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Saúde e Bem-estar

Óleos essenciais: o que são e como funcionam?

Usados há mais de seis mil anos, os óleos aromáticos tornaram-se cada vez mais procurados como soluções de bem-estar e saúde. Hoje há mais de três mil óleos essenciais provenientes de diferentes partes de árvores e plantas. Vamos descobrir como se obtêm e funcionam, para sabermos que benefícios nos podem proporcionar.

Os preparados de plantas são usados desde tempos remotos no alívio da dor, na alimentação, na arte e na estética, assim como em rituais religiosos e espirituais, sob as mais diversas formas: infusões, temperos, tintas, perfumes e unguentos. Os primeiros óleos essenciais ou aromáticos terão mais de seis mil anos.

Em 4500 a.C., no Antigo Egito, eram já usados em cosméticos e pomadas, enquanto os primeiros registos de óleos de plantas nas tradições medicinais chineses e indianas datam de 3000 a.C. a 2000 a.C. Já então eram preparadas mais de 700 substâncias oriundas de plantas, desde sândalo a mirra. Também na história da Grécia Antiga, os óleos essenciais surgem documentados entre os anos 500 a 400 a.C.

Hoje, são conhecidos mais de três mil óleos essenciais, embora sejam cerca de 300 os que têm importância comercial para aplicação na indústria, referem as investigadoras Carmo Serrano e Ana Cristina Figueiredo, em “Óleos essenciais e outros extratos”. Ao contrário do que pode parecer, são as indústrias alimentar e da perfumaria que mais os utilizam, embora os sectores da saúde, bem-estar e beleza – medicamentos, fitoterapia, aromoterapia e cosmética – também os apliquem.

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Na indústria alimentar, os óleos essenciais são a matéria-prima a partir da qual se isolam substâncias aromatizantes naturais (mentol ou vanilina, por exemplo) usadas em bebidas, refrigerantes, pastelaria, laticínos, gelados, sobremesas, carnes, molhos e concentrados. Adicionalmente, propriedades e compostos específicos têm sido estudados quer como aditivos naturais (propriedades conservantes), quer como ativos com efeitos benéficos no organismo (nutracêuticos – alimentos funcionais, que apresentam benefícios sobre funções do organismo para além da nutrição).

Mas o que são afinal os óleos essenciais?

Os óleos essências são uma mistura complexa de compostos químicos aromáticos (álcoois e fenóis, aldeídos e cetonas, ésteres, éteres e hidrocarbonetos) que podem extrair-se de diferentes espécies vegetais e que possuem um vasto leque de propriedades bioativas.

Consoante a planta e a parte em causa, há químicos presentes em diferentes quantidades, podendo salientar-se, por exemplo, químicos com propriedades antissépticas ou fungicidas, antiespasmódicas ou expetorantes, entre outros.

A extração pode fazer-se a partir de diferentes partes de árvores e plantas, incluindo folhas, caules, madeira, casca, raízes, sementes, frutos ou flores. Os métodos de extração são diversos e consoante a parte da planta e o objetivo que se pretende alcançar, podem variar, incluindo desde a destilação a vapor ou por água à prensagem a frio. Alguns compostos podem ser isolados e utilizados individualmente e ao natural ou combinados (síntese química) para dar lugar a compostos mais complexos.

A composição de um óleo essencial específico pode ter variações em função das condições ambientais e geográficas da planta e de onde é extraído, assim como da sua genética, e pode ainda ser influenciada pelo método de extração e o momento de recolha.

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Efeitos no bem-estar e saúde: será que funcionam?

Com o crescente apelo por produtos naturais, os óleos essenciais têm vindo a ganhar fama de fazer bem a quase tudo. Esta não deve ser a expectativa, pois eles não são uma cura milagrosa para todos os males. No entanto, há sugestões de vários efeitos benéficos, que vão das soluções de bem-estar à produção de medicamentos.

Comecemos pelos efeitos que despertam os aromas dos óleos essenciais. Os “bons aromas” aludem a memórias e despertam sensações que, tendencialmente, estão associadas ao bem-estar. Parte destes efeitos é explicada pelo funcionamento do nosso cérebro: os odores que recebemos são transmitidos de forma praticamente direta ao sistema límbico, a área do cérebro responsável pela emoção e a memória. Depois, os neurotransmissores comunicam internamente o sentimento interpretado, despertando efeitos físicos. Por exemplo, pensa-se que as sensações positivas ajudem na produção de hormonas, como a dopamina ou a serotonina, que contribuem para promover a sensação de bem-estar.

Uma panóplia de efeitos calmantes e estimulantes (do relaxamento à concentração) são, por isso, atribuídos aos aromas a que estamos expostos e esta é a ideia por detrás da aromoterapia. Além de reações fisiológicas e da influência da experiêcia anterior (memórias), este bem-estar pode ter base noutras causas que são, na prática, difíceis de distinguir: em mecanismos baseados na atribuição de dimensões positivas a determinados estados emocionais e nas expectativas que criámos antes da exposição ao aroma ou óleo essencial (efeito placebo).

