Apreciada pela sombra com que atenua as temperaturas de verão em avenidas e jardins, a amoreira-branca (Morus alba) é uma das várias árvores exóticas que podem plantar-se em Portugal e uma das que tem uma das histórias mais longas de plantação, associada à produção de seda natural.
O segredo está nas suas folhas, que são o alimento preferido das larvas de bicho-da-seda (Bombyx mori, que foi domesticado a partir do Bombyx mandarina). São estas larvas que, com a sua saliva, produzem filamentos com cerca de um centésimo de milímetro de espessura e quase um quilometro de comprimento. Estes filamentos são usados na produção dos seus casulos que, após desenredados, fiados, lavados e purificados, dão origem a macios fios que são depois tecidos em luxuosas sedas naturais.
A descoberta da produção de seda data, de acordo com os textos de Confúcio, de cerca de 2700 a.C., embora os registos arqueológicos apontem para que seja mais antiga, do período Yangshao, entre 5000-3000 a.C. Esta cultura estava distribuída pelo Norte da China e é também da China que é originária a amoreira-branca.
O fabrico da seda natural manteve-se um segredo bem guardado e o sumptuoso tecido valeu aos chineses, durante muitos séculos, grandes quantidades de ouro pagas pelas civilizações clássicas europeias e norte-africanas. Mais tarde, as técnicas da sericultura acabaram por ser descobertas por outros países asiáticos, ditando o fim do monopólio chinês. E, ao conhecer a teoria sobre a produção da seda – e a criação de bichos-da-seda –, vários países ocidentais começaram a experimentar produzi-la.
Em Portugal existem registos históricos sobre a plantação de amoreiras e criação de bichos-da-seda desde o reinado de D. Sancho II (1209-1248), mas pensa-se que a produção possa ser anterior. Terá sido muito depois, no século XVIII, que Marquês de Pombal promoveu a indústria da seda, com um aumento da plantação de amoreiras em Trás-os-Montes, a criação de escolas de produção e fiação em Bragança e o estabelecimento de fábricas em Lisboa, na zona que conhecemos como Amoreiras (onde a espécie foi também amplamente plantada).
Noutras geografias, outros decisores tentaram estratégias parecidas. Por exemplo, em 1609, o Rei James de Inglaterra (1567 – 1625) tinha traçado um plano para produzir seda na colónia americana da Virgínia. Para o efeito, as amoreiras-brancas viajaram para a América, onde se tornaram comuns no campo, cruzando-se com espécies nativas de amoreira-vermelha e amoreira-preta.
Apesar de muitas destas experiências para produzir seda natural terem resultados económicos pouco significativos, foi nestas tentativas que, desde há muitos séculos, a plantação da amoreira-branca se generalizou e a espécie se naturalizou pelo Sul e Sudeste Europeu e se expandiu por muitos outros locais, desde a Venezuela e EUA ao Sudão e África do Sul.