Descobrir

Saúde e Bem-estar

Espaços verdes: 6 razões por que são essenciais à vida nas cidades

Áreas de lazer, evasão e beleza, os espaços verdes trazem, além destes, vários outros contributos importantes para a vida urbana. Descubra como os jardins, os parques florestais, as quintas pedagógicas e até as árvores que vemos ao longo dos arruamentos contribuem para a sustentabilidade das cidades e para a saúde de quem nelas vive.

Cada vez que uma cidade se amplia, o território transforma-se. A concentração de edifícios e estradas impermeabiliza o terreno, afetando a circulação da água, o equilíbrio do solo, a continuidade dos habitats, a biodiversidade, a poluição e a temperatura local. Os espaços verdes urbanos podem reduzir estes impactes.

Com mais de 50 por cento da população mundial a viver em vilas e cidades – um número que, até 2050, se prevê que possa subir para os 68% -, os espaços verdes urbanos, assim como outras soluções baseadas na natureza, são considerados centrais para a “melhoria da qualidade dos aglomerados urbanos, o aumento da resiliência local e a promoção de estilos de vida sustentáveis”, fomentando tanto a saúde como o bem-estar dos seus habitantes, lê-se em “Espaços verdes urbanos: um manual para a ação”.

Embora a importância dos espaços verdes urbanos se tenha destacado nas últimas décadas, face à proliferação de grandes metrópoles e às pressões acrescidas das alterações climáticas, há muito que os seus benefícios são reconhecidos. Basta pensar que a ideia de criar o Parque Florestal do Monsanto numa zona árida de Lisboa, há mais de um século, já tinha entre os seus objetivos amenizar o clima na cidade e contribuir para a saúde pública da sua população.

Estes são apenas dois dos seis serviços vitais que os espaços verdes prestam às cidades. Vamos descobri-los:

1. Beneficiam a saúde física e a mental

artigo_espacos_verdes_saude

Períodos como os que sucederam durante a pandemia COVID-19 vieram acentuar os benefícios dos espaços verdes como um fator crítico para o bem-estar e saúde mental dos citadinos, o que motivou o aumento do número dos seus visitantes e a sua valorização.

Pesquisas realizadas em cidades de todo o mundo apontam para a natureza como um antídoto para a tensão da vida urbana: além de ajudarem a diminuir o stress e os vários sintomas que lhe estão associados, é também importante para diminuir o ritmo cardíaco, a tensão arterial e, entre outros, os fatores que podem conduzir a sintomas depressivos.

Diversos estudos sobre a relação entre saúde infantil e espaços verdes nas cidades têm sido desenvolvidos pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), sugerindo, por exemplo: que as crianças que frequentam escolas em zonas mais urbanizadas e com menos espaços verdes têm maior risco de obesidade e que as crianças que vivem em locais com mais vegetação têm menor sensibilidade a alergias.

Os espaços verdes urbanos ajudam a promover a vida ativa, a saúde e o bem-estar, já que também proporcionaram um fácil acesso à atividade física, com áreas disponíveis para desporto e atividades de ar livre, desde caminhadas a passeios de bicicleta.

2. Ajudam a estabilizar o clima e a arrefecer as cidades

As copas das árvores impedem que parte dos raios solares cheguem ao chão, mas não é só pela sua sombra que ajudam a arrefecer as cidades. As árvores precisam de água para crescer, mas a maioria da água que absorvem é devolvida à atmosfera através da transpiração.

Embora a humidade que cada árvore devolve à atmosfera seja muito variável, alterando-se em função de fatores como a temperatura e a disponibilidade de água no solo, entre muitos outros, estimou-se que, em média, uma árvore adulta em ambiente urbano possa devolver à atmosfera até 180 litros de água por dia, se a humidade do solo não for limitante.

artigo_espacos_verdes_clima

Este é um contributo insubstituível, principalmente no verão, e particularmente importante no contexto das alterações climáticas, com o aumento de fenómenos como as ondas de calor. A vegetação em meio urbano é também um contributo para atenuar as “ilhas de calor urbano”, as zonas da cidade onde a temperatura é mais elevada devido aos materiais que absorvem o calor – como o cimento ou o asfalto.

Um estudo recente, realizado na cidade de Lisboa, concluiu, por exemplo, que nas ruas arborizadas a temperatura era, em média, 1ºC mais fresca do que em ruas sem vegetação, podendo estas diferenças chegar aos 3,7ºC. Outro estudo indica que a plantação de árvores em sítios estratégicos pode ajudar a refrescar o ar entre 2 e 8 graus, além de promover uma poupança de energia ao reduzir as necessidades de climatização.

