a sua durabilidade, enquanto outros são usados noutros sectores, incluindo agricultura, alimentação, farmacêutica e cosmética.
– Cinzas (material inorgânico)
As cinzas representam a fração mineral da madeira e são constituídas principalmente por elementos como o cálcio (Ca), potássio (K) e magnésio (Mg). Normalmente, constituem menos de 1% da madeira. Estes elementos desempenham papéis importantes no crescimento da árvore e na saúde da planta.
Testemunhos
Os produtos de madeira têm um efeito multiplicador do carbono que é retido nas florestas e, tal como as próprias florestas e quem as faz crescer, precisam de ser reconhecidos como parte das soluções de base natural para enfrentar as alterações climáticas. Quem o diz é Mark Wishnie, diretor de Sustentabilidade do BTG Pactual, Grupo de Investimentos que gere mais de 1,3 milhões de hectares de plantações florestais no continente americano.
Silvicultura e Indústria
Apesar das florestas ocuparem mais de um terço do território português, há falta de madeira para dar resposta às necessidades das empresas que dela dependem como principal matéria-prima, o que implica compras anuais ao exterior. O aumento da produtividade florestal é parte da solução para colmatar esta carência.
Bioeconomia
Como matéria-prima, a madeira de eucalipto serve principalmente para produzir pasta de papel e papel. A estas aplicações já consolidadas, de que Portugal foi pioneiro, juntam-se hoje muitas outras, que vão da indústria alimentar aos bioplásticos e biocombustíveis. Conheça aqui algumas das inovações que mantêm Portugal na linha da frente dos biomateriais derivados do eucalipto.