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Indicadores Económicos

Floresta europeia gera importante contributo socioeconómico

A floresta europeia, juntamente com outras áreas arborizadas, estende-se por quase metade do território do “velho continente” e traz aos 27 países da União Europeia mais de 3,5 milhões de empregos e um valor anual superior a 164 mil milhões de euros (VAB 2018). Mas quais os países com mais floresta na Europa? Serão eles os que mais contribuem para o emprego e valor criado por este sector?

A floresta e as zonas arborizadas cobrem cerca de 45% do território da União Europeia (excluindo lagos e grandes rios). São cerca de 180 milhões de hectares, um total para o qual contribuem 159,23 milhões de hectares de floresta europeia e 21,03 milhões de hectares de outras áreas florestadas.

Estes são alguns indicadores divulgados pelo Eurostat, em Agriculture, forestry and fishery statistics 2020, uma edição que dá a conhecer os grandes números da floresta europeia e que permite traçar um breve retrato das florestas e do seu valor nos 27 estados membros da União Europeia (EU-27).

Olhando para estes países, é desde logo percetível a grande variação na extensão das suas florestas, como ilustram bem os cerca de 75% de superfície terrestre que elas cobrem na Finlândia e Suécia, os dois países mais florestados da UE, face aos 11% na Dinamarca ou aos 12,3% na Irlanda.

Entre os dois extremos estão vários países mediterrânicos, como Espanha, Portugal, Grécia e Itália.

Floresta e outras áreas arborizadas, 2020

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Fonte: Eurostat. Nota: a área dos países não considera superfícies de água, como lagos e grandes rios

Em alguns países, registaram-se ligeiras reduções de área florestada ao longo dos últimos 30 anos, como foi o caso da Suécia e Dinamarca, mas noutros, como no Chipre, em Itália e na Croácia um crescimento percentual significativo compensou as perdas e permitiu um aumento de 2,6% na área florestada na Europa. Em termos absolutos, as variações registadas país a país levaram ainda a algumas alterações no ranking dos mais florestados, com Espanha, França e Itália a aproximar-se dos líderes Finlândia e Suécia.

Em Portugal, a área florestada (floresta e outras áreas arborizadas) aumentou de 4485 mil hectares em 1990 para 4855 mil em 2015, indicam as estatísticas europeias, devido ao expressivo crescimento das outras áreas arborizadas, que no mesmo período passaram de 1086 mil hectares para 1543 mil hectares. Este acréscimo mais do que compensou a ligeira variação da área de floresta, de 3399 mil hectares para 3312 mil hectares.

Um quarto da área de floresta europeia é plantada, sendo este o segundo continente com mais área de plantações, depois da Ásia (46%), segundo o Global Forest Resources Assessment 2020 (FRA 2020), que indica para a América do Norte e Central 16%, para a América do Sul 7%, para África 4% e para a Oceânia apenas 2%.

Recorde-se que a FAO considera como Florestas as zonas com pelo menos 0,5 hectares com árvores que atingem pelo menos 5 metros de altura na idade adulta a cobrir mais de 10% da área. Todas as restantes ocupações com árvores dispersas são classificadas como outras áreas arborizadas. Esta definição explica as diferenças entre os valores apresentados no relatório da Eurostat e em Inventários Florestais.
No caso de Portugal, embora a área florestada seja de mais de 50% do país, a área de floresta (3,3 milhões de hectares em 2020) representa 36%.

Madeira em crescimento: um indicador relevante do valor da floresta

A área florestal não é, no entanto, a única medida a ter em consideração para conhecer a importância socioeconómica da floresta europeia, já que para o valor e o emprego por ela gerados contribuem vários outros fatores, entre os quais o número de árvores (densidade dos povoamentos) e a respetiva dimensão (altura e dimensão), indicadores da quantidade de madeira disponível.

Assim, apesar Suécia, Finlândia e Espanha serem os três países da UE com mais área florestal, (cerca de 28 milhões, 22,4 milhões e 18,6 milhões de hectares, respetivamente), é a Alemanha que tem a maior quantidade de madeira em crescimento. Com uma área de floresta de 11,42 milhões de hectares, a Alemanha tem cerca de 3,66 mil milhões de m3 de volume de madeira em crescimento, um valor muito próximo dos 3,65 mil milhões de m3 da Suécia, que tem uma área de floresta quase 2,5 vezes superior.

Seguem-se a França, Polónia, Finlândia e Roménia, com valores acima dos 2 mil milhões de m3 de madeira em crescimento em 2020 em áreas de floresta que variam entre os 22,4 milhões de hectares na Finlândia e os 6,93 milhões na Roménia.

Portugal, com 3,3 milhões de hectares de florestas, dispunha, em 2015 (o último ano com valores disponíveis), de cerca de 171 milhões de m3 de madeira em crescimento, o que o colocava na 21ª posição no conjunto dos países da União Europeia. Apesar da nossa área e potencial de produtividade ser considerável no contexto da floresta europeia, temos uma posição modesta em termos de madeira em crescimento.

