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Curiosidades

Araucaria bidwillii, a árvore das pinhas gigantes

Se nunca viu pinhas do tamanho de bolas de futebol, ainda está a tempo porque existem, em Portugal, diversos exemplares de Araucaria bidwillii, a árvore conhecida pelas suas pinhas gigantes. Para encontrar um deles, a uma distância de segurança, rume ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra ou a outros parques e matas em diversos pontos do país.

As pinhas fêmeas da Araucaria bidwillii Hook – também conhecida por Araucária de Queensland, Búnia-búnia ou pinheiro de Búnia – são invulgares. Cada uma pode demorar até dois anos a formar-se e a amadurecer, com um peso entre três a cinco quilogramas – podendo chegar até aos 10 quilogramas, segundo alguns registos. No seu interior, chegam a conter centena e meia de enormes pinhões comestíveis. Todos os verões, estas pinhas gigantes podem ser admiradas na colossal árvore que as produz, enquanto no outono são as mais modestas pinhas macho que se revelam.

Com um porte que pode elevar-se a mais de 40-50 metros, o pinheiro de Búnia é uma espécie conífera, o que significa que dá frutos em forma de cones (pinhas), tem folhas em forma de agulhas e o crescimento do tronco e ramos dão origem a uma copa com a forma de pirâmide. Os seus ramos e folhas crescem em anéis relativamente simétricos em torno do tronco reto, que é geralmente livre de galhos até dois terços da altura da árvore. À medida que o tempo passa, os anéis inferiores da copa deixam mais tronco visível. Neste processo, perde-se, em parte, a aparência cónica da copa, que passa a assemelhar-se mais a uma coroa.

Araucárias e pinhas gigantes: um tesouro para os nativos australianos

Originária de Queensland, Austrália, e comum em vales húmidos, com neblina frequente, localizados perto da costa, esta espécie perene foi uma importante fonte de alimento para os aborígenes, graças às suas pinhas gigantes e às suas sementes: pinhões que chegam a ter mais de cinco centímetros de comprimento e eram amplamente consumidos crus ou assados num género de pão. Podem também ser utilizados no fabrico de álcool.

Araucaria-bidwillii - Pinha
Araucaria-bidwillii - Pinhas
Araucaria-bidwillii - pinhão

A Araucaria bidwillii era considerada uma árvore sagrada e a sua presença está historicamente ligada a cerimónias tribais e festas comunitárias. Cada família aborígene teria o seu grupo de araucárias, que eram transmitidas em herança, de geração em geração.

Muitas destas árvores foram cortadas pelos colonos europeus, pela sua madeira macia e fácil de trabalhar, usada em marcenaria e construção (no fabrico de pavimentos, por exemplo). Os exemplares que sobreviveram estão hoje integrados em reservas e parques naturais.

Araucaria-bidwillii - Árvores

A exploração significativa, que durou até meados do século passado, levou ao decréscimo acentuado da população de araucárias que se estendia desde as áreas costeiras até às montanhas Bunya. Ainda assim, existem atualmente subpopulações no sul de Queensland que não se encontram ameaçadas. Esta realidade leva a que a Araucaria bidwillii tenha um estatuto pouco preocupante na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas.

O pinheiro de Búnia faz parte da família Araucariaceae, que inclui 20 espécies documentadas – uma das quais descrita pela primeira vez apenas em 2017, na Nova Caledónia. A distribuição destas espécies é vasta e inclui o Chile, a Argentina, o Brasil (sul), a Nova Caledónia, a ilha de Norfolk, a Austrália e a Nova Guiné. De todas as espécies da família, a Araucaria hunsteinii terá as árvores mais altas, estando documentada uma com 89 metros. Ainda assim, nenhuma outra produz pinhas gigantes, comparáveis às da Araucaria bidwillii.

O nome da família Araucariaceae deriva de uma localidade no Chile – Arauco – onde foi encontrada. Já o nome da espécie bidwillii é uma homenagem ao botânico inglês John Carne Bidwill, que em 1838 se dedicou a descrever inúmeras plantas australianas e neozelandesas.

Araucárias em Portugal: ornamentais e monumentais

Há séculos que as araucárias “ganharam mundo”, como árvores ornamentais, quer pelas suas incríveis pinhas, quer pela beleza, porte e longevidade destas coníferas, que lhes conferem, em alguns casos, estatuto de “árvore monumental” ou de “arvoredo de interesse público”, inclusive no nosso país.

Em Portugal, foram plantadas sobretudo em Jardins Botânicos, como o da Universidade de Coimbra e da UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no ISA – Instituto Superior de Agronomia, mas também em vários outros parques, matas e até em jardins privados e zonas urbanas.

Hoje, podem ser vistas várias dezenas no Bussaco e Luso, em Monserrate (Sintra), na Mata de Vale de Canas (Coimbra) – onde são ‘vizinhas’ da árvore mais alta da Europa –, no Jardim de Serralves ou no Jardim da Cordoaria (Porto), onde existe um dos mais altos pinheiros de Búnia em Portugal, com cerca de 40 metros. No Funchal, há exemplares em vários locais, como na Quinta do Palheiro Ferreiro, Quinta das Cruzes e jardins de várias unidades hoteleiras.

Pensa-se que a primeira araucária a chegar a Portugal tenha sido um exemplar da espécie Araucaria angustifolia, vulgarmente chamada de araucária-do-Brasil – originária do sul do Brasil e norte da Argentina – e cujas pinhas também são maiores do que é comum. Dois exemplares foram plantados no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra em 1816, por iniciativa de Francisco de Lemos, que era à data o bispo reitor da universidade.

As duas árvores já não existem neste Jardim, que completa em junho de 2020 sete anos de reconhecimento como património mundial da UNESCO. Ainda assim, é possível encontrar três exemplares de Araucaria bidwillii, assim como outras araucárias (A. angustifolia, A. heterophylla e A. columnaris).

A maior Araucaria bidwillii do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra está situada na Rua das Tílias, onde, durante os meses de julho e agosto, as suas pinhas gigantes podem ser vistas a amadurecer e a cair. Neste período – e para que as pinhas não atinjam nenhum visitante –, a árvore é rodeada por uma fita que cria um perímetro de segurança. Além de ser a maior do Jardim, é a única que atualmente produz pinhas.

araucaria jardim botânico de Coimbra
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© Jardim Botânico da Universidade de Coimbra