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Bioeconomia

Bioeconomia em Portugal representa 7% do valor gerado no país

Em tendência de crescimento e com potencial de evolução. Este é o retrato dos sectores da economia circular e bioeconomia em Portugal. Enquanto fonte de novos bioprodutos e biomateriais, a floresta é essencial para viabilizar uma economia de baixo carbono

Considerada como a chave para o desenvolvimento económico sustentável e a utilização mais eficiente dos recursos, a bioeconomia circular constitui a mudança necessária do atual paradigma linear da economia. Resulta da conjugação de dois conceitos base: a bioeconomia, que promove a utilização de recursos biológicos renováveis e a sua valorização em produtos de valor acrescentado e a economia circular, um modelo de processos mais integrados, que promove a reutilização de materiais, produtos e recursos durante o maior período de tempo possível.

A economia circular e a bioeconomia em Portugal têm expressão reduzida: representam cerca de 4,2% (7 mil milhões de euros) e 7% (12 mil milhões de euros), respetivamente, do valor acrescentado bruto do país, segundo o relatório “Bioeconomia Circular e Digital”, da COTEC Portugal e Universidade Católica (2020). Estes valores, referentes a 2017, ainda são diminutos tendo em conta a ambição europeia de um modelo circular de baixo carbono – complementar ao objetivo do bloco europeu de atingir a neutralidade carbónica até 2050. Ainda assim, estão acima do que se verifica na média da economia europeia, onde o peso da economia circular é de 3,45% e o da bioeconomia é de 4,9%.

É preciso realçar que, em Portugal, a economia circular e a bioeconomia têm crescido em termos de valor acrescentado, valor de negócios e produtividade, nos últimos anos. Segundo o relatório COTEC, é possível alcançar um crescimento mais rápido nos próximos anos. Para tal, será necessário aproveitar novos biomateriais e bioprodutos de origem florestal.

Concretizar o potencial da bioeconomia circular é essencial para fazer mais com menos e assegurar a transição para uma economia sustentável, em linha com os objetivos europeus. Esta não é apenas uma questão de responsabilidade ambiental, uma vez que a mudança de paradigma tem também benefícios económicos. A União Europeia prevê que a economia circular permita uma poupança de 600 mil milhões de euros para as empresas europeias, assim como a criação de 580 mil empregos adicionais, além de uma redução de 450 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO2) em 2030.

As florestas como fonte de biomateriais contribuem para o objetivo de descarbonizar a economia até 2050

Fonte: “Bioeconomia circular e digital” – sumário executivo, COTEC Portugal (2020)

A importância da bioeconomia em Portugal

Analisados de forma separada por este relatório da COTEC de 2020, os sectores da economia circular e da bioeconomia em Portugal representaram em 2017, respetivamente, volumes de negócios de cerca de 25 mil milhões de euros e de 43 mil milhões de euros. Estes valores equivalem a 7% e 12% do volume total de negócios da economia portuguesa.

No caso específico da bioeconomia em Portugal, o crescimento tem sido contínuo desde 2011. Ao nível da criação de emprego, os dados da COTEC indicam que a bioeconomia nacional emprega cerca de 602 mil trabalhadores, 13,3% do emprego total em Portugal. Em termos de produtividade aparente significa que cada trabalhador gera, em média, 19,7 mil euros de valor acrescentado. Apesar do incremento de produtividade do sector da bioeconomia, em cerca de 54,3% entre 2011 e 2017, esta continua a estar aquém da produtividade média da economia portuguesa (37,6 mil euros por trabalhador).

Na comparação europeia, as estatísticas do Joint Research Center (JRC) indicam, para 2015 (ano mais recente de análise, à data), que a produtividade média dos 28 Estados-membros foi de 34 mil euros de valor acrescentado por trabalhador da bioeconomia, a partir de uma força laboral de mais de 18 milhões de pessoas empregadas. Ou seja, quase o dobro da produtividade registada em Portugal nesse ano (18 mil euros de valor gerado por trabalhador da bioeconomia, num total de cerca de 627 mil pessoas empregadas).

Os valores globais da bioeconomia “escondem”, no entanto, diferentes realidades dos subsectores que a compõem. Em 2018, um artigo do JRC sobre indicadores de monitorização da bioeconomia europeia dava conta do exemplo “extraordinário” de Portugal: apesar de apresentar uma produtividade na bioeconomia muito baixa em relação à média europeia (tal como a Grécia e a Europa de Leste), o país atinge elevados níveis de produtividade no subsector florestal – um reflexo do desempenho das indústrias de base florestal.

A indústria da pasta e papel e a indústria da madeira e mobiliário, combinadas com a silvicultura, geraram, em 2015, um quarto do valor acrescentado da bioeconomia em Portugal, mobilizando apenas 11% do emprego, destaca o artigo do JRC.

O subsector da bioeconomia com maior número de pessoas empregadas é o da agricultura, tanto em Portugal, como na União Europeia (317,4 mil e 9,9 milhões, respetivamente). Em termos de volume de negócios, a liderança vai para o subsector da alimentação, bebidas e tabaco, que geram mais de 16 mil milhões de euros em Portugal e cerca de 1,2 biliões de euros na União Europeia.

