Fact check: Para florestar e reflorestar é preciso avaliar o que plantar, onde plantar e ter capacidade para cuidar da floresta (gerir). Plantar sem critério e sem cuidar da plantação, resulta no aumento da mortalidade das árvores e do risco de incêndio.
Para criar uma área florestal ou reflorestar uma zona onde já antes existiu uma floresta não basta plantar. Apesar da importância de plantar árvores, este é uma das perceções sobre a floresta que leva, muitas vezes, à plantação de espécies que não se adaptam às características de solo, clima e topografia da região. Outros erros são a plantação de árvores muito próximas entre si (que acabam por não ter recursos suficientes para sobreviver) e a plantação em épocas do ano pouco favoráveis, o que contribui para uma maior mortalidade das árvores.
Por exemplo, alguns zimbros (Juniperus sp.) conseguem crescer em zonas de clima quente e seco e de solo arenoso ou rochoso. A alfarrobeira (Cerotonia síliqua) sobrevive em solos argilosos, arenosos e com salinidade, aguentando calor e secura. Já os freixos (Fraxinus angustifolia), amieiros (Alnus glutinosa) e salgueiros (Salix sp.) precisam de muita humidade, devendo ser plantados junto a cursos de água ou em zonas húmidas. O sobreiro (Quercus suber) não tolera solos encharcados, invernos rigorosos nem zonas de grande altitude (não o vemos acima dos 500 metros de altitude), ao contrário do castanheiro (Castanea sativa), que vive em zonas montanhosas (até aos cerca de mil metros em Portugal), com invernos de temperatura e pluviosidade médias. É por este tipo de condicionantes que não devemos plantar castanheiros no Algarve, sobreiros na serra da Estrela ou alfarrobeiras no Minho.
Adicionalmente, a reflorestação de zonas afetadas por fenómenos como derrocadas ou incêndios não pode ser feita sem perceber os processos que foram perturbados e quais os riscos envolvidos. Dito de uma forma simples, é preciso analisar e esperar, pois a vegetação pode recuperar de forma natural, sendo apenas necessário fazer o controle de plantas invasoras, por exemplo. Além disso, é preciso considerar as condições edafoclimáticas (solo, clima, topografia) antes de decidir se é (ou não) necessário intervir no terreno (estabilizando-o) e se plantar árvores é (ou não) aconselhado.
Na generalidade, a plantação deve evitar o pico do inverno e os períodos em que é comum a ocorrência de geadas – muito frio e gelo danificam os tecidos das árvores jovens –, embora o calor e secura estivais façam do verão uma época igualmente desaconselhada para a plantação. Em Portugal, as árvores plantam-se habitualmente no final do outono e no início da primavera, embora nas zonas de invernos mais frios deva optar-se pelo final do inverno e início da primavera. Nas zonas de inverno mais suave a opção habitual é o final do outono e início do inverno, por serem épocas nas quais existe tendencialmente maior disponibilidade de água (chuva) e as temperaturas não são demasiado baixas.
Conhecer estas condições torna-se ainda mais importante quando sabemos que as pressões decorrentes das alterações climáticas – aumento da temperatura, secas e pragas, entre outras – estão a debilitar a saúde das árvores, contribuindo para perdas de vitalidade e aumentos de mortalidade.