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Áreas Protegidas

Reserva Natural: há meio século a proteger valores naturais

Em 1975, o Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António foi a primeira área classificada como Reserva Natural em Portugal continental. 50 anos depois, existem 12 e a sua classificação pretende proteger os valores naturais com elevado valor científico, ecológico ou educativo que subsistem em áreas pouco habitadas.

Uma Reserva Natural é “uma área que contém características ecológicas, geológicas e fisiográficas, ou outro tipo de atributos com valor científico, ecológico ou educativo, e que não se encontre habitada de forma permanente ou significativa”.

A definição consta da legislação da conservação da natureza e da biodiversidade (Decreto-Lei n.º 142/2008), que indica como objetivo desta classificação a proteção dos valores naturais existentes, de modo a que as futuras gerações possam desfrutar e compreender o valor das zonas que permaneceram pouco alteradas pela atividade humana durante um longo período de tempo.

A manutenção e recuperação de geossítios, habitats e espécies, a garantia de níveis mínimos de perturbação humana e a limitação da utilização de recursos naturais são as medidas base para assegurar o propósito desta proteção.

As Reservas Naturais são apenas uma das categorias de proteção que estão integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP) que, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), engloba também os Parques Nacionais, Parques Naturais, Paisagens Protegidas e Monumentos Naturais, assim como as Áreas Protegidas Privadas.

No seu conjunto, em início de 2025, estas categorias equivaliam a mais de 50 áreas sob proteção em Portugal continental, numa área próxima dos 10% do território, e a elas juntam-se várias outras, a exemplo dos Sítios Ramsar e dos Geoparques UNESCO, além das zonas sob proteção europeia, no âmbito da Rede Natura.

Mapa das Reservas Naturais em Portugal continental

Saiba mais sobre as diferentes categorias integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP), o que as distingue e onde pode encontrá-las em Portugal continental.

12 Reservas Naturais para descobrir do Douro ao Algarve

Em 2025, meio século após a constituição da primeira Reserva Natural, existem 12 em Portugal continental, nove delas de âmbito nacional e três de âmbito local.

Apesar destas áreas serem supostamente pouco perturbadas pela atividade humana, muitas localizam-se junto de grandes cidades ou em zonas muito procuradas pelos turistas, como é o caso da Reserva Natural do Estuário do Tejo e das suas congéneres no Estuário do Douro e do Sado, o que reforça a necessidade de preservar os recursos, habitats e espécies que nelas persistem.

Praticamente todas as Reservas têm áreas sujeitas a proteção integral, vedadas a visitantes, mas dispõem também de amplas zonas que podem percorrer-se para admirar a beleza das suas paisagens e a riqueza dos seus valores naturais. Antes de seguir caminho, descubra-as aqui.

1. Reserva Natural Local do Estuário do Douro, em Vila Nova de Gaia

Reserva Natural Local do Estuário do Douro, Gaia
Reserva Natural Local do Estuário do Douro, V. N. Gaia

Na margem sul da foz do rio Douro, no concelho de Vila Nova de Gaia, os 66,35 hectares classificados como Reserva Natural têm como principal objetivo proteger esta paisagem, as aves que ali vivem e as que ali descansam durante as suas migrações.

Situado no corredor migratório conhecido como “Rota do Atlântico Este”, este ecossistema estuarino serve de local de repouso, alimento e abrigo a muitas aves migradoras que viajam entre o Norte da Europa e o de África. No total, já foram ali identificadas mais uma centena de espécies de aves.

Nesta zona onde mar e o rio se encontram, as línguas de areia, as zonas lodosas e a vegetação rasteira contrastam com as silhuetas das populosas cidades de Gaia e Porto, e permitem observar com alguma facilidade dezena e meia de aves que residem ou passam longas temporadas neste estuário, desde as mais comuns gaivotas às elegantes garças-reais, passando pelos corvos-marinhos-de-faces-brancas e pelos maçaricos-reais – estes últimos são as maiores aves limícolas (aves que esgravatam a lama para se alimentar) que descansam nesta Reserva, podendo ser vistos durante grande parte do ano.

