Valorizar

Indicadores Económicos

Economia da floresta: quanto vale?

Com um volume de negócios de cerca de 13,6 mil milhões de euros na indústria de base florestal e de mais de 1,1 mil milhões de euros nas empresas silvícolas em 2022, a economia da floresta tem um impacte muito significativo nas contas nacionais. De fora ficam valores não contabilizados e difíceis de mensurar, como o contributo para o turismo de natureza, a biodiversidade ou a produção de oxigénio, entre muitas outras atividades que contribuem para a economia da floresta.

A floresta é fonte de diversas atividades, matérias-primas e serviços. Como resultado, o seu contributo para a economia portuguesa é indiscutível. Embora não existam estatísticas oficiais que tracem o retrato completo da economia da floresta em todas as suas componentes, sabemos que as indústrias de base florestal – madeira, cortiça, mobiliário, e pasta, cartão e papel – geraram, em 2022, um volume de negócios de quase 13,6 mil milhões de euros. No mesmo ano, o volume de negócios das empresas dedicadas à silvicultura e exploração florestal ultrapassou 1,1 mil milhões de euros.

Estes números indicam que juntas, as indústrias de base florestal e as empresas da silvicultura geraram um volume de negócios de cerca de 14,72 mil milhões de euros, contribuindo, respetivamente, para 5,6% e 0,48% do Produto Interno Bruto nacional (PIB), em 2022, ou seja, do valor de todos os bens e serviços finais produzidos em Portugal nesse ano.

De notar que, nos últimos anos e apesar de uma quebra em 2020, o volume de negócios das empresas do sector florestal tem contribuído com cerca de 10 mil milhões de euros para a economia nacional, o que representa cerca de 5% PIB do país.

Juntas, as empresas que atuam nestas áreas foram responsáveis, em 2022, por mais de 3,6 mil milhões de euros de Valor Acrescentado Bruto (VAB), ou seja, do valor da atividade produtiva nacional menos os custos de produção. Mesmo com algumas variações desde 2015, ano em que o sector foi responsável por cerca de 2,2 mil milhões de euros de VAB, a atividade industrial tem sido responsável por cerca de 90% deste total (e a silvicultura pelos restantes 10%).

Isto significa também que o VAB do sector florestal foi responsável por 1,74% do VAB nacional total, acima de um contributo que se mantinha entre os 1,4% e os 1,6% desde 2015.

Volume de negócios e Valor Acrescentado Bruto (VAB) gerado pelas empresas da indústria de base florestal e da silvicultura em Portugal (milhões de euros)

Contributo do volume de negócios das empresas da indústria de base florestal e da silvicultura no PIB nacional

Contributo do VAB das empresas da indústria de base florestal e da silvicultura no VAB nacional

Papel, mobiliário, madeira e cortiça: os pesos-pesados da economia da floresta

As indústrias de base florestal são uma componente robusta do sector e da indústria transformadora nacional. Os seus contributos para a criação de riqueza, produtividade e investimento são indispensáveis à economia da floresta e à saúde financeira de Portugal.

Com o seu volume de negócios de 13,57 mil milhões de euros, além de representarem 5,6% do PIB português de 2022, as indústrias florestais contribuíram para 11,6% do volume de negócios de toda a indústria transformadora nacional (que em 2022 se situou nos 127,444 mil milhões). No total, estas indústrias representaram, nesse mesmo ano, um VAB de cerca de 3,31 mil milhões de euros (12,03% do VAB das indústrias portuguesas).

