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Produtos Florestais não lenhosos

Resina: um sector em recuperação lenta

Portugal já foi o segundo maior exportador mundial de resina, uma substância viscosa recolhida principalmente em pinheiro bravo e com variadas aplicações industriais. Depois de décadas de abandono, a extração deste produto da floresta voltou a crescer nesta década. Foi uma subida ligeira, que pode ser alterada com a atual crise económica global.

A produção nacional de resina chegou a ser, na década de 70, de 140 mil toneladas por ano. Nesse tempo, Portugal era o segundo maior exportador mundial, mas nos anos 80 a atividade resineira entrou em declínio, revela o artigo “O retorno da resinagem à floresta portuguesa – uma forma de promoção do desenvolvimento dos sistemas rurais e de prevenção de incêndios florestais”.

A produção anual de resina passou de mais de 100 mil toneladas no início da década de 80 para uma média de cinco mil toneladas na primeira década deste século, indica a mesma fonte. Esta queda abrupta, também percetível pelos dados do INE – Instituto Nacional de Estatística (desde 2002), resultou de uma conjugação de variados fatores, incluindo a concorrência das resinas sintéticas, o êxodo rural e o abandono das áreas de pinhal, a diminuição das áreas sujeitas a resinagem devido aos incêndios florestais, o custo crescente da mão de obra e a entrada no mercado da China e Brasil, com preços mais baixos.

Apesar deste contexto, nos últimos anos assistiu-se a um ressurgimento da atividade em Portugal. Depois de um mínimo de produção em 2008, em que a resina não chegou às 4,5 mil toneladas, a produção anual à entrada da fábrica tem rondado as 7 a 8 mil toneladas nos últimos anos, de acordo com dados do INE.

Em termos económicos, os números mais recentes do INE indicam que o preço médio da resina à entrada da fábrica tem-se mantido estável no último decénio, em torno de 1 euro por quilograma. Os dados mais recentes, de 2019, apesar de provisórios, apontam para um valor/quilo na mesma linha: 1,1 €/kg. Deste modo, consegue-se apurar o valor económico da resina: a produção de resina à entrada da fábrica cifrou-se, em 2018, nos 7,7 milhões de euros, valor inferior aos de, por exemplo, 2014 (9,4 milhões de euros) ou 2015 (8,9 milhões de euros), mas muito superior à média anual do período 2005-2010, que rondou os 3 milhões de euros.

Resina portuguesa em 2019

 

5634
toneladas produzidas

 

6,2 milhões de euros
em produção

 

1,1 €/kg
de preço médio

 

6,36 milhões de euros
em exportações

 

237
operadores registados

(dados provisórios)

Produção de resina em Portugal

P – Provisório
Fonte: INE

2020 deverá ser um ano atípico para o sector resineiro devido à pandemia que se vive. João Gonçalves, presidente da direção do Centro PINUS, realçou isso mesmo, durante a sua intervenção num webinar promovido pela AgroGes, sobre os impactes do confinamento: “a alteração dos padrões de consumo trouxe a procura reforçada de aguarrás (usada em produtos desinfetantes) e uma quebra de produtos de estética, que afetou o segmento em cerca de 30%”.

Artigo-Resina-violino

Para que serve a resina? Ao longo dos séculos foi aproveitada, sobretudo, para selar e preservar os cascos de navios de madeira. Hoje tem dezenas de aplicações, em especial na indústria química (colas, vernizes, elásticos, pneus, isoladores, tubagens), mas também em produtos tão diversos como pastilhas elásticas, refrigerantes, perfumes, revestimento de roupas, cremes protetores, pulseiras de relógios, capacetes ou lentes oculares. Até os artistas a usam: as bailarinas, na ponta das sapatilhas, para não escorregarem e os violinistas e violoncelistas nos arcos, para melhorar a fricção sobre as cordas e a qualidade do som.

