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Madeira

Propriedades e utilizações da madeira: exemplos de valorização

A disponibilidade de madeira tornou-a numa matéria-prima universal, desde tempos remotos. Em diferentes partes do mundo descobriu-se o potencial das variedades locais e ampliou-se o conhecimento sobre as características e utilizações da madeira de diferentes espécies. Conheça algumas das mais valorizadas em Portugal, as suas propriedades e aplicações.

Desde tempos remotos que as madeiras foram usadas para criar utensílios e estruturas cada vez mais complexos, desde abrigos e ferramentas a instrumentos musicais, embarcações e pontes. Cor, cheiro, textura e grão foram alguns dos atributos que ajudaram a diferenciar que utilizações da madeira eram mais adequadas consoante a espécie em causa.

Além destas características sensoriais, começou a perceber-se (por tentativa e erro) que havia madeiras mais macias, mais fáceis de trabalhar e esculpir, outras resistentes a pesos e mais adequadas a aplicações estruturais, e outras mais duráveis à humidade e à água e, por isso, indicadas para embarcações ou pontões.

Hoje, estes conhecimentos sobre as utilizações da madeira assentam num conjunto de parâmetros técnicos, testados e validados, que permitem determinar dezenas de propriedades de cada espécie, incluindo físicas (como a densidade e o teor de água), químicas (como a composição celular), mecânicas (como a resistência à tração ou a flexibilidade) e tecnológicas (o seu comportamento, numa perspetiva prática, de preparação e utilização), além das sua estrutura anatómica (relativa à forma das fibras, dos raios de crescimento ou dos canais de resina, por exemplo).

Testes permitem conhecer propriedades e tipo de utilizações da madeira

É com base nestas propriedades que as madeiras de diferentes espécies são consideradas adequadas (ou não) a usos específicos que requerem, por exemplo, diferentes níveis de densidade, flexibilidade ou durabilidade.

Por exemplo:

– Madeiras de alta densidade (densas e normalmente duras), como a de nogueira, castanheiro ou carvalho-negral, são escolhidas para móveis robustos, pisos duráveis e aplicações estruturais maciças, enquanto as de baixa densidade (pouco densas e macias), como a de choupo, são melhores escolhas para construções leves ou móveis que não precisam de suportar muito peso.

– Madeiras com maior durabilidade, como o castanho, cedro-do-Buçaco ou a criptoméria são mais resistentes às condições exteriores e menos suscetíveis a ataques de fungos e de outros organismos patogénicos, sendo ideais para decks e pérgulas, enquanto madeiras de menor durabilidade ou mais suscetíveis a alterações pelos elementos, como o freixo, são melhores para aplicações interiores.

– Madeiras com fio reto são tendencialmente mais fáceis de trabalhar e moldar, permitindo melhor perfeição de resultados. Assim, o eucalipto que tem fio ondulado e entrecruzado não é a melhor opção para aplicações que exigem operações de aplainamento, entre outras, sendo melhores escolhas as espécies de fio reto, mais fáceis de laborar, como o pinheiro-de-casquinha ou a cerejeira.

Na maioria dos casos, existem normas que determinam os requisitos relativos às propriedades da madeira que são necessárias para dezenas de usos, desde as caixas e paletes de transporte de mercadorias às estruturas maciças para construção civil, passando por revestimentos de pisos ou mobiliário de cozinha. Uma mesma madeira, dependendo das utilizações a que se destina, terá de cumprir diferentes exigências (normas específicas).­

Utilizações da madeira diferem consoante as propriedades da espécie
Utilização da madeira em barris (tanoaria)
Utilização da madeira em exteriores requer resistência aos elementos

A dureza da madeira é uma medida da sua resistência ao desgaste e está relacionada com a facilidade (ou não) da madeira ser trabalhada. Está também relacionada com a densidade (ou massa volúmica): as madeiras mais duras são geralmente mais densas e difíceis de trabalhar e as madeiras menos densas são mais brandas e mais facilmente trabalhadas. A retração ou retractilidade da madeira está relacionada com a perda de água das fibras e com a retração das paredes celulares, que levam à redução de volume de madeira e a deformações e empenos durante a secagem.

