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Frutos

Amêndoa: uma década de dinamismo e crescimento

Com cerca de 40 mil hectares plantados e uma produção anual que rondou as 30 mil toneladas em 2019 e 2020, o amendoal reforçou-se e a amêndoa consolidou-se na fileira dos frutos de casca rija em Portugal. Apesar deste ressurgimento, 2019 terá sido o primeiro ano em que o valor das exportações de amêndoa compensou o das importações.

Das quatro principais produções de frutos de casca rija em Portugal – amêndoa, avelã, castanha e noz – as amêndoas representaram mais de um terço em 2018.

Quem o diz é a Agro.Ges em “Fileira dos frutos de casca rija”, o que revela a importância socioeconómica desta cultura de grande tradição, que ressurgiu nos últimos anos com promissores acréscimos de produtividade e produção.

O investimento na reconversão de antigos amendoais, na instalação de novos pomares com recurso a tecnologias modernas e também na indústria transformadora permitiu melhorias de produtividade e um novo dinamismo que se fizeram sentir principalmente a partir de 2017. Dois anos depois, foram alcançados máximos de produção dos últimos 20 anos.

Com mais de 33 mil toneladas de amêndoa e uma produtividade próxima dos 850 quilogramas por hectare, deu-se em 2019 um salto muito significativo, com a produção e a produtividade a representar, respetivamente, sete e cinco vezes mais face a 2013, o ano mais fraco da década em Portugal.

Entre 2010 e 2019 é, aliás, de realçar o aumento da produtividade conseguido que, embora com alguns avanços e recuos, passou de 261 para 846 quilogramas por hectare.

Evolução da superfície de amendoal, da produção e produtividade da amêndoa 2010 – 2019

Fonte: Superfície, produção e produtividade das principais culturas agrícolas (amêndoa) por localização geográfica e espécie, INE – Instituto Nacional de Estatística

Amêndoa em Portugal

39,6 mil hectares de amendoal
33,5 mil toneladas produzidas
48% no Norte (2018)
43% no Alentejo (2018)

Exportações

34 milhões de euros
14,4 mil toneladas de amêndoa com casca
1,1 mil toneladas de amêndoa sem casca

Importações

28,4 milhões de euros
1,4 mil toneladas de amêndoa com casca
3,8 mil toneladas de amêndoa sem casca

Dados regionais de 2018 e nacionais provisórios de 2019, INE e GPP

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A confirmar-se o valor adiantado pelo INE – Instituto Nacional de Estatística, 2020 será o segundo melhor ano desde o virar do século, com uma produção de cerca de 29 mil toneladas de amêndoa.

Historicamente, o Norte e o Algarve têm a maior tradição de produção de amêndoa, mas as diferenças entre as duas regiões são hoje muito notórias, com o Norte a assumir preponderância face ao Algarve, que manteve em grande parte os seus pomares tradicionais.

O Norte é a região com a maior área de amendoal e é de lá que provém a maior fatia da produção de amêndoa: mais de 10,3 mil milhões de toneladas ou 47,8% da produção total (2018). No Algarve, no mesmo ano, produziram-se 1,1 mil milhões de toneladas, cerca de 5% do total.

Estas diferenças agudizaram-se, de forma significativa, pelos investimentos realizados na última década, dirigidos na sua maioria ao Norte e ao Alentejo.

Entre 2009 e 2015, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural PRODER, foram contratados 891 projetos para investimento em amendoal, num total de 6,6 mil hectares; e, entre 2014 e 2016, foram implementados 1090 projetos de investimento em amendoal, num valor superior a 142,8 milhões de euros, o que ampliou o amendoal em mais de 13,3 mil hectares, revela o CNCFS – Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos.

Parte importante deste investimento apoiou um “novo amendoal”, com maior densidade de árvores, mecanizado e, em algumas situações, com sistema de rega. Segundo o CNCFS, isto aconteceu em vários concelhos transmontanos, como Torre de Moncorvo, Mirandela, Mogadouro e Alfândega da Fé, embora neles se mantenha o predomínio do amendoal de sequeiro.

