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Árvores Monumentais

Na rota das árvores notáveis

Mais de 500 árvores ou conjuntos de árvores estão classificados em Portugal pelo seu interesse público. Antiguidade, dimensões, beleza, exotismo ou simbolismo são exemplos do que distingue estes arvoredos e árvores notáveis. Descubra alguns numa viagem “guiada” por Rui Queirós, de norte a sul do país.

Todos os distritos portugueses têm arvoredos ou árvores notáveis, classificadas de interesse público. No total, há 540 arvoredos classificados (início de 2023), que abrangem 452 árvores isoladas e 88 conjuntos, revela Rui Vitorino Queirós, engenheiro silvicultor ao serviço do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P., que se tem dedicado a conhecer, classificar e divulgar as árvores monumentais de Portugal.

A região de Lisboa e Vale do Tejo tem o maior número de arvoredos e árvores notáveis classificados no registo nacional: um total de 178, dos quais 69 estão no município de Lisboa. Segue-se a região Norte, com 165 classificações, 37 das quais no município do Porto. A região Centro conta com 145, o Alentejo com 35 e o Algarve com 16. Entre estes conjuntos e árvores, constam mais de duas centenas de espécies, entre nativas e exóticas.

As espécies nativas constituem cerca de 35% do total do arvoredo classificado. Entre elas, destacam-se alguns exemplares de grande longevidade: oliveiras e castanheiros milenares, assim como freixos e carvalhos com mais de 500 anos. Algumas têm forte enraizamento nas comunidades, outras são marcos da cultura e símbolos da história, e há ainda as que nos surpreendem pelas dimensões e pelas formas bizarras.

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© Rui Queirós

Nas espécies exóticas, que totalizam os outros 65%, merecem referência:

  • Pela altura: os eucaliptos (Eucalyptus spp., que têm os exemplares mais altos), algumas sequoias (Sequoia sempervirens e Sequoiadendron giganteum), cedros (Cupressus lusitanica, Cedrus atlantica, Cedrus deodara), araucárias (Araucaria heterophylla) e tulipeiros (Liriodendron tulipifera) de grande porte;
  • Pela beleza: paineiras (Ceiba spp.), cameleiras (Camellia japonica e Camellia reticulata) e eritrinas (Erythrina crista-galli) sobressaem pela floração; enquanto, por exemplo, os plátanos (Platanus x hispanica) se evidenciam pelo impacte na paisagem, constituindo belas alamedas;
  • Pelo exotismo: salientam-se dragoeiros (Dracaena draco), belas-sombra (Phytolacca dioica), figueiras-australianas (Ficus macrophylla) e metrosíderos (Metrosideros excelsa).

18 conjuntos ou árvores notáveis, uma por cada distrito

Vamos descobrir alguns destes conjuntos de arvoredo e árvores notáveis que se destacam no registo nacional, uma por cada distrito português, num roteiro que inclui várias sugestões de Rui Vitorino Queirós.

Viana do Castelo

O nome “Avenida dos Plátanos”, em Ponte de Lima, não deixa dúvidas sobre a espécie em causa. Este conjunto arbóreo classificado é composto por 83 Platanus x hispanica de grande porte, que delimitam a estrada, formando uma longa alameda, a que é reconhecido elevado valor paisagístico.

A beleza e sombra destas árvores centenárias fazem desta alameda, junto à margem esquerda ao Rio Lima, um apreciado local de passeio e descanso.

Braga

O Eucalipto de Ribas, em Celorico de Basto, tem um dos mais largos troncos de todos os grandes eucaliptos já medidos em Portugal: o seu perímetro à altura do peito (PAP) é de 13,75 metros, volume que terá ajudado este Eucalyptus globulus a resistir ao ciclone que por ali passou em 1941.

Esta árvore notável merece ainda um olhar atento à sua copa alta e frondosa, que se eleva aos 50 metros de altura.

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© Rui Queirós, ICNF

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© Rui Queirós, ICNF

Vila Real

O Castanheiro de Vales, em Vila Pouca de Aguiar, tem o maior tronco medido em Portugal. O seu perímetro à altura do peito (PAP) é de 14,05 metros.