As utilizações da madeira de 8 espécies valorizadas em Portugal

As madeiras dos dois grupos botânicos em que as árvores podem ser classificadas partilham, genericamente, várias destas propriedades e características:

  • As árvores resinosas ou coníferas, integradas no grupo das gimnospérmicas, têm madeiras tendencialmente mais macias e, devido à presença de resinas e óleos, tendem a ser mais aromáticas e resistentes. Pinheiro-bravo e criptoméria estão entre as espécies mais valorizadas em Portugal.
  • As árvores folhosas, integradas no grupo das angiospérmicas, têm madeiras geralmente mais duras. Entre as mais utilizadas estão o carvalho, o castanheiro, a cerejeira, o eucalipto, a faia e a nogueira.

Independentemente da espécie e grupo a que pertence, quando falamos de utilizações da madeira referimo-nos a duas partes distintas do interior do tronco: o cerne e o borne.

Vamos conhecer algumas propriedades destas madeiras e das suas aplicações preferenciais, mais comuns em Portugal.

1. Carvalho-negral: da tanoaria à construção

O carvalho-negral (Quercus pyrenaica) tem uma madeira dura, pesada, com uma retração e resistência médias a elevadas, propriedades semelhantes às das madeiras de outras espécies de carvalhos (Quercus sp.).

A serragem é fácil se for feita em verde, embora a madeira possa revelar algumas tensões internas. A secagem é lenta e é conveniente deixar a madeira ao ar durante vários meses, evitando o vento (que pode causar fendas) antes de passar à secagem em estufa, onde termina este processo a temperaturas amenas.

A madeira de carvalho-negral é usada em tanoaria e marcenaria, para criar mobiliário rústico, elementos decorativos, equipamentos de jardim e coberturas de pavimentos e paredes. Em carpintaria, as utilizações da madeira de carvalho-negral incluem também componentes e estruturas de média dimensão destinados à construção civil, incluindo escadas e vigas.

O cerne (secção interior) da madeira é muito durável e capaz de resistir ao ataque de térmitas.

Quem nunca ouviu a expressão “envelhecido em cascos de carvalho”? Os carvalhos são das madeiras mais conhecidas na tanoaria, para envelhecimento de vinhos e bebidas espirituosas, como o vinho do Porto, a aguardente vínica, o whisky e o bourbon. Consoante a bebida e o local do mundo são utilizadas diferentes espécies de carvalho e a madeira necessita de secar durante dois a três anos para que possa ser usada na produção de barris ou tonéis para envelhecimento. O “amadurecimento” da madeira contribuiu para o sabor da bebida.

Madeira de carvalho-negral (à esquerda) e de Quercur robur (à direita), outra das madeiras qualificadas para tanoaria de envelhecimento.

A madeira de carvalho-negral (carvalho pardo) tem um interior (cerne) castanho-amarelado e um tom exterior (borne) mais claro, branco-amarelado, com anéis de crescimento visíveis. O fio é relativamente reto, podendo ter ligeiras curvaturas. Tem poucos nós, embora de grande dimensão.

2. Castanho: uma madeira fácil de trabalhar

Aos povoamentos de castanheiro (Castanea sativa) que são geridos para a produção de madeira dá-se o nome de castinçais e a madeira que se obtém, chamada castanho bravo – em contraponto com a madeira de castanho manso, de variedades cultivadas e por vezes enxertadas para produção de frutos – é moderadamente dura, pesada e elástica, com média resistência ao choque. Tem boa durabilidade natural, embora as madeiras mais velhas sejam sensíveis a pequenos carunchos.

O castanho bravo permite uma serragem fácil e, em toros de grande dimensão e qualidade, pode ser facilmente desenrolada (para obter uma folha de madeira fina e contínua) e cortada em plano.

Igualmente fáceis são as várias operações de transformação e acabamento, como o aplainamento, a furação, o entalhamento e a colagem, sendo uma boa opção para ligar a elementos metálicos. É também uma madeira que permite um bom polimento e que recebe bem velaturas (que ajudam, por exemplo, a uniformizar o tom da madeira) ou tintas, embora o seu envernizamento exija delicadeza em particular nas madeiras mais manchadas (por taninos), refere a obra “Madeiras Portuguesas”, de Albino de Carvalho.

As madeiras de castanho de grandes dimensões são sobretudo valorizadas para estruturas e carpintaria destinadas a espaços exteriores, incluindo caixilharias e portas, para revestimentos de piso, estruturas maciças de peças de mobiliário, carroçaria de luxo e construção naval. É outra das espécies usada para tanoaria (pipas, barris, tonéis) de envelhecimento dos vinhos.

Após desenrolamento e corte plano pode também ser valorizada, respetivamente, em contraplacados e folheados (lâminas finas de madeira, resultantes do desenrolamento, que podem ser usadas, por exemplo, na parte exterior de contraplacados).

