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Produtos Lenhosos

De Portugal para o mundo: produtos florestais líderes de mercado

Têm origem florestal, chegam aos quatro cantos do mundo e colocam Portugal nos tops mundiais e europeus de produção e exportação. Cortiça, pasta e papel, castanha e alfarroba mostram, além-fronteiras, o valor da floresta portuguesa na economia global.

Portugal tem, na sua floresta, uma vasta fonte de recursos naturais que geram rendimento essencial aos proprietários rurais e alimentam cadeias de valor nacionais e internacionais. Das matérias-primas lenhosas a um leque diverso de produtos não lenhosos, esta é a base de uma economia da floresta com raízes históricas em Portugal – de lembrar, por exemplo, o recurso à madeira para construção naval já desde o século X e que teve o seu máximo no século XV com os Descobrimentos.

Dada esta ligação antiga entre floresta e indústria, não é de estranhar que muitos dos sectores de atividade em que Portugal se destaca atualmente, a nível europeu e internacional, sejam de base florestal. Do lado das indústrias transformadoras, a cortiça e o papel português ganham protagonismo nas estatísticas de produção e comércio internacional. Mas há também a realçar a produção e exportação de frutos como a castanha e a alfarroba, que colocam Portugal no pelotão da liderança mundial para estes produtos.

Cortiça: Portugal é líder mundial incontestável

Com cerca de 100 mil toneladas anuais de cortiça, Portugal é o maior produtor do mundo deste material de origem vegetal, representando metade da produção global (100 mil toneladas anuais, 49,6%). Espanha é o segundo maior produtor, com uma quota de mercado de 30,5% (61,5 mil toneladas). Juntos, os países ibéricos concentram 80% da produção mundial de cortiça, segundo o Anuário de Cortiça 18/19 da APCOR – Associação Portuguesa da Cortiça, citando dados de 2010 da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.

Principais produtores mundiais de cortiça (produção anual)

Fonte: Anuário de Cortiça 18/19 da APCOR, com base em dados da FAO

Em paralelo com o domínio na produção, Portugal assume também a liderança mundial nas exportações de cortiça, com uma quota de 62,4%. Esta equivale a 985,2 milhões de euros de um total mundial de 1,58 mil milhões de euros, mostra o anuário da APCOR, com base em números do International Trade Center. Em virtude da subida gradual do valor das exportações mundiais de cortiça, também os proveitos nacionais apresentam uma trajetória ascendente nos últimos anos, com um aumento de cerca de 100 milhões de euros entre 2015 e 2017. Neste ano, as exportações portuguesas renderam 985,2 milhões de euros.

Espanha surge em segundo lugar na lista mundial de exportadores, a replicar o que também acontece no top de produtores, embora com um perfil exportador de menor dimensão. Em 2017 ficou-se por uma quota de mercado de 18,6%, um valor longe do de Portugal, embora bastante acima do terceiro maior exportador, a França, que representa 5,1%.

Principais exportadores mundiais de cortiça, 2015 – 2017

Fonte: Anuário de Cortiça 2016, Anuário de Cortiça 17/18 e Anuário de Cortiça 18/19 da APCOR, com base em dados do International Trade Center.

Principais produtos de cortiça exportados por Portugal, 2012 – 2017

Fonte: Anuário de Cortiça 18/19 da APCOR, com base em dados do INE – Instituto Nacional de Estatística

Diretamente dos sobreiros portugueses para o mundo, a cortiça nacional é exportada além-fronteiras sobretudo como produto transformado, com destaque para as rolhas de cortiça, que valeram, em 2017, cerca de 711 milhões de euros e 72,1% das exportações. Seguem-se os materiais de construção, incluindo pavimentos, isolamentos e revestimentos, que representaram um quarto das exportações de cortiça em valor, ou 246,8 milhões de euros, embora sejam a principal exportação em volume. Só depois vem a cortiça em bruto, como matéria-prima, com 1,2% e 11,5 milhões de euros, revela o anuário da APCOR.

França, Estados Unidos, Espanha e Itália foram, em 2017, os principais países de destino da cortiça portuguesa, sendo que em todos eles as rolhas se salientaram como produto de maior procura. De notar que a Alemanha – o 5º principal destino das exportações portuguesas de cortiça – é o maior importador de cortiça como material de construção e decoração.

Portugal é ainda o terceiro maior importador mundial de cortiça, com uma quota de 10,8% e um total de 170,7 milhões de euros. Os dados do Anuário de Cortiça 18/19 da APCOR são relativos a 2017 e colocam Portugal no pódio dos importadores, atrás da França e Estados Unidos – que têm, respetivamente, quotas importadoras de 16,5% e 15,3%. A importação nacional de cortiça visa dar resposta às necessidades da indústria corticeira, ou seja, é matéria-prima utilizada em Portugal para transformação e posterior exportação sob a forma de rolhas de cortiça e outros produtos de consumo final.

