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Bagas vermelhas, além do azevinho, para descobrir e oferecer neste Natal

Além do azevinho, muito associado à época de Natal, há outras árvores e arbustos com drupas e bagas vermelhas que se salientam entre o verde dos jardins, parques e florestas portuguesas.

Descubra algumas das espécies cujos frutos ou sementes lembram as bagas vermelhas do azevinho e saiba quando pode apreciá-los. Neste Natal, em vez de colher os seus ramos para as decorações, ofereça estas plantas. Com este gesto estará a ajudar à multiplicação destas espécies portuguesas, algumas já bastante raras, ao mesmo tempo que dá a conhecer arbustos e árvores de grande beleza decorativa.

Gilbardeira (Ruscus aculeatus L.)

Conhecida como “falso azevinho”, a gilbardeira tem bagas vermelhas que surgem no verão e se mantêm durante o inverno (de agosto a março). O seu nome científico, Ruscus aculeatus, deriva do grego rugchos que significa bico e do latim aculeus que significa espinho, nomes associados aos vértices aguçados e espinhosos que se encontram no que nos parecem as folhas.

Com bagas bem desenvolvidas (não comestíveis) e de cor intensa no período do Natal, a gilbardeira acabou por se tornar numa alternativa para as decorações da época, sendo muitas vezes confundida com o próprio azevinho. Outra das razões que a torna apetecível como ornamento é que os ramos e as bagas da gilbardeira conservam um aspeto fresco bastante tempo após serem colhidos.

Exatamente por ser muito procurada, a gilbardeira tornou-se menos frequente na natureza e atualmente este arbusto partilha com o azevinho a presença na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental. Ambas as espécies têm estatuto de proteção, embora o seu risco de ameaça seja considerado “pouco preocupante”.

A gilbardeira é um pequeno arbusto que não ultrapassa o metro a metro e meio. Cresce por todo o território de Portugal continental, normalmente sob a cobertura carvalhos, incluindo sobreiros e azinheiras. Embora exista também em zonas de matos e áreas mais secas, prefere locais frescos e sombrios. Esta é a única espécie do género Ruscus nativa de Portugal.

Gilbardeira (Ruscus aculeatus L.)

Curiosidade: as folhas da gilbardeira são pequenas escamas que se soltam depois de formadas. Aquilo que nos parecem folhas são na verdade os seus ramos achatados que fazem a fotossíntese (designados por cladódios). É por esta razão que as bagas parecem surgir no meio das “folhas”. Estes ramos foram em tempos muito apreciados para fazer vassouras, razão por que a espécie também ficou conhecida como erva-dos-vasculhos.

Pilriteiro (Crataegus monogyna)

As bagas vermelhas do pilriteiro surgem no final do verão e mantêm-se ao longo do outono e até ao inverno, embora não haja tradição de usar ramos de pilriteiro nas decorações natalícias. Apesar de ser uma espécie comum por todo o país, o seu potencial ornamental é pouco aproveitado.

Os frutos vermelhos do pilriteiro – os pilritos – são usados para a confeção de bebidas alcoólicas, vinagres, geleias ou compotas. As bagas cruas são pouco apreciadas, embora os rebentos jovens do pilriteiro possam ser integrados em saladas (diz-se que o seu sabor lembra o das nozes).

Pilriteiro (Crataegus monogyna)

As folhas secas podem usar-se para fazer chá, as sementes torradas permitem uma alternativa ao café e também as flores são usadas em infusões e doces. Muitos usos medicinais estão ainda associados ao pilriteiro, que era considerado, tradicionalmente, como reforço ao funcionamento do coração.

A maioria dos pilriteiros são arbustos ou pequenas árvores, mas a espécie pode atingir os 15 metros de altura e chegar a ter troncos com um metro de diâmetro. Prefere zonas húmidas e sombrias, junto às linhas de água.

Curiosidade: os ramos do pilriteiro são espinhosos, o que o tornou conhecido como espinheiro-branco e usado para delimitar hortas e quintais. Esta espécie surge em diferentes mitologias e histórias tradicionais ao longo dos tempos. Era símbolo de esperança para os Gregos, na Irlanda e Grã-Bretanha dizia-se que trazia azar arrancar um pilriteiro, sendo esta espécie associada a fadas. Há também quem defenda que foi dos seus ramos que foi feita a coroa de espinhos de Jesus.

Tramazeira (Sorbus aucuparia)

Da família das Rosáceas, como o pilriteiro, a tramazeira partilha com ele as características bagas vermelhas. Também conhecida como corno-godinho, floresce entre maio e junho, e seus os abundantes cachos de frutos carnudos amadurecem entre setembro e outubro, permanecendo até ao inverno, mesmo depois da queda da folha.

A tramazeira tem múltiplas utilizações: tem interesse ornamental; a sua madeira, de cor rosada ou branca, compacta e dura, é apreciada por torneiros; e as suas flores e frutos têm diversas aplicações alimentares e medicinais. As bagas, embora ligeiramente tóxicas, são muito ricas em vitamina C e usam-se para fazer compotas e geleias, licores e vinagres. Da tramazeira também é possível extrair ácido sórbico (ou E 200), um conservante usado na alimentação, e sorbitol, usado como adoçante.