Evolução do contributo das empresas industriais de base florestal, por indicador económico (milhões de euros)

Fonte: INE – Volume de negócios (€) das empresas por Atividade económica (Subclasse – CAE Rev. 3) e Escalão de pessoal ao serviço; Anual

NOTA: Foram consideradas as seguintes classes de “Indústrias transformadoras” –  Madeira: em “Indústrias da Madeira e da cortiça e suas obras, exceto mobiliário” considerou-se “Serração, aplainamento e impregnação da madeira”; “Fabricação de folheados e painéis à base de madeira”; “Parqueteria”; “Fabricação de outras obras de carpintaria para a construção”; “Fabricação de embalagens de madeira”; “Fabricação de outras obras de madeira”; “Fabricação de obras de cestaria e de espartaria”; Cortiça: em “Indústrias da Madeira e da cortiça e suas obras, exceto mobiliário” considerou-se “Indústria de preparação da cortiça”; “Fabricação de rolhas de cortiça”; “Fabricação de outros produtos de cortiça”; Pasta, papel e cartão: “Fabricação de pasta, de papel, de cartão e seus artigos”; Mobiliário exceto colchões: “Fabricação de mobiliário para escritório e comércio”; “Fabricação de mobiliário de cozinha”; “Fabricação de mobiliário para outros fins”

É ainda de destacar, em matéria de investimento, que estas indústrias totalizaram, em 2022, 654,6 milhões de euros em Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – investimento em ativos fixos usados por mais de um ano na produção de bens e serviços, como é o caso de software ou maquinaria.

Contas feitas, tratou-se de um investimento sectorial que representou cerca de 11,5% do montante em FBCF do total da indústria transformadora nacional em 2022, embora os valores de investimento da indústria de base florestal apresentem variações anuais expressivas nos últimos anos, com um mínimo de 323,7 milhões de euros em 2016 e um máximo de 731,7 milhões de euros em 2018.

Clique para aumentar

A indústria da pasta e papel assume a dianteira no que respeita ao volume de negócios em 2022, com a maior fatia do total das indústrias de base florestal e em linha com os anos anteriores: 49%, equivalente a 6,65 mil milhões de euros.

Seguem-se, com valores muito próximos entre si, a indústria da madeira (2,64 mil milhões de euros, representando 19,5% da indústria), do mobiliário excluindo colchões (2,24 mil milhões de euros, 16,5%) e da cortiça (2,04 mil milhões de euros, 15%).

No que diz respeito ao VAB, a indústria da pasta e papel assegurava, em 2022, cerca de 1,46 mil milhões de euros, o que representava 44,2% dos mais de 3,3 mil milhões do VAB das indústrias de base florestal. O VAB da indústria papeleira aumentou significativamente em 2021 e 2022 face a 2018 e 2019, anos em que não tinha chegado aos mil milhões. As restantes indústrias têm mantido uma trajetória relativamente regular nos últimos anos, embora com resultados mais modestos.

Também no que respeita ao investimento, as produtoras de pasta e papel tomam a dianteira. Em 2022, com 268,1 milhões de investimento, foram responsáveis por 41% da FBCF da indústria de base florestal. Mobiliário e Madeira investiram montantes similares: 148,9 milhões de euros (22,7%) e 152,2 milhões de euros (23,2%), respetivamente. A indústria corticeira ficou-se pelos 85 milhões (13%).

Silvicultura: valor da produção superou 1,3 mil milhões de euros

As empresas dedicadas à silvicultura e exploração florestal contribuíram, em 2021 e 2022, com volumes de negócios superiores aos mil milhões de euros para a economia da floresta, mas as Contas Económicas da Silvicultura apresentam geralmente montantes superiores ao contabilizarem outros tipo de valores, como por exemplo o valor relativo ao crescimento das florestas (variação da floresta existente).

As Contas Económicas da Silvicultura, disponibilizadas pelo INE para 2021 (último ano acessível em março de 2024, data em que se escreve este artigo) revelam que o valor total da produção da silvicultura e exploração florestal ascendeu a mais de 1,3 mil milhões de euros. A produção de bens silvícolas (madeira, cortiça, plantas de viveiros e outros produtos silvícolas) foi responsável por mais de 825 milhões de euros, tendo a produção de serviços silvícolas e de exploração florestal e outras atividades secundárias contribuído com cerca de 417,7 milhões de euros e 89,92 milhões de euros, respetivamente, em 2021 (dados provisórios).

De acordo com o mesmo documento, o peso relativo do VAB das atividades silvícolas na economia nacional manteve-se em 0,4%, mesmo considerando em 2021 a tendência decrescente registada desde 2015. Este é um contributo semelhante ao registado em 2019, que colocou Portugal em 10º lugar no “pelotão” europeu no que diz respeito ao peso da silvicultura para as contas de cada país.