Local privilegiado para a observação de avifauna, a Reserva conta com um Centro de Interpretação (no início dos passadiços elevados) e é também deste espaço que partem visitas em grupo que ajudam a descobrir os valores do estuário do Douro, que se encontra integrado nos Parques de Gaia.

2. Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, de Aveiro a Ovar

Entre a ria de Aveiro e o oceano Atlântico, ergue-se hoje um cordão de dunas e lagoas que protege o interior da intensidade dos ventos, das areias e do avanço do mar. Até ao século XIX, estes terrenos eram formados por areias em movimento, que dificultavam a fixação de plantas, e por pântanos, onde proliferavam mosquitos que transmitiam malária e outras doenças. Para evitar a sua propagação e fixar as areias móveis, permitindo o estabelecimento de vegetação e protegendo os terrenos mais para o interior, os Serviços Florestais arborizaram estas e outras dunas, num trabalho que teve início no final do século XIX e que se prolongou até à década de 1930.

A Reserva Natural estende-se pela península que liga Ovar à povoação de São Jacinto (no concelho de Aveiro) e ocupa cerca de 996 hectares, 733 dos quais de área terrestres, entre praias e matas (Reserva de Recreio), floresta (Reserva Natural Parcial) e zonas dunares estabilizadas  onde a circulação está interdita (Reserva Natural Integral, com mais de 200 hectares).

Além do património geomorfológico, florístico e faunístico das dunas, mantém-se a vasta área de floresta instalada desde finais do século XIX. Ali predominam espécies como o pinheiro-bravo (Pinus pinaster), o pinheiro-manso (Pinus pinea), o samouco (Myrica faya) e a sabina-da-praia ou sabina-das-areias (Juniperus turbinata). Entre os arbustos é de referir a presença da camarinha (Corema album) – que só cresce na costa atlântica ibérica.

Em 1979, quando foi criada esta Reserva, um dos seus objetivos era salvaguardar a colónia de garças mais setentrional do país. Hoje, estão referenciadas mais de 100 espécies de aves de ocorrência regular, 10 mamíferos, 10 anfíbios, quatro répteis e dezenas de invertebrados, incluindo borboletas e libelinhas consideradas “Vulneráveis”.  A proteção estende-se, por isso, a muitas outras espécies que beneficiam desta variedade de habitats aquáticos (marinhos, estuarinos, lagunares), dunares e florestais.

A Reserva é apoiada por um posto de receção instalado na Casa Florestal de S. Jacinto, um Centro de Interpretação e um Centro de Acolhimento com capacidade para alojar 22 pessoas (mediante reserva prévia). Conta ainda com o Trilho da Descoberta da Natureza, com saída do Centro de Interpretação e dois percursos circulares sinalizados – trilho verde (3,5 quilómetros) e vermelho (sete quilómetros).

3. Reserva Natural do Paul de Arzila, entre Coimbra, Condeixa-a-Nova e Montemor-o-Velho

Reserva Natural do Paul de Arzila, perto de Coimbra
Garça-vermelha, símbolo da Reserva Natural do Paul de Arzila

Localizada na margem esquerda do rio Mondego, a Reserva Natural do Paul de Arzila estrutura-se em torno de um núcleo central, constituído por uma ampla zona plana e paludosa no fundo do vale.

Esta vasta área de águas rasas e caniçais conta com espécies típicas de zonas pantanosas e alagadas – vegetação higrófila, como o caniço (Phragmites australis), o bunho (Schoenoplectus lacustris) e o lírio-amarelo ou lírio-dos-charcos (Iris pseudacorus), e com várias outras espécies que crescem em margens ribeirinhas, como o salgueiro-preto (Salix atrocinerea) e o amieiro-ibérico (Alnus lusitanica). As encostas que enquadram o paul são amplamente florestadas, principalmente por pinheiro-bravo, sobreiro (Quercus suber), carvalho-cerquinho (Quercus faginea) e eucalipto (Eucaliptus globulus).

