Atendendo à baixa produtividade dos soutos portugueses, intimamente relacionada com estas pragas e doenças, a ciência tem vindo a explorar novos caminhos para reforçar a resistência e saúde do castanheiro, via para reforçar outros indicadores, como o emprego e o valor da castanha para Portugal.
Nos anos 2000, a aposta passou pela criação de novas variedades híbridas, ou seja, pelo cruzamento entre as espécies mais afetadas pelas doenças (como a Castanea sativa) com espécies asiáticas, historicamente mais resistentes, porque tiveram uma coevolução com os agentes patogénicos, que são originários destas regiões.
O programa de melhoramento genético do castanheiro para a resistência à doença da tinta, iniciado em 2006, utiliza “as espécies asiáticas – castanheiro japonês (Castanea crenata) e castanheiro chinês (Castanea mollissima) – como dadores de resistência em cruzamentos controlados com a espécie europeia”, indica Rita Lourenço Costa, responsável pelo Laboratório de Biotecnologia Vegetal da Unidade de Sistemas Agrários Florestais e Sanidade Vegetal, que também coordena o programa de melhoramento genético de castanheiro do INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e o programa de investigação “Compreensão da resistência a Phytophthora cinnamomi em Castanea spp”. (Phytophthora é o género a que pertence o organismo que provoca a doença da tinta).
14 anos depois das primeiras intervenções, já é possível começar a ver alguns resultados. “Foram selecionadas três novas variedades com resistência melhorada à doença da tinta, que serão comercializados como porta-enxertos. A sua entrada no mercado está prevista já para 2022”, refere Rita Lourenço Costa.
Na região de Marvão está localizado um souto experimental com as novas variedades e é aqui que os castanheiros enxertados com variedades nacionais de castanha, plantados há três anos, se consolidam: “já começaram a produzir castanhas este ano” refere a responsável. A Unidade Piloto de Marvão foi criada no âmbito do projeto Alentejo 2020.
Além disso, segundo a investigadora, foi também possível identificar genes de resistência à Phytophthora cinnamomi, que podem contribuir para uma solução. “Já identificámos um conjunto de genes candidatos de resistência que estão a ser validados funcionalmente por transformação genética. Também se estuda a progressão do agente patogénico a nível celular, por histopatologia, comparando a espécie europeia sensível com o castanheiro japonês, para transferir todo o conhecimento obtido, através de diferentes abordagens, em prol do melhoramento da espécie europeia”.
Além desta pesquisa, desenvolvida em Portugal (e em paralelo noutros países), novas potencialidades da biotecnologia procuram contornar os problemas relacionados com a produtividade. Rita Lourenço Costa aponta que “as novas variedades são produzidas em larga escala por micropropagação, com protocolos otimizados, contribuindo esta tecnologia para produzir plantas isentas de patógenos e com sistemas radiculares bem formados e funcionais”. Esta nova aposta tem, sobretudo, a mais-valia de “um crescimento superior quando chegam ao campo”.