Descobrir

Espécies Florestais

Árvores e plantas exóticas há muito tempo entre nós

Como as pessoas, muitas árvores e plantas viajaram de longe e fixaram-se em novos territórios. Ao longo de milénios, várias destas árvores e plantas exóticas chegaram a Portugal. Algumas naturalizaram-se e hoje consideramo-las nossas.

Os vários povos que passaram pela Península Ibérica e, mais tarde, os Descobrimentos, trouxeram-nos árvores e plantas exóticas oriundas dos quatro cantos do mundo. Muitas delas adaptaram-se tão bem ao clima e solo portugueses, chegaram há tanto tempo ou tornaram-se tão comuns que ganharam nacionalidade e nem nos lembramos que, em tempos, foram estrangeiras. É o caso da oliveira, mais precisamente da Olea europaea subsp. europaea var. europaea.

Embora a azeitona e o azeite façam, há muito, parte da nossa cultura gastronómica, os investigadores pensam que a oliveira seja nativa da região do Levante e que tenha começado por ser “domesticada” durante o Neolítico (há cerca de seis mil anos), no noroeste desta região – que abrange, entre outros países, o Chipre, a Síria, o Iraque e Irão. Na sua variedade selvagem, o zambujeiro (Olea europaea subsp. europaea var. sylvestris) existiria também pelo mediterrâneo, inclusive no nosso território, e seria semelhante aos antepassados destas oliveiras “domesticadas”.

Há registos da presença de oliveiras na região mediterrânica que datam da Idade do Bronze (3000 a.C. – 1200 a.C.) e o azeite terá chegado a Portugal pela mão de mercadores Fenícios e Gregos. A plantação de oliveiras expandiu-se mais tarde, com o contributo dos Romanos, que apreciavam o azeite da sua província da Lusitânia, e depois também de Visigodos e Árabes. De recordar que a oliveira mais antiga ainda de pé em Portugal (em Mouchão, Abrantes) tem uma idade estimada em mais de 3350 anos.

Se os povos que passaram por Portugal trouxeram várias árvores e plantas exóticas, este movimento intensificou-se durante os Descobrimentos. Nas suas viagens, os navegadores portugueses trouxeram espécies até então desconhecidas. Outros descobridores europeus fizeram o mesmo e foi assim que muitas espécies viajaram, direta ou indiretamente, para o nosso território. Descubra mais algumas e saiba qual a sua proveniência.

Das américas

Jacarandá

Em Portugal, é muito usado na arborização em meio urbano (parques, jardins e arruamentos) e tornou-se numa espécie emblemática em Lisboa, graças às suas exuberantes flores lilases. Nos meses de maio e junho, os cachos floridos e perfumados enchem as copas de lilás antes de surgirem as folhas. Com origem na América do Sul, os jacarandás chegaram a Portugal pelas mãos de Félix de Avelar Brotero, o diretor do Jardim Botânico da Ajuda, no início do século XIX. É uma das poucas árvores a ter o mesmo nome comum em quase todos os idiomas do mundo, embora o nome indígena “tupí-guaraní” revele a sua origem. Cientificamente, a espécie é conhecida como Jacaranda mimosifolia. Embora usada frequentemente como planta ornamental, produz também boa madeira para marcenaria e carpintaria.

Carvalho-americano

A espécie Quercus rubra, com origem na América do Norte, encontra-se sobretudo no Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes, Beiras e Douro Litoral. A espécie foi introduzida na Europa em 1691 e plantada em França, perto do palácio de Versailles. A partir dessa altura, especialmente no século XIX, foi usada um pouco por todo o “velho continente”.
A sua madeira tem utilizações diversas, desde o suporte à vinha do enforcado – um sistema tradicional de produção de vinha do Minho – ao mobiliário, barris, pisos, construção naval e travessas de caminho-de-ferro. As suas bolotas são muito apreciadas pelos animais e as árvores atingem o máximo de produção a partir dos 50 anos. Este carvalho tem sido plantado em parques e jardins pela sua beleza e também em florestas de produção, graças ao seu crescimento mais rápido face aos carvalhos nativos.

Da Ásia

Nogueira

As nogueiras (género Juglans) têm sido cultivadas em toda a Europa central desde tempos imemoriais, o que torna a sua origem difícil de estabelecer. Pensa-se que serão nativas do Sul da Europa e Oeste asiático (região mediterrânica) e Ásia central, sendo as montanhas de Caxemira, Tajiquistão e Quirguistão consideradas o centro da sua origem. A nogueira-comum (Juglans regia) é cultivada na Europa há milénios. Existem registos de cultivo em Itália datados de há cerca de seis mil anos, devido ao interesse pelos seus frutos, as nozes, muito utilizadas em Portugal, sobretudo em doçaria. A madeira da nogueira tem uma qualidade amplamente reconhecida para o fabrico de mobiliário e isto acontece desde o século XIV, quando o uso de móveis na Europa se começou a ampliar.

Salgueiro-chorão

Muito referido na literatura e na poesia, incluindo por Shakespeare, por causa do brilho das suas folhas, o Salix babylonica tem o seu nome ligado à região da Babilónia (hoje Iraque), mas chegou à Europa vindo da China, no início de 1700, possivelmente via rota da Seda. O seu nome latim babylonica deriva da designação dada por Carl Linnaeus, aquando da sua descrição, por achar que esta seria a árvore babilónica referida na bíblia. Difundiu-se rapidamente em Portugal, onde a conhecemos como Chorão, e é comum vê-la junto a lagos, cursos de água, parques e jardins, com os seus ramos compridos e pendentes. A madeira pode ser usada para pasta de papel ou móveis rústicos e é também usada na medicina popular para neutralizar a febre. A casca contém salicina, uma substância a que são reconhecidas vários benefícios – por exemplo excitante e antidiarreico.