Os 587 hectares desta Reserva compreendem várias áreas de proteção da planície aluvial, que se mantém alagada a maior parte do ano – alimentada por várias nascentes (os chamados olheiros) e pequenas linhas de água. Este tipo de paisagem dá abrigo e alimento a uma fauna diversificada, incluindo peixes, anfíbios, répteis e alguns mamíferos, e é especialmente importante para as aves.

Além de ser a “casa e a maternidade” de várias espécies que habitam lagoas e pauis, é zona de passagem e paragem de várias espécies migradoras vindas de longe. Mais de uma centena de espécies, entre sedentárias e visitantes, foram já avistadas. Entre elas está a garça-vermelha, símbolo desta Reserva.

Para apoiar a visita à Reserva Natural do Paul de Arzila, existe um Centro de Interpretação aberto de segunda a sexta (junto a Arzila), de cuja varanda se percebe, desde logo, a tranquilidade da paisagem. Neste Centro inicia-se também um breve circuito interpretativo (com cerca de dois quilómetros), que passa pela zona de floresta (com vista sobre o paul), por parques de merendas e observatórios.

4. Reserva Natural da Serra da Malcata, no Sabugal e em Penamacor

Reserva Natural da Serra da Malcata, no Sabugal e em Penamacor
Reserva Natural da Serra da Malcata, no Sabugal e em Penamacor

A Serra da Malcata ergue-se numa sucessão de cabeços xistosos que atravessam a fronteira, até à Serra da Gata, em Espanha. A Reserva Natural estende-se por um território pouco habitado, de quase 17 mil hectares, cruzado por várias linhas de água: rio Coa (que nasce no Sabugal), rio Bazágueda e ribeira da Meimoa são as principais.

Com habitats muito variados, que incluem vertentes rochosas, florestas aluviais, montados de azinheira (Quercus rotundifolia) e sobreiro, charnecas secas, pradarias húmidas, águas correntes e paradas, a Reserva Natural da Serra da Malcata abriga mais de 200 espécies de vertebrados, sendo um importante refúgio para anfíbios, répteis, peixes, mamíferos e aves. Algumas aves de grande porte são fáceis de observar, a planar nos céus, como é o caso de duas necrófagas – o grifo e o ainda maior abutre-preto, cuja envergadura pode chegar aos três metros.

Embora importante para muitas espécies, há uma que se destaca na história desta Reserva, o lince-ibérico. Foi para o salvar da extinção que a população portuguesa se uniu numa inédita petição pública, que levou à criação da Reserva em 1981. Apesar desta medida, o lince acabou por se extinguir e a sua presença neste território ainda não foi reposta.

Embora a população de lince-ibérico esteja a aumentar em Portugal – aproximava-se dos 300 exemplares (no censo de 2023) –, este icónico mamífero ainda não encontrou condições para voltar à Malcata, estando a ser avaliada e preparada, desde 2024, uma futura introdução. Para tal será necessário que o ecossistema tenha condições para acolher estes esquivos felinos, garantindo nomeadamente a presença e sustentabilidade das espécies que são imprescindíveis à sua subsistência.

A Reserva Natural da Serra da Malcata conta com o Centro de Educação Ambiental da Senhora da Graça, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (no Sabugal) e existe também o Centro de Interpretação do lince-ibérico (na Malcata). Várias rotas pedestres cruzam este território, incluindo a Grande Rota do Vale do Coa (a norte).

5. Reserva Natural das Berlengas, ao largo de Peniche

A cagarra é uma das aves protegidas na Reserva Natural das Berlengas
Reserva Natural das Berlengas, ao largo de Peniche

Constituído por três grupos de ilhéus – Berlenga, Estelas e Farilhões -, o arquipélago das Berlengas situa-se no Atlântico, próximo de Peniche. A Reserva Natural abrange estas ilhas – com cerca de 100 hectares de área terrestre – e uma área marinha de quase 9500 hectares, onde não é incomum avistar grandes mamíferos aquáticos, como o golfinho-comum, o roaz-corvineiro, o golfinho-riscado, o bôto e a baleia-anã.

