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5 aplicações do zimbro: do gin ao perfume e à arte do bonsai

Nas árvores e arbustos a que chamamos zimbro praticamente tudo é aproveitado e valorizado, desde a madeira aos frutos, mais conhecidos como “bagas de zimbro”. Descubra cinco das aplicações do zimbro neste artigo desenvolvido com o contributo de Pedro Augusto Barcik.

Uma das mais reconhecidas aplicações do zimbro e das suas “bagas” é a aromatização de bebidas espirituosas, mas este grupo de espécies, composto por várias árvores e arbustos, é valorizado em muitas outras utilizações.

Zimbro é o nome pelo qual são conhecidas variadas espécies do género Juniperus, como o zimbro-comum ou zimbro-anão (Juniperus communis) e o zimbro-bravo ou oxicedro (Juniperus oxycedrus). Estas são duas das sete espécies que existem naturalmente em Portugal e são exemplificativas da versatilidade de aplicações do zimbro.

Nestes e noutros zimbros, quase tudo pode ser aproveitado. As diferentes partes destas plantas – madeira, folhas, frutos – são valorizadas em áreas que vão da culinária e bebidas espirituosas à saúde e perfumaria, passando pela carpintaria. O valor ornamental é outra das razões pelas quais o zimbro é procurado.

Apesar das múltiplas aplicações do zimbro, a plantação para fins industriais não é frequente em Portugal. As espécies que por cá crescem naturalmente encontram-se em pequenas zonas do território continental e em alguns casos integram habitats naturais com interesse para a conservação, conforme consta da Diretiva Habitats (Anexo I). Na Madeira e Açores, há inclusive espécies de zimbro consideradas vulneráveis e em perigo.

Algumas espécies de zimbro são fáceis de encontrar em viveiros. A plantação permite desfrutar da sua beleza e benefícios. Vê-los crescer pode demorar algum tempo, mas não requer cuidados exigentes, uma vez que os zimbros são espécies capazes de resistir à seca, a ventos fortes e até à neve. E conseguem desenvolver-se em terrenos improváveis, como dunas e zonas pedregosas.

1. Óleos essenciais de Zimbro na saúde, beleza e bem-estar

Aplicações do Zimbro - Óleo
Aplicações do Zimbro - Cão

No interior da madeira, das folhas e das “bagas” dos zimbros existem estruturas glandulares que produzem e armazenam uma substância resinosa. É dela que, através de destilação a vapor, é extraído o óleo essencial de zimbro (proveniente especialmente do zimbro-comum). Com elevado valor comercial, este óleo é muito utilizado pelas indústrias da perfumaria e farmacêutica.

Na perfumaria, integra a produção da maioria dos perfumes e águas-de-colónia que encontramos no mercado, concedendo-lhes notas frescas e amadeiradas, com fragrâncias que lembram o aroma dos pinheiros. Na farmacêutica, é utilizado como diurético e antisséptico das vias urinárias. As suas propriedades antifúngicas, antissépticas e de estimulação da circulação são também potenciadas em fórmulas específicas para aplicação na pele.

Do zimbro-bravo ou oxicedro extrai-se outro importante óleo essencial: o óleo de cade. Esta substância viscosa de cor castanho-escura tem também reconhecidas propriedades antifúngicas e antissépticas que a tornam procurada nas indústrias da perfumaria, higiene e farmácia.

Graças às propriedades desinfetantes, as aplicações do óleo de cade têm-se multiplicado e ampliado, incluindo sabões, medicamentos para doenças de pele – principalmente psoríase –, soluções veterinárias para ferimentos causados após a tosquia e eliminação de fungos e parasitas. Na perfumaria, este óleo é uma das essências de fragrâncias amadeiradas, secas e quentes.

