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Sabe o que significam os selos verdes?

Quando folheamos um livro ou nos sentamos à mesa raramente pensamos na origem do papel ou da madeira que temos à frente. Todos sabemos que vieram das árvores, mas quão sustentável foi esse processo? Será que implicou a destruição da floresta ou, pelo contrário, que provém de áreas onde as árvores se plantam e colhem segundo critérios exigentes de sustentabilidade?

Todos os produtos com origem na madeira são naturais e biodegradáveis. Contudo, nem todos são iguais em termos de impacte para o meio ambiente e nem todos são produzidos a partir de florestas geridas de forma responsável, de acordo com exigentes critérios ambientais, sociais e económicos. Saiba como distingui-los através dos selos verdes e descubra o que estes símbolos representam.

De forma transversal aos diferentes sectores, um selo verde é um certificado ambiental que garante ao consumidor que o produto em causa resulta de um processo que teve em conta a redução de impactes ambientais. Quando aplicados aos produtos provenientes da floresta, os selos ecológicos identificam a sua origem em áreas sob gestão responsável – ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável – e uma cadeia de valor que seguiu requisitos de sustentabilidade.

No caso do papel e do mobiliário, dizem-nos, por exemplo, que a sua produção não está associada ao corte indiscriminado ou ilegal de árvores em florestas naturais ou protegidas. Em complemento, o rótulo atesta ainda que, na zona de onde provém a madeira que serve de matéria-prima aos produtos, são conservados valores socioculturais e naturais, como por exemplo os da biodiversidade e paisagem.

A história destes símbolos ecológicos, já com cerca de 40 anos, tem servido de incentivo para que, numa floresta, fábrica ou empresa, se cumpram elevados padrões éticos e de sustentabilidade ao longo do processo de produção, tendo em conta variados parâmetros, incluindo a utilização de energias renováveis, a reciclagem, o reaproveitamento de resíduos antes desperdiçados e a não utilização de materiais nocivos ao meio ambiente.

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Os selos verdes florestais estão relacionados com gestão florestal responsável e a forma como este conceito é aplicado nas florestas, incluindo as florestas plantadas de produção. Resumidamente, floresta de produção é o nome dado a plantações geridas para produzir as matérias-primas que estão na base de dezenas de produtos que nos rodeiam, desde a lenha, às mobílias, livros, embalagens de papel e cartão, guardanapos ou rolos de cozinha. Tal como numa quinta se plantam batatas ou tomates, nestas florestas plantam-se árvores. No entanto, sabemos que nem todas as quintas – sejam as que fazem crescer legumes ou árvores – são geridas de forma responsável/sustentável e nem todas têm em consideração que é preciso conciliar objetivos e preocupações económicas, sociais e ambientais.

A gestão florestal responsável, demonstrada pelos processos de certificação e respetivos selos ecológicos, implica regras de proteção ambiental e social. Depois de aplicadas, estas regras são avaliadas e confirmadas por entidades externas e independentes. Só quem passa neste “teste” pode colocar os selos ecológicos nos seus produtos.

“As plantações totalizam 7% da floresta global, mas fornecem 33% da madeira para fins comerciais”, referiu, em 2017, a iniciativa “Plantações de Nova Geração”, da organização ambiental WWF – World Wide Fund for Nature. Com base na pesquisa existente, reforçou que a expansão das florestas plantadas pode ajudar a reduzir a pressão sobre as florestas naturais, mas que é necessário promover plantações mais produtivas e, em simultâneo, proteger e preservar as florestas naturais.

Que selos verdes existem para os produtos de base florestal?

O primeiro rótulo ecológico foi introduzido na Alemanha em 1978 – o Blue Angel – e onze anos depois foi criado, nos países nórdicos, o primeiro sistema multinacional de rótulo ecológico, o Swan Label – hoje designado por Nordic Swan Ecolabel. A rápida abundância de rótulos ambientais criados por diferentes países e sectores, levou à adoção, em 1992, de um selo europeu, o EU Ecolabel, simbolizado por uma flor com as estrelas da União Europeia.

Apesar de existirem na Europa cerca de 230 símbolos que identificam produtos e processos sustentáveis, há dois selos ecológicos principais que se aplicam aos produtos provenientes de florestas geridas de forma responsável:

Selo FSC®Forest Stewardship Council® (FSC® N003336)
O FSC é o sistema de certificação com maior reconhecimento internacional. A sua história começou em 1993, quando foi criado por representantes de organizações ambientais, de organizações de cariz social, da indústria da madeira e de associações florestais. Mais de 157,5 milhões de hectares de floresta em todo o mundo tinham gestão certificada pelo FSC em maio de 2023.
Assegurar altos valores de conservação, boas relações com as comunidades que vivem em redor e condições condignas para os trabalhadores são alguns dos princípios considerados.

