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“Floresta e valorização do território na nova economia - soluções baseadas na natureza”, por Helena Freitas

A urgência de resposta aos desafios globais veio despertar a importância de criar uma agenda global de reconciliação entre a humanidade e o planeta. As soluções baseadas na natureza abraçam esta oportunidade e podem ser a chave para uma recuperação inteligente e criativa, restaurando as paisagens e os ecossistemas e garantindo o bem-estar das comunidades.

Vivemos um momento de grandes desafios globais. Da urgência da resposta às alterações climáticas e ao declínio da biodiversidade, à premência de combater a pobreza e assegurar maior equidade no acesso aos bens essenciais, é na natureza que podemos encontrar a inspiração para soluções globais.

As soluções baseadas na natureza (NbS, sigla do inglês Nature-Based Solutions) vão ao encontro desta necessidade, impactando simultaneamente as alterações climáticas, a biodiversidade e o bem-estar das comunidades locais.

Mas o que são afinal as soluções baseadas na natureza? Este conceito, relativamente novo, foi definido pela União Internacional para a Conservação da Natureza como o conjunto de ações que “procuram dar resposta a desafios societais através de proteção, gestão sustentável e restauro dos ecossistemas, beneficiando quer a biodiversidade quer o bem-estar humano”.

Se é na natureza que encontramos abrigo, alimento, oxigénio e muitos outros recursos essenciais à nossa vida, é nela que podemos encontrar também uma gama de soluções que trabalham e potenciam o meio natural. Estas soluções baseadas na natureza passam por fomentar a disponibilidade de água limpa e ar puro, mas também pela mitigação e adaptação às alterações climáticas, através de processos que potenciam o sequestro de carbono, a redução das emissões de gases com efeito de estufa, a mitigação dos riscos de cheia e a melhoria dos ambientes urbanos. São soluções criadas na base de uma ampla cooperação entre a ciência e a sociedade.

A pandemia colocou uma maior pressão na abordagem a estes desafios, evidenciando que não é viável continuar a trajetória de delapidação dos recursos naturais do nosso planeta. A floresta é um dos ecossistemas mais afetados. Nos últimos anos, por exemplo, as frentes de desflorestação multiplicaram-se e, entre 2004 e 2017, 43 milhões de hectares desapareceram em 24 regiões do mundo, segundo a associação WWF.

Soluções baseadas na natureza complementam a descarbonização

As soluções baseadas na natureza fazem, assim, parte de uma nova economia que procura valorizar o território, usando o poder da natureza e as funções dos ecossistemas como infraestrutura para oferecer serviços naturais que beneficiam a sociedade e o ambiente.

Apesar dos seus benefícios, as soluções baseadas na natureza não são, no entanto, uma alternativa à descarbonização, mas antes um complemento. Por outro lado, devem envolver um amplo conjunto de ecossistemas, incluindo os florestais, e ser planeadas em parceria com as comunidades locais, respeitando os seus direitos. Por último, devem apoiar a biodiversidade, desde a genética à do ecossistema.

Para transformar os sistemas sociais e económicos e promover a resiliência em relação aos impactes climáticos, o mundo vai ter de reforçar o investimento neste tipo de soluções, nomeadamente através de iniciativas de proteção da floresta e de reflorestação. Só desta forma é possível ir ao encontro dos objetivos de descarbonização da economia definidos para 2050: atingir a neutralidade carbónica para contrariar os efeitos das alterações climáticas.

Recuperar áreas florestais

Da política nacional e internacional à intervenção local, há vontade de recomeçar e reconstruir de forma mais inteligente e criativa, restaurando as paisagens e os ecossistemas degradados. Parar a desflorestação e definir uma agenda regenerativa, capaz de recuperar áreas florestais, é uma das prioridades.

Para tal, é necessário um planeamento em função dos desafios globais, como as alterações climáticas, e a definição de linhas orientadoras que respondam às ameaças que pendem sobre a natureza:

1. Proteger a floresta existente

2. Trabalhar em conjunto

3. Maximizar a recuperação da biodiversidade em prol de múltiplos objetivos

4. Selecionar áreas apropriadas para reflorestação

5. Usar a regeneração natural sempre que possível

6. Plantar espécies que maximizem a biodiversidade

7. Usar material de reprodução resiliente

8. Planear antecipadamente infraestruturas

9. Aprender fazendo

10. Fazer acontecer

Sobre o Formador

Doutorada em Ecologia pela Universidade de Coimbra, em colaboração com a Universidade de Bielefeld, Alemanha (1993), e pós-doutorada na Universidade de Stanford, EUA, Helena Freitas é Professora Catedrática na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, desde 2013, e detentora da Cátedra Unesco em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável, desde 2014. Em paralelo, coordena o Centre for Functional Ecology – Science for People and the Planet (cfe.uc.pt) e é também Coordenadora Científica do FitoLab – Laboratório de Fitossanidade do Instituto Pedro Nunes.

Em 2019 foi selecionada para o Mission Board for Climate Change Adaptation, including Societal Transformation da Comissão Europeia, Programa Horizonte Europa; e nomeada Ponto Focal de Portugal para o IPBES – Intergovernmental Platform for Biodiversity and Ecosystem Services (ONU). É ainda Coordenadora geral do Parque de Serralves desde julho de 2020.