Apesar de estar longe de países como a Finlândia ou a Letónia, cujo peso relativo do VAB da silvicultura no VAB da economia ronda os 2%, a verdade é que Portugal supera outros países da Europa mediterrânica com grandes áreas florestais, como Itália, França e Espanha, com contributos do sector florestal entre 0,1% e 0,2% do VAB.

Evolução de indicadores centrais nas contas da silvicultura (milhões de euros)

Evolução do valor da produção da silvicultura, por atividade  (milhões de euros)

Fonte (comum aos dois gráficos): INE – Contas Económicas da Silvicultura 2021 (valores a preços correntes, base 2016). Dados de 2021 provisórios.

Em 2021, o valor total resultante da produção silvícola e exploração florestal cresceu mais de 20 milhões de euros face ao ano anterior (1,31 mil milhões de euros em 2020), superado também o valor alcançado em 2019 (1,32 mil milhões de euros).

O maior contributo para este total, com perto de 62%, vem do subsector Produção de Bens Silvícolas, com a Madeira de Folhosas para Fins Industriais (309,7 milhões de euros) e a Cortiça (186,5 milhões de euros) a darem os contributos mais expressivos, como tem acontecido em anos anteriores.

Ligeiramente a descer desde 2017 tem estado o investimento realizado, com a Formação Bruta de Capital Fixo a passar de quase 129 milhões de euros (2017) para pouco mais de 110 milhões de euros em 2021, isto depois de ter rondado os 120 milhões entre 2015 e 2016. Perto de metade (45% correspondente a pouco mais de 49 milhões de euros) foi investido em florestação e reflorestação.

O valor “invisível” da economia da floresta

A riqueza gerada diretamente pelas indústrias de base florestal e pela silvicultura é só uma pequena parte do valor da economia da floresta. Os números deixam de fora vários contributos, como por exemplo o dos produtos florestais não lenhosos – como a castanha, o pinhão, o mel, os cogumelos silvestres ou as plantas aromáticas e medicinais – assim como o dos novos produtos criados a partir de fibras florestais nas biorrefinarias emergentes e o das atividades de caça e pesca em zonas florestais.

Para se ter uma ideia, só a cultura de frutos de casca rija equivaleu, em 2022, a perto de 98 milhões de euros em volume de negócios e as atividades relacionadas com a caça e repovoamento cinegético chegaram próximo dos 10,2 milhões, de acordo com dados do INE.

Fora destas contas da economia da floresta convencional ficam também os contributos mais difíceis de quantificar como o do oxigénio que respiramos, do carbono armazenado, da conservação da biodiversidade e paisagem, da preservação do solo e da água ou do valor da floresta como espaço de recreio, desporto e lazer.

É difícil estimar o valor destes serviços ambientais, embora sejam uma preocupação recorrente e histórica na silvicultura. Estas preocupações estiveram até na origem do Regime Florestal de 1901 que decretava, a propósito, “o revestimento florestal dos terrenos cuja arborização seja de utilidade pública, e conveniente ou necessária para o bom regime das águas e defesa das várzeas, para a valorização das planícies áridas e benefício do clima, ou para a fixação e conservação do solo, nas montanhas, e das areias, no litoral marítimo”.

Apesar da dificuldade em quantificar estes serviços dos ecossistemas florestais, vários trabalhos técnicos e académicos têm contribuído com projeções que estimam estes valores e o seu importante contributo para a economia da floresta. O professor de economia Américo Mendes, por exemplo, calculou que os serviços do ecossistema gerassem, em 2018, o equivalente a mais de 880 milhões de euros em Portugal.

O projeto ECOFOR.PT – Valorização Económica dos Bens e Serviços dos Ecossistemas Florestais de Portugal Continental estimou que, em 2019, bens e serviços não mercantis dos espaços florestais (como recreio, sequestro de gases com efeito de estufa, biodiversidade, recursos hídricos e solos) valiam 1,11 mil milhões de euros.