Selo PEFC – Programme for the Endorsement of Forest Certification (PEFC/13-44-005)
O PEFC é uma plataforma não-governamental e representa o maior sistema mundial de certificação florestal, com 288 milhões de hectares de floresta com gestão certificada no mundo (final de 2022). Constituído em 1999, resultou da ação de produtores florestais e indústrias de 17 países europeus preocupados com o desenvolvimento sustentável das áreas florestais.
Nos critérios que o PEFC considera estão, entre outros, a manutenção e melhoria dos recursos florestais e seu contributo para o ciclo de carbono, a manutenção da saúde e vitalidade do ecossistema florestal, a manutenção e melhoria das funções protetoras da floresta (preservando, nomeadamente, o solo e a água) e a manutenção, conservação e melhoria da diversidade biológica dos ecossistemas florestais.

PEFC

PARA SABER MAIS: Quais são os critérios de certificação florestal?

 

Há diferentes tipos de certificação para as várias etapas e intervenientes na cadeia de valor, desde a floresta ao produto final. Nesse sentido, em ambos os sistemas, os selos da certificação englobam a Gestão Florestal, para proprietários ou gestores florestais; a Cadeia de Custódia, destinada a fabricantes, transformadores e comerciantes de produtos florestais; e a Madeira Controlada (proveniente de fontes aceitáveis e verificadas), para organizações e empresas.

Ao comprarmos produtos com um destes selos verdes estamos a contribuir para a salvaguarda das florestas naturais e protegidas, a reduzir a pegada ecológica, assim como a motivar mais profissionais e empresas a aderir a certificações que reforçam o seu compromisso com uma gestão florestal ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável.

Selos verdes florestais com aplicações crescentes

A procura de matérias-primas florestais vai continuar a aumentar, porque a sua origem natural e características renováveis, biodegradáveis e recicláveis vão ao encontro das estratégias traçadas para reduzir as emissões de carbono.

Pela sua versatilidade e porque, em muitos casos, podem substituir materiais mais poluentes, escassos e não renováveis, estas matérias-primas são cada vez mais aplicadas em produtos inovadores, em sectores tão diferentes como a construção civil, as embalagens, os medicamentos ou os têxteis. Os produtos de base florestal e as suas novas aplicações são, aliás, uma das bases estratégicas para a concretização de uma economia de baixo carbono, assente nos conceitos da bioeconomia e da economia circular.

Face a esta crescente amplitude de utilizações é natural que os selos verdes ou ecológicos do sector florestal comecem a surgir noutros produtos e empresas. Atualmente, eles são mais visíveis naqueles que se dedicam diretamente às matérias-primas e produtos lenhosos provenientes da floresta:

– Papel e cartão, em categorias que vão do papel de escrita, impressão e uso doméstico (conhecido como tissue) às embalagens – sacos, caixas, envelopes – inclusive para alimentos;

– Madeira, em bruto e trabalhada em produtos, desde o mobiliário aos revestimentos, painéis, ferramentas e materiais de construção;

– Cortiça e produtos de cortiça, que, para além das rolhas, ganha em Portugal crescente expressão na área da construção, com soluções de isolamento, revestimento e pavimentação;

– Menos óbvia, mas já relevante em termos de representatividade, é a certificação e utilização de selos verdes por parte da indústria gráfica – impressão de jornais, revistas e livros por exemplo.

Nem sempre houve consciência de que cortar árvores a um ritmo mais rápido do que elas podiam crescer – sem voltar a plantar – significava pôr em risco o futuro. Isto aconteceu em Portugal, por exemplo, durante os Descobrimentos: para cada nau eram necessárias entre duas a quatro mil árvores. Infelizmente, o corte e comércio ilegal de madeira em florestas com estatuto de proteção ou preservação continua a acontecer em várias partes do mundo, inclusive na Europa.

O abate ilegal de árvores foi considerado o crime mais lucrativo entre os vários que envolvem recursos naturais, ultrapassando, entre outros, o tráfico de animais selvagens e a pesca ilegal, de acordo com o relatório Transnational Crime and the Developing World. Os dados disponíveis remontam a 2017 e segundo a mesma fonte, representava 10 a 30% do comércio mundial de produtos de madeira, percentagem que se elevava para 50 a 90% em países onde existem madeiras tropicais. Em termos de valor, equivalia a um intervalo estimado entre 52 e 257 mil miçhões de dólares. São estes números que importa reduzir, privilegiando os materiais e produtos com selo ecológico. Enquanto consumidores, esta é uma escolha com impacte direto na proteção das florestas e na sustentabilidade global.

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© Tânia Oliveira (imagem rolhas de cortiça)

Artigo Atualizado a 21.06.2023