O seu porte é imponente, mas o enorme castanheiro é notável também pela sua idade: estima-se que tenha cerca de mil anos.

Este castanheiro arrecadou o título de “Árvore do Ano” em Portugal, em 2020.

Bragança

Fica na Quinta do Albergue, é o maior teixo já medido em Portugal continental e, certamente, um dos mais velhos, de idade estimada em mais de 700 anos. Com uma altura superior a 13 metros e um diâmetro de copa de mais de 20, é um representante notável de uma espécie que costuma representar-se por arbustos ou pequenas árvores.

Recorde-se que o teixo (Taxus baccata) se tornou raro e ameaçado, porque muitos foram cortados, com receio dos envenenamentos por ele causados. Conheça esta espécie em mais detalhe.

© ICNF

© ICNF

Porto

Em Santo Tirso, há uma cameleira (Camellia japonica) que, além de bela e grandiosa, se tornou símbolo de devoção, em particular por se encontrar no interior do cemitério da Agrela.

Com uma ampla copa de densa folhagem, suportada por quatro troncos, a sua floração rosa intensa sobressai ainda mais porque surge em pleno inverno, quando muitas das árvores em redor permanecem sem folhas.

Aveiro

Na Mata Nacional do Buçaco um Eucalyptus regnans elevava-se, em 2016, aos 72,9 metros. Originária do outro lado do mundo – do sudoeste da Austrália (estados de Vitória e Tasmânia) – esta espécie é conhecida por crescer até alturas que poucas alcançam.

Em Portugal este é um eucalipto pouco comum. Ao cimo do Vale dos Fetos destaca-se não apenas pela sua altura, como também pelo seu largo tronco, com mais de 8,5 metros de perímetro à altura do peito (PAP) e também pelos seus cerca de 140 anos.

© ICNF

© Rui Queirós, ICNF

Viseu

A maior mancha de adelfeiras (Rhododendron ponticum subsp. baeticum) em Portugal encontra-se na Reserva Botânica de Cambarinho, Vouzela, e foi classificada pelo seu valor ambiental, cultural e científico. Esta relíquia do passado descende da vegetação subtropical, típica da floresta Laurissilva, que era comum no território português durante o Período Terciário (antes das glaciações). Em 2017, a Reserva foi percorrida pelo fogo, mas as adelfeiras conseguiram reerguer-se.

Testemunha de um passado longínquo, é uma espécie rara, que só existe em zonas ibéricas de montanha. Em Portugal, pode ser vista apenas nesta Reserva Botânica e em Monchique. Maio e junho são os melhores meses para a admirar, pois é nesta época que este arbusto sempre-verde se ilumina pelos tons rosas e violáceos das suas flores.

Guarda

Conhecido como castanheiro de Guilhafonso, nome da localidade onde podemos encontrá-lo, será da mesma época em que os navegadores portugueses se aventuravam por “novos mundos”, há mais de 500 anos.

Várias vezes em perigo pelas mais diferentes razões – venda para abate, atingido por um raio, doenças e outras – foi sempre resgatado pela vontade da comunidade que o acarinha como seu e vê nele um símbolo desta região beirã, onde a castanha é rainha.

© AJF Almeida (Creative Commons)

© ICNF

Coimbra

Na Mata Nacional de Vale de Canas está uma das maiores árvores portuguesas, com 72,9 metros registados oficialmente em 2015.

É uma árvore da espécie Eucalyptus diversicolor (designada na Austrália por Karri) que tem sido motivo de visita e escalada por muitos apaixonados das árvores gigantes, que o mediram em 2017 e lhe atribuíram 73 metros.

Foi esta medida que o levou à primeira posição do ranking das árvores europeias mais altas, patente no site Monumental trees. Leia mais sobre o velho (mais de 140 anos) e gigante eucalipto.

Castelo Branco

Esta sequoia-gigante (Sequoiadendron giganteum) eleva-se na paisagem da Sertã e, com os seus 23 metros de altura, serve como ponto de referência para quem vem de longe – e como ponto de encontro para a comunidade – há mais de um século.

