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Gestão Florestal

Florestas plantadas apoiam procura de bens e serviços do ecossistema

À medida que aumentam a população mundial, as preocupações com a descarbonização e a urgência de mitigação dos efeitos das alterações climáticas, evidencia-se o papel das florestas plantadas: não só na preservação das florestas nativas, como também na resposta à necessidade crescente de bens e serviços do ecossistema, inclusive das matérias-primas renováveis e de origem não fóssil que viabilizam o desenvolvimento da bioeconomia.

As florestas cobrem 31% da área global terrestre. Os 4,06 mil milhões de hectares que cobrem são vitais para o planeta: contribuem para mitigar os efeitos das alterações climáticas (principalmente pelo sequestro de carbono), protegem os solos e a água, libertam oxigénio e retêm partículas em suspensão, fornecem produtos e serviços que contribuem para o desenvolvimento socioeconómico e abrigam cerca de três quartos da biodiversidade terrestre (anfíbios, aves e mamíferos) lembra a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em The State of the World’s Forest 2020. Apesar desta relevância, a área florestal mundial continua a diminuir. Este decréscimo decorre a menor ritmo nas últimas três décadas, em parte porque tem aumentado a área de florestas plantadas a nível global, com mais 122,6 milhões de hectares entre 1990 e 2020.

Cerca de 7% da área de florestal no mundo é plantada, refere o Global Forest Resources Assessment 2020 (FRA2020), o que equivale a 293,8 milhões de hectares: 46% na Ásia, 25% na Europa, 16% na América do Norte e Central, 7% na América do Sul, 4% em África e 2% na Oceânia.

Este mesmo relatório divide a área de florestas plantadas em dois grandes grupos: 55% de floresta plantada para restauração de ecossistemas e proteção dos seus serviços (qualidade do solo e da água, entre outros) e 45% de plantações florestais geridas com o objetivo de produzir bens lenhosos. Apesar de se distinguirem estes dois objetivos, as plantações para produção providenciam outros bens e serviços para além das matérias-primas mais conhecidas – madeiras ou fibras florestais –, da mesma forma que as áreas plantadas para restauro e conservação são fontes de produtos florestais.

As florestas plantadas, quando instaladas em locais adequados sem substituir as florestas naturais e sendo bem geridas, são a alternativa para suprir as necessidades crescentes de produção de matérias-primas. A produtividade das florestas plantadas é o melhor garante de preservação das florestas naturais, aliviando a pressão da extração das matérias-primas e providenciando oportunidades de produção em contextos onde as florestas naturais são praticamente inexistentes.

Na União Europeia, as florestas plantadas representavam 9% da área total de florestas, de acordo com o State of Europe’s Forests 2015 Report. O relatório relativo a 2020 revela que, nos países com dados apurados (apenas cerca de 60% da área é coberta pela relatório), as plantações cresceram 14,5%, mas que no total perfazem apenas cerca de 4% da área de floresta na Europa, o que ronda os 8 milhões de hectares.

Em Portugal este valor chega perto dos 70%. As plantações para produção, principalmente de pinheiro e eucalipto, representam 20% da área total de floresta (cerca de 700 mil hectares) e as outras áreas plantadas perfazem cerca de 50%, incluindo parques florestais, matas nacionais e muitos outros espaços plantados ou semeados nos últimos 100 anos.

Uma visão integrada para as florestas plantadas

Como outras áreas florestadas, as plantações florestais acumulam naturalmente outras funções além do fornecimento de produtos lenhosos e não lenhosos, como é o caso da função de proteção. Contribuem para diversos serviços do ecossistema, atuando no sequestro e armazenamento de carbono, que ajuda à mitigação das alterações climáticas, na proteção do solo contra a erosão, na purificação do ar e da água, na proteção contra cheias, na regulação do clima e na preservação de valores culturais, educativos, recreativos e paisagísticos.

O seu contributo para estas funções pode, no entanto, ser diminuído ou ampliado. Se forem deixadas ao abandono ou geridas de modo inadequado ou ineficiente, as florestas plantadas reduzem o seu potencial produtivo e protetor. Se forem alvo de uma gestão integrada e responsável, aumentam-no.

As florestas plantadas enfrentam múltiplos desafios, que vão desde a competição por usos de terra mais intensivos e a necessidade de maximizar a produtividade à complexidade crescente da regulamentação ambiental e dos requisitos de sustentabilidade.

Embora sejam tipicamente alvo de uma gestão mais intensiva e semelhante à praticada em áreas agrícolas, as áreas florestais plantadas para produção precisam de conciliar interesses e objetivos múltiplos – os da indústria florestal, do governo, das associações de produtores e de ambientalistas, da sociedade civil, do turismo, da proteção civil – contribuindo para uma visão integrada da sustentabilidade.

Esta visão integrada implica um maior envolvimento e partilha de interesses entre as diversas partes interessadas, assim como a diversificação de modelos de ocupação do solo, ordenamento (mosaico de culturas, por exemplo) e produção (de alimento, combustível e fibra, por exemplo).

Diferentes tipos de floresta e respetivas funções complementares

Fonte: Inspirado em BCSD

A importância económica, social, cultural e ambiental das florestas plantadas é reconhecida pela FAO, que desenvolveu princípios orientadores para a gestão responsável destas áreas. As Diretrizes Voluntárias para o Ordenamento Responsável de Florestas Plantadas, publicadas em 2006, podem ser aplicadas em qualquer zona geográfica, em florestas plantadas para produção de bens ou serviços.