É uma espécie com uma longa tradição. Os povos Celtas acreditavam que protegia contra espíritos malignos, sendo comum plantar a tramazeira à entrada das casas ou usar os seus ramos como talismãs para proteção.

A trazameira é uma espécie pioneira, que consegue desenvolver-se onde outras espécies não vingam: tolera solos pedregosos, ventos fortes e temperaturas baixas, mas precisa de muita luz. Tem um crescimento rápido durante os primeiros anos de vida e, em adulta, pode crescer até aos 15 metros de altura. Encontramos esta espécie de folha caduca, autóctone em Portugal, nas regiões montanhosas norte e centro.

Tramazeira (Sorbus aucuparia)

Curiosidade: as suas bagas vermelhas, que se mantêm na árvore no inverno, são muito apreciadas pelos pássaros e uma importante fonte de alimento nesta altura do ano, razão pela qual esta espécie é conhecida também como sorveira-dos-passarinhos. É uma planta muito conhecida pelos caçadores, que a usavam como “isco”, derivando o seu nome do latim aucupor – caçar aves.

Sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus)

É no final da primavera e início do verão que as bagas vermelhas e carnudas dão cor ao sanguinho-das-sebes. Ao amadurecer, o vermelho escurece e torna-se quase negro. Estas tonalidades, semelhantes às do sangue, acabaram por resultar no nome de sanguinho.

Sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus)

Pela sua beleza e resistência, o sanguinho-das-sebes tem sido usado como planta ornamental e, tal como o nome indica, para a criação de sebes. Já o colorido suco das suas bagas serviu de corante para têxteis.

Também conhecido como aderno-bastardo ou aderno-bravo, o sanguinho-das-sebes tem sido procurado em vários países da bacia mediterrânica, de onde é nativo, pelas suas qualidades medicinais. Várias partes desta planta, incluindo raízes, casca, folhas e bagas, são tradicionalmente aproveitadas para o tratamento de condições diversas, desde dermatológicas a diabetes.

Este é um arbusto ou pequena árvore, de até cinco metros, pouco exigente em termos de clima e que cresce em todos os tipos de solo, chegando até a nascer em fendas rochosas.

Em Portugal, desenvolve-se principalmente nas regiões centro e sul, muitas vezes em contexto de montado, embora se possa encontrar também em algumas zonas do litoral centro-norte.

Curiosidade: a borboleta Cleópatra (Gonepteryx cleopatra) depende do sanguinho-das-sebes para o seu ciclo de vida, uma vez que na primavera as fêmeas depositam os ovos, um a um, em folhas de sanguinho-das-sebes. É nelas que as lagartas eclodem, se crisalidam e transformam em borboletas, alimentando-se do néctar das suas flores.

Borboleta Cleópatra (Gonepteryx cleopatra)

Aroeira (Pistacia lentiscus)

As drupas (frutos carnudos só com uma semente) da aroeira surgem com tonalidades avermelhadas, mas vão ficando escuras à medida que amadurecem, entre setembro e novembro, pelo que na altura das festividades natalícias as suas cores já não combinam com o imaginário da época.

Embora a aroeira integre o género Pistacia – o mesmo da Pistacia vera que nos dá os pistácios – as drupas da aroeira não são habitualmente consumidas em Portugal, embora integrem a doçaria de alguns países árabes e norte-africanos.

Além deste aproveitamento gastronómico, ao longo da história, o óleo extraído dos frutos foi usado nas candeias de iluminação e na preparação de sabonetes. O seu aproveitamento foi feito também com diversos fins terapêuticos, sendo-lhe reconhecidas propriedades antisséticas, antifúngicas e antibacterianas.

Também conhecida como lentisco, a aroeira é um arbusto ou árvore relativamente pequeno, de até sete metros, que cresce naturalmente em zonas onde o clima não é demasiado frio.

Nativa de Portugal, da bacia mediterrânica e das ilhas Canárias, vemo-la em grande parte do centro e sul (raramente a norte) do nosso território continental e é mais frequente em zonas de matos e montados de azinho.

Aroeira (Pistacia lentiscus

Curiosidade: mundialmente reconhecida é a resina aromática que brota dos troncos e ramos da aroeira quando neles se faz uma incisão. Chamam-lhe mástique e é usada em odontologia (em cimentos dentários), na cosmética e também na gastronomia, em licores e confeitaria. Desde a Grécia Antiga que esta goma era mascada para perfumar o hálito e branquear os dentes.

Cornalheira (Pistacia terebinthus)

Também do género Pistacia, a cornalheira e as suas pequenas bagas vermelhas – na verdade drupas pouco maiores do que ervilhas – destacam-se no verão. O aspeto destas drupas faz com que alguns conheçam a espécie como cerejeira-bastarda.