Este exemplar está localizado no recinto da piscina municipal de Cernache do Bonjardim e, embora a sua altura seja equivalente a um edifício de sete a oito andares, é uma modesta representante das sequoias (subfamília Sequoioideae) onde se incluem algumas das maiores árvores do mundo.

© Campos de Andrada, ICNF

© ICNF

Leiria

Batizado como pinheiro-serpente, devido ao tronco e ramos que se estendem a serpentear bem perto do solo, este pinheiro-bravo (Pinus pinaster) foi dobrado pela intensidade dos ventos marítimos que fustigam as dunas na Mata Nacional do Pedrógão (talhão 44), em Leiria.

Descubra mais sobre esta fascinante árvore, que se estende por duas centenas de metros quadrados e é considerada a melhor representante de uma vasta mancha de pinheiros rastejantes que resistem há mais de um século nesta zona litoral.

Santarém

A Oliveira do Mouchão, em Mouriscas, Abrantes, foi considerada a árvore mais antiga de Portugal.

A sua idade – mais de 3350 anos – foi certificada pelo método de datação de oliveiras milenares desenvolvido pela UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Descubra mais sobre este monumento vivo.

© Campos de Andrada, ICNF

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© Campos de Andrada, ICNF

Portalegre

Quem viaja entre Castelo de Vide e Marvão (distrito de Portalegre) não fica indiferente ao Túnel das Árvores Fechadas, muitas vezes considerado como o troço de estrada mais belo de Portugal.

Este “túnel” natural resulta do entrelaçar dos ramos e copas dos mais de 200 freixos (Fraxinus angustifolia) centenários que ladeiam a estrada (EN 246-1). A intensidade do trânsito nesta via é um dos riscos para a preservação deste arvoredo classificado.

Lisboa

Esta paineira (Ceiba speciosa) é uma das oito árvores notáveis do Jardim Alfredo Keil, na Praça da Alegria, em Lisboa.

Este conjunto centenário destaca-se pelo porte e beleza das diferentes árvores exóticas (metrosíderos e feijoeiros-da-índia, entre outras) e das suas coloridas florações.

No caso específico da paineira, oriunda da América do Sul, as flores outonais pintam de rosa este pequeno jardim romântico.

© Campos de Andrada, ICNF

Setúbal

Antiga, enorme e exótica. É assim a árvore-da-borracha-australiana (Ficus macrophylla) que empresta a sua sombra ao Palácio e Jardim do Alfeite, em Almada.

A copa tem perto de 40 metros de diâmetro e, na base, junto à terra, o tronco tem um perímetro superior a 13 metros. Impressionantes são também as raízes superficiais. Terá mais de 150 anos, mas há quem avance que pode ser bem mais antiga – trazida da Índia para Portugal por Vasco da Gama.

Évora

Podia ter sido esculpido por um artista, mas na verdade este zambujeiro (Olea europea var. sylvestris) da Herdade do Freixo do Meio foi esculpido pelo tempo – ao longo de um milénio.

O seu tronco principal é monumental (mais de oito metros de perímetro à altura do peito) mas à sua volta desenvolveram-se quatro fustes secundários que ampliam a dimensão e beleza plástica desta árvore, de formas pouco comuns.

© ICNF

© ICNF

Beja

Uma de três oliveiras (Olea europaea) classificadas, todas elas com cerca de dois milénios, passaram a ocupar a atual morada – na Alameda Abade Correia da Serra, em Serpa – em meados do século XX, após transplante da sua original localização, na Herdade de Vale Paus, próxima desta vila.

Com exuberantes deformações no tronco a comprovar a sua longevidade, estes monumentos passaram a acompanhar a estátua do Abade Correia da Serra, botânico, diplomata e fundador da Academia das Ciências de Lisboa (séc. XVIII).

Faro

Com uma copa espessa e um volumoso tronco, com mais de 13 metros de perímetro à altura do peito, a velha alfarrobeira (Ceratonia siliqua) da Quinta da Parra, em Moncarapacho.

Terá mais de 600 anos e no seu imenso tronco as marcas do tempo revelam-se em cavidades semelhantes a pequenas grutas. A árvore eleva-se bem acima das vizinhas laranjeiras com que convive há já alguns anos, num pomar que a quis preservar.

