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Alterações Climáticas

Como maximizar o papel das florestas em emergência climática?

Aumentar a área florestal, promover a resiliência da floresta e utilizar mais produtos lenhosos que, depois de transformados, continuam a armazenar carbono, são três pontos centrais para fazer da floresta um sumidouro mais eficiente dos gases com efeito de estufa (GEE) em contexto de emergência climática.

A velocidade a que estão a ocorrer as alterações climáticas e a sua gravidade motivaram a que se assumisse, um pouco por todo o mundo, o “estado de emergência climática”. Sem tecnologias capazes de remover os GEE em larga escala e a um preço realista, procuram-se soluções que ajudem a abrandar os efeitos das alterações climáticas. A floresta é uma peça-chave nesta estratégia de mitigação e adaptação. O seu contributo deve considerar três grandes vertentes:

1. Preservar a floresta nativa e investir na floresta de produção e conservação

Reverter a perda de floresta e aumentar a sua área mundial em 3% até 2030 é uma das medidas inscritas nos Objetivos Florestais Globais do Plano Estratégico das Nações Unidas para as Florestas, como consta no relatório do Estado das Florestas Mundiais 2018 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Em paralelo, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) avalia que “24% a 30% do potencial total de mitigação da floresta pode ser alcançado ao travar e reverter a desflorestação tropical“.

Travar o corte das florestas naturais e restaurar as áreas degradadas são duas prioridades neste estado de emergência climática, que reforça, também, a importância de plantar novas florestas. As novas plantações aliviam a pressão sobre as florestas naturais, nomeadamente a causada pela procura de matérias-primas.

Da mesma forma, importa conservar as florestas mais velhas, para que também elas continuem a absorver carbono e a funcionar como sumidouros e para que possam manter o seu importante papel ecológico e sociocultural, assim como ao seu contributo para o aumento da matéria orgânica no solo, que constitui uma parte muito significativa do stock total de carbono dos ecossistemas. Nas florestas boreais, por exemplo, há mais carbono no solo do que na vegetação acima dele.

Ainda o conceito de emergência climática não era comum e já o 4º Relatório do IPCC referia, em 2007, que “no longo prazo, uma estratégia sustentável de gestão florestal destinada a manter ou aumentar os stocks de carbono florestal, enquanto produz um rendimento anual sustentado de madeira, fibra ou energia, será um claro benefício para a mitigação das alterações climáticas”.

O Protocolo de Quioto admitiu que as florestas plantadas depois de 1990 e algumas alterações de uso de solo fossem consideradas como sumidouros de carbono e contabilizadas para cumprir os objetivos a que os países signatários se comprometeram no período de 2008-2012. A meta de cortar as emissões em 8%, então estabelecida pela União Europeia, foi superada, com uma redução de 12% conseguidos num contexto de severa crise financeira. Atualmente, o compromisso do Segundo Período de Quioto (2013-2020) é cortar 20% face aos valores emitidos em 1990. Refira-se que a maioria das metas climáticas está apoiada por medidas legislativas.

2. Aumentar a resiliência da floresta

Para reforçar a resiliência dos povoamentos florestais e contrariar os riscos de perda de produtividade, mortalidade e incêndios, é importante aumentar as áreas com gestão ativa e certificação ambiental.

Em Portugal, existem vários instrumentos de incentivo à gestão e certificação florestal, como os Planos de Gestão Florestal, as Zonas de Intervenção Florestal e os Sistemas de Certificação Florestal, que ajudam a implementar práticas de gestão florestal.

No entanto, as consequências previstas das alterações climáticas, ao nível do padrão de temperatura e precipitação, ou da maior ocorrência de ondas de calor, por exemplo, ditam a necessidade de novas práticas de gestão florestal que possam aumentar a resiliência e sustentabilidade das florestas, como por exemplo:

  • Utilizar técnicas de preparação do terreno e de manutenção dos povoamentos que reduzam a erosão e a exposição direta do solo aos raios solares, diminuindo o aquecimento durante o dia;
  • Selecionar espécies e variedades mais resistentes à secura ou que favoreçam a fertilidade do solo e a permanência do carbono no sistema solo-planta;
  • Concentrar espécies específicas nas respetivas zonas de maior produtividade, tendo em conta as alterações potenciais na distribuição que as alterações climáticas fazem prever.

A monitorização e o controlo de pragas e doenças, bem como de espécies invasoras, são outros pontos importantes no estado de emergência climática em que vivemos e devem envolver todos os parceiros relevantes.

3. Promover o uso mais alargado e eficiente dos produtos florestais

Parte do carbono sequestrado pelas árvores mantém-se retido nos produtos de origem florestal, como a madeira e o papel. Esta retenção pode ser prolongada através da sua reutilização e reciclagem, assim como de novas aplicações da madeira e de outros produtos florestais que reforçam a extensão do armazenamento de carbono e permitem reduzir as emissões para a atmosfera.

Os produtos lenhosos destacam-se, assim, como alternativas às matérias-primas cuja produção implica a queima intensiva de combustíveis fósseis e a elevada emissão de GEE.

A promoção destas alternativas mais sustentáveis deve ser tida em conta nos diversos setores e aplicações. No setor da construção, por exemplo, a aplicação de madeira produzida de forma sustentável em produtos com um ciclo de vida mais longo permite reduzir as emissões de GEE e promover o sequestro de CO2. O mesmo é válido nos setores dos têxteis celulósicos e bioplásticos para embalagens, onde a utilização da biomassa residual florestal surge como alternativa aos derivados fósseis.

De salientar ainda que a capacidade de retenção do carbono ajuda ainda a reduzir a pegada gerada no processo de fabrico dos produtos florestais. Este aspeto foi demonstrado, em relação ao papel, pelo centro técnico finlandês VTT, no estudo “Carbon footprint and environmental impacts of print products from cradle to grave”, que avalia em cerca de 1% a pegada de carbono de diversos produtos impressos e o respetivo impacte climático no total do consumo doméstico.

Mitigar as alterações climáticas no planeta não se resume a plantar e conservar árvores ou a reduzir o consumo de combustíveis fósseis. Em contexto de emergência climática, é fundamental desenvolver uma bioeconomia circular, na qual os recursos renováveis da floresta e a valorização de resíduos assumam um papel fundamental.

Como maximar o papel das florestas - interior 1
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