Entre os objetivos principais destas Diretrizes incluem-se a promoção do conhecimento sobre as florestas plantadas e do contributo positivo que elas podem trazer, de forma a apoiar a formulação e implementação de programas e políticas que melhorem o seu potencial. E dos seus princípios constam medidas como o reconhecimento do valor de bens e serviços, a manutenção da sustentabilidade ambiental e vitalidade florestal, a conservação da diversidade biológica e a gestão da paisagem.

Nesta última vertente, pretende-se que a gestão ao nível da paisagem tenha em consideração os possíveis impactes de qualquer plantação, de modo a que seja alvo de planeamento e monitorização para se conseguir a melhor integração ambiental, social e económica. A manutenção de um mosaico paisagístico e a salvaguarda das zonas ribeirinhas e de captação de água são identificados como os aspetos mais importantes na gestão da paisagem.

Algumas iniciativas têm vindo a pôr em prática esta visão integrada e esta gestão responsável das florestas plantadas. É o caso da NPG – New Generation Plantations, criada em 2007, com a participação da WWF – World Wide Fund For Nature. Após 13 anos de existência, as empresas que implementam os Princípios New Generation Plantations gerem cerca de 11 milhões de hectares de terra, boa parte previamente abandonada ou degradada. Desta área, 43% são plantações florestais de produção e o restante florestas naturais recuperadas, reservas de vida selvagem, pastagens e agricultura.

Os vários exemplos de sucesso da NGP demonstram o potencial das plantações florestais bem geridas para proteger a floresta natural, fornecer madeira, conservar a biodiversidade e mitigar as alterações climáticas e outros riscos ambientais.

Da NGP surgiu também um outro programa da WWF, o Forests Forward, que procura incentivar práticas de gestão sustentável e restauro de florestas para evitar a desflorestação e degradação de ecossistemas florestais, ajudar a combater os efeitos das alterações climáticas, melhorar a qualidade de vida das populações e reduzir problemas como cheias e inundações. Em paralelo, através de cadeias sustentáveis e transparentes para o fornecimento de madeira, tem sido possível responsabilizar o consumo global.

A (bio)economia vai crescer com as árvores

Integrar estes elementos na plantação de novas florestas e na gestão das que já existem torna-se ainda mais imperioso por sabermos que a procura por bens lenhosos e por alternativas renováveis às matérias-primas de origem fóssil continua a aumentar.

Fonte para centenas de bioprodutos tradicionais e inovadores, os materiais lenhosos estão a ser aplicados num número cada vez mais vasto de sectores – da aviação ao automóvel, construção, embalagem e têxteis, passando pelo sector alimentar e da saúde – e a este acréscimo de procura por madeiras e fibras florestais juntam-se as pressões de abastecer uma população mundial em crescimento.

As plantações florestais fornecem materiais renováveis e recicláveis que estão na base da bioeconomia circular. O uso em cascata de madeira, a reutilização e a reciclagem de produtos de madeira, combinadas com a redução e reutilização de resíduos, mostram que o valor económico da biomassa lenhosa pode ser maximizado.

Plantações florestais e o uso em cascata da madeira

Estima-se que a quantidade de madeira necessária para responder a esta procura crescente tenha de triplicar até 2050. Atualmente as plantações florestais não permitem responder à procura atual, com as estimativas a apontarem para que forneçam cerca de metade da madeira para fins industriais. O aumento não pode ser feito à conta do incremento da desflorestação ou sem assegurar que se repõe pelo menos aquilo que se extrai, salvaguardando a continuidade dos recursos para as gerações vindouras.

Para o indispensável crescimento da bioeconomia é preciso plantar e maximizar a produtividade em plantações geridas de modo responsável e sustentável. O espaço para a criação de novas plantações não se apresenta como um problema, já que se estima existirem entre um e seis mil milhões de hectares de terras degradadas no planeta. Além de serem alvo da necessária recuperação dos ecossistemas, já em marcha pelo desafio de Bona, poderão albergar novas florestas plantadas para apoiar o crescimento da bioeconomia, peça central no Green Deal Europeu e parte integrante nas estratégias e planos de ação de muitos países fora da Europa no combate aos efeitos das alterações climáticas.

Recorde-se que a bioeconomia é uma das vertentes chave para reduzir o consumo de recursos não renováveis e para aumentar a descarbonização: uma análise recente, baseada em mais de 50 estudos científicos, veio demostrar que por cada quilograma de carbono existente nos produtos lenhosos (que substituem materiais não lenhosos), se consegue uma redução de emissões da ordem dos 1,2 quilogramas de carbono. Acresce que estes produtos podem ser reciclados, mantendo o carbono sequestrado durante todo o seu ciclo de vida – um ciclo que pode ser de décadas ou séculos, no caso de madeira usada na construção, por exemplo.

Existe um consenso sobre a urgência de tomar medidas efetivas para reduzir os efeitos das alterações climáticas. A plantação de árvores, a conservação de ecossistemas e a melhoria da gestão do uso do solo fazem parte das soluções próximas da natureza (Natural climate solutions).