As primeiras referências conhecidas ao uso do fogo em zonas florestais, em Portugal, datam de meados do século XVIII. Umas delas é do Regimento do Guarda Mor do Pinhal de Leiria, mandado publicar pelo rei D. José I, em 25 de julho 1751. Embora sem apoio em conhecimentos técnico-científicos, esta utilização “proto-técnica” do fogo no Pinhal de Leiria já tinha como objetivo a gestão de combustíveis no âmbito da prevenção de incêndios, tornando Portugal num dos pioneiros do uso do fogo na gestão silvícola.
O fogo continuou a ser uma ferramenta de gestão dos ecossistemas, inclusive por parte da administração florestal, durante a primeira metade do século XIX. Por essa época, incêndios de maiores dimensões, iniciados acidentalmente a partir do uso do fogo tradicional, tinham começado a causar prejuízos e preocupação, pelo que nas Matas do Estado foram dados os primeiros passos na criação de sistemas de defesa da floresta contra incêndios.
Embora as primeiras punições que se conhecem para quem queimasse floresta sejam muito anteriores – datam da Idade Média – foi já no início do século XX que aumentaram as restrições ao uso tradicional do fogo, na sequência de alterações sociais que mudaram também várias das práticas e dinâmicas rurais. Nessa altura, foram impostas limitações à utilização dos terrenos baldios de uso comunitário e procedeu-se à arborização destas áreas, o que intensificou os conflitos entre o Estado e as populações rurais que dependiam destas terras e ali aplicavam o fogo tradicional.
A área de floresta vai aumentando ao longo do século XX, boa parte como resultado das políticas de florestação dos baldios, feitas em larga escala com pinheiro-bravo (Pinus pinaster), e esta expansão acaba por criar áreas contínuas e vastas, com acumulação de combustíveis e mais vulneráveis ao fogo. Foi, por isso, em povoamentos de pinheiro-bravo que se implementou o primeiro programa de gestão de combustíveis com fogo controlado.
Uso do fogo técnico: avanços e recuos na prevenção de incêndios