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São Martinho: qual a origem da tradição das castanhas?

É assinalado de norte a sul de Portugal com magustos e outras tradições populares. Mas qual é afinal a origem do dia de São Martinho, dos magustos e dos ditados transmitidos de geração em geração que, todos os anos, em novembro, renovam a tradição das castanhas? Descubra mais sobre este dia festivo e aproveite algumas receitas para o comemorar de forma saborosa e saudável.

“No dia de São Martinho, pão, castanhas e vinho” ou “no dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho” são dois dos ditados populares, recordados outono após outono e associados às tradições da castanha. No entanto, para perceber de onde vêm estas tradições é preciso recuar no tempo – até ao século IV.

Celebrado um pouco por todo o mundo a 11 de novembro, o dia de São Martinho foi instituído em honra de Martinho, um soldado romano nascido na Hungria, por volta do ano 316, que fundou um mosteiro em Tours, do qual se tornou bispo.

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A história de como São Martinho dividiu a sua capa com um mendigo num dia de chuva, levando a que despontasse um dia de sol, está também associada ao “Verão de São Martinho”, o período de bom tempo que habitualmente acontece por esta altura, todos os anos.

Em Portugal é tradição comer castanhas assadas acompanhadas de água-pé ou jeropiga, mas noutros países as castanhas não fazem parte deste dia. Em Espanha faz-se a matança do porco; na Alemanha a tradição passa por fogueiras, doces e vinho quente; na Itália faz-se também a prova do vinho novo e na Croácia as uvas são batizadas.

A ligação entre o São Martinho e as castanhas em Portugal terá vindo da tradição do magusto de Todos os Santos, celebrado a 1 de novembro. Nesta data era habitual, especialmente no norte do país, assinalar os finados ao redor de uma fogueira e com uma mesa onde não faltavam as castanhas, para que os espíritos dos que tinham deixado a família pudessem apreciar o aconchego das chamas e das iguarias.

Em Portugal, a passagem ao calendário gregoriano, em 1582, retirou 10 dias ao calendário anteriormente instituído. Os dias foram retirados do mês de outubro, o que levou a que o magusto de 1 de novembro passasse a ser celebrado a 11 de novembro, dia que foi mais tarde atribuído a São Martinho de Tours.

Em finais de outubro, os ouriços já começaram a cair dos castanheiros, deixando à mostra as apetecíveis castanhas. Da mesma forma, o vinho novo, nascido das uvas colhidas no final do verão, está pronto a provar. A abundância de castanha e vinho nesta época do ano, em especial no centro e norte, e a sua longa tradição à mesa dos lusitanos, foi quanto bastou para enraizar a tradição das castanhas e vinho no São Martinho.

Castanhas para além do São Martinho: uma referência na alimentação portuguesa

No território que é hoje Portugal, a castanha é usada na alimentação humana desde tempos pré-históricos e representou um dos alimentos basilares das populações, em especial nas regiões de montanha, onde se reúnem as condições mais favoráveis ao desenvolvimento do castanheiro (Castanea sativa).

Embora a batata tenha vindo substituir em parte a sua importância, a castanha manteve-se na dieta dos portugueses. Alimento versátil, é descrita como uma excelente fonte de energia graças ao seu teor em hidratos de carbono, no guia “Castanha à Lupa” da APN – Associação Portuguesa dos Nutricionistas. A publicação indica ainda que a sua riqueza em amido torna a castanha semelhante, do ponto de vista nutricional, aos alimentos do grupo dos cereais e derivados na Roda dos Alimentos.

A composição nutricional varia de acordo com a forma como se saboreia a castanha. Ainda assim, o documento da APN destaca a abundância de fibra (importante para o desenvolvimento da flora intestinal), o baixo teor de gordura e o teor considerável de polifenóis e vitaminas (C, por exemplo), além dos hidratos de carbono, nomeadamente o amido.

Dez castanhas assadas (84 gramas) fornecem apenas 2 gramas de gordura, mas 17% da quantidade de fibra necessária diariamente e estão isentas de glúten, diz-nos o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da DGS – Direção-Geral da Saúde, indicando que fornecem ainda 36% das quantidades necessárias de vitamina C, 21% de vitamina B6 e 15% de ácido fólico.

Receitas de castanha que apetecem no São Marinho e no tempo frio

É com inspiração nas receitas da DGS e nalgumas tradições da região de Resende que deixamos sugestões culinárias para este dia de São Martinho e para os meses frios que se seguem, já que mesmo fora da época não é difícil comer castanhas – elas podem conservadas no congelador, com ou sem pele, durante cerca de seis meses.