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Curiosidades

Histórias de exóticas que podem plantar-se em Portugal

Muitos dos arbustos e árvores exóticas que podem plantar-se em Portugal foram trazidos para o nosso país há alguns séculos, pela sua beleza e pela curiosidade botânica que despertaram. Em muitos casos, o seu cultivo deveu-se também à importância dos produtos que lhes estão associados. Descubra algumas destas plantas exóticas e a razão por que têm um lugar na história.

Muitas das espécies exóticas que podem plantar-se em Portugal chegaram ao nosso país pela sua beleza e pela curiosidade que despertavam, numa altura em que pouco se sabia sobre a flora que existia mundo fora.

Algumas destas espécies foram plantadas longe das suas áreas de distribuição natural unicamente pelo seu valor ornamental, enquanto a plantação de outras foi motivada por lhes serem reconhecidos outros benefícios, muitas vezes relacionados com os produtos associados aos seus troncos, casca, flores ou folhas, ou que deles se obtêm.

4 exóticas que podem plantar-se e como ganharam mundo

Descubra quatro exemplos de espécies exóticas que podem plantar-se em Portugal e o que nos proporcionam – razão por que se tornaram amplamente cobiçadas bem longe dos seus locais de distribuição natural.

Umas mais raras, outras mais conhecidas, qualquer das quatro pode ser vista em Portugal: amoreira-branca, canforeira, eucalipto e planta-do-chá.

Amoreira-branca: a árvore da seda que veio da China

Apreciada pela sombra com que atenua as temperaturas de verão em avenidas e jardins, a amoreira-branca (Morus alba) é uma das várias árvores exóticas que podem plantar-se em Portugal e uma das que tem uma das histórias mais longas de plantação, associada à produção de seda natural.

O segredo está nas suas folhas, que são o alimento preferido das larvas de bicho-da-seda (Bombyx mori, que foi domesticado a partir do Bombyx mandarina). São estas larvas que, com a sua saliva, produzem filamentos com cerca de um centésimo de milímetro de espessura e quase um quilometro de comprimento. Estes filamentos são usados na produção dos seus casulos que, após desenredados, fiados, lavados e purificados, dão origem a macios fios que são depois tecidos em luxuosas sedas naturais.

A descoberta da produção de seda data, de acordo com os textos de Confúcio, de cerca de 2700 a.C., embora os registos arqueológicos apontem para que seja mais antiga, do período Yangshao, entre 5000-3000 a.C. Esta cultura estava distribuída pelo Norte da China e é também da China que é originária a amoreira-branca.

O fabrico da seda natural manteve-se um segredo bem guardado e o sumptuoso tecido valeu aos chineses, durante muitos séculos, grandes quantidades de ouro pagas pelas civilizações clássicas europeias e norte-africanas. Mais tarde, as técnicas da sericultura acabaram por ser descobertas por outros países asiáticos, ditando o fim do monopólio chinês. E, ao conhecer a teoria sobre a produção da seda – e a criação de bichos-da-seda –, vários países ocidentais começaram a experimentar produzi-la.

Em Portugal existem registos históricos sobre a plantação de amoreiras e criação de bichos-da-seda desde o reinado de D. Sancho II (1209-1248), mas pensa-se que a produção possa ser anterior. Terá sido muito depois, no século XVIII, que Marquês de Pombal promoveu a indústria da seda, com um aumento da plantação de amoreiras em Trás-os-Montes, a criação de escolas de produção e fiação em Bragança e o estabelecimento de fábricas em Lisboa, na zona que conhecemos como Amoreiras (onde a espécie foi também amplamente plantada).

Noutras geografias, outros decisores tentaram estratégias parecidas. Por exemplo, em 1609, o Rei James de Inglaterra (1567 – 1625) tinha traçado um plano para produzir seda na colónia americana da Virgínia. Para o efeito, as amoreiras-brancas viajaram para a América, onde se tornaram comuns no campo, cruzando-se com espécies nativas de amoreira-vermelha e amoreira-preta.

Apesar de muitas destas experiências para produzir seda natural terem resultados económicos pouco significativos, foi nestas tentativas que, desde há muitos séculos, a plantação da amoreira-branca se generalizou e a espécie se naturalizou pelo Sul e Sudeste Europeu e se expandiu por muitos outros locais, desde a Venezuela e EUA ao Sudão e África do Sul.