Além dos recifes de origem rochosa e grutas marinhas, onde vivem comunidades vegetais e animais diversas, merecem referência nas Berlengas os habitats escarpados. A falta de solo e os ventos fortes, carregados de sal, impedem o crescimento de árvores, mas mais de uma centena de espécies de arbustos e ervas (herbáceas) conseguem subsistir. Algumas plantas são únicas no mundo, como a bela arméria-das-Berlengas (Armeria berlengensis), considerada “Em Perigo” e alvo de esforços de preservação.

O projeto Life-Berlengas (terminado em 2019) é um exemplo destes esforços. Entre várias iniciativas, procedeu à remoção de espécies invasoras e à conservação de aves marinhas, instalando ninhos para espécies emblemáticas deste arquipélago, como a cagarra (na foto) e roque-de-castro. Infelizmente, o airo, símbolo da Reserva, já não se reproduz nestas ilhas (foi considerado extinto enquanto reprodutor). Esta ave que lembra um pinguim teve, em tempos, o seu único local nacional de nidificação nas Berlengas.

A Berlenga é a única ilha que pode visitar-se e conta com um minicentro de apoio aos visitantes no Bairro dos Pescadores. O número de pessoas que pode estar em simultâneo nesta ilha é limitado e os locais de dormida também, pelo que a visita deve ser planeada com antecedência.

6. Reserva Natural Local do Paul de Tornada, nas Caldas da Rainha

A lontra é o símbolo da Reserva Natural Local do Paul de Tornada
Reserva Natural Local do Paul de Tornada é importante para as aves

Situada na faixa litoral, a poucos quilómetros das Caldas da Rainha, esta Reserva Natural Local cobre cerca de 50 hectares, metade dos quais estão permanentemente alagados. A área alagada constitui a zona central da Reserva e à sua volta persistem outras áreas inundadas pelas chuvas de Inverno, mas que no Verão se transformam em margens húmidas, lamacentas e secas, onde um vasto conjunto de aves se vem alimentar.

Esta é uma área importante para a conservação dos caniçais e da vegetação típica destas zonas húmidas, onde predominam espécies como o bunho, caniço, lírio-amarelo-dos-pântanos e taboa-larga (Typha latifolia). Em redor, existem zonas florestadas, onde não faltam espécies de árvores e arbustos igualmente adaptadas às zonas húmidas, como o salgueiro-branco (Salix alba) e o pilriteiro.

No seu conjunto, a paisagem forma habitats importantes, nomeadamente para a conservação das aves. São vistas por aqui várias espécies com estatuto de conservação, como as residentes águia-sapeira (na foto) e açor, ou a ocasional e migradora cegonha-preta (todas elas consideradas como “Vulnerável”). Embora sem descurar a importância das aves, um mamífero foi escolhido como símbolo da Reserva – a lontra.

Pela importância deste ecossistema e da sua biodiversidade, o Paul da Tornada encontra-se também classificado como Sítio Ramsar, convenção da UNESCO que confere proteção das Zonas Húmidas.

A Reserva é apoiada pelo Centro Ecológico Educativo Paul da Tornada – Professor João Evangelista, sob gestão de duas Organizações Ambientais – GEOTA e PATO. Com a ajuda de estudantes e investigadores inventariou, em 2019, as aves e anfíbios que ali ocorrem – 166 e 10 espécies, respetivamente.

7. Reserva Natural do Paul do Boquilobo, na Golegã e em Torres Novas

Reserva Natural do Paul do Boquilobo: uma importante zona húmida
Reserva Natural do Paul do Boquilobo, na Golegã e em Torres Novas

Na confluência dos rios Tejo e Almonda, a Reserva Natural do Paul do Boquilobo abrange mais de 817 hectares e conta com três áreas distintas:

– Zona Nuclear, onde predominam os valores naturais e seminaturais, tem áreas que permanecem maioritariamente inundadas e cujo acesso é limitado a ações de conservação ou de investigação científica;

– Zona Tampão, cruzada por vários cursos de água e com áreas temporariamente aladas. Conta com vegetação ribeirinha que contribui para a existência de corredores ecológicos importantes para a fauna, assim como com povoamentos florestais naturais e seminaturais, onde sobressaem as espécies folhosas. É esta a zona mais interessante para os visitantes.

