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Alterações Climáticas

Quanto é que as florestas ajudam a mitigar os efeitos das alterações climáticas?

Durante os últimos 30 anos, as florestas removeram cerca de um quarto das emissões anuais globais de dióxido de carbono, ajudando, assim, a mitigar os efeitos das alterações climáticas recentes. Em Portugal, os contributos da floresta têm sido positivos, exceto em anos de grandes incêndios: em 2019, cerca de 15% das emissões nacionais de Gases com Efeito de Estufa foram removidas pelas nossas florestas.

Uma das respostas do planeta aos efeitos das alterações climáticas, em termos de adaptação, mitigação e resiliência, deve focar-se nas florestas. Estes ecossistemas têm uma importante capacidade de sumidouro de carbono, ou seja, retiram dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e armazenam-no nas raízes, caules e folhas.

As florestas armazenam à escala global aproximadamente 662 mil milhões de toneladas (gigatoneladas ou Gt) de carbono, o equivalente a cerca de 163 toneladas de carbono por cada hectare de floresta no mundo, valores estimados e revelados pelo Global Forest Resources Assessment – FRA2020. Este total compreende: 300 Gt de carbono na matéria orgânica do solo, 295 Gt na biomassa viva (acima do solo e nas raízes) e 68 Gt na biomassa morta (ramos e folhas caídas sobre o solo).

Embora os números sejam impressionantes, nos últimos 30 anos, o stock de carbono na biomassa total da florestal diminuiu cerca de 6,3 Gt (de 668 Gt para 662 Gt), o equivalente a uma média de 210,4 milhões de toneladas por ano (megatoneladas ou Mt). Esta redução deve-se principalmente à degradação e perda de florestas para a agricultura e estabelecimento de povoações. As maiores perdas verificam-se em África, sul da Ásia e América do Sul. A Europa, assim como as regiões do Este Asiático e América do Norte, viram o stock de carbono na biomassa florestal aumentar, como resultado do aumento de área florestal.

Globalmente, entre 2010 e 2019 as emissões de C02 para a atmosfera continuaram a crescer. 2019 foi o terceiro ano consecutivo em que as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) aumentaram, atingindo 59,1 gigatoneladas de CO2eq, de acordo com o Emission Gap Report 2020 das Nações Unidas e considerando as alterações de uso de solo (uso do solo, alteração do uso do solo e florestas, na signa inglesa LULUCF – Land Use, Land Use Change and Forestry).

Evolução do stock de carbono na biomassa florestal 1990-2020 (Gt de carbono)

Fonte: FAO, Global Forest Resources Assessment – FRA2020

Evolução global das emissões de gases com efeitos de estufa (GEE) por tipo de gás e fonte, incluindo LULUCF, 1990 – 2019

As emissões derivadas da energia (combustíveis fósseis) continuam a ser responsáveis pela maior parte dos GEE.

Estima-se que as emissões em 2020 tenham descido até 7%, na sequência do abrandamento da atividade causado pela pandemia, embora o impacte desta descida seja muito reduzido nos efeitos das alterações climáticas. Para se evitar um aumento de temperatura global de pelo menos 3oC até ao final deste século, há que promover compromissos mais ambiciosos e ações nacionais mais fortes.

Florestas europeias têm absorvido o equivalente a 10% das emissões da região

Na Europa, as florestas têm vindo a absorver, anualmente, entre 400 e 500 milhões de toneladas de gases com equivalência em dióxido de carbono (CO2eq) desde 1990, uma média de 10% dos gases com efeito de estufa emitidos na região.

Em 2019 retiraram da atmosfera 447,8 Mt de CO2eq, o que corresponde a cerca de 10,3% do total dos GEE emitidos na região (quase 4328 Mt de GEE) e a um aumento em relação aos perto de 7,3% (418,16 Mt) absorvidos em 1990. Este aumento resulta do incremento da área de floresta no continente europeu.

Evolução das emissões totais de GEE e remoções pelas áreas florestais na Europa (em milhões de toneladas de GEE em CO2 equivalente)

Saiba mais aqui sobre o contributo de cada país europeu para o sequestro de carbono

Refira-se que a medida internacional CO2eq expressa a quantidade de gases de efeito estufa, como o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), em termos equivalentes da quantidade de dióxido de carbono, ou seja, a quantidade de CO2 se todos os GEE fossem emitidos como esse gás.