A amoreira-branca é uma árvore de folha caduca que se eleva aos 10 a 12 metros de altura. É pouco exigente quanto aos solos em que cresce e consegue desenvolver-se em orlas de matas e mesmo em sítios sujeitos a perturbação. Pertence à família das Moraceae, a mesma da figueira (Ficus carica) e da amoreira-preta (Morus nigra). Além de ser uma das árvores exóticas que podem plantar-se em Portugal, foi uma espécie protegida por lei, em 1930 (Decreto n.º 18604, de 12 de junho) no contexto da produção de seda natural no nosso país.

Canforeira: a árvore da cânfora, originária do Este asiático

A cânfora é uma substância cerosa e cristalina, de aroma forte, que tem sido usada ao longo dos séculos como especiaria culinária, em rituais religiosos (componente do incenso) e como remédio para os mais variados fins. Historicamente, a sua obtenção dependeu da canforeira (Cinnamomum camphora), mais precisamente da destilação da casca desta árvore.

A obtenção de canfora natural, a par da grandiosidade e beleza da árvore, foi uma das razões que levou à sua expansão geográfica desde o Este Asiático (é nativa de países como China, Japão, Taiwan e Vietname) para várias outras regiões do mundo, incluindo o Sul da Europa e os arquipélagos das Canárias e da Madeira (Macaronésia), o Sul de África e Madagáscar, o Sul dos Estados Unidos da América, Caraíbas, Havai, Austrália e Tanzânia.

Não se sabe exatamente quando é que a espécie terá começado a ser plantada pelos territórios europeus (nem especificamente em Portugal), mas sabe-se que a cânfora já era utilizada na Europa desde o séc. XII, integrando a composição de bálsamos para friccionar músculos doridos. Não será, por isso, de estranhar que a plantação tenha sido motivada por estes usos, na sequência das viagens marítimas e do estabelecimento de rotas comerciais com o Oriente.

Antes de se conseguir produzir cânfora através da síntese química (já no século XX), o fornecimento da canfora natural estava dependente das vontades dos Impérios Asiáticos. A sua produção (e exportação) teve grande importância em vários territórios – por exemplo, em Taiwan, antes e durante a ocupação colonial japonesa (1895-1945).

A grande procura de canfora no resto do mundo devia-se às suas aplicações medicinais, mas também ao facto de ser usada como componente no fabrico de pólvora sem fumo (usada nas modernas armas de fogo) e de celuloide (no início da indústria da fotografia e cinema).

Para obter cânfora natural, as árvores eram abatidas por volta dos 40 anos de idade (altura em que se obtinha a máxima produtividade) e a sua madeira era destilada, tal como as suas folhas e gomos (rebentos que dão origem a novos ramos, folhas e flores).

A madeira da canforeira, aromática e fácil de polir, é também muito apreciada em carpintaria e mobiliário, e a sua valorização deveu-se ainda à capacidade da madeira (tal como a da própria canfora) para repelir de insetos.

A canforeira é uma árvore aromática, sempre-verde, que pode atingir 50 metros de altura e viver cerca de 2000 anos. Pertence à família das Lauraceae, tal como o loureiro (Laurus nobilis) e a árvore da canela de Ceilão (Cinnamomum verum). Cresce naturalmente próxima a linhas de água, em florestas temperadas húmidas e subtropicais, em solos húmidos e ricos em matéria orgânica, embora resista a variações da disponibilidade de água. Apesar de ser uma das espécies de árvores exóticas que podem plantar-se em Portugal, a sua presença no nosso país é esporádica e no século XXI deve-se em exclusivo ao seu valor ornamental.

Eucalyptus globulus: a árvore do papel, trazida da Oceânia

Os primeiros eucaliptos chegaram a Portugal no século XIX, mas pensa-se que os portugueses possam ter-se cruzado com as primeiras árvores do género Eucalyptus muito antes – em inícios de 1500, nas suas expedições pelo estreito de Sunda (Indonésia e Timor).

Terá sido, no entanto, no século XVIII e pela curiosidade botânica que começaram a trazer-se sementes da Oceânia, de onde são naturais os eucaliptos (Austrália, Tasmânia e alguns de outras ilhas como a Nova Guiné e Indonésia), para a Europa. Inglaterra foi o primeiro país a plantá-los.