Descubra mais sobre a história desta velha alfarrobeira.

© ICNF

© António Tavares, ICNF

Interesse crescente pelas árvores notáveis e a sua preservação

Além do mais do meio milhar de conjuntos e árvores notáveis já classificadas, o ICNF tem em análise (em fase de apreciação, de emissão de parecer ou de instrução) mais 242 processos, ou seja, novos pedidos para o reconhecimento deste estatuto oficial para novas árvores ou arvoredos.

“Tem sido difícil dar resposta atempada ao grande número de requerimentos de classificação recebidos nos últimos anos” conta Rui Vitorino Queirós, que confirma um interesse cada vez maior dos cidadãos pelas árvores anciãs e pela proteção dos arvoredos.

Juntos, cidadãos (18%), proprietários privados (15%), movimentos de cidadãos e Organizações Não Governamentais Ambientais – ONGA (10%), e organizações de proprietários florestais ou entidades gestoras (5%) representam quase metade dos requerentes que propõem novas árvores ou arvoredos para classificação.

A maioria dos pedidos ainda vem, no entanto, das autarquias (31%) e organismos do Estado (21%). “Boa parte dos requerimentos mais antigos tem origem no Estado, e estão, atualmente, a chegar muitos das autarquias, que pretendem obter o reconhecimento, certificação e valorização do seu património arbóreo”, refere a mesma fonte.

Refira-se que o arvoredo classificado até ao presente é maioritariamente propriedade pública: as autarquias detêm 41%, o Estado 18% e 1% pertence à empresa pública Infraestruturas de Portugal. “Esta empresa já foi um dos principais detentores de arvoredos classificados, mas com a entrega da gestão de grande parte das estradas nacionais às autarquias, cedeu-lhes também o muito arvoredo que as ladeia”, explica Rui Vitorino Queirós. A Igreja (incluindo santuários, paróquias, comissões fabriqueiras) detém outros 6%. Um terço deste arvoredo classificado pertence a privados: 27% a particulares e 6% a empresas. As associações são proprietárias de 2%.

Mais de 1600 pedidos de classificação em 85 anos

O responsável recorda que, desde a entrada em vigor da primeira legislação sobre a classificação de arvoredo de interesse público, em 1938, o número de requerimentos recebidos em Portugal continental para a classificação de arvoredo acendeu a 1640.

Desde essa época e do total que foi classificado, algumas árvores e conjuntos foram depois desclassificados – um total de 238 – devido, sobretudo, ao mau estado biofísico e vegetativo em que se encontravam. Alguns secaram, outros foram derrubados durante temporais ou atingidos por incêndios.

Ao longo destas décadas, foram indeferidos 358 processos, principalmente por não se reconhecerem atributos que justificassem a classificação.

*Em colaboração

Rui Queirós

Rui Vitorino Queirós é Engenheiro Silvicultor no ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P.

A sua principal área de trabalho, em 2023, é o Registo Nacional do Arvoredo de Interesse Público.

Nos últimos anos trabalhou em educação ambiental e florestal, sobretudo na sensibilização para a importância da floresta e a sua defesa contra incêndios. Trabalhou cerca de 8 anos no Boletim Agrário do Ministério da Agricultura (onde assegurou os guiões e a produção de pequenos vídeos sobre as florestas e caça e pesca emitidos na RTP) e cerca de 20 anos na antiga Administração Florestal de Sintra, onde se apaixonou pelo arvoredo notável dos seus parques históricos. Esteve destacado nos três primeiros anos da Parques de Sintra-Monte da Lua, S.A., entidade à qual transmitiu muito do conhecimento e da experiência dos antigos Serviços Florestais.

Com a informação e imagens que partilha neste e noutros textos sobre o tema, publicados no Florestas.pt, espera dar mais um contributo para a divulgação do património arbóreo nacional e estimular os cidadãos para a inventariação e classificação de arvoredos monumentais, de exceção ou com história, que venham a enriquecer o Registo Nacional do Arvoredo de Interesse Público.