Numa outra dimensão, a indústria farmacêutica recorre também a alguns óleos essenciais. Em Portugal, em 2007, estavam aprovados cerca de cinco dezenas de fármacos preparados a partir de “órgãos ou partes de plantas, apresentados inteiros ou pulverizados, frescos ou secos, bem como óleos essenciais”, refere Carlos Cavaleiro, professor na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, em “Plantas aromáticas e óleos essenciais em farmácia e medicina”.

Os óleos essenciais (e outros compostos constituintes das plantas) podem ser usados como fármacos ativos pelo valor terapêutico das suas atividades biológicas e farmacodinâmicas. Adicionalmente, têm outros benefícios na área médica e farmacêutica:

  • compostos isolados podem ser usados no processo de obtenção das moléculas que estão na base dos medicamentos. É o caso, por exemplo, da semi-síntese da vitamina A a partir do citral que está presente nos óleos essenciais (de odor cítrico) provenientes de plantas como a erva-príncipe (Cymbopogon citratus) ou erva-cidreira (Melissa officinalis), entre outras;
  • concentrados aromáticos têm aplicação como adjuvantes e aromatizantes, para corrigir o sabor e odor de medicamentos de toma oral ou aplicação na pele.
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O reconhecimento destes medicamentos pela medicina convencional e o seu estatuto de fármaco exige validação científica e exigentes regulamentos de aprovação.

“São muitas as atividades farmacodinâmicas atribuídas aos óleos essenciais e que decorrem, naturalmente, da grande variedade e diversidade das suas composições químicas. Usados diretamente ou incluídos em medicamentos, os óleos essenciais são especialmente solicitados pelos seus efeitos sobre o sistema digestivo e aparelho respiratório, pela atividade analgésica e anti-inflamatória ou por efeitos inespecíficos, particularmente sobre a pele e os tecidos expostos”, refere Carlos Cavaleiro, especialista em farmacognosia e fitoquímica.

Investigadores procuram novos métodos, formulações e aplicações seguras e eficazes

Por todo o mundo, equipas de investigação continuam a aprofundar as propriedades ativas de centenas de óleos essenciais e extratos de plantas, assim como os seus efeitos benéficos, tal como a apurar e inovar em métodos de extração e transformação que tornem seguras e eficazes novas aplicações.

Em Portugal, por exemplo, foi recentemente avaliado o papel protetor contra agressões à pele –nomeadamente as que desencadeiam envelhecimento, lesões, pigmentação e inflamação – de preparados obtidos a partir de folhas frescas de Eucalyptus globulus por hidrodestilação.

Embora a ação terapêutica do óleo essencial de eucalipto esteja comprovada como coadjuvante no combate a diversas inflamações, designadamente na área respiratória, a sua atividade dermoprotetora foi pouco estudada. Em 2022 os seus efeitos despigmentantes, antienvelhecimento e anti-inflamatórios foram descritos no âmbito do projeto de investigação inpactus. Além destas propriedades protetoras estarem presentes no óleo essencial de eucalipto, comprovou-se que estão também patentes num extrato que nunca tinha sido avaliado – a água usada na destilação das folhas frescas deste eucalipto, líquido residual antes desaproveitado.

Além de procurarem novas formas de valorizar as plantas e árvores em prol bem-estar e saúde humanos, vários especialistas procuram também descobrir nos óleos essenciais soluções de bem-estar e saúde para outras espécies. Por exemplo, para as abelhas-melíferas. Neste caso para combater um dos parasitas – o ácaro Varroa destructor – que mais tem vindo a afetar estas importantes polinizadoras (e produtoras de mel), debilitando as suas colmeias.

Neste projeto, vários investigadores portugueses avaliaram, durante quatro anos, a viabilidade de usar óleos essenciais isolados de várias espécies vegetais – entre as quais tomilho (Thymus vulgaris), erva-príncipe (Cymbopogon citratus), arruda (Ruta graveolens) e lavanda (Lavandula sp.) – no tratamento e controlo sustentável da varrose. Seis concentrações dos óleos essenciais testados comprovaram um bom nível de eficácia no combate ao ácaro e baixa toxicidade para as abelhas adultas. No entanto, não se mostraram seguros para as jovens abelhas, pelo que será necessária mais investigação. O objetivo é encontrar formulações de óleos naturais que possam dar aos apicultores uma alternativa natural, segura e eficaz no combate a esta doença que, inclusive, já resiste a alguns dos tratamentos (acaricidas não naturais) disponíveis.

Estes são dois exemplos que ilustram como a natureza pode guardar, em si mesma, soluções para grandes desafios que se colocam à sociedade, mas que permitem também perceber como é longo e complexo o trabalho dos cientistas que ajudam a desvendá-las.

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