As madeiras de menores dimensões podem ser aplicadas em tanoaria para transporte de bebidas (menos exigente), em cestaria e cabos de ferramentas, ou aproveitada para a criação de laminados colados e moldados.

Sabia que a madeira de castanheiro gerido (conduzido) para a obtenção de castanhas, chamada castanho manso, não tem as mesmas propriedades do castanho bravo? É mais leve e mais branda (menos densa ou menos dura) e pouco resistente ao choque. Conheça a espécie Castanea sativa.

Castanho manso (à esquerda) e castanho bravo (à direita).  A madeira de castanheiro tem um interior (cerne) de tom castanho que pode ser mais ou menos escuro e por vezes rosado, e um exterior (borne) mais claro, branco-amarelado. Os anéis de crescimento são bem visíveis.

3. Cerejeira: mobiliário, painéis e folheados para interiores

A madeira de cerejeira (Prunus avium) tem uma dureza média, é relativamente leve e bastante flexível, com fibras muito retráteis, sendo uma das madeiras nobres das florestas portuguesas e uma referência no fabrico de mobiliário.

A serragem da cerejeira é fácil, embora por vezes possam surgir alguns nós que a dificultam, e a secagem é igualmente fácil, embora tenha de ser feita lenta e cuidadosamente para evitar o aparecimento de fendas. É uma madeira fácil de trabalhar em seco, embora algumas fibras possam soltar-se quando é sujeita ao corte transversal.

Devido a alguma suscetibilidade à humidade, a fungos e insetos, assim como à alteração de cor quando é exposta diretamente ao sol, as utilizações da madeira de cerejeira devem ser direcionadas a espaços interiores.

A madeira de cerejeira tem um interior (cerne) castanho-avermelhado e um exterior (borne) mais claro, de um tom branco rosado. Quando exposta a luz solar direta, o tom tende a alterar-se. As camadas crescimento são bem visíveis. A estrutura da madeira é uniforme e o seu fio é geralmente reto.

Além de ser uma madeira de eleição para mobiliário de qualidade, a cerejeira é usada para revestimento de paredes e inúmeras peças decorativas e artísticas – desde molduras a esculturas -, sendo aplicada também na produção de partes de instrumentos musicais de cordas. A produção de folheados é atualmente o  principal destino da madeira de cerejeira.

Atualmente existem dezenas de variedades de cultivo que são plantadas para produção de cereja. Todas elas derivam da cerejeira silvestre ou cerejeira-brava, uma árvore que pode chegar aos 30 metros de altura e que tem um tronco volumoso e bem definido, que se presta ao aproveitamento madeireiro.

4. Criptoméria: uma madeira versátil e a mais valiosa nos Açores

A criptoméria (Cryoptomeria japonica), também conhecida como cedro-do-Japão, tem uma madeira leve e de dureza baixa, com pouca retração e pouca resistência ao choque. No entanto, é durável e resistente a carunchos, embora suscetível a fungos.

É uma madeira de serragem fácil e a secagem ao ar é bastante rápida, com baixo risco de abertura de fendas. A laboração tem alguns desafios, mas a madeira tem boa aptidão para colagem e permite ligação a elementos metálicos, tendo também acabamentos aceitáveis.

É muito valorizada em lamelados, contraplacados e lamelados colados (CTL e Glulam) que são depois usados para várias finalidades, nomeadamente para elementos de construção civil, incluindo revestimentos, divisórias e isolamentos; portas, janelas e batentes; treliças e telhados. Embalagens, mobiliário e componentes de móveis são outras aplicações que têm vindo a ampliar as utilizações da madeira de criptoméria.

Os elementos para construção de habitações, incluindo para casas modulares e pré-fabricadas, contribuem igualmente para ampliar as utilizações da madeira de criptoméria graças a novas soluções de engenharia que juntam a criptoméria a outras espécies em lamelados colados – com pinho, por exemplo – para obter desempenhos acrescidos aos que são proporcionados individualmente por cada uma das espécies.

Criptoméria rosa (à esquerda) e criptoméria negra (à direita). A madeira de criptoméria tem um aroma agradável e tonalidades variáveis entre o castanho rosado, avermelhado e acinzentado na parte exterior (borne) e entre o amarelado e rosado no interior (cerne). Quando exposta ao sol, ganha um tom cinzento-prateado muito apreciado. O fio da madeira é reto, o grão médio a fino e a textura é relativamente uniforme.

