Conhecer

Alterações Climáticas

CO2 removido pela floresta no mundo, na Europa e em Portugal

As florestas removem dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a mitigar os efeitos das alterações climáticas. Em Portugal, o seu contributo tem sido positivo, exceto em anos de grandes incêndios. Em 2023, o CO2 removido pela floresta portuguesa totalizou cerca de 1,44 megatoneladas (remoção bruta) de um total de 53,25 megatoneladas de emissões nacionais de gases com efeito de estufa.

Valorizar os ecossistemas florestais é uma das respostas viáveis em termos de adaptação, mitigação e resiliência aos efeitos das alterações climáticas. As plantas e árvores das florestas retiram dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e retêm-no nas raízes, caules e folhas. Outra parte do CO2 removido pela floresta fica armazenado na manta morta e no solo.

Estima-se que o CO2 removido pela floresta à escala global tenha rondado os 15,6 mil milhões de toneladas (gigatoneladas ou Gt) de CO2 eq por ano, entre 2001 e 2019, um valor bruto que se reduz para uma remoção líquida de 7,6 Gt CO2 eq se contabilizarmos os Gases com Efeito de Estufa (GEE) emitidos como resultado da desflorestação e de outras perturbações nos ecossistemas florestais.

Em paralelo, estima-se que as florestas armazenem à escala global entre 662 e 861 gigatoneladas de carbono.

Este último valor resultou de um trabalho publicado em 2011 que usou dados (entre 1990 e 2007) provenientes de medições de campo, inventário florestal e modelos para estimar o stock de carbono nas florestas mundiais, apontando que se situe em cerca de 861 Gt de carbono: 44% deste total (383 Gt) estava armazenado no solo (até 1 metro de profundidade), 42% (363 Gt) na biomassa viva acima e abaixo do solo (troncos, ramos, folhas e raízes), 8% (73 Gt) na madeira morta e 5% (43 Gt) nas copas (folhada). Em termos geográficos, 55% do carbono estava retido nas florestas tropicais, 32% nas boreais e 13% nas florestas temperadas.

Já o primeiro valor, que indicava um stock de carbono 662 mil milhões de toneladas (o equivalente a cerca de 163 toneladas de carbono por cada hectare de floresta no mundo) foi estimado pelo Global Forest Resources Assessment – FRA 2020. Este total, resultante de dados dos stocks de carbono florestal reportados por 192 países e territórios, compreende cerca de 45% (300 Gt de carbono) na matéria orgânica do solo, perto de 40% (295 Gt) na biomassa viva que se encontra acima do solo e nas raízes e 10% (68 Gt) na biomassa morta ou manta morta (ramos e folhas caídas sobre o solo).

A medida internacional CO2 eq expressa a quantidade dos Gases com Efeito de Estufa (GEE) como o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), traduzindo as suas quantidades como se todos eles equivalessem a CO2 (como se todos os GEE emitidos fossem dióxido de carbono).

Evolução do stock de carbono na biomassa florestal 1990-2020 (Gt de carbono)


Fonte: Global Forest Resources Assessment – FRA 2020

Embora os números sejam impressionantes, o FRA 2020 indica que, entre 1990 e 2020, a área florestal global diminuiu cerca de 178 milhões de hectares, o que levou à diminuição do stock de carbono na biomassa total da florestal em cerca de 6,3 Gt (de 668 Gt para 662 Gt), o equivalente a uma média de 210,4 milhões de toneladas por ano (megatoneladas ou Mt).

Esta redução deveu-se principalmente à degradação e perda de florestas para a agricultura e para o estabelecimento de povoações e edificações.

As maiores perdas verificaram-se na América do Sul (mais de mil milhões de toneladas em três décadas), em África e no Sul da Ásia.

No entanto, parte das perdas foram compensadas por aumentos da área florestal noutras zonas do globo: na Europa, nas regiões do Este Asiático e na América do Norte, que viram o stock de carbono na biomassa florestal aumentar.

Com base em dados e modelos ao nível da árvore individual, um estudo publicado na revista científica Nature, em novembro de 2023, sugere que as alterações no uso do solo e no clima reduziram o potencial natural de carbono das florestas. Este trabalho estimou que, na ausência de perturbação humana e de acordo com as condições do clima atuais, o potencial global de carbono florestal seria cerca de 600 Gt. Considerando estimativas de biomassa viva e dados de carbono no solo, madeira morta e folhada, indica que o stock de carbono nas florestas mundiais estará entre 221 Gt e 472 Gt abaixo do seu potencial natural.