– Zona de Transição, composta por áreas agrícolas e pequenos aglomerados populacionais. Ocupa grande parte da Reserva com campos agrícolas, geridos com especial atenção aos recursos naturais (em particular, à água e ao solo).

Na área da Reserva encontram-se inventariadas 317 espécies de plantas, a maioria adaptadas a zonas húmidas, como o bunho e o junco. Entre as árvores, refiram-se os salgueiros, os freixos (Fraxinus angustifolia) e os choupos-negros (Populus nigra), espécies ribeirinhas que convivem com pequenas áreas de bosque mediterrânico, onde persistem vários carvalhos (Quercus spp.).

A fauna é muito variada e estão identificadas 16 espécies de peixes, 13 de anfíbios (4 dos quais só existem na península Ibérica), 11 de répteis e 27 de mamíferos, nos quais se inclui um pouco comum: o morcego-arborícola-gigante, que é maior morcego da Europa. Nas aves foram já observadas 221 espécies e esta diversidade foi, aliás, uma das razões que levou à criação desta Reserva, que se mantém como importante local de passagem, nidificação e invernada.

O Paul do Boquilobo conta com um Centro de Interpretação (na Quinta do Paul, Brogueira), a partir do qual se desenvolvem percursos pedestres. Descubra mais sobre esta Reserva, que foi a primeira área portuguesa a integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera UNESCO e está também classificada como Sítio Ramsar.

8. Reserva Natural do Estuário do Tejo, entre Alcochete, Benavente e Vila Franca de Xira

Reserva Natural do Estuário do Tejo, às portas de Lisboa
Reserva Natural do Estuário do Tejo abrange Alcochete, Benavente e V. F. Xira

Perto de uma área densamente povoada, às portas da capital portuguesa, a Reserva Natural do Estuário do Tejo abrange os conselhos de Alcochete, Benavente e Vila Franca de Xira, numa área de 14,4 mil hectares que são ocupados, em cerca de dois terços, pelas águas estuarinas do rio Tejo.

Além destas águas, a Reserva Natural do Estuário do Tejo engloba mouchões (suaves elevações que formam ilhotas fluviais), salinas, terrenos agrícolas por vezes formados pelos materiais trazidos pelas águas – as lezírias – e áreas com sistemas agroflorestais de montado.

Esta paisagem constitui a mais importante zona húmida para a avifauna aquática em Portugal e uma das mais importantes da Europa. Milhares de aves escolhem estas terras, águas e zonas lodosas para viver e outras para passar o inverno, estimando-se a presença de mais de 10 mil patos e de 50 mil aves limícolas (que esgravatam alimento no lodo), entre muitas outras.

O flamingo é uma das mais emblemáticas, embora o símbolo desta Reserva seja o também elegante alfaiate, uma limícola que reúne no Tejo (e noutras zonas húmidas portuguesas) parte substancial da sua população europeia.

Na Póvoa de Santa Iria (perto da Praia dos Pescadores), os visitantes podem informar-se sobre as dinâmicas desta área da Reserva no Centro de Interpretação Ambiental e da Paisagem, uma estrutura integrada no Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo (que conta também com um observatório e trilhos pedestres sinalizados). Em pleno Ribatejo, na Companhia das Lezírias, o EVOA – Espaço de Visitação e Observação de Aves permite descobrir mais sobre a avifauna desta Reserva. Em Alcochete, a Fundação para a Proteção e Gestão Ambiental das Salinas do Samouco oferece várias possibilidades de visita, incluindo experiências de observação da avifauna e safra do sal.

9. Reserva Natural do Estuário do Sado, em Setúbal, Palmela, Alcácer do Sal e Grândola

Reserva Natural do Estuário do Sado
Roaz-corvineiro é o símbolo da Reserva Natural do Estuário do Sado

A Reserva Natural do Estuário do Sado abrange quase 24 mil hectares, nos quais o rio Sado – num troço de cerca de 28 quilómetros até à foz, em Setúbal – desempenha papel principal. Juntamente com as marés atlânticas, as águas do rio inundam uma vasta área de planícies de baixa altitude, formando lagoas salobras, esteiros e canais que entrecortam os sapais e deixam à vista bancos de areia e zonas pantanosas. Esta paisagem contribui para posicionar a Reserva como uma das mais importantes zonas húmidas em Portugal, também classificada como Sítio Ramsar.