Resina mantém balança comercial deficitária

Este ressurgir está a contribuir para o aumento das exportações que, de acordo com as mais recentes Estatísticas do Comércio Internacional de Bens, do INE, tiveram em 2019 um bom ano relativamente aos anteriores: a exportação da categoria “gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais” (que representou 0,42% das exportações dos produtos florestais nacionais) chegou aos 6,36 milhões de euros (números provisórios), quando em 2018 não passou dos 4,36 milhões. As exportações confirmam assim uma tendência crescente dos últimos três anos.

Estes números são, no entanto, muito inferiores aos das importações, que quase duplicaram nos últimos anos: de 27,77 milhões de euros em 2016 para 49,97 milhões de euros em 2019 (números provisórios). O resultado é uma balança comercial negativa, com um saldo, em 2019, de -43,62 milhões de euros.

O Brasil é, de longe, o país de onde mais importamos produtos resinosos. De acordo com o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, de 2016 a setembro de 2019, aproximadamente 91% da resina importada por Portugal teve origem no Brasil, num total de 7,8 milhões de toneladas.

A China, o Brasil e a Indonésia representam mais de 90% da produção mundial de resina e a indústria química europeia é o maior consumidor mundial de produtos derivados da resina, refere a Resipinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina.

 

Valor do comércio internacional de gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais

P: provisório
Nota: Por motivos de arredondamentos, poderão existir ligeiras discrepâncias entre o valor total da balança comercial e os valores de exportações/importações.
Fonte: INE – Estatísticas do Comércio Internacional de Bens; Importações (€) de bens por Local de origem e Tipo de bens (Nomenclatura combinada – NC8); Anual; Exportações (€) de bens por Local de destino e Tipo de bens (Nomenclatura combinada – NC8); Anual

Resina: empresas e emprego mais relevantes no centro e norte

A resinagem contribui para a criação de postos de trabalho, fixação de mão-de-obra e aumento dos rendimentos no meio rural, em particular nas regiões Centro e Norte. São particularmente expressivas as faixas litorais dos distritos de Leiria e Coimbra, assim como os distritos de Viseu e Vila Real, onde o pinheiro-bravo tem maior expressão, salienta o ICNF, na sua Nota Informativa Nº3 SiResin (outubro de 2019).

De acordo com o registo nacional de operadores de resina – SiResin – estavam registados, a 30 de setembro 2019, 237 operadores que podem dedicar-se a uma ou mais das atividades deste subsector – extração, transporte, armazenamento, primeira transformação, importação e exportação – sendo a extração a atividade predominante. Em termos geográficos, o distrito com maior número de operadores registados é Leiria, com perto de um terço (71 dos 237). Seguem-se Coimbra e Viseu (ambos com 28).

Registo de operadores de resina por atividade

Os 10 distritos com mais operadores de resina

A indústria da resina é “pujante”, garante Hilário Costa, presidente da associação de resineiros em Portugal, a ResiPinus, ao jornal Público. O responsável diz que só as empresas de primeira transformação empregam cerca de mil pessoas e as de segunda transformação “mais de quinhentas”.

Estas empresas, que estão muito voltadas para a exportação, podem contribuir para melhorar a balança comercial dos produtos da floresta. Além disso, sendo a resina um produto natural e de exploração sustentável, ela permite uma valorização adicional dos povoamentos de resinosas.

De realçar que a qualidade da resina portuguesa pode ser um valor de diferenciação no mercado internacional, tal como referido numa análise do antigo Instituto Nacional de Recursos Biológicos (atual INIAV) sobre as fraquezas e desafios do sector da resina de pinho (2012). Neste trabalho, a elevada qualidade da matéria-prima destaca-se como uma das forças a explorar por este sector.

Finalmente, a resinagem pode ainda contribuir para a defesa da floresta. É que, como o método de extração de resina implica que cada árvore tenha de ser visitada aproximadamente de 15 em 15 dias para se fazer a renova das feridas, para que mantenham a produção, durante cerca de 6-9 meses por ano a atividade exige a presença contínua dos resineiros nas florestas, sobretudo nos meses mais quentes. O resineiro assume assim um papel de “guarda-florestal”, pois não só contribui para a limpeza e preservação da floresta (é necessária a limpeza dos matos para se fazer a resinagem), como faz ainda a vigilância nas florestas contra incêndios, pragas e até roubos de madeira.