Emissões globais continuam a crescer

Globalmente, as emissões totais de GEE para a atmosfera (considerando o efeito do uso do solo, alteração do uso do solo e florestas, na sigla inglesa LULUCF – Land Use, Land Use Change and Forestry) têm vindo a aumentar desde 1990, de acordo com o Emission Gap Report 2024, das Nações Unidas. Em 2020, a pandemia de COVID-19 levou ao decréscimo das emissões, mas em 2021 retomaram o crescimento e em 2023 atingiram 57,1 Gt CO2 eq. Este valor representou um aumento de 1,3% relativamente a 2022 e um crescimento acima da média registada entre 2010 e 2019 (0,8% ao ano).

O aumento provém de todos os sectores, exceto o LULUCF, onde está incluída a floresta. As maiores contribuições resultam da queima de combustíveis fósseis e processos industriais que, juntos, são responsáveis por cerca de dois terços das emissões globais de GEE: a produção de energia continua a ter a maior contribuição (26%), seguindo-se os transportes (quase 15%, incluindo terrestres 11%, aéreos 2% e outros 2%), e a indústria e a agricultura, ambas com 11% das emissões. A produção de combustível representa outros 10% das emissões, os processos industriais 9%, o sector LULUCF 7% e os restantes 4% provêm do sector designado como “resíduos e outros”.

O relatório alerta ainda que, com o aumento contínuo das emissões, as metas a atingir tornam-se cada vez mais ambiciosas. Embora ainda seja tecnicamente possível manter o aquecimento médio da temperatura global nos 1,5°C, como definido no Acordo de Paris, há que acelerar as ações, aumentar as ambições e implementar novas políticas para conseguir baixar as emissões globais para níveis entre as 26 a 34 Gt CO2 eq em 2030.

O título do relatório de 2024 – “Emissions Gap Report 2024: No more hot air … please! With a massive gap between rhetoric and reality, countries draft new climate commitments” – apela à mobilização global para cumprir os compromissos atuais (mesmo que fossem cumpridos, o temperatura aumentaria entre 2,6°C a 2,8°C), para assumir novos e tomar ações imediatas que reduzam as emissões anuais de GEE em 42% até 2030 e 57% até 2035 (este ano é o novo marco para os próximos compromissos nacionais). A expressão inicial do título “No more hot air” tem o duplo sentido “chega de conversa fiada”.

Evolução das emissões antropogénicas globais de gases com efeitos de estufa, incluindo LULUCF, 1990 – 2023 (Gt CO2 eq/ano)

Emissões de GEE - evolução global entre 1990-2023

Fonte: Emission Gap Report 2024, UNEP. Nota: Os gases que não são CO2 foram convertidos em Gt CO2 eq usando os potenciais de aquecimento global num horizonte a 100 anos, indicados no IPCC AR6.

“Estamos a oscilar numa corda bamba planetária. Ou os líderes preenchem a lacuna das emissões ou mergulhamos de cabeça no desastre climático – com os mais pobres e vulneráveis ​​a sofrerem mais. Este relatório mostra que as emissões anuais de gases com efeito de estufa atingiram um máximo histórico – aumentando 1,3% no ano passado. Precisam de descer 9% todos os anos até 2030 para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius e evitar o pior das alterações climáticas. As políticas atuais estão a conduzir-nos a um aumento catastrófico da temperatura de 3,1 graus Celsius até ao final do século”, alertara o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, durante a apresentação do Emission Gap Report 2024.

Com a possibilidade de a temperatura média global estar a ultrapassar os 1,5°C, é preciso agir, pois ainda é tecnicamente possível cortar até cerca de 31 Gt CO2 eq de emissões em 2030. A redução de emissões vai obrigar a um aumento do investimento em mitigação, no mínimo de seis vezes mais investimento, mas pode ser atingido através de:

  • Tecnologias solares fotovoltaicas e energia eólica, com a capacidade de fornecer 27% do potencial total de redução (8,4 Gt CO2 eq por ano em 2030);
  • Diminuição da desflorestação, aumento da reflorestação e melhor gestão florestal têm 20% do potencial de redução das emissões (cerca de 5,9 Gt CO2 eq por ano em 2030);
  • Medidas de eficiência energética, eletrificação e transição dos combustíveis fósseis nos setores de edifícios, transporte e indústria.