Da Oceânia

Araucária

No nosso país foram introduzidas seis espécies diferentes desta resinosa e existem muitos exemplares de grande porte (podem atingir 50 metros de altura) em parques e jardins, sobretudo a norte do rio Tejo. São originárias do Hemisfério Sul e foram trazidas principalmente da Austrália. A mais difundida no país e muito comum em jardins e parques é a Araucaria heterophylla, conhecida como pinheiro-de-norfolk e originária da ilha homónima no Pacífico. Desta ilha de Norfolk, o capitão James Cook trouxe também, no século XIX, aquela que foi designada em sua homenagem, a araucária de cook (Araucaria columnaris). Os primeiros exemplares em Portugal chegaram à real Quinta das Necessidades, em meados do século XIX. Outras espécies, como a australiana Araucaria bidwillii, têm em Portugal os maiores exemplares no mundo, como a que existe na Mata Nacional de Vale de Canas. Introduzida no nosso país em 1860, existe ainda um dos primeiros exemplares plantados nessa década, no jardim da Cordoaria do Porto.

Eucalipto

O género Eucalyptus possui quase 800 espécies oriundas da região da Oceânia. Estas árvores chegaram a Portugal no início do século XIX e hoje existem em todo o país, em particular no litoral a norte do rio Tejo. Diferentes espécies têm sido utilizadas para fins também diferentes, desde ornamentais a quebra ventos e bordaduras de estradas. A principal utilização da espécie mais plantada em Portugal, o Eucalyptus globulus, é a produção de pasta de papel de elevada qualidade. As folhas, pelas suas propriedades balsâmicas e antissépticas, usam-se em infusões para desobstrução das vias respiratórias e é delas que se extrai um óleo essencial utilizado na indústria farmacêutica, alimentar, cosmética e da higiene. No outono e inverno, as flores são um importante alimento para as abelhas e produção de mel.

Do Mediterrâneo e Médio Oriente

Cipreste-comum

Proveniente das montanhas semiáridas do Médio Oriente e Mediterrâneo Oriental, o cipreste-comum (Cupressus sempervirens) é também conhecido, em Portugal, como cipreste-dos-cemitérios, onde é comum encontrá-lo. No entanto, no passado, a sua presença foi sinónimo de nobreza e, no vale do Douro, encontramos ciprestes junto a majestosos solares. A sua introdução em Inglaterra data de 1375 e há registo de um exemplar em Portugal no Jardim Botânico da Ajuda, no catálogo de 1771. Outro está registado em 1877, no Parque Monteiro-Mor. A sua madeira é aromática e, embora resistente, é fácil de moldar: usada em marcenaria, escultura, carpintaria e construção. A sua resistência a fungos e insetos, em especial se imersa em água, é outra característica valorizada.

Pinheiro-de-alepo

Esta é uma espécie mediterrânica, mas não é autóctone de Portugal. Tolerante à seca, o Pinheiro-de-alepo distribui-se atualmente pelo litoral e por zonas calcárias do país, como as serras jurássicas da Arrábida, Montejunto, Candeeiros e Aires, e ainda pelos distritos de Lisboa, Santarém e, sobretudo, Algarve. Os primeiros registos de presença de Pinus halepensis nos jardins de Lisboa datam de 1800-1850. Entre os anos 30 e 70 do século XX foi plantada em áreas mediterrânicas, para proteção do solo e quebra-ventos perto da costa. A sua madeira, embora de fraca qualidade, é usada para lenha e pasta para papel. É ainda uma espécie boa para a produção de resina, e a sua casca, rica em taninos, pode ser usada nas indústrias de corantes e de curtumes.

De África

Na maioria dos casos, as plantas exóticas e árvores que viajaram de África adaptaram-se a territórios de climas e solos semelhantes, o que não acontece em grande parte de Portugal continental, onde a sua presença é muito limitada. Ainda assim, há algumas pouco comuns em número e exotismo nos jardins da Ilha da Madeira, onde se destacam exemplares raros e monumentais da colorida Coralina (Erythrina lysistemon), cujo nome se deve às flores e sua cor, que lembram corais, e da árvore-das-salsichas (Kigelia africana), assim batizada pela forma do seu fruto. Não se sabe ao certo quando viajaram de África para a Ilha da Madeira, mas o seu valor ornamental é inquestionável.

Já algumas plantas exóticas de origem africana são mais comuns e podem ser encontradas em diferentes regiões do país. É o caso da Aloe vera e da Bryophyllum pinnatum, entre muitas outras. A Aloe vera ou babosa é original do Noroeste de África e também da Arábia. Esta planta exótica tem sido amplamente cultivada em várias partes do mundo pelo seu interesse terapêutico. Em Portugal, embora não seja comum, cresce no sul do país, em rochedos marítimos da Costa Vicentina, entre Sines e Vila Nova de Mil Fontes. Já a Bryophyllum pinnatum (ou Kalanchoe pinnata), uma planta com flor a que também chamam “folha-da-fortuna”, é originária de Madagáscar e da África Tropical. Encontra-se naturalizada nos Açores e existe também em território continental. Não se sabe quando nem como cá chegou, mas poderá ter escapado de algum jardim.