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Espécies Florestais

Criptoméria, a mais importante espécie florestal nos Açores

Criptoméria é o nome comum dado à Cryptomeria japonica. Símbolo da floresta nipónica, a árvore nacional do Japão foi introduzida no arquipélago dos Açores no século XIX e desempenha hoje um papel fundamental na economia açoriana. Fique a conhecer mais sobre esta espécie vinda de longe, que Raquel Gaspar ajudou a caracterizar.

Alta, esguia e sempre-verde, a criptoméria é uma conífera também conhecida como cedro-japonês, nome que não deixa dúvidas sobre a sua região de origem. A espécie é natural do Japão e sul da China, crescendo em regiões húmidas e amenas. Com condições semelhantes, esta exótica prosperou em todas as ilhas açorianas e é atualmente a espécie florestal mais importante para o emprego e a economia da região.

A madeira da criptómeria, a sua casca e folhas são bem mais úteis do que se pensava quando chegou ao arquipélago.

O género Cryptomeria inclui-se na família botânica Cupressacea, à qual também pertencem os zimbros, ciprestes e falsos-ciprestes, sequoias e tuias. Esta família é constituída por árvores e arbustos que produzem resina (resinosos) e que são geralmente aromáticos. A mesma família tem espécies em que as flores masculinas e femininas estão presentes numa mesma árvore (espécies monoicas), como é o caso da criptoméria, e outras espécies em que as flores de cada sexo estão em árvores diferentes (espécies dioicas), como acontece nos zimbros. Em ambos os casos, os órgãos reprodutores têm forma de pinha.

A criptoméria é uma árvore que pode elevar-se aos 70 metros, com uma copa que lembra uma pirâmide, forma que se deve à dimensão dos seus ramos, mais pequenos à medida que aumenta a altura da árvore.

As suas folhas, de um tom verde-azulado, permanecem todo o ano (espécie perenifólia ou de folha perene) e têm a forma de agulhas, com cerca de um a dois centímetros. Estas pequenas agulhas envolvem os ramos numa espiral, curvando-se e diminuindo de dimensão até à extremidade do ramo.

Apesar da criptoméria ser conhecida como cedro-japonês (japanese cedar em inglês), ela não é um cedro. Este nome foi-lhe atribuído por a sua madeira ser perfumada e avermelhada como a do cedro.

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Folhas em forma de agulha, flores masculinas e frutos nas extremidades dos ramos.

A floração ocorre de janeiro a abril e as flores surgem na ponta dos ramos. As masculinas agrupam-se em estruturas globosas que vão ficando cor de laranja à medida que amadurecem. As femininas são solitárias, constituídas por escamas e geralmente surgem nos ramos mais elevados.

A frutificação ocorre de agosto a setembro, com frutos em forma de cones que surgem também nas pontas dos ramos (pela forma e local onde crescem são chamados estróbilos terminais). Na verdade, estes frutos são compostos de folhas modificadas, que se sobrepõem de modo a fazer lembrar uma pinha, que protege no seu interior a semente. A sua cor vai passando de verde a castanha à medida que amadurece.

A criptoméria e o seu ambiente natural

No seu local de origem, que corresponde ao arquipélago do Japão e às zonas temperadas húmidas ao longo do rio Yangtze (sul da China), a criptoméria é chamada de Sugi. Era usada na construção, em navios e outros artefactos desde pelo menos 3500 a.C. Durante o século XVI, foi procurada (e plantada) para a construção de templos budistas.

Esta conífera teve uma ótima adaptação nos Açores devido às semelhanças com o seu habitat de origem, caracterizado por solos profundos e bem drenados, em zonas montanhosas, com clima quente e húmido. É intolerante a solos pobres e climas frios e secos, o que explica a razão de se ter adaptado aos Açores, mas não a outros países ou zonas da Europa. Para se ter uma ideia comparativa, a precipitação média anual no arquipélago dos Açores ronda os 1075 milímetros, chegando aos 1700 milímetros na ilha das Flores, enquanto em Portugal continental foi de 797,6 milímetros em 2022. Refira-se que os maiores povoamentos de criptoméria se encontram em zonas subtropicais, em que a precipitação pode elevar-se aos 2540 milímetros anuais.

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A criptoméria foi introduzida nos territórios portugueses durante o século XIX. Chegou à ilha de São Miguel como árvore ornamental e com o objetivo de produzir madeira.