Mas a “parte de leão” foi dirigida ao Alentejo que, em poucos anos, se afirmou como a “nova região da amêndoa” em Portugal. Em 2015, o Alentejo passou a ser a segunda maior zona produtora de amêndoas, em área e toneladas e, em 2018, era já responsável por mais de 43% da amêndoa nacional.

Superfície de amendoal e produção amêndoa por regiões, 2018

Fonte: Estatísticas agrícolas 2018, INE – Instituto Nacional de Estatística

Amêndoa cresce há cinco anos consecutivos no Alentejo

Para o ressurgimento nacional desta cultura, justificado pelo aumento da procura e do preço nos mercados internacionais, contribuíram muito significativamente os investimentos efetuados no perímetro da albufeira do Alqueva.

A disponibilidade de água potenciou culturas em regadio e regimes intensivos, naturalmente mais exigentes no consumo de recursos naturais, mas também mais produtivos.

Com o aumento consecutivo de áreas de plantação desde 2015, 2020 foi de novo ano recorde nesta zona do Alentejo, com mais 3,6 mil hectares a engrossar o total de amendoal (que ultrapassou os 15 mil hectares) inscritos nos perímetros de rega do Alqueva ou no chamado EFMA – Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, revela o Anuário Agrícola do Alqueva 2020.

Os investimentos efetuados no terreno são, sobretudo, de origem portuguesa (50%), espanhola (35%) e norte-americana (10%), revela a mesma fonte.

Evolução da área de amendoal no Alqueva, 2015 – 2020

Fonte: Anuário Agrícola do Alqueva 2020, EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva

Em 2020, a produção de amêndoa na periferia do Alqueva reduziu-se face a 2019 e o preço desceu cerca de 30%, o que dificultou o ano a vários produtores. A chuva intensa em abril e maio foi prejudicial – com desenvolvimento de mais doenças nos frutos – e os efeitos da pandemia limitaram o acesso ao terreno. No entanto, o aumento de área de amendoal contrabalançou esta queda e contribuiu para a maior colheita de sempre na região.

Além do investimento em amendoais, a disponibilidade da amêndoa tem propiciado novas apostas na indústria transformadora alentejana, com algumas iniciativas portuguesas, como a Migdalo e a Almencor.

Em 2016, a Migdalo inaugurou uma unidade de processamento de amêndoa de casca dura em Ferreira do Alentejo, com descasque e despela da produção própria (175 hectares) e a de produtores locais. Cerca de 80% desta amêndoa segue para exportação a granel.

Em 2019, a Almencor abriu a maior unidade de descasque e comercialização de amêndoa e outros frutos secos, nas proximidades de Évora, que está a absorver produções de terceiros. Com capacidade para processar 20 toneladas por hora de frutos secos, um dos objetivos é “utilizar matéria-prima proveniente de Alqueva, mais concretamente do Bloco de Rega do Monte Novo”.

Refira-se que outras zonas do país, como a Beira Baixa, por exemplo, beneficiaram também deste interesse crescente, com investimentos avultados, como os efetuados pela luso-brasileira Veracruz em amendoais na zona do Fundão, Idanha-a-Nova e Castelo Branco. A empresa prepara também a construção de uma unidade transformadora.

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Balança comercial em terreno positivo em 2019

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Apesar destas dinâmicas de crescimento e de o facto da procura mundial de amêndoa se manter elevada, a produção portuguesa não tem conseguido suprir as necessidades internas no que respeita à amêndoa sem casca, com os saldos da balança comercial consecutivamente no negativo, tanto em quantidade como em valor.

Nas amêndoas com casca, a realidade é mais favorável, com saldo positivo ano após ano. No entanto, na última década, o valor destas exportações nunca permitiu compensar o das importações de amêndoa sem casca.