Emprego na bioeconomia por subsectores, 2015

Valor acrescentado da bioeconomia por subsectores, 2015

Nota: Dados do Joint Research Center, relativos a 2015 (o ano mais recente disponível na base de dados, à data, para comparação europeia); *Químicos, produtos farmacêuticos, plásticos e borracha de base biológica (excluindo biocombustíveis)
Fonte: Jobs and Wealth in the European Union Bioeconomy, JRC Data Portal

Economia circular: um sector impulsionado pela indústria de base biológica

A economia circular tem um peso menos expressivo do que o da bioeconomia em Portugal. Ainda assim, a análise da COTEC dá conta de um crescimento acentuado da economia circular deste 2014. Com uma taxa de subida de 20,7% em três anos, o sector alcançou um valor acrescentado bruto de 7 milhões de euros em 2017, ou seja, cerca de 4,2% do valor acrescentado gerado no país. Na União Europeia, a economia circular tem um peso um pouco menor, 3,5%.

Valor acrescentado da economia circular em Portugal,
por categoria, 2017

Fonte: “Bioeconomia circular e digital” – sumário executivo, COTEC Portugal

O grande contributo para estes resultados provém das indústrias de base biológica, que concentram 62,3% do valor acrescentado da economia circular em Portugal, seguidas – à distância – pela reparação (15,7%) e pela servitização (13,3%) (servitização representa a criação de valor por adição de serviços – montagem ou manutenção e equipamentos, por exemplo – aos produtos comercializados). Existem outras categorias integradas na economia circular, com uma expressão menor em Portugal, como a reciclagem (8,5% do valor acrescentado) e a reutilização (0,2%).

Em termos de emprego, a economia circular mobilizava, em 2017, cerca de 280 mil trabalhadores, 6,2% do emprego total em Portugal. Em média, cada trabalhador tinha uma produtividade aparente de 25,5 mil euros, cerca de cinco mil euros acima da alcançada pelo sector da bioeconomia. O valor corresponde, ainda assim, a apenas 68% da produtividade média da economia portuguesa e a 46% da produtividade registada na economia circular europeia.

Bioeconomia e economia circular em Portugal
Principais indicadores em 2017

Fonte: “Bioeconomia circular e digital” – sumário executivo, COTEC Portugal, dados de 2017

Da madeira e pasta de papel aos novos biomateriais:
a importância estratégica da floresta

A economia circular e a bioeconomia em Portugal têm tido uma evolução positiva e existe um potencial de convergência entre os dois sectores. Dentro das indústrias de base biológica, os sectores da pasta, papel e cartão, madeira, cortiça e mobiliário apresentam o maior impacte no valor acrescentado. São, no entanto, os produtos à base de madeira que têm maior capacidade de geração de riqueza.

Enquanto ecossistema fornecedor de matérias-primas biológicas, como a madeira e a celulose, a floresta assume uma importância estratégica para uma economia de baixo carbono. Isto porque, para além das aplicações tradicionais, existe um elevado potencial de aproveitamento da biomassa florestal no desenvolvimento de novos biomateriais e bioprodutos com elevado valor acrescentado.

Este potencial da floresta é sublinhado pelo referido relatório da COTEC, que recomenda, como forma de implementação de uma bioeconomia circular eficiente em Portugal:

1. A disponibilidade de biomassa florestal para estes novos biomateriais e bioprodutos de futuro, através do respetivo mapeamento e de uma gestão florestal sustentável.

2. O investimento em novos métodos e tecnologias para otimizar as cadeias de valorização da biomassa e os processos produtivo.

3. A aposta na normalização e certificação de novos produtos obtidos a partir de biomassa florestal.

Que novos produtos poderão surgir da floresta para servir de base a uma economia mais sustentável e circular? O potencial é vasto. Será a inovação aplicada a ditar que produtos, aplicações e utilizações de base florestal serão desenvolvidos em larga escala no futuro, em função da sua sustentabilidade, dos processos necessários, do valor gerado e da aceitação do mercado.

Fonte: “Bioeconomia circular e digital” – sumário executivo, COTEC Portugal (2020)

Existem, no entanto, sectores fundamentais da economia com intensa (e pouco sustentável) utilização de recursos que podem beneficiar, em larga escala, de novas aplicações de origem florestal:

Construção – para alcançar a chamada ‘construção verde’ é essencial uma maior incorporação de materiais renováveis, como a madeira e a cortiça. A lenhina, componente da madeira, tem demonstrado grande potencial em materiais de construção, nomeadamente em aplicação no betão.

Plásticos – a biomassa florestal poderá servir de base à substituição dos materiais sintéticos desta indústria por bioplásticos, permitindo a redução de resíduos plásticos não degradáveis. Esta estratégia deverá ser seguida a par do aumento da reciclagem e da reutilização.

Têxteis – uma das indústrias mais poluentes do mundo pode beneficiar, em larga escala, da integração de novos biotêxteis com origem na celulose. Este é um sector estratégico para reforçar o potencial da bioeconomia circular em Portugal, tendo em conta a tradição e capacidade instalada desta indústria no país. Esta importância já é visível– com um sexto do valor acrescentado da bioeconomia portuguesa a derivar da produção de têxteis de base biológica, como reforçado na Estratégia Europeia para a Bioeconomia.

A concretização do potencial da floresta na produção de novos bioprodutos e biomateriais para a bioeconomia circular portuguesa só é possível com investimento em gestão florestal e com uma aposta clara na certificação e na rastreabilidade ao longo de toda a cadeia de valor. Isso permitirá a gestão sustentável da matéria-prima disponível para o futuro e a confiança por parte dos consumidores. No sector florestal, a mudança de paradigma económico contribuirá também para aumentar o valor das florestas de forma sustentável.