No passado, a falta de ordenamento e de gestão florestal levou à sobre-exploração e à diminuição da área florestal nos Açores: em 1951, a floresta chegou a representar menos de 6% da área das ilhas. Desde então, os Serviços Florestais impulsionaram o repovoamento e arborização de baldios com foco na criptoméria. Hoje, a floresta açoriana é bastante mais extensa e a criptoméria representa cerca de 60% das áreas florestais geridas para produção de madeira.

É considerada a espécie florestal mais importante do arquipélago dos Açores, não só pela sua área e importância económica, mas por ser também um elemento estrutural da paisagem, pelo seu valor ecológico no suporte de fauna e flora e pelo seu contributo para a fixação de carbono, entre outros serviços do ecossistema.

Está presente nas nove ilhas do arquipélago, mas com maior representatividade em São Miguel, com cerca de 35% da área florestal, e depois na Terceira e no Faial, onde representa, respetivamente cerca de 20% e de 15% da floresta.

Apesar da adaptação ao clima açoriano e da sua capacidade de frutificação, as sementes têm baixa capacidade de germinação, principalmente por não terem a luz de que necessitam. Isto acontece, entre outros fatores, pela competição que existe com plantas invasoras como a conteira (Hedychium gardneranum), a silva (Rubus inermis), a acácia (Acacia melanoxylon) e o incenso (Pittosporum undulatum), que germinam muito mais rapidamente que a criptoméria, criando sombra sobre as suas sementes. Assim, só se conseguem manter os povoamentos de criptoméria com recurso à plantação (dado o insucesso da regeneração natural).

A plantação continua a fazer-se sobretudo pelo interesse na madeira, mas a criptoméria é também utilizada na produção de óleos essenciais, que são extraídos, por exemplo, das folhas e da casca.

O valor ornamental reforça a relevância da criptoméria, com muitas variedades disponíveis para cultivo. Uma das variedades mais frequentes nos jardins nacionais é a Cryptomeria japonica var. ´Elegans´. Criada no Japão em meados do século XVIII, foi importada para a Europa em 1854, pelo botânico e colecionador de plantas inglês Thomas Lobb. É uma árvore mais pequena ou arbusto (o seu porte é normalmente arbustivo), de ramos abundantes e pendentes. O tronco pode ser múltiplo e tende a inclinar com a idade. As folhas mudam a cor de verde para vermelho-acastanhado ou acobreado no outono e novamente para verde na primavera, o que a torna muito apetecível como espécie ornamental.

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Cryptomeria japonica var. ´Elegans´ com a mudança de cor sazonal.

Sabia que …

    • Nos seus territórios originais, a criptoméria é uma espécie classificada como Quase Ameaçada. Embora não existam riscos de extinção, se não forem tomadas medidas de conservação, podem passar a existir.
    • O nome do género, Cryptomeria, deriva das palavras gregas “kryptós” que significa escondido, e “mereía” que significa parte, numa referência às estruturas produtoras de pólen que estão “escondidas” dentro dos cones de flores masculinas;
    • Na história japonesa, a madeira da criptoméria foi muito valorizada durante o Período Edo (1600 a 1868) por ser bastante impermeável, consequência da grande quantidade de resina nos tecidos, sendo esta uma das razões pela qual foi usada para a construção, principalmente de templos.
    • Desde 1993 que a ilha japonesa Yakushima, onde se situa o parque nacional de Yakushima, é considerada património mundial da UNESCO, por ter uma diversidade significativa de espécies de plantas e albergar criptomérias antigas, algumas com mais de mil anos de idade. As criptomérias mais antigas são chamadas de Yakusugi, enquanto as mais novas tomam o nome de Kosugi – cedros jovens.
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Normalmente a criptoméria tem um tempo médio de vida de aproximadamente 500 anos, porém no parque Yakushima existem árvores mais “velhas”. O exemplar mais antigo, chamado de Jomon Sugi, tem uma idade estimada de entre 2200 e 7200 anos. O motivo para as criptomérias desta ilha terem uma extraordinária longevidade é o ambiente em que cresceram. Como a ilha é influenciada por chuvas intensas e o solo é pouco nutritivo, estas árvores crescem muito lentamente, acumulando grandes quantidades de resina, que protegem a árvore de doenças e da decomposição.

*Artigo em colaboração

Raquel Gaspar frequenta a licenciatura de Biologia no Instituto Superior de Agronomia e colaborou com a plataforma Florestas.pt na elaboração deste conteúdo, no âmbito dos estágios de verão alumnISA.