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Cogumelos comestíveis: aliados na saúde e culinária

Os cogumelos tornaram-se um produto tendência, com estatuto de aliado na saúde e culinária. Descubra as qualidades nutritivas dos cogumelos comestíveis, confirme alguns benefícios dos seus compostos bioativos e delicie-se com o seu paladar em novas receitas.

Na culinária, são preparados como iguarias. Em entradas, sopas, pratos principais e, até, em sobremesas. Há dezenas de cogumelos comestíveis que, embora diferentes entre si, são igualmente ricos em vitaminas, minerais e poucas calorias, o que os torna numa interessante opção para refeições leves.

Estes “tesouros” que nascem em florestas, bosques e lameiros têm sido apreciados desde tempos remotos e não será por acaso que eram conhecidos pelos Romanos como o “Pão dos Deuses” ou como o “Elixir da Vida” pelos Chineses, recorda o projeto “Vem conhecer os cogumelos: uma riqueza do Alentejo”. Também no Antigo Egito, eram considerados a planta da imortalidade e chamados de “presente do deus Osíris”, sendo servidos como iguarias aos faraós.

Os cogumelos silvestres terão sido, provavelmente, um dos primeiros alimentos colhidos pelos povos recolectores e, em inúmeras culturas da Antiguidade, consolidaram-se também como recursos medicinais. Na medicina chinesa, por exemplo, o fungo de lagarta (Ophiocordyceps sinensis, anteriormente Cordyceps sinensis) é usado há mais de 700 anos e mantém-se muito popular para tratar afeções como as cardíacas, respiratórias, hepáticas e renais. Já o cogumelo imperial ou do imperador Ganoderma lucidum (Lingzhi na China) é reconhecido na terapêutica há mais de 2000 anos, sendo-lhe atribuídos benefícios do controlo dos níveis de glicose ao fortalecimento do sistema imunitário e à atividade anticancerígena.

Cogumelos comestíveis: riqueza nutricional com baixas calorias

Embora muitos destes atributos e os seus efeitos no organismo necessitem de mais evidência científica, a sua aplicação em áreas como a farmacêutica e a biotecnologia mantém-se relevante graças à sua riqueza em compostos bioativos – que têm efeitos diversos sobre o organismo.

Entre estes compostos, estão “polifenóis, terpenóides, sesquiterpenos, lactonas, agentes quelantes, polissacáridos e glicoproteínas, muitos deles com elevada capacidade antioxidante, capazes de estimular reações imunológicas do organismo, com resposta anti-inflamatória celular, pelo que podem ser considerados produtos nutracêuticos”, lembra o Caderno Técnico da revista Silva Lusitana.

Na vertente nutricional, destacam-se, entre outras características, o seu baixo valor calórico (cerca de 20-30 kcal em 100 gramas) e de gordura (entre 0,1-0,5%), o que faz deles aliados em dietas hipocalóricas (usadas no combate à obesidade, por exemplo). Mas estas são apenas duas das várias razões pelas quais os cogumelos comestíveis são considerados uma opção nutritiva e saudável também pela Direção-Geral de Saúde:

• São ricos em vitaminas do complexo B, nomeadamente riboflavina (vitamina B2), niacina (vitamina B3) e ácido pantoténico (vitamina B5); curiosamente, são praticamente a única fonte alimentar de origem não animal a fornecer vitamina D;

• Fornecem quantidades muito apreciáveis de sais minerais, nomeadamente cálcio, sódio, potássio, iodo, fósforo, selénio – importantes na regulação da pressão arterial, na redução do risco de doença renal e doença coronária, podendo desempenhar um papel importante na melhoria do estado de saúde dos doentes diabéticos -, assim como de oligoelementos como o zinco, cobre e ferro;

• Destacam-se pelo seu interesse proteico de origem não animal, pelo que são aconselhados para vegetarianos;

• A sua riqueza em substâncias bioativas, algumas das quais com elevada capacidade antioxidante, ajuda a estimular as reações imunológicas do organismo e a resposta anti-inflamatória celular;

• Cerca de 90% da composição dos cogumelos é água.