Esta espécie foi introduzida nos Açores, no século XIX, para produção de madeira, e na década de 1960 foram identificadas três variedades de criptoméria em São Miguel com cores diferentes: cerne rosa (castanho rosado claro); cerne castanho (castanho-claro); e cerne escuro (castanho acinzentado). Contudo, o trabalho “Madeiras Portuguesas” de Albino de Carvalho identifica apenas duas subespécies, a rosa e a negra. Esta última, por ter a massa volúmica /densidade mais elevada, permite trabalhos com melhores resultados do que a rosa.

5. Eucalipto: maior valor está nas fibras que são isoladas da madeira

O eucalipto mais comum em Portugal (Eucalyptus globulus) tem uma madeira pesada (densa), muito retrátil e moderadamente dura, que é relativamente elástica e resistente ao choque.

A sua serragem é difícil, devido ao seu fio espiralado e por vezes cruzado e ondulado, e o mesmo acontece com o seu desenrolamento, que, por vezes, dá origem a folhas deformadas. A secagem é demorada e difícil, com elevado risco de fendimento e empeno. O aplainamento também é delicado, sobretudo quando o fio é torcido ou entrecruzado, e o torneamento difícil. A pregagem e aparafusamento podem gerar fendas. A madeira de eucalipto tem boa aptidão à colagem e recebe bem velaturas, tintas, ceras e vernizes, o que permite bons acabamentos.

Entre as valorizações preferenciais desta madeira estão estruturas maciças, como vigas, postes, esteios e tutores (usados para suster paredes em minas, por exemplo), travessas de caminhos de ferro e carpintaria para interiores, incluindo revestimentos de pisos. Folheados e contraplacados são igualmente opções.

Sendo difícil de trabalhar em carpintaria e marcenaria, a principal utilização da madeira de eucalipto é, desde a segunda metade do século XX, em Portugal, a produção de celulose – para o fabrico de pasta e papel.  De facto, inúmeros estudos sobre as propriedades da sua fibra permitiram destacar a sua adequabilidade para a produção de papel de impressão e escrita de alta qualidade, bem como para o desenvolvimento de vários biomateriais que permitem substituir produtos de origem fóssil em diversos setores.

A madeira de eucalipto tem um tom castanho-avermelhado no interior (cerne) e amarelo-acastanhado no exterior (borne), com camadas de crescimento bem distintas. O seu fio é espiralado, frequentemente entrecruzado e ondulado.

A celulose proveniente da madeira do eucalipto, além de ser usada para a produção de diferentes papéis (escrita, impressão, embalagem e uso doméstico) é aplicada, por exemplo, em espessantes para cosméticos, pasta dentífrica, fibras têxteis e retardantes de cristalização em gelados e doces.

6. Faia: uma madeira fácil de trabalhar e de encurvar

A madeira de faia (Fagus sylvatica) é moderadamente dura, moderadamente pesada e muito retrátil, embora não seja muito elástica. É resistente ao choque. Os toros de faia, ainda na natureza, são particularmente sensíveis a fungos.

A serragem é fácil e a madeira de faia tem boa aptidão para o desenrolamento e o corte plano. A secagem é lenta e exige delicadeza para evitar o fendimento e o empeno. Trabalhar a faia é igualmente fácil, quaisquer que sejam as máquinas e ferramentas. Ao contrário de muitas outras, a madeira de faia tem especial aptidão para encurvar sob a ação do vapor (permite fazer peças arredondadas ou onduladas). Tem ainda boa aptidão para colagem e samblagem, assim como para ligação a elementos metálicos, e permite bons acabamentos com tintas e vernizes.

A madeira de faia é bastante clara, de uma tonalidade amarela-dourada, semelhante na secção exterior e interior (cerne e borne) do tronco. O seu fio é reto, o grão relativamente fino e uniforme e a sua textura é suave.

Entre as utilizações da madeira de faia, destacam-se móveis de cozinha, mobiliário de escritório, e outras peças como cadeiras, armários e soalhos, tanto em madeira maciça como em contraplacados e folheados. Peças decorativas, cabos para ferramentas e cutelaria são outras utilizações da madeira de faia, que incluem também jogos e brinquedos.

Sabia que historicamente também se valorizava a casca da faia? A casca é bastante elástica, expandindo-se para acomodar o crescimento do tronco, sem estalar. Por ser lisa e elástica chegou a ser aproveitada como superfície para a escrita.