Recorde-se que as emissões globais de GEE na Europa diminuíram 24,6% desde 1990, de um total de 5737 Mt de CO2eq para quase 4328 Mt de CO2eq em 2019. Considerando apenas os 27 países da União Europeia, o decréscimo foi de 27,9%: de 4659,7 Mt de CO2eq em 1990 para 3361 Mt de CO2eq em 2019. Embora estes valores excedam as metas de redução estabelecidas para 2020 (reduzir 20% face às emissões de 1990), podem não ser suficientes para alcançar os objetivos definidos para 2030, de reduzir 55% das emissões face aos valores de 1990. As atuais estimativas apontam para esta dificuldade e reforçam a necessidade de esforços adicionais para reduzir emissões.

Evolução do stock de dióxido de carbono na biomassa – Europa (em megatoneladas megatoneladas de CO2)

As áreas florestais europeias aumentaram 9% nos últimos 30 anos, totalizando 227 milhões de hectares em 2020 (excluindo a Rússia e incluindo a Turquia e Chipre), segundo dados do State of Europe´s Forests 2020. Estas áreas tinham, em 2020, um stock total de carbono de 13240 Mt, das quais 10593 Mt de carbono armazenados na biomassa aérea e 2647 Mt na biomassa abaixo do solo. Entre 2010 e 2020, o valor médio anual de sequestro de carbono na biomassa florestal na Europa atingiu 155 Mt de carbono (o equivalente a aproximadamente 568,4 Mt de CO2), o que corresponde aos cerca de 10% de emissões de GEE da região já referidos.

Capacidade de sumidouro da floresta portuguesa

Nos últimos 30 anos, as florestas portuguesas funcionaram como sumidouro de carbono, um efeito que se atenua em anos com extensões muito elevadas de área ardida, como 1990, 1991, 2003, 2005 e 2017.

De uma forma geral, de acordo com o Inventário Nacional de Emissões de GEE relativo a 2019 (capítulo 6), o sector de Uso do Solo, Alteração do Uso do Solo e Florestas (LULUCF – Land Use, Land Use Change and Forestry) tem funcionado como sumidouro de carbono desde 1990, com valores médios de remoção de emissões de GEE de 5,98 Mt de CO2 e um valor estimado de 7,87 Mt de CO2eq em 2019.

As maiores contribuições têm sido as remoções por parte das áreas florestais e a redução de emissões por parte das áreas agrícolas (vinhas, olivais e outras culturas) e das áreas de prados e pastagens. Em anos de grandes incêndios, o papel inverte-se e o sector funciona como emissor de GEE. A introdução de políticas de aumento de florestação, a melhoria na prevenção e combate aos incêndios florestais (especialmente após os incêndios de 2003 e 2005) e os incentivos ao sequestro de carbono em solos agrícolas e de matos/pastagens têm feito aumentar o papel de sumidouro destas áreas.

Em 2019, a floresta portuguesa ajudou a reduzir as emissões de GEE, removendo da atmosfera cerca de 10,38 Mt de CO2. Este valor corresponde à fixação de carbono pelas áreas florestais que se mantiveram (8,21 Mt de CO2) e pelas novas áreas de floresta (2,17 Mt de CO2), segundo o Annual European Union greenhouse gas inventory 1990-2019 and inventory report 2021, da Agência Europeia de Energia.

Evolução das emissões e remoções, no sector LULUCF, em Portugal (Mt CO2eq) 1990 a 2019

Fonte: Agência Portuguesa do Ambiente, 2021 National Inventory Report (pág. 449)

O papel das florestas como sumidouro tem de considerar, no entanto, as emissões provenientes da queima de biomassa em incêndios e fogos controlados, que anulam parte do valor do sequestro. Em 2019, a queima de biomassa emitiu quase 0,6 Mt de CO2eq (em emissões de CO2, CH4 e N2O), com o saldo final a ficar perto de 9,78 Mt de CO2eq de GEE retirados da atmosfera pelas florestas portuguesas.