Cornalheira (Pistacia terebinthus)

Apesar de lembrarem pequenas cerejas, os frutos não costumam ser usados para consumo humano, embora, em locais onde a espécie abunda, sirvam de alimento a ovelhas, cabras e porcos.

A cornalheira também é conhecida como terebinto, nome que se deve à resina que brota da casca quando se fazem incisões ou cortes – fonte de terebentina. Hoje, a terebentina produz-se habitualmente pela destilação da resina do pinheiro, mas pensa-se que a cornalheira foi das primeiras árvores de que foi extraída. Esta resina aromática, conhecida como “terebentina de Quio”, é semelhante à resina da aroeira e são por vezes confundidas. Dependendo do tratamento dado a este líquido, ele pode dar lugar a um óleo essencial, usado para alívio de dores, por exemplo musculares e reumáticas, ou a um solvente (aguarrás) utilizado em várias indústrias, incluindo tintas, vernizes, desinfetantes e farmacêutica, entre outras.

Abundante na região mediterrânica, norte de África e sudoeste asiático, em Portugal cresce principalmente junto aos rios Douro e Tejo, assim como em partes do Algarve e Alentejo. A cornalheira é normalmente um arbusto ou pequena árvore, resistente à seca, que aguenta o frio e vive em encostas pedregosas e afloramentos rochosos.

Curiosidade: o nome cornalheira deve-se às compridas galhas desta espécie, que podem chegar aos 20 centímetros e a que popularmente chamam “corno”. Estas galhas são formadas devido à picada de insetos que ali fazem os seus ninhos. Estas galhas, misturadas com outras plantas, foram utilizadas para aromatizar braseiros.

Azereiro (Prunus lusitanica)

A drupa ovalada e brilhante do azereiro começa por ser verde, tornando-se vermelha e finalmente preta quando amadurece em setembro. As suas folhas sempre-verdes, as suas flores brancas em cachos e os frutos escarlate tornam o azereiro procurado como espécie ornamental, especialmente fora das regiões de onde é originário.

Azereiro (Prunus lusitanica)

Espontâneo em Portugal, o azereiro (Prunus lusitanica subespécie lusitanica) é uma relíquia da floresta Laurisilva, a flora que sobreviveu à Idade do Gelo e que se encontra hoje praticamente confinada às Ilhas da Macaronésia – Açores, Madeira e Canárias. A subespécie lusitanica, subsiste, no entanto, no território continental, embora apenas em alguns vales profundos e húmidos do Norte e Centro. Mata da Margaraça e serras do Alor, Estrela, Lousã e Alvelos são alguns locais onde se encontra. Na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, esta subespécie é classificada como “Quase Ameaçada”.

O azereiro é um arbusto ou árvore de copa densa, que não costuma ultrapassar os 10 metros de altura, embora quando cultivado possa elevar-se quase ao dobro.

Curiosidade: a drupa do azereiro não se deve ingerir, pois contém substâncias que se decompõe em cianeto de hidrogénio, também presentes noutras partes do Azereiro. Esta toxicidade não afeta as aves que dela se alimentam, pois pensa-se que o facto de a semente no seu interior ser expelida sem digestão permite a sua tolerância. As aves devolvem, assim, a semente à terra e ajudam a disseminar a espécie.

Teixo (Taxus baccata)

O teixo é outra espécie relíquia emblemática da flora portuguesa e também ele é tóxico, razão que terá ajudado ao seu quase desaparecimento. As únicas partes do teixo que não são tóxicas são os falsos frutos carnudos (arilos) e vermelhos que envolvem as suas sementes. Estes falsos frutos, semelhantes a bagas vermelhas, surgem no final do verão e mantêm-se de setembro a dezembro.

Teixo (Taxus baccata)

Embora a beleza do teixo seja inquestionável, ele acabou por ser dizimado devido aos efeitos do potente alcaloide venenoso que possui, a taxina, responsável por danos no sistema nervoso e cardiovascular – e na morte – de muitos animais que se alimentavam das suas folhas. Também neste caso as aves são uma exceção, por expelirem a semente sem a digerir.

Em tempos, o teixo foi uma espécie comum em adros de igrejas e cemitérios, mas há já várias décadas que está limitado a pequenas zonas das serras do Gerês, Caramulo e Estrela, razão que levou à sua proteção pela Diretiva Habitats. Mais fácil é, por isso, encontrá-lo em coleções botânicas, ou em jardins e parques, onde é plantado pela sua beleza ornamental.

Bem-adaptado a climas temperados frios, este arbusto ou pequena árvore cresce lentamente e tem grande longevidade, podendo ultrapassar os dois mil anos de idade.

Curiosidade: o veneno que contribuiu para a redução das populações de teixo torna-o atualmente numa espécie muito valorizada pela indústria farmacêutica, pois o seu potencial anticancerígeno destacou-se entre 35 mil amostras de plantas. É hoje fonte de um composto ativo usado como medicamento para tratamento de vários tipos de cancro.