Valorizar

Produtos Florestais não lenhosos

Apicultura: mais de 11 mil portugueses dedicados ao mel

Além do valor socioeconómico associado e contributo para a dinamização das economias rurais, o mel – e a polinização que está na sua origem – desempenha um papel vital para a diversidade genética das plantas e para o equilíbrio ecológico.

Mel, pólen, própolis e geleia real são alguns dos produtos que resultam diretamente da apicultura, atividade a que se dedicam mais de 11,8 mil portugueses. Em 2018, estes apicultores geriam aproximadamente 42 mil apiários e um total de 768 mil colmeias, segundo dados da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) reportados pelo Programa Apícola Nacional 2020-2022.

O mel é o produto mais importante da apicultura nacional, mas em 2017 e 2018 a produção não foi suficiente para dar resposta ao consumo dos portugueses. Embora o número de apicultores e colmeias tenha vindo a aumentar, com um crescimento de 13% e 23%, respetivamente, entre 2015 e 2018, a produção de mel reduziu-se nos últimos dois anos.

Evolução do número de apicultores e colmeias, 2015 – 2018

Grafico_colmeias

Fontes: Programa Apícola Nacional 2020-2022, com base em dados da DGAV
e do Instituto Nacional de Estatística

Os portugueses consumiram 11 toneladas de mel na campanha de 2018 (de 1 julho de 2017 a 30 junho de 2018), o que equivale a dizer que, em média, cada português consumiu 1,1 kg num ano. Embora estes valores, indicados pelo INE, estejam bastante abaixo do consumo em 2017, que atingiu 15 toneladas, nas quatro campanhas anteriores o consumo tinha vindo a aumentar.

A produção anual aumentou entre 2013 e 2016 – de 9,3 mil toneladas para 14,2 mil toneladas –, mas reduziu-se em cerca de 25% em 2017, continuando a diminuir, embora de forma menos pronunciada, em 2018.

Evolução da Produção e Consumo de mel em Portugal, 2015 – 2018

Fontes: INE – Estatísticas Agrícolas 2015, 2017, 2018, com dados preliminares para 2018;
Programa Apícola Nacional 2020-2022, com base em dados da DGAV, novembro de 2018.

Mais empresas dedicadas à apicultura

Em 2017, o último ano para o qual o INE dispõe de dados, existiam 1340 empresas dedicadas à apicultura, bastante mais do que as perto de 900 registadas em 2013.

Com o aumento do número de empresas, cresceu o valor gerado pelos seus negócios, que passou de 16 milhões de euros em 2013 para 22,5 milhões de euros em 2017. Ainda assim, a subida deste valor não é proporcional ao aumento do número de empresas. O que significa que, em 2013, cada empresa tinha, em média, um valor de negócios mais elevado.

Considerando a disparidade entre o número de apicultores e de empresas – mais de 11 mil apicultores e 1340 em 2017 – estima-se que parte do valor económico gerado pela apicultura seja informal. Em Portugal, tal como no resto da União Europeia, esta é uma atividade tradicionalmente ligada à agricultura, normalmente encarada como um complemento ao rendimento das explorações agrícolas e florestais.

Refira-se que o número de colmeias e de apicultores na União Europeia (UE) tem vindo a crescer, o que se traduziu num aumento de 16% da produção de mel, entre 2014 e 2018, revela o relatório da Comissão Europeia sobre a execução dos programas apícolas da EU, no final de 2019.

Com 17,5 milhões de colmeias na UE, geridas por 650 mil apicultores, a UE produziu 280 mil toneladas de mel em 2018. A apicultura é praticada em todos os Estados-Membros da UE, sendo a União Europeia o segundo maior produtor mundial de mel, a seguir à China.

Principais indicadores das empresas apícolas, 2013 – 2017

Fonte: INE – indicadores das empresas por Localização geográfica (NUTS – 2013)
e Atividade económica (Subclasse – CAE Rev. 3)

Portugal: um país de pequenos apicultores

A apicultura portuguesa é, de facto, dominada pelos pequenos produtores. De acordo com a caracterização feita no Programa Apícola Nacional 2020-2022, 89% são considerados apicultores não profissionais por terem menos de 150 colmeias. E os apicultores com menos de 25 colmeias, cuja produção é considerada apenas como autoconsumo, perfazem 53% do total.

O mel, a par dos cogumelos, plantas aromáticas e pequenos frutos, integram o conjunto de produtos não lenhosos que a Estratégia Nacional para as Florestas tem em consideração para a valorização global da floresta portuguesa.

Ainda assim, o número de apicultores profissionais (com pelo menos 150 colmeias) foi o que mais cresceu e o que mais contribuiu para o aumento do número de colmeias.

Curiosamente, o Algarve é a região continental com menos apicultores, mas aquela onde existem os maiores apiários, ou seja, onde há mais colmeias por apicultor.

O associativismo entre apicultores tem ajudado a ultrapassar esta fragmentação e a pequena dimensão das explorações. Mesmo assim, o Programa Apícola Nacional sublinha a necessidade de conseguir uma maior integração vertical e cooperação empresarial para dinamizar este subsetor.

Número médio de colmeias por apicultor e por região, 2018

Fonte: Programa Apícola Nacional 2020-2022, com base em dados da DGAV, de novembro de 2018.

Valor da apicultura pode ser reforçado

Outra das vertentes que pode reforçar o dinamismo e valor socioeconómico da apicultura é a exploração dos restantes produtos da colmeia.  O interesse e valor comercial destes produtos é globalmente reconhecido, mas em Portugal tem ainda um peso residual, revela o Programa Apícola Nacional, em particular por falta de informação.

Geleia real, própolis, pólen e enxames são quatro exemplos de produtos da colmeia, todos com grande procura e muito pouca oferta em Portugal:

Polinização: valor ecológico inestimável

A apicultura – e a polinização que está associada – tem um papel vital na preservação da biodiversidade, na manutenção da diversidade genética das plantas, no equilíbrio ecológico dos ecossistemas e na produção de culturas agrícolas.

Cerca de 90% de todas as plantas com flor precisam da ajuda de insetos para se reproduzirem, lembra a Ciência Viva, acrescentando que as abelhas são responsáveis por cerca de 80% de toda a polinização feita por insetos. Em paralelo, a Comissão Europeia reconhece que a polinização – pelo seu papel na reprodução das plantas e abastecimento de alimentos – representa 15 mil milhões de euros da produção agrícola anual da União Europeia.

Este valor torna-se ainda mais relevante quando sabemos que os polinizadores, designadamente os selvagens, estão em forte declínio, por influência de fatores como as alterações climáticas, os incêndios rurais e a crescente transformação de solos naturais – florestas, matos e pastagens – em zonas urbanas e agrícolas.

Este declínio gera um círculo vicioso, já que a restauração de pastagens e florestas a longo prazo poderá falhar se o papel central dos polinizadores nos ecossistemas terrestres não for reconhecido e preservado, como tem alertado Stefanie Christmas, investigadora do CGIAR (Consultative Group on International Agricultural Research), uma organização de coordenação dos programas de investigação agrícola internacionais.

polonização

A polinização também permite aumentar o valor económico da colmeia. Este serviço de ecossistema é ainda pouco usual em Portugal, mas “alguns apicultores de maior dimensão rentabilizam as suas explorações apícolas através de contratos de polinização”, refere o Programa Apícola Nacional 2020-2022.