CO2 removido pela floresta europeia mantém-se positivo, mas longe da meta

Na União Europeia, nos últimos 34 anos, as emissões totais de GEE têm evoluído em sentido inverso ao que acontece no mundo, revela o “Annual European Union greenhouse gas – inventory 1990–2023 and inventory report 2025”. O documento destaca uma descolagem progressiva entre o crescimento económico e a emissão de gases com efeito de estufa no espaço comunitário: o PIB – Produto Interno Bruto aumentou 70%, enquanto as emissões se reduziram em cerca de 37% entre 1990 e 2023. Neste último ano em que existem dados, fixou-se em 2,908 mil Mt CO2eq (excluindo aviação e navegação internacional).

A redução das emissões está relacionada com o aumento das energias renováveis, o uso de menos combustíveis fósseis e as melhorias na eficiência energética, assim como com mudanças estruturais na economia, com a redução das emissões mais significativa a registar-se no sector da energia.

Embora com um crescimento em 2021, associado à retoma da economia registado após a pandemia, as emissões em 2023 estão significativamente abaixo (cerca de 37% abaixo) das 4,635 mil Mt CO2 eq contabilizadas em 1990. Em 2023 houve também um decréscimo nas emissões de 8,9% (285 Mt CO2 eq) face a 2022, que corresponde à maior descida percentual de emissões na EU desde 1990 e à terceira maior em termos absolutos, atrás das ocorridas na crise financeira de 2009 e na crise pandémica em 2020.

O sector LULUCF (Uso do Solo, Alterações do Uso do Solo e Floresta) como um todo tem mantido um contributo positivo enquanto sumidouro líquido de carbono e esta realidade manteve-se em 2023, com uma remoção de cerca de 198 Mt CO2 eq. No balanço entre as emissões e remoções deste sector, as áreas florestais e produtos lenhosos removeram cerca de 300,476 Mt CO2 eq, mas este total reduz-se pelas emissões de cerca de 100 Mt CO2 eq provenientes das áreas de cultivo, prados e matos arbustivos, zonas húmidas e alagadas, territórios artificiais e rochas dunas e semelhantes.

As áreas florestais foram em 2023, uma vez mais, responsáveis pelas remoções mais representativas de GEE na Europa – cerca de 9%. Estas áreas representavam cerca de 40% do total do território comunitário (169,105 milhões de hectares em 2023), de acordo com as áreas reportadas pelos 27 países da União, indicando um acréscimo de 7,8% nas áreas florestais face a 1990.

Fontes de emissões e remoções na União Europeia, 1990 – 2023 (Mt CO2 eq)

1990
1995
2000
2005
2010
2015
2020
2021
2022
2023
Energia
3740
3515
3447
3565
3290
2962
2490
2651
2604
2364
Processos industriais
450
430
414
429
364
342
307
318
290
265
Agricultura
490
424
413
392
381
386
384
380
368
365
LULUCF
-237
-316
-318
-347
-346
-319
-194
-196
-183
-198
Lixo/Resíduos
185
187
174
155
137
119
112
112
111
109
Outros
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Emissões indiretas de CO2
7.6
6.9
6.3
5.7
4.8
4.1
3.9
3.9
3.6
3.4
Total incluindo FULUCF
4635
4248
4137
4199
3831
3495
3103
3269
3193
2908
Total excluindo FULUCF
4873
4563
4455
4546
4177
3813
3297
3465
3376
3106

Fonte: Annual European Union greenhouse gas – inventory 1990–2021 and inventory report 2025

Embora com este contributo positivo, o CO2 removido pela floresta europeia diminuiu a sua representatividade nos anos mais recentes. Por exemplo, em 2005 o sector LULUCF permitiu a remoção de 347 Mt CO2 eq, muito acima dos 190 Mt CO2 eq de 2023. Entre as principais justificações para esta redução da capacidade da floresta como sumidouro de carbono estão o envelhecimento das florestas, o aumento da taxa de cortes florestais e os crescentes impactes e pressões das perturbações naturais relacionados com as alterações climáticas (como cheias, tempestades e fogos).

Refira-se que para alcançar as metas europeias da neutralidade carbónica as remoções líquidas de GEE no sector LULUCF precisam de voltar a aumentar para os 310 Mt CO2 eq à escala da União Europeia até 2030 – cada país terá, por isso, objetivos obrigatórios a cumprir. Diferentes projeções indicam, no entanto, que, a manterem-se as práticas correntes, a capacidade das florestas e solos europeus para absorver CO2 continuará a decair, estimando que em 2030 as suas remoções possam reduzir-se às 200 Mt de CO2 eq.