As aplicações do zimbro na tradição medicinal têm longa história. Em várias civilizações antigas, as folhas e frutos já eram usados como curativos em vários formatos, desde infusões a líquidos resultantes de fervura. Aristóteles (384-322 a.C.) referiu-o como “receita” para uma boa saúde e também o naturalista romano Plínio – o Velho (23-79 d.C.) o mencionou na sua “História Natural”, uma obra que agrega muitos dos conhecimentos científicos da Antiguidade Clássica.

2. “Bagas” de zimbro brilham na culinária

Aplicações do Zimbro - Carne
Aplicações do Zimbro - Peixe

Os frutos do zimbro, chamados gálbulas, mas mais conhecidos como “bagas” de zimbro, brilham na culinária. Estão presentes em muitas receitas da gastronomia europeia, em particular nos países e regiões onde os zimbros são mais abundantes, como acontece nas terras altas da Itália, França ou Alemanha. Uma das receitas mais conhecidas preparada com “bagas” de zimbro é o chucrute (sauerkraut, em Alemão), um prato à base de repolho com tradição na Alsácia.

Usadas como especiaria – a única obtida de espécies da família das cupressáceas –, as “bagas” de propriedades tónicas e aperitivas têm um sabor suavemente apimentado e cítrico. Utilizam-se ainda no tempero de carnes, tradicionalmente de caça, molhos e patês. Várias destas aplicações podem ser uma alternativa à pimenta.

Apesar de a tradição gastronómica aproximar os frutos do zimbro das carnes, também o peixe pode beneficiar do sabor desta especiaria – o salmão é um exemplo. O mesmo acontece com as sobremesas, já que as “bagas” podem ser incluídas em caldas de salada de frutas. Refira-se que estas são ainda procuradas como elemento decorativo de inúmeros pratos, combinadas com ramos de zimbro ou folhas de louro.

Ainda assim, nem só as “bagas” têm aplicação culinária: a madeira e o óleo de cade são utilizados, respetivamente, para defumar carnes e peixes ou para conferir um sabor defumado a carnes e mariscos. Também em Portugal o Arroz de Zimbro ganhou lugar nas receitas serranas, mais precisamente da Serra da Estrela. O prato junta carne de vitela estufada, enchidos, toucinho, cogumelos frescos, arroz, ervas aromáticas e uma infusão de zimbro, usada como calda para o preparado. Aqui é o chá de zimbro que brilha.

Dica: as “bagas” de zimbro devem ser suavemente esmagadas antes de as usar como tempero, para que o seu sabor possa libertar-se.

3. Aplicações do zimbro na aromatização de bebidas espirituosas

Aplicações do Zimbro - Chá
Aplicações do Zimbro - Gin

A principal aplicação das “bagas” de zimbro é a aromatização de bebidas espirituosas, incluindo a genebra, o gin e a aguardente de zimbro. Estas bebidas podem ser diferentes consoante o país de origem, as metodologias e os ingredientes utilizados, mas todas beneficiam do aroma do zimbro.

A genebra, menos conhecida em Portugal, tem origem holandesa e é fabricada através da destilação de aguardente de cereais, juntamente com “bagas” de zimbro-comum e de outras espécies botânicas. O nome da bebida deriva da palavra holandesa para zimbro: jenever. Em tempos antigos, misturavam quinino na genebra e a bebida servia de medicamento para combater as febres tropicais que assolavam os colonizadores holandeses. Consta até que, devido a estas propriedades terapêuticas, à grande disponibilidade e à facilidade de produção, não faltaram excessos de consumo.

Mais conhecido é o gin, uma abreviatura de genebra, cuja origem é também similar. O gin obtém-se pela destilação de álcool (neutro retificado) de cereais ou melaço, na presença de “bagas” de zimbro e de outras espécies botânicas, principalmente sementes de coentro (Coriandrum sativum L.) e raízes de angélica (Angelica archangelica L.). Pode ainda obter-se através da aromatização do referido álcool com óleo essencial de zimbro.