A força da indústria corticeira deve-se, sobretudo, ao principal ator nacional do sector, a Corticeira Amorim, que é também a maior empresa mundial de produtos de cortiça (transformação da matéria-prima). De acordo com os resultados consolidados de 2018, a Corticeira Amorim totalizou 763 milhões de euros em vendas, das quais 93% foram realizadas fora de Portugal, em mais de 100 países. As suas unidades de negócio dedicadas às rolhas e aos revestimentos de cortiça são líderes mundiais dos respetivos segmentos.

Pasta e papel: domínio europeu no papel de impressão e escrita

Ainda no leque dos produtos lenhosos, Portugal ganha lugar de destaque como um dos maiores produtores na indústria do papel, tanto ao nível do produto final (sobretudo papéis finos para impressão e escrita), como da própria pasta (a matéria-prima fibrosa que dá origem ao papel, resultante da separação entre as fibras de celulose e a madeira).

Na Europa, o país é o terceiro maior produtor de pasta, com 7,2% do total, a seguir à Suécia e Finlândia, de acordo com as estatísticas de 2018 da CEPI, a confederação da indústria papeleira europeia. A posição nacional tem-se mantido relativamente estável, embora a Suécia e a Finlândia representem juntos mais de metade da produção europeia (cerca de 61%).

O Boletim Estatístico 2018 da CELPA – Indústria Papeleira Portuguesa frisa que Portugal é também o terceiro maior produtor europeu de pastas químicas, com 9,9% do total, e o segundo maior produtor de papel e cartão não revestido (UWF – uncoated woodfree), sendo responsável por 18,1% da produção total europeia.

O desempenho desta indústria de base florestal leva também Portugal aos rankings cimeiros mundiais de produção de pasta e papel. Os dados do inquérito global da FAO aos representantes industriais de cada país mostram que, em 2018, a produção nacional de pasta branqueada foi a oitava maior do mundo, enquanto a produção de papel de impressão e escrita UWF se destaca na sexta posição mundial. O papel nacional é reconhecido no mundo pela sua elevada qualidade, embora a capacidade de produção fique muito aquém de grandes potências como os Estados Unidos da América, China ou Brasil.

Distribuição da produção europeia de pasta de papel, 2017-2018

Totais CEPI (em milhões de toneladas) em 2017: 37,8 | em 2018: 38,3

Notas: Os valores incluem apenas os países europeus integrados na CEPI, a confederação da indústria papeleira europeia (da qual fazem parte 18 associação nacionais, representando um total de 495 empresas).
Fonte: Key statistics 2016, Key statistics 2017 e Key Statistics 2018 da CEPI

Imagem Interior Produtos Florestais

Em 2018, Portugal exportou pasta para papel para 24 países, segundo a CELPA e o INE – Instituto Nacional de Estatística. O mercado da União Europeia é o principal destino destas exportações, absorvendo 72,6% das vendas. Apenas 10,3% da pasta portuguesa para papel foi vendida para o mercado interno. De realçar, aliás, que a indústria é uma das que mais contribui para o valor das exportações portuguesas de base florestal.

A posição de relevo nacional deve-se sobretudo à capacidade do grupo empresarial português The Navigator Company, líder europeu na produção de pasta branqueada de eucalipto, com uma produção de 1,6 milhões de toneladas por ano, 20% da qual vendida ao mercado. Este grupo é também o maior produtor na Europa de papel de impressão e escrita UWF – sexto maior a nível mundial –, segundo o Relatório e Contas 2018 da empresa. A mesma fonte dá conta de que, globalmente, a The Navigator Company vendeu papel para mais de 130 países ou territórios autónomos.

Principais produtores mundiais de pasta branqueada para papel, 2016-2018

Principais produtores mundiais de papel de impressão e escrita UWF, 2016-2018

Notas: Os dados apresentados são prestados diretamente pela indústria, sendo apenas considerados os países respondentes. Em caso de ausência de resposta em tempo útil, não é feita qualquer extrapolação por parte da FAO. Fontes: Dados de 2016: FAO Pulp, Paper and Paperboard Capacity Survey 2016 – 2021; Dados de 2017: FAO Pulp, Paper and Paperboard Capacity Survey 2017– 2022; Dados de 2018: FAO Pulp, Paper and Paperboard Capacity Survey 2018 – 2023. Indicadores 1.44 e 4.22.

Alfarroba e castanha portuguesas conquistam o mundo

Além dos produtos lenhosos, a floresta portuguesa é a origem de sabores que diversificam a gastronomia mundial. É o caso dos frutos que, além do consumo tradicional, são cada vez mais saboreados em novos formatos e produtos, graças à inovação na indústria agroalimentar de todo o mundo.

