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Monsanto: um dos grandes parques florestais do século XX

Considerado o “pulmão verde” de Lisboa, Monsanto é um dos grandes parques florestais que associamos à beleza e resiliência da floresta portuguesa – um reduto que resistiu ao crescimento da cidade – e muitos pensarão que sempre esteve ali, mas na verdade esta mancha verde tem pouco mais de 50 anos.

A plantação de matas e parques florestais é mais importante do que pode parecer – e o Parque Florestal de Monsanto é um exemplo. Depois de séculos de desflorestação causada por guerras, procura de madeira, lenha e também fenómenos naturais – como incêndios ou doenças -, a floresta portuguesa reduziu-se a quase nada.

Calcula-se que da antiga floresta original reste, atualmente, menos de 1% em Portugal continental. À parte destes vestígios da floresta nativa, quase todas os parques florestais, matas, e áreas arborizadas de norte a sul foram plantados e semeados, e muitos não são tão antigos como se poderia supor.

Monsanto é um dos grandes parques florestais urbanos da Europa, a par do Parque Regional Appian Way em Itália – o maior parque urbano da europa, com cerca de 4,6 mil hectares – ou a Casa de Campo em Espanha, com cerca de 1,5 mil hectares.

Muitos pensarão que as árvores de Monsanto existem desde sempre, mas os seus mais de 1045 hectares – perto de um oitavo da área de Lisboa – eram muito pouco verdes até meados do século XX. Os muitos moinhos de vento existentes – como os moinhos de Santana ou os do Casalinho da Ajuda –, atestam que esta era uma zona essencialmente dedicada à produção de cereais.

Pensa-se que a floresta original da Serra de Monsanto terá começado a ser destruída no decurso das invasões Bárbara e do Império Romano, “incendiando tudo por onde passavam”. Esta destruição deixou espaço para o trigo e pastoreio e, mais tarde, sob domínio muçulmano, também para hortas, olivais e criação de gado. Só nos anos 70 do século XX, Monsanto começou a parecer-se com uma floresta.

Monsanto é um dos mais jovens parques florestais em Portugal

A ideia de arborizar a zona de Monsanto nasceu ainda no século XIX, para “fornecer a cidade de lenhas e madeira, amenizar o clima e contribuir para a saúde pública”, conta a arquiteta e historiadora Ana Tostões, no livro “Monsanto, Parque Eduardo VII, Campo Grande”.

No entanto, passar da ideia à prática demorou mais 60 anos e foi só em 1938 que se iniciou a plantação. Na altura, existiam apenas algumas oliveiras (Olea europaea) que delimitavam caminhos ou acessos a propriedades e algumas árvores na Tapada da Ajuda e nas Quintas dos Marqueses de Fronteira, da Alfarrobeira e da Fonte.

O processo demorou algum tempo a arrancar, não só devido às condições em que se encontrava o solo após anos de culturas de cereais, mas também devido à falta de plantas nos viveiros. As plantações e sementeiras intensificaram-se durante os anos 40 e o parque ficou praticamente arborizado em 1949. Nesse ano existiam 50 hectares de pinhais, 90 de eucaliptais, 40 de cupressais (ciprestes) e 165 hectares de espécies diversas.

Entre as primeiras espécies instaladas com objetivos ornamentais e recreativos estavam o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis) e o pinheiro-manso (Pinus pinea), o sobreiro (Quercus suber), a azinheira (Quercus ilex) e ciprestes, especialmente o cedro-do-Buçaco (Cupressus lusitanica). Como estas espécies cresciam lentamente, foram também introduzidas espécies de crescimento rápido: acácias – com foco na acácia-austrália (Acacia melannoxylon), choupos (Populus spp.) e eucaliptos – o comum Eucalyptus globulus, mas também outras espécies como o karri (Eucalyptus diversicolor) ou o Eucalyptus cornuta.

Além de espécies arbóreas, foram também introduzidas espécies arbustivas como medronheiros (Arbutus unedo), pilriteiros (Crataegus monogyna), estevas (Cistus spp.), murtas (Myrthus communis), carrascos (Quercus coccifera), alecrim (Rosmarinus officinalis), tojos (Ulex spp.) e folhados (Viburnum tinus), entre outros.

A reflorestação seguia o plano traçado por Duarte Pacheco de criar um bosque natural para “proporcionar o regresso à terra, a uma vivência ameaçada pela cidade, uma metrópole que se receava implacavelmente fria e moderna”, revela Teresa Caiado de Oliveira Grilo, na sua tese sobre o Parque.

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Em finais da década de 70, Monsanto começa a parecer-se com uma zona florestal. Nos anos 80, já com uma estratégia de “deixar crescer”, procedia-se essencialmente a uma silvicultura de manutenção, lembra o Plano de Gestão Florestal Parque Florestal Monsanto 2020.

A par das espécies introduzidas, começaram a surgir outras plantas – através de rebentos anteriormente cortados e sementes trazidas por aves e mamíferos que germinaram sob a floresta plantada. No sobcoberto cresceram madressilvas (Lonicera peryclimenum), sabinas-das-praias (Juniperus turbinata) e adernos-bastardo (Rhamnus alaternus), entre outras.

O crescimento desta mistura de espécies alterou profundamente a paisagem da Serra de Monsanto e a sua biodiversidade. Contribuiu, por exemplo, para atrair animais, que aproveitaram os diferentes habitats para nidificar e refugiar-se. “O resultado foi o incremento acentuado da diversidade biológica (florística e faunística) desenvolvendo um verdadeiro corredor ecológico”, conclui o referido Plano de Gestão.

Assim, em cerca de 40 anos, Monsanto passou de uma serra despida de verde e solos gastos por séculos de culturas cerealíferas ao maior dos parques florestais da região de Lisboa.

Matas e parques florestais plantados ao longo dos séculos

O Parque Florestal de Monsanto é um caso recente e ilustrativo da importância da florestação em Portugal, mas está longe de ser o único. São tantos os parques florestais, matas e serras que não existiriam se não tivessem sido plantados – incluindo partes do Bussaco, do Gerês e de Sintra por exemplo – que é praticamente impossível enumerá-los.

Conheça alguns exemplos destas áreas que se tornaram verdes por intervenção humana, ao longo dos últimos séculos em diferentes regiões do país.