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Curiosidades

Azevinho no Natal: de onde vem a tradição?

Coroas, grinaldas e centros de mesa são algumas das decorações de Natal em que o azevinho (Ilex aquifolium) é presença habitual. Mas de onde vem esta tradição? Descubra a origem, mas resista à tentação de colher azevinho para as suas decorações natalícias: a espécie faz parte das espécies protegidas em Portugal e a sua recolha é proibida.

Séculos antes de se celebrar o Natal, o azevinho era já usado em diversas celebrações e pensa-se que as suas origens remontem a culturas do norte da Europa.

Acredita-se que o azevinho era uma das árvores muito apreciadas pelos Druidas, os mais letrados dos Celtas, cujos registos mais antigos datam do século 3 a.C. Apreciavam-no por ser uma árvore perene, que se mantinha verde quando outras perdiam a folhagem, e pelas suas drupas que coloriam de vermelho as florestas nevadas durante os longos e frios invernos.

Esta capacidade de o azevinho resistir ao frio e à neve terá sido interpretada como símbolo de imortalidade e proteção. Na mitologia Celta, dizia-se que trazer azevinho para casa era sinónimo de abrigar do frio os espíritos da floresta que, em troca, seriam gentis com a família.

Mais tarde, também os Romanos colheram azevinho, que ofereciam a Saturno durante as festividades da Saturnália – as festas do solstício de Inverno, ou seja, do início do inverno, data muito próxima daquela em que se celebra o Natal.

Os cristãos também penduraram azevinho nas portas das suas casas como forma de proteção, destinada a prevenir a entrada de espíritos malignos, mais propensos a “manifestar-se em dias santos”. Este terá sido um dos motivos que levou à sua associação ao Natal Cristão, embora haja quem relacione o azevinho com outros elementos simbólicos do cristianismo: as folhas do azevinho remetem para a coroa de espinhos e as suas drupas vermelhas para o sangue de Jesus.

Sabe qual a diferença entre bagas e drupas?
Tendemos a chamar bagas aos frutos silvestres de pequena dimensão, mas em botânica o tamanho não conta e alguns destes frutos são drupas e não bagas. Qual é então a diferença? As bagas têm no seu interior um número variável de sementes dispersas enquanto as drupas têm um único caroço que protege a semente. Temos drupas no caso do azevinho (medronho, cerejas, ameixas e alperces, por exemplo) e bagas no caso da gilbardeira (das amoras, mirtilos, uvas, laranjas ou tomate). Tanto a drupa do azevinho como a baga da gilbardeira não são comestíveis.

Azevinho é protegido desde 1989

A ligação entre azevinho e divino é tão antiga que, em inglês, o seu nome comum é “holly”, termo cujo significado é santo ou sagrado. Tão antiga como esta ligação é a tradição de colher azevinho durante esta época festiva, o que terá contribuído para reduzir a quase nada a presença desta espécie em Portugal e em vários outros países europeus.

A legislação que o protege tem mais de 30 anos e refere especificamente que “o azevinho tem sido tradicionalmente usado como ornamento característico da quadra natalícia” e que a sua procura se tornou tão intensa, sistemática e indiscriminada que “provoca a morte das plantas, muitas vezes exemplares de grande beleza e raridade, com várias centenas de anos”.

Por esta razão, proíbe o arranque, corte total ou parcial, assim como o transporte e venda do azevinho que nasce e cresce espontaneamente Portugal continental. A recomendação da legislação é que se cultive azevinho, de forma a acautelar a manutenção dos azevinhos espontâneos.

Alguns anos depois, com a criação da Rede Natura 2000, nova legislação vem reforçar as Florestas de Ilex aquifolium como habitat natural de interesse comunitário (habitat 9380).

Em Portugal, o azevinho é típico das regiões montanhosas (até aos 1500 metros) e nasce naturalmente em bosques de carvalhos e matagais, preferindo as encostas mais sombrias, húmidas e as linhas de água. Esta árvore de crescimento muito lento e vida longa assemelha-se por vezes a um arbusto, mas pode chegar a mais de 20 metros de altura.

Azevinho e Gilbardeira: duas espécies consideradas “Pouco Preocupantes”

O azevinho é hoje avaliado como “Pouco Preocupante” na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental. A mesma classificação é atribuída à gilbardeira (Ruscus aculeatus), um arbusto cujos frutos vermelhos, pequenos e redondos – semelhantes aos do azevinho – passaram a ser uma escolha alternativa para as decorações natalícias, o que levou também à diminuição da presença desta espécie.

Azevinho
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Gilbardeira
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Embora as folhas e porte sejam bastante diferentes em relação ao azevinho, as bagas da gilbardeira também surgem no verão e mantêm-se vermelhas durante o inverno. Dada a semelhança do fruto, a gilbardeira acabou por ficar conhecida como “falso azevinho”. “Giesteira-das-vassouras” e “pica-rato” são outros dos nomes por que é conhecida, porque os seus caules eram tradicionalmente usados como paus de vassoura e as suas folhas (que são na realidade ramos em forma de folha pontiaguda) serviam antigamente para afastar os ratos da carne conservada nas despensas.

A gilbardeira é uma espécie autóctone, que pode ser encontrada em praticamente todo o território nacional. Além de Portugal, ocorre naturalmente no mediterrâneo, centro e oeste da Europa, na cordilheira do Atlas e na região da Macaronésia, nomeadamente Açores e Canárias. Já a presença do azevinho é mais reduzida em Portugal: só existe em zonas circunscritas do Norte e Centro e em áreas muito limitadas do Sul. A sua presença reduziu-se noutras zonas de onde é natural na Europa Ocidental e Sul, mas também existe no Norte de África e na Ásia Ocidental.

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Os frutos do azevinho e da gilbardeira começam a amadurecer no verão e permanecem vermelhos todo o inverno. Nem um nem outro são comestíveis – são tóxicos para os seres humanos, embora sirvam de alimento a vários animais. Já os extratos das duas plantas têm sido usados na medicina popular: as folhas de azevinho como diurético e laxante, por exemplo, e a gilbardeira para tratar hemorroidas e varizes.

Azevinho e gilbardeira: adquira-os em viveiro ou saiba quando plantá-los

Tanto o azevinho como a gilbardeira podem ser semeados, colocando as sementes do fruto espaçadamente na terra, mas o Natal não é a altura indicada para o fazer. No azevinho, as sementes devem ser deitadas à terra no outono (quando o fruto está bem maduro) e a gilbardeira deve semear-se no início da primavera.

Em ambos os casos, o processo de germinação é bastante lento: cerca de 18 meses para o azevinho e 12 para a gilbardeira, pelo que em alternativa pode recorrer-se à aquisição de estacas ou vasos com plantas já estabelecidas.

As duas plantas devem plantar-se em zonas onde a luz natural chegue de forma indireta, uma proteção essencial para que resistam às horas de maior exposição solar (calor), durante o verão. E no verão, podem ser regadas. No caso do azevinho, apesar de se dar melhor em zonas mais sombrias e húmidas, deve evitar-se que permaneça em solo encharcado. Para ajudar à drenagem podem-se misturar algumas pedrinhas na terra. A gilbardeira deve estar protegida de geadas e neve.

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A gilbardeira é mais difícil de encontrar em hortos e viveiros. Já o azevinho encontra-se facilmente, em vaso, com uma planta de cerca de 40 a 50 centímetros e pode adquirir-se por cerca de 15 a 16 euros. Pode ser um presente original já para este Natal.