CO2 removido pela floresta portuguesa rondou as 3 megatoneladas por ano

De 1990 até 2023, as áreas florestais portuguesas (e o sector LULUCF como um todo) deram um contributo positivo para a remoção de gases com efeito de estufa em 29 dos últimos 34 anos analisados:

  • O sector LULUCF contribuiu com uma remoção média estimada em 1,89 Mt CO2 eq e os anos de maiores remoções (acima das 5 megatoneladas) foram 1992, 1993 e 2008.
  • As áreas florestais foram responsáveis por um sequestro médio anual de 3 Mt CO2 eq, tendo os anos de 1995, 1997, 1998, 1999, 2001 e 2002 dado os maiores contributos.

A exceção vai para 1990, 2000, 2003, 2005 e 2017. Nesses anos, devido aos incêndios – dos quais resultam valores elevados de biomassa queimada –, a floresta acabou por gerar mais emissões do que aquelas que foi capaz de remover da atmosfera.

2017 é o ano em que esta inversão é mais acentuada: o sector LULUCF – Uso do Solo, Alterações do Uso do Solo e Floresta representou 17,5% das emissões nacionais totais em resultado de um ano atípico em termos de seca, temperaturas elevadas e tempestades, que resultaram em valores elevados de área ardida em outubro de 2017, tanto em Portugal, como em Espanha.

Já em 2023, o Documento de Inventário Nacional 2025 (NID – National Inventory Document), que reporta os indicadores portugueses às autoridades europeias revela que as emissões GEE em Portugal totalizaram 53,25 Mt CO2 eq, valor que se reduz para as 51,22 Mt CO2 eq se considerarmos as remoções (2 Mt CO2 eq) conseguidas pelo sector LULUCF – Uso do Solo, Alterações do Uso do Solo e Floresta. Refira-se que o valor de GEE reportado inclui as emissões indiretas de CO2, resultantes da oxidação atmosférica de metano (CH4), monóxido de carbono (CO) e compostos orgânicos voláteis com exceção do metano (NMVOCs) produzidos por combustão fóssil.

Em 2017, o sector LULUCF foi um emissor líquido, responsável pela emissão de 15,1 Mt CO2 eq para a atmosfera, o equivalente a 17,5% de todas as emissões portuguesas nesse ano. É um valor de exceção, que decorre da maior área ardida desde que há registo em Portugal (558 mil hectares, cerca de 6% da área do país) e que o Documento de Inventário Nacional associa “a um ano excecionalmente seco e a temperaturas elevadas, ocorrendo principalmente fora do período de verão normal” e também “aos ventos excecionalmente fortes, nomeadamente do furacão Ophelia, que atingiu a costa da Península Ibérica em outubro de 2017, um fenómeno que pode estar relacionado com as mudanças climáticas”.

Total de emissões sem e com o sector LULUCF em Portugal, 1990 – 2023

Fonte: NID – National Inventory Document 2025 – Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente.

Fonte: NID – National Inventory Document 2025 – Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente. Nota: valores negativos indicam um contributo negativo, em que o sector LULUCF emitiu GEE

As florestas (Forest Land) foram responsáveis por um sequestro médio anual de 3 Mt CO2 eq entre 1990 e 2023, valor que se reduz para uma média de 1,17 Mt CO2 eq (emissões líquidas) se forem consideradas outras fontes de emissões relacionadas com a floresta, principalmente a queima de biomassa associada aos incêndios. Em 2023, o CO2 removido pela floresta portuguesa foi de 1,44 Mt CO2 eq, quantidade que diminui para 1 Mt CO2 eq (remoções líquidas), quando são consideradas estas outras fontes emissoras relacionadas com as áreas florestais.

Em termos líquidos, as zonas de prados e matos arbustivos (1,56 Mt CO2 eq) e as florestas (1 Mt CO2 eq) aportaram os maiores contributos para a remoção de carbono da atmosfera, em 2023, de entre os vários elementos integrados no sector LULUCF. Já as zonas húmidas e alagadas, os territórios artificiais e as áreas de cultivo foram emissores de GEE.

Considerando o total de emissões com o sector LULUCF, os 51,2 Mt CO2 eq obtidos em 2023 representam um decréscimo de 43,4% face a 2005 e de 19,1% face a 1990. Refira-se que as emissões totais em Portugal, seja sem ou com o sector LULUCF, têm vindo a decrescer desde 2018 e registaram em 2023 os valores mais baixos desde 1990.

Evolução das emissões e remoções das várias componentes no sector LULUCF, em Portugal, 1990 – 2023

Emissões e remoções de CO2 do sector LULUCF, que inclui a floresta

Fonte: NID – National Inventory Document 2025 – Portugal, Agência Portuguesa do Ambiente.