No século seguinte, em Portugal, a imponência dos eucaliptos levou à sua plantação em praças, jardins e átrios de igrejas, onde se erguem exemplares centenários. Várias espécies de eucalipto terão sido plantadas por volta da década de 1820 e diferentes autores indicam como referência para a primeira plantação de Eucalyptus globulus os anos de 1854 e 1859.

Já no início do século XX, o político, ensaísta e naturalista Jaime Magalhães Lima (1859-1936) plantou cerca de oitenta espécies diferentes na Quinta de São Francisco, próximo de Aveiro. Com esta grande diversidade de eucaliptos, criou o maior arboreto deste género botânico em Portugal que ainda hoje pode visitar-se neste espaço dedicado à promoção da biodiversidade.

De entre tantas espécies diferentes, foi o Eucalyptus globulus que, pela sua boa adaptação ao clima temperado português, se tornou o mais plantado. O mesmo aconteceu em poucos outros países, onde esta espécie também se adaptou, como aconteceu em várias regiões da Espanha, Chile, Uruguai e China.

Este eucalipto não sobrevive com frio intenso, neve ou geadas e foi por isso que fracassaram as tentativas de o fazer crescer noutros locais, como o Centro e Norte da Europa, por exemplo.

Em Portugal, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses foi a primeira a plantar Eucalyptus globulus com fins industriais, em 1870. O objetivo era obter a sua forte e reta madeira que depois usava nas travessas em que fixava os carris. Cerca de 80 anos depois, esta madeira foi testada para a produção de pasta de papel. Foi graças à descoberta de que tinha mais qualidade do que as madeiras usadas até então que, em meados do século XX, a então Companhia Portuguesa de Celulose deu os primeiro passos para colocar Portugal na rota dos mais importantes produtores de pasta de papel e de papel da Europa.

A composição e estrutura química da madeira do Eucalyptus globulus – como fibras curtas, paredes celulares espessas, elevado teor de celulose e elevada densidade – permitiu produzir mais pasta e papel com menos madeira, assim como papéis com melhor qualidade (mais lisos e resistentes, por exemplo). Atualmente, além do papel, as fibras desta espécie estão a ser testadas e usadas para o desenvolvimento de biomateriais e biocompósitos, com aplicações em diferentes indústrias, inclusive em utensílios e embalagens alternativas aos plásticos derivados de recursos 100% fósseis.

Embora a produção de pasta e papel esteja na origem do amplo interesse que a espécie despertou desde os anos 70 do século XX, outra das razões pela qual ganhou visibilidade foi a sua plantação para delimitar campos agrícolas, estradas e autoestradas, onde serve de barreira contra o vento. As aplicações medicinais também ganharam expressão: por exemplo, o Eucalyptus globulus é a fonte do óleo essencial mais produzido em Portugal.

Noutros países, sobretudo de climas tropicais e subtropicais, outras espécies de eucalipto foram plantadas graças à sua boa adaptação e rápido desenvolvimento. Por exemplo, no Brasil, destaca-se um híbrido resultante do cruzamento de Eucalyptus grandis com Eucalyptus urophya, enquanto na África do Sul a espécie mais plantada é o Eucalyptus grandis. No século XXI, as plantações de eucalipto representam mais de 25 milhões de hectares em mais de 90 países.

O Eucalyptus globulus é uma das de cerca de 800 espécies que integram o género Eucalyptus e uma das 23 espécies deste género que podem plantar-se em Portugal. Bem-adaptado ao clima temperado, está mais presente no litoral centro e norte. Árvore sempre verde, de folhas longas e estreitas, o Eucalyptus globulus pode crescer até aos 70 metros, mas raramente atinge tal dimensão. As suas flores brancas e vistosas permanecem entre o outono e a primavera e são uma importante fonte de pólen. Os mais de 13,8 mil empregos na indústria da pasta e do papel, e os mais de 6,6 mil milhões de euros de volume de negócios por ela gerados (2022) explicam a razão por se tornou na mais presente destas quatro exóticas que podem plantar-se em Portugal.

Planta-do-chá, da Ásia Oriental para o mundo

Conta a lenda que, no III milénio a.C., o Imperador chinês Shen Nong terá descoberto o chá por acaso, quando o vento soprou para a sua tigela as folhas de uma árvore próxima. Embora a lenda se confunda com a história e não se saiba qual a sua origem e descoberta, o chá de Camellia sinensis tornou-se a bebida mais consumida no mundo depois da água.