Aos importantes habitats estuarinos juntam-se praias e dunas (também elas protegidas – integradas na Reserva Botânica das Dunas de Troia), matas ribeirinhas, montados de sobro, pinhais e áreas agrícolas, incluindo salinas e extensos arrozais. Recorde-se que parte da Reserva coincide com o chamado “Solar do Pinheiro Manso”, onde  o pinheiro-manso encontra condições ideais para crescer e a cultura do pinhão tem grande expressão e reconhecimento.

Este mosaico de paisagens amplia o leque de habitats e espécies. A mais conhecida e símbolo desta Reserva é o “golfinho”, já que o estuário do Sado alberga a única população residente de roaz-corvineiro em território nacional. Esta zona é também um importante abrigo e “maternidade” para peixes, molúsculos e aves. Foi pelas aves que recebeu a maioria dos estatutos internacionais de proteção, estando identificadas mais de 210 espécies, entre residentes e invernantes – do maçarico-real, à águia-sapeira e ao flamingo. Várias encontram na Reserva condições ideais para nidificar.

Na Casa da Baía de Setúbal (Av. Luisa Todi), funciona o Centro Interpretativo do Roaz do Estuário do Sado, que enquadra esta espécie e os espaços naturais que são mais relevantes nesta Reserva, assim como na região, que está abrangida por outras áreas protegidas, como o Parque Natural da Arrábida.

10. Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, em Santiago do Cacém e Sines

Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha
Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha

Situada a sul de Troia, entre a foz do rio Sado e o Cabo de Sines, esta Reserva abrange mais de 5,2 mil hectares e estende-se paralela à costa, por cerca de 15 quilómetros de diferentes habitats característicos das margens oceânicas e lagunares: águas marinhas, dunas, sapais, pradarias e charnecas secas e húmidas, águas correntes e paradas, assim como florestas. Estruturais na paisagem são a pequena Lagoa da Sancha e principalmente a grande Lagoa de Santo André.

A Lagoa de Santo André recebe as águas de várias ribeiras – Cascalheira, Ponte, Forneco, Azinhal e Badoca, entre outras, com abundantes caudais no Inverno (e reduzidos no Verão) que tornam o espelho de água menos salgado nas épocas de chuva. A seca tem ameaçado esta dinâmica, que é essencial ao equilíbrio desta Reserva e às suas mais de 500 espécies de plantas, 53 de peixes, duas de anfíbios, 15 de répteis, 31 de mamíferos e 271 de aves.

Nas plantas, merecem destaque a rara camarinha (Corema album), assim como a a “Quase-Ameaçada” arméria-do-sado (Armeria rouyana), que só existe no litoral português, e a “Vulnerável” joina-do-sudoeste (Ononis hackelii), única (endémica) desta zona litoral portuguesa.

Também classificada pela Convenção Ramsar, esta zona húmida é reconhecida principalmente pelo papel que desempenha para a avifauna. A Reserva conta inclusive com a mais antiga estação de anilhagem de aves em Portugal – a Estação Ornitológica Nacional em Monte do Outeirão – e o símbolo da Reserva é uma ave, o invernante rouxinol-pequeno-dos-caniços, que ali vai nidificar.

O Centro Nacional de Educação Ambiental e Conservação da Natureza Monte do Paio (na Aldeia de Brescos, em Santiago do Cacém), apoia os visitantes que queiram saber mais sobre esta Reserva e promove algumas atividades que ajudam a descobri-la, mas é necessário entrar em contacto com antecedência, pois a maior parte da sua atividade está direcionada para as escolas da região.