Este saldo final positivo da floresta como sumidouro de carbono pode ser verificado nos valores do contributo do sector LULUCF em 2019: 7,87 Mt de CO2eq segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (8,29 Mt de CO2eq segundo a Agência Europeia de Energia, que efetuou ajustes aos dados nacionais reportados).

Em termos de emissões totais de GEE, a Agência Portuguesa do Ambiente estimou que Portugal tenha sido responsável, em 2019, por colocar na atmosfera 63,6 Mt de CO2eq (sem a contribuição do sector LULUCF e considerando fontes indiretas de CO2). Este valor representa uma redução de 5,4% relativamente a 2018 (62,3 de CO2eq), sendo o sector da energia o que mais contribui para estes valores, com 69,9% do total em 2019 (ligeiramente abaixo dos 72% em 2018).

Evolução das emissões e remoções, em Portugal (Mt CO2eq) 1990 | 2015 a 2019

199020152016201720182019
Emissões totais58,87267,75465,89870,98367,26763,626
Emissões totais considerando sector LULUCF60,10159,02661,39181,16760,56855,758
Emissões
(+)
e Remoções (-)
do sector LULUCF
Área florestal inalterada (Mt de CO2) -4,15-8,08-66,84-6,95-8,21
Solo convertido em áreas florestais (Mt de CO2)-2,14-3-2,5-1,11-2,39-2,17
Produtos lenhosos removidos (Mt CO2eq)-1,67-0,42-0,17-0,11-0,044-0,104
Queima de biomassa Emissões CO2 (Mt de CO2)1,720,732,69,410,40,48
Emissões CH4 (Mt CO2eq)0,30,140,451,260,10,1
Emissões N2O (Mt CO2eq)0,050,020,040,210,020,02
Contribuição do sector LULUCF para remoções de CO20,35-8,97-6,265,4-7,13-8,29
Contribuição do sector LULUCF em Mt de CO2eq
(Agência Portuguesa do Ambiente)
1,23-8,73-4,5110,18-6,7-7,87

Fontes: Annual European Union greenhouse gas inventory 1990-2016 and inventory report 2018, idem 2019; idem 2020; idem 2021 da Agência Europeia de Energia; Relatório do Inventário Nacional sobre Gases com Efeito de Estufa de 2021, Agência Portuguesa do Ambiente, Table ES.1: GHG emissions and removals in Portugal by gas.

Nota: Foram consideradas as estimativas mais recentes de emissões relativos a 1990 e usados os valores de:
– “4A1 Forest Land remaining Forest Land” para a área florestal inalterada;
– “4A2 Land converted to Forest Land” para o solo convertido em áreas Florestais;
– “4G Harvest Wood Products: contributions to net CO2 emissions (+)/removals (-)” e “Information on HWP as taken from EU” para os produtos lenhosos removidos;
– “CO2 emissions from Biomass Burning”, “CH4 emissions from Biomass Burning” e “N2O emissions from Biomass Burning” para a queima de biomassa;
– “Sector 4 LULUCF: individual contributions to net CO2 removals” para a Contribuição do sector LULUCF.

Gerir a floresta para ganhar resiliência aos efeitos das alterações climáticas

A gestão ativa e informada é essencial para preservar as florestas e o seu contributo na mitigação de emissões de GEE. Planear as intervenções tendo em consideração os riscos e benefícios e utilizar práticas que reduzam os impactes permite aumentar os benefícios e a resiliência das florestas.

O trabalho desenvolvido no âmbito da Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas (prorrogada até 2025 e enquadrada pelo Plano Nacional Energia e Clima 2030 – PNEC 2030) definiu três objetivos estratégicos:

Aumentar a resiliência, reduzir os riscos e manter a capacidade de produção de bens e serviços, através de planeamento e gestão florestal, escolha adequada de espécies, diversificação de produtos e serviços, entre outros.

Aumentar e transferir o conhecimento entre os agentes do sector, mais I&D, troca de experiências entre ciência e prática a nível nacional e internacional, elaboração de guias com práticas de adaptação às alterações climáticas, entre outros.

Monitorizar e avaliar os impactes do aquecimento global resultante das alterações climáticas nas espécies e habitats florestais.