7. Nogueira: elevado valor decorativo

A nogueira (Juglans regia) tem uma madeira pesada, com níveis de resistência e retração médio a elevados. A sua dureza é elevada e tem uma média resistência ao choque. É bastante durável, embora possa ser suscetível ao ataque de larvas e insetos.

Esta é uma madeira homogénea, com secagem igualmente simples e fácil de trabalhar – desenrolar, serrar e cortar em plano – que tem uma boa resposta aos vários tipos de operações e acabamentos, sejam quais forem as máquinas e ferramentas aplicadas ou os produtos de finalização.

A facilidade de ser trabalhada torna-a versátil e valorizada para peças de mobiliário e de decoração de interiores, em madeira maciça ou folheados e em peças com grande nível de detalhes – torneados e ornatos (flores) e esculturas. Já no início do século XVIII, a nogueira era uma das madeiras mais valorizadas na Europa para a criação de luxuosas peças de mobiliário.

É aplicada também em vários outros produtos de luxo, em ofícios e indústrias que vão da relojoaria aos painéis para automóveis, passando pelas coronhas de espingardas.

Sabia que a madeira de nogueira-brava se diferencia da madeira das nogueira-mansa, que é geridas habitualmente para colheita de noz? De acordo com o livro “Madeiras Portuguesas” do especialista Albino de Carvalho, a primeira tem uma cor mais clara, é um pouco mais densa, mais retrátil e excecionalmente elástica.

Nogueira-brava (à esquerda) e nogueira-mansa e (à direita). A madeira de nogueira-brava tem um interior (cerne) de tom castanho-avermelhado, com manchas ou veios vermelhos mais escuros, tonalidade bastante diferentes do castanho-acinzentado e bastante mais claro, do seu exterior (borne). O seu fio é direito, o grão relativamente fino e a textura uniforme.

8. Pinho (pinho bravo): boa aptidão para aplicações estruturais e carpintaria

O pinheiro-bravo (Pinus pinaster) é uma das madeiras mais relevantes em Portugal e a grande maioria é proveniente da região Centro. Esta é uma madeira de dureza média, que é levemente resistente ao choque. É relativamente pesada, mas leve depois de seca, mediamente retrátil e, tendo em conta o seu peso, é razoavelmente resistente à flexão e à compressão axial e transversal. Quanto à durabilidade, esta é uma madeira medianamente resistente a fungos e térmitas quando usada em exteriores, embora quando envelhece seja vulnerável a carunchos.

A serragem é fácil, embora possa haver alguns desvios nas zonas mais nodosas dos toros, e a secagem é relativamente fácil, tanto ao ar como em secador, com poucas fendas (que podem ser mais comuns na madeira jovem). Depois de seco, o pinho é relativamente fácil de trabalhar (aplainar, tornear, etc.), especialmente em madeiras com pouca resina. Nos acabamentos, o polimento pode ser delicado, mas velaturas, tintas, vernizes e ceras são bem recebidos pelo pinho.

Atualmente, esta madeira tem necessariamente de ser submetida a choque térmico para eliminar o risco de conter o nemátodo-da-madeira-do-pinheiro – verme causador da Doença da Murchidão do Pinheiro – a mais preocupante praga nesta espécie.

Entre as utilizações da madeira de pinho contam-se elementos estruturais maciços, painéis, aglomerados (fibras e partículas) e lamelados colados, assim como a celulose destinada à pasta de papel. Postes e travessas, construção naval, andaimes, revestimentos de piso e paredes, elementos de carpintaria (incluindo exteriores) e embalagens resistentes são exemplos de aplicações. De acordo com os “Indicadores da fileira do pinho em 2023”, divulgados pelo Centro Pinus, a maioria do pinho português seguiu para serração (38%) e para painéis (19%).

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O pinho-bravo tem um exterior de tom castanho-avermelhado e um interior amarelado. O veio tangencial dá à madeira um desenho listado. O seu fio é normalmente direito, embora possa ser espiralado. Pode ter muitos nós, principalmente na madeira das zonas mais próximas da copa.

Em Portugal, o pinheiro-manso (Pinus pinea) e o pinheiro-silvestre ou pinheiro-de-casquinha (Pinus sylvestris) também são fonte de madeira. O primeiro é mais valorizado pelas suas pinhas e pinhões. O segundo, embora menos comum, tem uma madeira muito valorizada, conhecida como casquinha, que é procurada como material maciço para construção, para utilização em lamelados colados e, por exemplo, em revestimento de pisos.