A confirmarem-se os dados preliminares de 2019 avançados pelo GPP – Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (com base no INE – Instituto Nacional de Estatística), considerando custos e ganhos do comércio internacional das duas variedades de amêndoa (com e sem casca), 2019 será o primeiro ano da década em que a balança comercial fica em terreno positivo: a exportação da amêndoa com casca totalizou 23,6 milhões de euros, valor que compensa em 6,5 milhões os gastos (17,1 milhões) com importações de amêndoa sem casca.

Evolução do comércio internacional de amêndoa em Portugal, 2010-2019

Em quantidade

Em valor

P – dados preliminares. Nota: 1 quilograma de amêndoa com casca equivale a 0,225 quilogramas de amêndoa sem casca. Fonte: Amêndoa – Comércio Internacional, Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP)

O nosso principal parceiro de trocas internacionais é Espanha, com posição destacada face a outros países como França, Alemanha, Brasil, Angola ou Estados Unidos. Em 2019, feitas as contas às toneladas transacionadas entre os países ibéricos e considerando o preço médio de compra e venda, Portugal teve saldo positivo: as transações de amêndoa com casca renderam cerca de 23,4 milhões de euros, enquanto as da amêndoa sem casca implicaram 12 milhões de euros de custos a favor do país vizinho.

Refira-se que o preço médio de exportação da amêndoa com casca (a que mais exportamos) rondou os 1,9 euros em 2019, valor muito aquém do preço médio da importação, de 2,77 euros por quilo. Na amêndoa sem casca, o intervalo é menor, com preços médios de importação e exportação de 6,46 e 6,47 euros, respetivamente.

As flutuações destes preços são expressivas ao longo dos anos, reflexo da escassez ou da abundância de produção, oferta e procura. Por exemplo, em 2015, importámos amêndoa sem casca a 8,89 euros por quilograma, mais do dobro dos 3,67 euros que nos custou em 2010.

Trocas comerciais com Espanha

2019 (P)Amêndoa com cascaAmêndoa sem casca
Exportações de Portugal para Espanha14,3 mil toneladas
27,2 milhões de euros
843 toneladas
5,5 milhões de euros
Importações de Espanha para Portugal1,4 mil toneladas
3,8 milhões de euros
2,7 mil toneladas
17,5 milhões de euros

P = dados preliminares. Fonte: Amêndoa – Comércio Internacional, Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP)

Preço médio da amêndoa no comércio internacional (Euros por quilograma)

2010201120122013201420152016201720182019 P
ImportaçõesCom casca2,813,994,463,894,145,025,274,412,632,77
Sem Casca3,673,684,685,526,428,896,085,615,696,46
ExportaçõesCom casca0,610,730,811,231,052,201,741,891,351,90
Sem Casca4,424,824,955,957,587,366,045,475,676,47

P – dados preliminares. Nota: 1 quilograma de amêndoa com casca equivale a 0,225 quilogramas de amêndoa sem casca.

Fonte: Amêndoa – Comércio Internacional, Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP)

Maiores produtores de amêndoa

Produção de amêndoa com casca na Europa, 2019

Área - hectaresProdução - toneladas
Europa798116476634
Espanha687230340420
Itália5204077300
Portugal3964033550
Grécia1513021950
França11801130
Bulgária1010720

Mais de metade da amêndoa do mundo é produzida no continente americano, nomeadamente na Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, México e Peru. Juntos foram responsáveis por 56,5% da produção global em 2019. Neste ano, o total produzido elevou-se a perto de 3,5 mil milhões de toneladas, com a Europa a contribuir para 13,6%, ou seja, 476,6 mil toneladas de amêndoa com casca.

Recorde-se que devido à seca severa vivida na Califórnia, que provocou quebras de produtividade, os Estados Unidos da América deixaram de liderar o ranking dos maiores produtores mundiais de amêndoa em meados da década passada.

Na Europa, Espanha é o maior produtor, com destaque. Seguem-se Itália e Portugal.