Por último, entre as aplicações do zimbro mais conhecidas na área das bebidas, está a aguardente de zimbro. Produzida nos mais variados países, é obtida através da destilação das “bagas”, às quais é adicionado álcool. No nosso país, a Serra da Estrela é, por excelência, a terra dos destilados e licores de zimbro, fabricados com “bagas” de uma subespécie do zimbro-comum, chamada alpina (Juniper communis subsp. alpina).

As “bagas” de zimbro são também uma procurada solução botânica para dar um toque final de aroma e sabor ao gin, antes de o tomar.

4. Beleza e interesse ornamental

Aplicações do Zimbro - Beleza 3
Aplicações do Zimbro - Beleza 2
Aplicações do Zimbro - Beleza 1

Pouco exigentes quando se trata de água e nutrientes, os zimbros podem ser plantados em quase todos os terrenos, inclusive em jardins pedregosos, menos propícios ao desenvolvimento de outras espécies. O seu crescimento, muitas vezes irregular, dá aos jardins uma beleza orgânica, muito apreciada.

Existem várias espécies de zimbro com interesse ornamental. Nos jardins são muito usadas as Juniperus x media e Juniperus squamata, mas também o zimbro-bravo (Juniperus oxycedrus) é cultivado pelo seu interesse ornamental. No sul da Europa é comum ver diferentes variedades de cultivo, em parques e jardins, especialmente arbustos com folhagem mais pendente.

Muitos destes arbustos são moldados por jardineiros, em formas geométricas ou de efeito almofadado, e vários são também os zimbros apreciados na criação de bonsai.

O bonsai usa tradicionalmente o chamado zimbro chinês (Juniperus chinensis), mas há outras que podem ser aplicadas nesta arte, inclusive espécies que existem naturalmente em Portugal, como o zimbro-comum e o Juniperus turbinata, a que chamamos sabina-da-praia. Em alguns casos, a arte do bonsai parece imitar a realidade, com esculturas vivas a assemelhar-se às formas de arbustos e árvores que, na natureza, são moldados pelo vento.

Os bonsais de Juniperus são plantas de exterior. Em vaso ou diretamente na terra, são esculturas vivas em vários jardins nipónicos ou de inspiração japonesa.

5. Madeira de zimbro: durável e aromática

Aplicações do Zimbro - Madeira

A madeira de zimbro é sólida, mas possui um grão fino que é muito apreciado para o fabrico de pequenos objetos, mobiliário e outros artigos de marcenaria e carpintaria. É comum o seu uso em postes para cercas e vedações, estacas de celeiros e ripas para telhados, mas também bengalas e hastes de cachimbos, e em fumeiros de carne e peixe. Ao longo dos tempos, esta madeira foi também considerada uma das matérias-primas de excelência para produzir carvão.

À semelhança de outras plantas que pertencem à mesma família – a família das Cupressáceas, que inclui, entre outras espécies, os cedros, ciprestes, criptomérias e sequoias –, a madeira dos zimbros é durável e aromática, o que a ajuda a resistir à decomposição e ao ataque de insetos. Tais atributos devem-se, em parte, à grande quantidade de resina que se encontra na madeira e que, inclusive, fazem desta substância um ativo anti-traça natural.

Entre novas aplicações do zimbro ainda em estudo destaca-se a possibilidade de a sua madeira ser utilizada na medicina, como material de implante ósseo.

Existem várias espécies de zimbro indicadas para a florestação em Portugal, incluindo o zimbro-comum, o zimbro-bravo e a chamada sabina-da-praia (Juniperus turbinata). A sua madeira tem sido usada, por exemplo, em postes para sustentação das armações da vinha.

*Artigo em colaboração

Pedro Augusto Barcik

Pedro Augusto Barcik é aluno da licenciatura em Engenharia Florestal e dos Recursos Naturais no ISA – Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa.

Atualmente faz parte da APEF – Associação Portuguesa de Estudantes Florestais e é o diretor da revista oficial da associação, a Quercínea.