Entre os cogumelos comestíveis com maior tradição de consumo em Portugal estão espécies autóctones como os cogumelos Frade (Macrolepiota procera), os Tortulhos (Boletus edulis) ou os Silarca (Amanita ponderosa), mas também espécies vindas de outros países, como os shiitake (Lentinus edodes), de origem japonesa, ou os Portobello, uma variedade dos conhecidos cogumelos brancos ou de Paris (Agaricus bisporus), que estão hoje disseminados pelo mundo e são usados na grande maioria das receitas quotidianas.

Agaricus bisporu

Agaricus bisporus

Macrolepiota Procera

Macrolepiota procera 

Há algumas décadas, os cogumelos silvestres eram vistos em Portugal como uma “comida dos pobres” e um recurso da terra para matar a fome em épocas de maiores dificuldades. Nos últimos anos, o seu consumo tem aumentado e várias espécies são hoje muito valorizadas na culinária. No entanto, o consumo nacional ainda é relativamente baixo – cerca de meio quilo por pessoa ao ano, menos de metade do consumo em Espanha (1,2 kg).

Cogumelos comestíveis semelhantes aos venenosos: não corra riscos

Consumidos inicialmente pelos povos que viviam da recoleção e da caça, a apanha terá começado a ser feita sem qualquer conhecimento que permitisse distinguir as espécies comestíveis das que provocavam graves intoxicações ou, até mesmo, a morte.

Hoje, existem vários guias que ajudam a distinguir as espécies perigosas das dos cogumelos comestíveis, mas se há espécies que se distinguem facilmente, outras são muito semelhantes.

A ingestão de cogumelos silvestres venenosos continua a provocar intoxicações no nosso país, pelo que a Divisão de Riscos Alimentares da ASAE tem vindo a alertar que “no território nacional estão identificadas pelo menos 1000 espécies de cogumelos, das quais cerca de 150 são tóxicas e 10 são fatais, sendo que algumas destas espécies têm um aspeto muito semelhante a espécies comestíveis”. Não correr riscos é, por isso, a regra.

Entre as espécies venenosas, há algumas particularmente abundantes nas nossas florestas, como é o caso do Amanita muscaria, cogumelo eternizado na obra “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, com a sua cor vermelha forte salpicada por escamas brancas. O Amanita muscaria é facilmente reconhecível e não é mortal, mas já o Amanita phalloides (conhecido como chapéu-da-morte ou cicuta-verde) ou o Amanita virosa são responsáveis por grande parte dos envenenamentos que resultam em morte, porque contêm toxinas que podem causar danos ao nível do fígado e rins ou, entre outros problemas, falha cardíaca.

Outros há que, sendo tóxicos em cru, podem consumir-se cozinhados ou desidratados, como é o caso dos cogumelos conhecidos como Pantorras (várias espécies do género Morchella); e outras ainda cuja toxidade tem levantado suspeitas, como é o caso do Amanita gemmata, ao qual têm vindo a ser associadas intoxicações gastrintestinais, o que torna o seu uso culinário desaconselhado.

Na dúvida, prefira os cogumelos silvestres colhidos por quem sabe. E mesmo quem sabe, deve guardar, pelo menos, um exemplar de cada espécie colhida, pois, em caso de intoxicação, ajudará a assistência médica a atuar de modo eficaz no tratamento. O conselho é dado no Manual de Boas Práticas de Colheita e Consumo de Cogumelos Selvagens, que reúne normas e cuidados sobre a colheita e consumo de várias espécies.

Amanita Muscaria

Amanita muscaria

Amanita Phalloides

Amanita phalloides

Da floresta para a mesa: 4 receitas com cogumelos

Explore as várias espécies, aproveite os benefícios e a variedade de opções culinárias e teste receitas que vão desde entradas a sopas, saladas a grelhados, assados ou sobremesas. Para surpreender o seu paladar, pode começar por uma das quatro sugestões que se seguem, todas fáceis de confecionar.

Sempre que não haja um tipo de cogumelo definido na receita, opte por uma das espécies de cogumelos comestíveis mais fáceis de encontrar, como, por exemplo, os cogumelos brancos.