Embora esteja longe de ser a única matéria-prima proveniente da floresta europeia, é a madeira disponível que dita parte significativa do valor da silvicultura e exploração florestal, assim como do valor gerado pelas indústrias de base florestal. Estas duas áreas de atividade têm importância no desenvolvimento económico e social de muitas regiões dos estados membros, nomeadamente as rurais.

Somando atividades da silvicultura e da indústria de base florestal, a floresta europeia gera cerca de 3,5 milhões de empregos, o que corresponde a 1,7% dos postos de trabalho da União a 27.

Volume de madeira em crescimento e área das florestas na UE, 2018

Fonte: Eurostat. NOTA: Malta não dispõe de dados. Portugal e Bélgica com dados de 2015

Silvicultura: VAB de 26 mil milhões de euros e 520 mil empregos

Silvicultura e exploração florestal foram avaliadas na EU 27 em 57,8 mil milhões de euros e criaram um VAB – Valor Acrescentado Bruto de 26,67 mil milhões de euros, em 2018, o último ano com valores apurados.

Os cinco países com maior volume de madeira em crescimento – Alemanha, Suécia, França, Polónia e Finlândia – foram aqueles com maior rendimento das atividades florestais e os que mais contribuíram para o VAB da silvicultura e exploração florestal.

Já no emprego associado à floresta europeia, um dos fatores principais é a capacidade de aplicação de maquinaria, que reflete não só as características das florestas, mas também das espécies e da topografia de cada país. Isto ajuda a explicar porque países com maior área florestal, mas com uma maior tradição de silvicultura e maquinaria florestal, como a Suécia (40 mil trabalhadores) e a Alemanha (39 mil trabalhadores), tenham menos pessoas ao serviço do que a Polónia (73,3 mil trabalhadores) e a Roménia (51,8 mil trabalhadores).

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VAB, produção e empregos na silvicultura e exploração florestal, 2018

Fonte: Eurostat. NOTA: Malta não dispõe de dados.

Fonte: Eurostat. NOTA: Malta não dispõe de dados.

A Europa tem florestas diferentes, que refletem as condições climáticas, tipos de solo, topografia e altitude dos diversos países. Das florestas boreais de coníferas do Norte, passando pelas florestas mistas e de folhosas até regiões de transição com arbustos, a diversidade de recursos reflete-se no rendimento e tecnologias disponíveis no território rural.

Madeira é matéria-prima central para o valor da floresta europeia

O rendimento das áreas florestadas resulta das árvores em crescimento em áreas geridas e da madeira em bruto (rolaria ou madeira em troncos), mas também dos produtos não lenhosos, como a cortiça por exemplo e de vários outros produtos e serviços, muitos deles tipicamente não contabilizados, como é o caso dos serviços do ecossistema.

Sendo o principal produtor de cortiça na União Europeia, Portugal é um dos que mais valor gera com os produtos não lenhosos, com 25% do rendimento da silvicultura e exploração florestal a eles associado: 331,56 milhões de euros, de um total de 1380 milhões de euros em 2020.

Contributos para o valor da silvicultura e exploração florestal, 2018

Fonte: Eurostat. NOTA: Malta não dispõe de dados.

Mas a grande parte dos rendimentos da floresta europeia vem da madeira e dos seus principais produtos primários: a rolaria industrial (madeira em troncos), e a lenha. A primeira é um recurso base para as indústrias de derivados de madeira (madeira serrada, folheados, papel e polpa) e a segunda, onde se inclui também a madeira para carvão, é fonte de energia renovável por toda a Europa.

A produção estimada de rolaria industrial e lenha na UE ultrapassou os 471 milhões de m3 de madeira (volumes com casca), em 2018. Mais de 75% tem um destino industrial, fornecendo as várias indústrias do sector. Os restantes, cerca de 23%, são usados para a produção de combustível.

Existem, no entanto, alguns países onde a produção de lenha tem um maior peso, como é o caso da Alemanha e da França, onde cerca de metade da produção de madeira de rolaria dá origem a lenha, e outros em que o aproveitamento industrial da madeira de rolaria é bastante menor do que a média europeia, como a Itália e Dinamarca, com apenas 36% e 24%, respetivamente.

Na Europa, a grande família de espécies florestais que mais contribui para rolaria e a lenha é a das coníferas, onde se incluem pinheiros, abetos, piceas e espruces, que representa quase 70% do volume de madeira explorado. Os restantes 30% são provenientes de espécies folhosas, como como carvalhos, eucaliptos, faias e bétulas.

