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Espécies Florestais

Os velhos eucaliptos do Santuário da Nossa Sra. da Aparecida

Apesar de estes gigantes fazerem parte das memórias de toda a gente destas terras, têm passado despercebidos, ou, melhor dizendo, nós é que temos passado por eles sem reparar. Quem o diz é Cláudio Monteiro, um leitor que partilhou com o Florestas.pt a história e as imagens de dois velhos eucaliptos que, segundo a memória das gentes locais, poderão ter cerca de 150 anos.

Temos passado por eles, como passamos pela capela ou pelas fragas que rodeiam o Santuário da Nossa Sra. da Aparecida. Apesar de estes gigantes fazerem parte das memórias de toda a gente destas terras, têm passado despercebidos, ou, melhor dizendo, nós é que temos passado por eles sem questionarmos desde quando estão lá, porque parece-nos que estes velhos eucaliptos sempre lá estiveram. Mas não será bem assim.

Calvão é uma aldeia do concelho de Chaves, com origem românica ou mesmo pré-românica e é ali que fica o Santuário da Nossa Sra. da Aparecida, um espaço localizado numa zona com formações rochosas belíssimas, já na fronteira com o Barroso, no concelho de Boticas. A história deste espaço confunde-se com a história destes velhos eucaliptos e o que deles se sabe é o que foi passando nas memórias das pessoas.

Eis o que contam as gentes da aldeia: em 1833 surgiu uma aparição a três pastorinhos, Manuel, Maria Rosa e Rosa Fernanda que por lá andavam a guardar as suas ovelhas. A aparição – pela descrição, uma luz – surgiu no topo de um penedo, que se tornou um local de culto e destino de peregrinação. Foi ali que, numa primeira fase, foi construída uma capelinha e, mais tarde, em 1842, uma igreja de maiores dimensões.

© Cláudio Monteiro

A área do santuário foi expandida entre 1860 e 1880, altura em que se pensa terem sido plantados os eucaliptos. Junto a eles, foi criado um nicho com esculturas de madeira, também em 1880 (restauradas recentemente), que ilustram a história do avistamento destes pequenos pastores. Dos três, só Manuel terá visto esta reprodução, pois este senhor simples e muito querido na aldeia, a quem chamavam “Tio Maneirnhas”, foi o único a viver até avançada idade.

© Cláudio Monteiro

© Cláudio Monteiro

© Cláudio Monteiro

Conta-se que os eucaliptos chegaram com todo o cuidado, juntamente com mimosas (acácias), vindos de Braga, numa carreira de burros que fazia transporte entre esta cidade e Chaves. À semelhança dos eucaliptos, as acácias também continuam no santuário, algumas muito velhas, provavelmente descendentes das originais.

A confirmar-se esta data, os dois velhos eucaliptos terão cerca de 150 anos e estarão entre os primeiros plantados em Portugal, já que vários estudiosos apontam para que as primeiras árvores do género Eucalyptus tenham sido introduzidas em meados do século XIX, com diferentes autores a indicar como referência os anos de 1854 e 1859.

Na foto da romaria da festa anual, realizada no segundo domingo de setembro e tirada há cerca de 90 anos (como se pode confirmar pelos carros estacionados), é visível um dos velhos eucaliptos, que eram já grandes árvores. A foto antiga foi tirada desde a capela, tal como a que Cláudio Monteiro captou e partilhou em 2021, das duas árvores num plano mais aproximado.

© Cláudio Monteiro

Segundo relatos recentes, eram quatro eucaliptos, mas dois foram cortados há cerca de 60 anos para usar a madeira em obras do santuário. O maior dos “4 irmãos” estava em terreno mais fértil e foi cortado entre 1945 e 1950. Hoje, os dois eucaliptos que foram preservados têm um porte considerável, mas não mais do que 40 metros de altura. Estão num local pouco fértil e muito fustigado por ventos fortes e trovoadas, e já muitas descargas atmosféricas caíram sobre eles, destrocando as suas copas, mas, mesmo assim, mantêm-se firmes naquele local.

Curiosamente, apesar de estes eucaliptos aqui estarem há tanto tempo, não existe memória de se terem reproduzido. Durante todos estes anos, estas árvores foram as únicas em toda aquela região.