Eficiência energética e regulação da temperatura
A discussão sobre qual o fator dominante do aquecimento global está longe de estar concluída, com vários autores a indicarem não ser o “efeito de estufa”, mas a energia diretamente libertada para a atmosfera sob a forma de calor a causa dominante desse aquecimento (ver, por exemplo, Bian 2020). Nesse caso, o enfoque mundial deveria estar sobretudo na procura da eficiência energética e na reutilização da energia desperdiçada (waste heat) do que no aumento das fontes de energia que, apesar de poderem não libertar CO2 para a atmosfera, libertam sempre energia em forma de calor.
Neste sentido o papel das florestas na regulação da temperatura não teria a ver com a sua contribuição para a diminuição da concentração de CO2 na atmosfera, que aliás só diminuiria a sua produtividade, mas sim com a sua capacidade de transpiração. E, se queremos otimizar essa influência “benéfica” das florestas sobre o clima, teremos de privilegiar florestas que consigam:
- captar água (as precipitações ocultas, que resultam da entrada de água no ecossistema a partir das gotículas de água dos nevoeiros intercetadas pelas folhas das árvores, são muito importantes);
- armazená-la no solo (a conservação do solo permite a conservação da água);
- transpirar essa água para conservar a temperatura das suas folhas e do ambiente que elas criam (florestas com altos valores de índice de área foliar são as mais interessantes).
Independentemente de outros efeitos mais dificilmente comprovados, o papel da floresta na regulação do clima não pode deixar de ser equacionado nesta “nova” perspetiva do funcionamento térmico do ecossistema florestal, com a regulação causada pela água na evapotranspiração, como já escrevia Odum (1971) em livro traduzido para português e ensinado pelo professor António Manuel Azevedo Gomes.
Em conclusão: florestas com altos índices de área foliar no verão precisam-se, seja em ambiente urbano para mitigar as conhecidas ilhas urbanas de calor, como nas dunas do litoral ou nas serras do interior. Afinal, as ilhas de calor já não são só urbanas porque o calor libertado pela maior utilização de energia nessas áreas atinge já dimensões regionais. E as florestas, protegendo-se elas próprias do calor excessivo, protegem-nos indiretamente. Saibamos ajudá-las para que elas nos ajudem a combater o aquecimento global que provocamos…