11. Reserva Natural Local da Foz do Almargem e do Trafal, em Quarteira, Loulé

Reserva Natural Local da Foz do Almargem e do Trafal
Reserva Natural Local da Foz do Almargem e do Trafal

No limite sudeste do litoral de Quarteira, na fronteira com Almancil, a ribeira da Fonte Santa ou do Almargem e a ribeira de Carcavai encontram a sua foz, formando lagoas costeiras, envoltas por um mosaico de paisagens diversificado, que escapou à pressão turística e urbanística características de boa parte desta orla costeira.

A Reserva foi criada oficialmente em 2024 para salvaguardar este reduto de paisagem e vida silvestre, que conta com cerca de 135 hectares de linhas de água, cordão dunar, arriba, juncais, caniçais, floresta de pinheiro-manso, matos mediterrânicos, pastagens naturais, antigos pomares e campos agrícolas. Este mosaico alberga uma diversidade de habitats, espécies vegetais – várias delas protegidas – e aves aquáticas.

Na altura da classificação como Reserva, estavam já identificadas 228 espécies de flora, entre as quais algumas plantas que em Portugal só existem no litoral sul algarvio, como a rasteira-do-Algarve (Frankenia boissieri), considerada “Vulnerável”. Da mesma forma, tinham sido inventariadas 137 espécies de aves, das quais três raras e 26 ameaçadas em Portugal: o pato-de-bico-vermelho cuja população residente se encontra “Em Perigo” é um exemplo.

Na documentação que oficializou esta Reserva, em 2024, existe o compromisso de criar um Centro Interpretativo da Foz do Almargem e do Trafal, dedicado ao desenvolvimento de atividades de educação ambiental, e de ali instalar outras estruturas de apoio – um parque de merendas, por exemplo. Outras construções próximas, planeadas antes da classificação, podem pressionar a vida selvagem e os habitats nesta área turística.

12. Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, no sudeste algarvio

Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António
Flamingos na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António

Localizada nos dois concelhos que lhe dão o nome, a Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António foi a primeira a ser criada em Portugal, em 1975, e abrange cerca de 2300 hectares que vão desde o rio Guadiana, a Este (na fronteira com Espanha e já perto da foz), até à zona de São Bartolomeu de Messines, a Oeste.

Nesta área onde predomina a planície, o Oceano Atlântico encontra o Guadiana e a junção das suas águas transborda ao ritmo das chuvas e das marés, saltando as margens e seguindo por entre canais, esteiros e lagoas num emaranhado que mantém submersa ou húmida cerca de 66% da área da Reserva. Este sapal é um importante viveiro para peixes e crustáceos e um espaço de abrigo e alimentação para as aves – incluindo limícolas e aquáticas, tanto as residentes como as que aqui encontram o seu destino de inverno e reprodução. Mais de 200 estão identificadas, desde o pouco comum combatente ao residente perna-longa, passando pelo vistoso flamingo, que fixou uma colónia na área da Reserva e ali nidificou pela primeira vez em 2021.

A envolver esta zona húmida – também classificada como Sítio Ramsar – estão zonas secas de uso agrícola, áreas florestadas e elevações arredondadas com matos e pastos que anunciam a serra do Caldeirão. Entre as áreas florestais públicas merecem referência:

– a Mata Nacional das Dunas Litorais de Vila Real de Santo António, dominada pelo pinheiro-bravo que sustem as areias litorais, impedindo-as de invadir o interior;

– os Viveiros Florestais de Monte Gordo, onde crescem espécies adaptadas à região, como a alfarrobeira (Ceratonia síliqua), o pinheiro-manso, o sobreiro e a azinheira;

– o perímetro Florestal da Mata das Terras da Ordem, onde o pinheiro-manso predomina, convivendo com loendros (Nerium oleander), eucaliptos, freixos e zambujeiros ou oliveiras-bravas (Olea europaea var. sylvestris) nas margens humedecidas pelos cursos de água.

Esta Reserva algarvia tem um Centro de Informação e Interpretação (localizado no sapal de Venta Moinhos) que, além de dar a conhecer os valores desta área protegida, tem uma magnífica vista para a sua paisagem. Por perto, existe um observatório de aves e um parque de merendas.