Este arbusto ou pequena árvore, conhecida como planta-do-chá, é nativa da Ásia Oriental, de países como a China, as Coreias, a Índia, o Japão, o Nepal e a Tailândia (entre outros), mas há vários séculos que é cobiçada e plantada em muitas outras regiões devido à importância do chá.

Com o território de Macau arrendado em meados do século XVI, Portugal foi um dos países que promoveu o conhecimento do chá na Europa e que apostou na plantação da Camellia sinensis. Açores e Brasil foram dois dos locais onde a cultura foi promovida.

As primeiras sementes terão chegado ao Brasil em inícios de 1800, quando a família real portuguesa se mudou para o Rio de Janeiro, e D. João VI planeou fazer do Brasil um novo centro mundial de cultivo de chá, concorrente da China na sua produção e exportação para a Europa. Foi por seu intermédio que terão chegado ao Brasil, vindas de Macau, as primeiras sementes da planta-do-chá, assim como algumas centenas de artesãos e os mestres que o sabiam produzir.

Quanto aos Açores, desconhece-se a data em que a Camellia sinensis terá sido introduzida, mas há indícios de que já lá existia na segunda metade do século XVIII. No início do século seguinte, já se tinham feito plantações em São Miguel e já havia também algum conhecimento sobre a espécie: por exemplo, que preferia vales húmidos e que a poda devia fazer-se na estação fria.

No entanto, as tentativas para produzir chá não corriam de feição, pois de tão acre não se podia tomar. Foi então em março de 1878 que tudo começou a mudar, com a chegada a Ponta Delgada de Lau-a-Pan e Lou-a-Teng, dois mestres vindos de Macau, contratados pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense. Como na altura se disse, a sua vinda era indispensável, porque “há trabalhos de manipulação do chá que as teorias não explicam e só a observação ocular pode ensinar”.

Passado pouco mais de um ano, os dois mestres regressaram a Macau, mas os conhecimentos que deixaram foram suficientes para formar gente da terra, encomendar utensílios, melhorar um espaço para funcionar como fábrica e, mesmo com avanços e recuos, instalar uma nova cultura que se tornou símbolo local e colocou Portugal no mapa da produção de chá.

São Miguel chegou a contar com mais de uma dezena de plantações com fábrica própria e, embora esta realidade tenha mudado, ainda hoje se mantêm pequenas produções. Uma de referência, a Gorreana, produziu o seu primeiro chá em 1883 e, 130 anos depois, conta com 37 hectares plantados que produzem cerca de 40 toneladas anuais de chá.

Além desta presença nos Açores, a planta-do-chá é também valorizada como ornamental e encontra-se em algumas plantações esporádicas na ilha da Madeira e em Portugal continental.

No continente, a cultura foi tentada nalguns locais para produção de chá, sem grande sucesso. Joaquim Manoel de Araújo Corrêa de Morais, designado Diretor da cultura do chá pela Casa de Bragança, conseguiu as primeiras plantas em 1870-1871. Algumas foram plantadas e Lisboa e outras seguiram para Vila Viçosa, Vendas Novas, Alfeite e Almada. Em 1882, D. Fernando estabeleceu uma cultura de chá na Serra de Sintra – dela se preparou chá entre 1890 e 1895 – e ainda hoje podem encontrar-se alguns chazeiros no Parque da Pena, no “Alto do Chá”. Gaspar Pereira de Castro, emigrado no Brasil, trouxe sementes em 1885 e semeou-as em Ponde de Lima, Coura e Arcos de Valdevez, onde ainda existem algumas plantas.

Embora se produzam infusões de várias outras plantas, a Camellia sinensis tem lugar na história como a planta-do-chá verde e chá preto. Pode crescer de um até seis metros de altura, mas esta dimensão máxima raramente é vista nas plantações. A planta-do-chá é uma das muitas exóticas que podem plantar-se no nosso país, embora muitos locais não tenham condições favoráveis ao seu crescimento. A espécie adapta-se bem a zonas de clima tropical e subtropical, com temperaturas moderadas, solos húmidos e ricos em matéria orgânica. Ainda assim, ao contrário de outras espécies de camélias, esta consegue tolerar o calor, alguma secura e exposição direta e intensa ao sol.