Há duas áreas principais na utilização da rolaria industrial: uma é a madeira serrada e folheados, e a outra a pasta. Suécia, Finlândia e Alemanha são os maiores produtores de madeira serrada, embora a produção de pasta represente perto de 50% do total do aproveitamento industrial da rolaria na Suécia e na Finlândia. Em países como Portugal, Espanha e Dinamarca é o aproveitamento para pasta o mais representativo, com 80%, 62% e 60%, respetivamente.

Produção de rolaria de madeira industrial por tipo de produtos, 2018

Fonte: Eurostat. Notas: Volume sem casca. Malta, Bélgica, Dinamarca, Grécia e Letónia não dispõem de dados.

Indústria florestal: 138,5 mil milhões de euros de VAB e 3 milhões de empregos

Parte importante do sector transformador da União Europeia, as indústrias de base florestal dividem-se em quatro categorias – produtos de madeira, produtos de papel (incluindo pasta), mobiliário e impressão e serviços relacionados – que englobavam, em 2018, cerca de 400 mil empresas, quase 20% do tecido empresarial no sector transformador da Europa a 27.

Juntas empregavam cerca de 3 milhões de pessoas e geraram um VAB de cerca de 138,5 mil milhões de euros, o equivalente a 6,5% do VAB da indústria transformadora europeia.

Se observarmos as quatro categorias de atividade, concluímos que o sector dos produtos de madeira é o que tem mais empresas, 40%, mas não é o que gera maior valor: 26% do VAB.

O mobiliário, com 30% das empresas, cria percentagem inferior de VAB, 23%, e o mesmo acontece com a impressão e serviços relacionados que, apesar de terem 24% das empresas, trazem o contributo mais modesto para o VAB, de 17%.

Madeira e mobiliário, com mão-de-obra mais intensiva, trazem os maiores contributos para o emprego, 30% e 31%, respetivamente.

As empresas de papel e pasta, embora em menor número – apenas cerca de 5% do total do sector – são as que mais valor geram: responsáveis por 35% do VAB, num reflexo da sua dimensão e produtividade.

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Principais indicadores das indústrias de base florestal, 2018 (%)

Empresas

Emprego

VAB

Fonte: Eurostat

Considerando o ranking por quantidade de madeira de rolaria industrial produzida (quantidade de matéria-prima que vai alimentar as indústrias), a análise destes mesmos indicadores por país revela variações de acordo com o indicador considerado.

Suécia e Finlândia, os países com maior volume de rolaria industrial, são ultrapassados por países como a Alemanha e a Itália, que geram valores mais elevados de VAB.

Em número de empresas, as diferenças são ainda mais significativas. Por exemplo, Suécia e Finlândia apresentam dos números mais baixos, o que pode ser traduzido por menos empresas de grande dimensão e elevada produtividade.

Outros países, com contributo inferior para o VAB, como Itália, Polónia, Alemanha, França ou Espanha, têm elevado número de empresas.

Empresas, emprego e VAB gerado pela indústria de base florestal, 2018

Fonte: Eurostat. Nota: Malta e Irlanda não dispõe de dados.

Fonte: Eurostat
Nota: Sectores A02, C16, C17, C31. Sem dados para Malta, Irlanda e Luxemburgo

Fonte: Eurostat
Nota: Classes 16, 17, 18.1 e 31. Sem dados para Malta e Irlanda

Grandes números da floresta europeia (UE 27)Grandes números da floresta portuguesa
180 milhões de hectares de áreas florestadas, 45% do território da União Europeia (excluindo lagos e grandes rios);4,85 milhões de hectares de áreas florestadas, 53% da área terrestre nacional (excluindo lagos e grandes rios);
26,67 mil milhões de euros de VAB gerado pela Silvicultura e exploração florestal;952 milhões de euros de VAB gerados pela silvicultura e exploração florestal;
77% da produção de madeira de rolaria (troncos) alimentou indústrias florestais (deste total, 57% foi para indústrias de madeira serrada e folheados e 41% para indústrias de polpa/pasta). Restantes 23% geraram lenha e carvão;90% da produção de madeira de rolaria (troncos) alimentou as indústrias florestais (deste total, 80% para polpa/pasta e 18% para madeira serrada e folheados). Restantes 10% foram para lenha e carvão;
136,4 mil milhões de euros de VAB gerado pelas indústrias de base florestal. Pasta e papel é a que mais contribui, com 35%, embora tenha só 5% das empresas no sector;3 mil milhões de euros de VAB gerados pelas indústrias de base florestal. Maiores contributos vêm da indústria da pasta e papel, responsável por 37% deste valor;
3 milhões de empregos na indústria florestal, o que equivale a 10% do emprego na indústria transformadora europeia. Indústria do mobiliário e dos produtos de madeira são os maiores empregadores, cada uma a gerar cerca de 30% dos postos de trabalho.7,7% do total do emprego na indústria transformadora assegurado pelas empresas de base florestal. Maiores contributos vêm do mobiliário e dos produtos de madeira e cortiça.

Nota: Dados 2018, exceto dimensão da floresta e áreas florestadas, de 2020.