3. Melhoram a qualidade do ar

artigo_espacos_verdes_ar

As cidades abrangem cerca de 3% da superfície terrestre do planeta, contudo, produzem mais de 70% das emissões de gases poluentes. A poluição do ar é, com efeito, o maior risco de saúde ambiental na Europa e as emissões de gases com efeitos de estufa provenientes dos transportes, aquecimento e atividades industriais são as principais fontes de exposição.

Para atenuar este cenário, as árvores urbanas de porte podem funcionar como um filtro para poluentes e partículas finas, ajudando a reduzir a poluição. Vários estudos, tanto em cidades americanas como europeias, vêm comprovar os benefícios das árvores para reduzir a poluição e melhorar a qualidade do ar nos centros urbanos.

As árvores libertam oxigénio e fixam dióxido de carbono. Os poros que existem nas suas folhas (os estomas) absorvem gases poluentes e as copas funcionam como barreiras para poeiras e outras partículas que circulam no ar e causam problemas respiratórios. Também por esta via, os espaços verdes e arborizados contribuem para a saúde das populações urbanas.

Uma árvore pode absorver até 150 kg de dióxido de carbono por ano. Ao sequestrarem da atmosfera gases com efeito de estufa são uma das soluções que ajudam as cidades a mitigar os efeitos das alterações climáticas.

4. Reduzem as inundações e a poluição das águas

Devido às estradas, prédios e outras construções, o solo das cidades torna-se muito compacto e pouco permeável. Quando chove com grande intensidade – e este é outro dos fenómenos extremos associados às alterações climáticas -, parte da água não é absorvida, escorre nas zonas inclinadas e tende a acumular-se, causando inundações nas zonas baixas.

Nestas zonas de maior declive, as águas que escorrem aumentam a erosão e o risco de derrocadas, além de arrastarem consigo poluentes, desde os resíduos de combustíveis acumulados no alcatrão aos lixos que permanecem nas ruas (filtros de cigarros, por exemplo). Levados na corrente, acabam por desembocar em rios e lagos, poluindo as reservas de água que abastecem as populações das cidades.

artigo_espacos_verdes_agua

Nos espaços verdes, onde o chão é de terra e esta se mantém semicoberta por árvores, arbustos e plantas, a vegetação tem vários papéis importantes: por um lado, as copas e folhas impedem que toda a água chegue ao solo, retendo-a até que evapore; por outro lado, absorvem parte da água do solo, que vão depois libertando lentamente através da transpiração. Por último, as raízes tornam a terra mais arejada, permitindo a infiltração de maior quantidade de água, que irá abastecer as reservas subterrâneas.

5. Reduzem a poluição sonora

As árvores ajudam a reduzir a poluição sonora, atuando como barreiras à propagação do ruído.

artigo_espacos_verdes_poluicao

Quando as ondas sonoras encontram barreiras de vegetação, curvam-se em torno das suas estruturas (sejam copas ou troncos), evitando que continuem a propagar-se pelo ar. Em paralelo, os próprios sons da vegetação (as folhas ao vento ou o canto dos pássaros) ajudam a camuflar barulhos menos agradáveis, como os carros a passar ou a buzinar.

As árvores e arbustos podem reduzir os níveis de ruído (conforme percebido pelo ouvido humano) em 50%, revela um estudo do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Este é um dado importante quando é sabido que mais de metade dos habitantes de grandes cidades europeias vive em zonas onde o ruído, nomeadamente rodoviário e ferroviário, pode afetar negativamente a saúde e o bem-estar dos residentes, causando problemas de sono, de concentração e até cardiovasculares.

6. Promovem a biodiversidade

Um levantamento feito na cidade de Lisboa, no âmbito do Plano de Ação Local para a Biodiversidade (2010), revelou que existiam na cidade 341 espécies vegetais autóctones, 148 espécies de aves, 21 de mamíferos, 33 de borboletas, 18 répteis e 12 anfíbios. Os números provam que as cidades não são “desertos”, mas importa criar condições para preservar e ampliar esta biodiversidade.

Melhorar e aumentar os espaços verdes em geral e os “corredores verdes” que reduzem a fragmentação de habitats, reduzir o trânsito em grandes parques ou definir novas áreas protegidas são medidas que várias cidades têm vindo a implementar para aumentar e melhorar a biodiversidade urbana. A expansão do Parque da Cidade, no Porto, com 6500 metros quadrados que substituem alcatrão por área verde é um exemplo dos vários previstos na expansão da estrutura verde.

artigo_espacos_verdes_biodiversidade

A perda de biodiversidade põe em risco o equilíbrio dos ecossistemas e a capacidade que estes têm para proporcionar serviços naturais vitais, como a purificação do ar ou a qualidade de água. A conservação desta diversidade nas cidades pode ser feita com o conhecimento e o envolvimento das populações, o que dita também a importância da educação e sensibilização ambiental.