A castanha, cujo consumo é cada vez mais gourmet, e a alfarroba, um superalimento considerado uma alternativa saudável ao chocolate, são exemplos por excelência do valor dos produtos florestais não lenhosos com origem nacional. Em comum têm o facto de serem produtos nos quais Portugal se destaca nos pódios mundiais de produção e exportação.

No caso da alfarroba, Portugal é considerado um dos maiores produtores mundiais, com mais de 40 mil toneladas produzidas anualmente, em 2016, 2017 e 2018. Os dados são da FAOSTAT (as estatísticas oficiais da FAO) e das Estatísticas Agrárias de Espanha, que colocam a produção portuguesa de alfarroba em primeiro lugar em 2016 e 2017 (cerca de 41 mil toneladas), lugar destronado em 2018 por Espanha, que registou um grande aumento da sua produção (53,5 mil toneladas) face às menos de 40 mil toneladas nos anos anteriores. Nesse ano Espanha, Portugal (42 mil toneladas), Itália (37 mil toneladas) e Marrocos (22 mil toneladas) representaram cerca de 75% da produção mundial de alfarroba.

Quanto à castanha, mais do que valores totais de produção, é a vocação exportadora que dá fama (e proveito) a Portugal. Também de acordo com a FAOSTAT, Portugal é o segundo maior exportador europeu de castanhas – e o terceiro maior do mundo -, com valores que rondaram os 42,5 milhões de dólares e as 13,2 mil toneladas em 2017 (último ano de dados disponíveis na FAOSTAT). É uma posição de destaque para a castanha portuguesa que, embora se tenha mantido estável no terceiro lugar do pódio mundial nos últimos anos, registou uma perda em valor e volume nas exportações em 2016 e 2017.

Tendo em conta o volume total de produção indicado pela FAO – cerca de 29,9 mil toneladas em 2017, que fazem de Portugal o quarto maior produtor da Europa e sétimo maior do mundo –, Portugal exporta quase metade daquilo que produz (44,5%). Dados mais recentes do INE  apresentam uma evolução positiva: em 2018, Portugal produziu cerca de 34,1 mil toneladas, mais 4,2 toneladas do que no ano anterior. Há, no entanto, uma discrepância entre os valores oficiais e as estimativas da RefCast – Associação Portuguesa de Castanha, que situa a produção nacional de castanha entre as 45 mil e 50 mil toneladas anuais.

A China foi o líder absoluto em produção (mais de 1,9 milhões de toneladas em 2017) e volume de exportações (33,9 mil toneladas), em 2017. No entanto, o valor da castanha chinesa no mercado internacional fica aquém do valor conseguido pelos principais produtores europeus: a China registou, em 2017, um valor médio de 2163 dólares por tonelada exportada, atrás do valor médio de 4557 dólares/tonelada exportada da castanha italiana (que a colocam como líder de exportações em valor) e dos 3201 dólares/tonelada da castanha portuguesa.

A exportação de castanha representa 42,5 milhões de dólares (39,1 milhões de euros) para a economia portuguesa, num valor médio de 3201 dólares (2943 euros) por tonelada exportada. Há, no entanto, desafios importantes que importa minimizar, como as perdas de valor registadas ao longo da cadeia de distribuição.

Principais exportadores mundiais de castanha, 2013-2017

* A Turquia apenas se estabeleceu no Top5 dos exportadores mundiais a partir de 2016. Em 2013 e 2015, o país ocupava o 6.º lugar, atrás da Coreia do Sul (cujo total de exportações foi de 12285t em 2013 e 7696t em 2015).

* A Turquia apenas se estabeleceu no Top5 dos exportadores mundiais a partir de 2016. Em 2015, estava no 6.º lugar, enquanto a França fechava o Top5 (20,1 milhões de dólares). Em 2013, a Turquia foi o 7º maior exportador, ultrapassada pela Coreia do Sul (30,4 milhões de dólares) e pela França (21,4 milhões de dólares).

Fontes: FAOSTAT – Estatísticas da FAO (dados de 2013 a 2017 para a commodity ‘chestnut’)

Imagem Interior Produtos Florestais Castanha

De notar ainda que o consumo nacional de castanha tem vindo a diminuir, em resultado da elevada subida do preço ao consumidor final, provocada, entre outros motivos, pelas elevadas perdas registadas desde a apanha até à comercialização (devido a pragas e doenças, mas também por problemas de armazenamento e preparação da castanha), flutuações anuais na produção e procura externa.

Projetos como o ValorCast, liderado pela RefCast, têm tentado inverter a situação, promovendo a valorização da castanha nacional e a otimização da comercialização. Entre os objetivos do ValorCast está a melhoria do processo de colheita mecânica da castanha e a redução das perdas de qualidade entre a colheita e o consumidor, assim como a inovação em formas de consumo. A concretização destes objetivos poderá ter impacto futuro positivo na produção e exportação da castanha, realizando um potencial há muito salientado pelos produtores nacionais.